quarta-feira, 1 de julho de 2015

Cine Sesc Palladium exibe a partir desta quarta a Mostra “Pasolini e o Cinema de Poesia” | Rotina em Belo Horizonte

Tem início hoje, no Sesc Palladium em Belo Horizonte, a Mostra “Pasolini e o Cinema de Poesia”. Ao todo serão exibidos na Sala Professor José Tavares de Barros, até o dia 19 de julho, 14 grandes obras de um dos cineastas mais polêmicos da História do Cinema: o ainda poeta e ensaísta italiano Pier Paolo Pasolini.

Com forte teor político e cunho ideológico abrasivo, o cinema de Pasolini nasce do confronto e do inconformismo com o mundo e com a humanidade, contestando os padrões sociais de moralidade e de religiosidade de uma incongruente sociedade europeia. Não obstante, a Mostra ainda marca os 40 anos da morte do cineasta que, de maneira misteriosa e controversamente resignada, foi assassinado brutalmente por um suposto garoto de programa em novembro de 1975. Apesar de existir uma versão original para o crime, há quem ligue de forma deliberada todos os fatos ao governo italiano que via no cineasta, comunista e homossexual assumido, uma clara e evidente “ameaça” à cultura do país.

Não há um meio termo para a apreciação das obras realizadas por Pier Paolo Pasolini. O poderio de suas imagens está sempre marcado por um absurdo radicalismo estético que questiona a ideia das narrativas clássicas e sugere uma renovação da linguagem na sétima arte. A sua proposta de cinema confronta o registro meramente naturalista com uma espécie de subconsciência autônoma capaz de fazer uma leitura totalmente diferente da realidade, revelando e expressando celeumas que afrontam o descomedido e inquietante desejo do ser humano. O uso da câmera subjetiva (que expressa o ponto de vista das personagens) e a aproximação entre o discurso literário e a linguística com a sua forma de fazer cinema, fizeram de Pasolini o mais poético dentre todos os realizadores (alcunha, por vezes, contestada por ele próprio).

Imbuído pela subjetividade presente em quase toda a sua filmografia, destacam-se na carreira do diretor, por exemplo, as adaptações cinematográficas das tragédias gregas “Édipo Rei” (1967) de Sófocles e “Medéia, a Feiticeira do Amor” (1969) de Eurípedes (ambas roteirizadas pelo próprio Pasolini), além de releituras de clássicos da literatura da Europa que deram origem à “Trilogia da Vida de Pasolini” com os filmes “Decameron” (1971) baseado nos contos de Giovanni Boccaccio e “Os Contos de Canterbury” (1972) do filósofo e escritor inglês Geoffrey Chaucer, completados ainda por “As Mil e uma Noites” (1974) da homônima coleção de histórias e contos populares do Oriente Médio.

Propostas fidedignas da noção de cinema de poesia atribuídas às realizações de Pasolini, todos esses cinco fantasiosos filmes acima citados compõe a programação e podem ser conferidos na Mostra que se inicia hoje. Juntam-se a eles, ainda, filmes socialmente mais austeros e desconcertantes como o documentário “Comícios de Amor” (1964); e fabulosas ficções como o realista “Mamma Roma” (1962), o alegórico “Gaviões e Passarinhos” (1966) e o degradante “Pocilga” (1969).

Além disso, será oferecido ao público um curso sobre a vida e obra de Pasolini, abordando os momentos mais geniais e conturbados da carreira do cineasta, evidenciando o inestimado valor de sua contribuição cultural tanto para o cinema quanto para a literatura italiana e mundial entre as décadas de 50 e 70. O curso será ministrado pelo pesquisador Luiz Nazario, doutor em História pela USP e professor de História do Cinema da Escola de Belas Artes da UFMG. Apesar da inscrição ser gratuita, as vagas são limitadas e é necessário o envio de currículo para o e-mail educativopalladium@sescmg.com.br.

Com base na programação divulgada pelo Sesc e na lista dos filmes que serão exibidos, o Rotina Cinemeira selecionou quatro dos mais importantes e relevantes trabalhos da carreira de Pasolini, apresentando a sinopse de cada um deles e qualificando-os como imperdíveis (assim como todos os outros dez) para o período desta Mostra. Confira agora as nossas indicações:

Accattone - Desajuste Social (Accattone, Itália, 1961)

Direção: Pier Paolo Pasolini

Vittorio Cataldi (Franco Citti), ou “Accattone” para os conhecidos, é um cafetão que vive às custas do trabalho de Maddalena (Silvana Corsini). Ele ainda é casado com Ascenza (Paola Guidi), com quem tem um filho, porém, evita manter contato ou muita intimidade com os dois. Quando a sua prostituta é enviada para a prisão sob a acusação do delito de perjúrio, Accattone perde o seu “ganha-pão” e acredita que a vida sairá do controle ao se ver sem outros meios de provimento.

