Revoadas por um turbilhão de inquietações e acalentadas
pela calmaria de uma brisa que, de alguma forma, sempre estará pronta para chegar,
o leque das emoções sentidas em “Ventos
de Agosto”, do diretor pernambucano Gabriel Mascaro, chegou às telas para
continuar com o fortalecimento de um público cada vez mais interessado nas
produções independentes do país e vem, nesta semana, dar sequência à excelente programação
do Projeto “Cinema em Transe” em
2015. O longa-metragem, que marca a estreia de Mascaro em ficções, pode ser
conferido hoje, às 20:00, na Sala Professor José Tavares de Barros do Sesc
Palladium, no centro de Belo Horizonte.
A trama desenrola de maneira naturalista em um isolado e
pacato vilarejo praiano, cenário propício para que três personagens distintos acabem
sendo envolvidos e emaranhados pelos alisados ventos tropicais do belo litoral
nordestino brasileiro. Shirley (Dandara de Morais) é uma jovem que deixa a
cidade grande para cuidar de sua avó que está muito doente. Dirigindo um
trator, a garota também se ocupa trabalhando na plantação de cocos de uma
fazenda do povoado. Mesmo distante de sua realidade, ela continua aficionada por
punk rock e mantém vivo o seu grande sonho de ser tatuadora. Shirley engata um relacionamento
com Jeison (Geová Manoel dos Santos), um humilde rapaz que também trabalha na
fazenda e que, nas horas vagas, pratica pesca submarina.
A chegada de um estranho pesquisador de sons
(interpretado pelo próprio Gabriel Mascaro) irá abalar a rotina não só do
casal, como a de todos os poucos habitantes da vila. Em agosto a maré é alta e,
pelo fato dos ventos estrem muito fortes, a previsão de tempestades é certa,
ambiente perfeito para os experimentos do curioso perscrutador, que captará e
registrará o que a natureza local “quer dizer”. A simplicidade subsistente do
vilarejo monocultor e pesqueiro ainda será afetada pelo misterioso aparecimento
do crânio de um desconhecido, evidenciando a vorticidade de uma jornada
sentimental que será vivida pelas personagens, marcada pela vida e pela morte, e
guiadas por memórias suplantadas pela perda.
Um talento consagrado pela simplicidade e pela
contemplação. Além de ter sido indicado ao Leopardo de Ouro de Melhor Filme, “Ventos de Agosto” recebeu Menção
Honrosa no tradicional Festival de Locarno, na Suíça, famoso por ser um
festival de descobertas, que lança novas tendências cinematográficas e que
privilegia obras autorais e mais intimistas. A carreira internacional do filme
ainda mereceu atenção nos festivais de Chicago e Palm Springs, nos Estados
Unidos; Vancouver, no Canadá; e Istambul, na Turquia. No Brasil, o filme também
foi bem recebido, e a grande atuação de Dandara de Morais foi premiada com troféu
candango na categoria de melhor atriz do Festival de Brasília, na sua 47ª
edição. O deslumbre da elogiada e inegavelmente bela fotografia do longa também
foi reconhecido, e Gabriel Mascaro levou um prêmio por este trabalho no Festival.
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| "Ventos de Agosto" (2014) de Gabriel Mascaro - Desvia Filmes [br] | Desvia Produções [br] |
Movimento que vem sendo constantemente observado nas recentes produções cinematográficas do Brasil, a hibridização de ficção e documentário (presente de forma sutil em "Ventos de Agosto") chama a atenção dos críticos e do público consumidor de cinema, em geral, justamente por estar criando, no imaginário do espectador, situações extremamente realistas através de obras com caráter profundamente questionador e mais próximo de relações humanas verdadeiramente estabelecidas. No caso do diretor Gabriel Mascaro, essa mistura ainda é configurada e percebida de forma mais homogênea.
Recifense, Mascaro é formado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Pernambuco e se enveredou para a carreira cinematográfica quando ainda se graduava. Pesquisador e admirador das mais profundas relações do ser humano com seus diversos meios (materiais, naturais e afetivos), o diretor começou a carreira como documentarista, e tem em seu currículo obras, por vezes, singelas, silenciosas e ingenuamente dolorosas. Destacam-se o sentimental "KFZ-1348" (2008), o magnético "A Onda Traz, o Vento Leva" (2012), e o premiadíssimo "Doméstica" (2012). Cineasta promissor, Gabriel Mascaro estará presente na Sala Professor José Tavares de Barros nesta noite para participar de um debate sobre "Ventos de Agosto" logo após a sua exibição.
Criado em janeiro de 2013 com o intuito de promover o Cinema Nacional, o Projeto “Cinema em Transe” se transformou em um importante veículo para a disseminação de produções lançadas recentemente e que obtiveram destaque significativo em festivais de cinema pelo Brasil e pelo mundo. Ao longo desses últimos dois anos, as ações do projeto contribuíram muito para a divulgação e difusão do cinema produzido no país, explorando vários temas e possibilitando um contato maior do público com importantes obras da nossa cinematografia, por vezes raras e de difícil acesso.
Ressalvando o enorme valor cultural do projeto, vale
lembrar que as exibições no Sesc Palladium são quinzenais e em sessão única.
Dessa forma, se a divulgação desses filmes não for feita permanentemente,
muitos deles continuarão enfrentando grandes dificuldades para serem
distribuídos ou se lançarem no circuito comercial. Alguns desses excelentes
filmes, por exemplo, são inéditos em Belo Horizonte e, lamentavelmente, terão
pouco ou nenhum destaque nas salas de cinema da cidade. Confira, então, as
produções já exibidas pelo projeto em 2015 com o link para os respectivos
artigos e ajudem a divulgá-los:
- “Branco Sai,
Preto Fica” (DF) de Adirley Queirós (em breve na Coluna “Identidade Nacional”);
Viva o Cineclubismo e viva o Cinema Nacional!
Observação: a entrada para a sessão de “Ventos de Agosto” esta noite é
gratuita, mas é necessário retirar os ingressos na bilheteria do Sesc Palladium
duas horas antes da sessão. O espaço está sujeito a lotação.
A Sala Professor José Tavares de Barros está localizada
no Sesc Palladium, na Avenida Augusto de Lima 420, centro de Belo Horizonte.
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