Accattone (que significa “mendigo” em italiano) tenta fazer com que a sua esposa assuma as tarefas de Maddalena, mas ela se recusa. Sem nenhuma fonte de rendimento, o desvairado vagabundo inicia o seu processo de declínio ao conhecer a bela e virginal Stella (Franca Pasut) quando tenta jogá-la, também sem nenhum sucesso, na vida de prostituição.

"Accattone" (1961) de Pier Paolo Pasolini - Arco Film [it] | Cino del Duca [it]

O Evangelho Segundo São Mateus (Il Vangelo Secondo Matteo, Itália | França, 1964)

Direção: Pier Paolo Pasolini

Seguindo de maneira fiel os textos bíblicos do evangelho de Mateus, a adaptação cinematográfica de Pasolini acompanha todas as etapas da vida de Jesus Cristo, do nascimento à ressurreição, em um registro híbrido que contrapõe o documentário e a ficção. Com claro propósito político e caráter humanista, o longa permeia pelas parábolas, pelos milagres e pelos primeiros encontros de Jesus com seus discípulos, contrapondo a sua determinação com a sua intolerância e relativa impaciência.

“O Evangelho Segundo São Mateus” é considerado por muitos (ao lado de “A Última Tentação de Cristo” de Martin Scorsese) o melhor filme sobre Jesus, pois a característica benevolência da personagem é suprimida pelo espírito revolucionário que a mesma sempre possuiu. O Cristo pasoliniano (interpretado por Enrique Irazoqui) é mais humano do que divino, com amenos traços de doçura, mas capaz de reagir com intensa fúria à hipocrisia e à petulante falsidade dos homens.

"Il Vangelo Secondo Matteo" (1964) de Pier Paolo Pasolini
Arco Film [it] | Lux Compagnie Cinématographique de France [fr]

Teorema (Teorema, Itália, 1968)

Direção: Pier Paolo Pasolini

Um estranho visitante (Terence Stamp) chega misteriosamente à Milão e se hospeda na mansão de uma rica e tradicional família burguesa. Aos poucos ele vai modificando a vida de todos quando começa a seduzir, primeiramente, a empregada da casa. Em seguida, ele cativa e persuade o filho, a mãe, a filha e, finalmente, o pai. Além da relação íntima, o homem mantém contatos intelectuais e diálogos filosóficos com cada um deles, tentando-os convencer da futilidade e da falta de sentido da humanidade.

Da mesma forma adventícia que veio, o visitante vai embora sem dar nenhuma explicação, deixando na casa um enorme vazio existencial e instaurando, de forma inevitável, uma grave crise familiar onde ninguém mais consegue continuar vivendo da mesma forma, tentando constantemente encontrar a resposta para duas perguntas: Quem era aquele homem? O que teria mudado após a sua passagem por nossas vidas?

"Teorema" (1968) de Pier Paolo Pasolini - Aetos Produzioni Cinematografiche [it] | Euro International Film (EIA) [it]

Saló ou os 120 Dias de Sodoma (Salò o le 120 Giornate di Sodoma, Itália | França, 1975)

Direção: Pier Paolo Pasolini

Perturbadora, medonha e apavorante! A mais polêmica dentre as polêmicas obras de Pier Paolo Pasolini, “Saló ou os 120 Dias de Sodoma” é livremente baseada nas histórias de Dante e do Marquês de Sade (“Círculo das Manias”, “Círculo da Merda” e “Círculo do Sangue”) e acompanha as aterradoras ações de quatro libertinos fascistas que sequestram 16 jovens (oito meninos e oito meninas) e os submetem a 120 dias de torturas físicas, mentais e sexuais em um palácio isolado e próximo à Marzabotto, na província italiana de Saló.

Aprisionadas e vigiadas por guardas, criados e garanhões da mansão, as vítimas são belos e saudáveis exemplares da perfeição da juventude que agora estão entregues à perversão e ao prazer masoquista destes dignitários. Além deles, ainda há quatro mulheres de meia-idade que relatam aos adolescentes provocantes histórias sadistas acompanhadas por uma lúgubre trilha de piano. O drama é ambientado durante a ocupação nazista da Itália em 1944, período caracterizado por caóticas subversões de ideologias e pelo latente descontrole psicológico generalizado.

"Salò ole 120 Giornate di Sodoma" (1975) de Pier Paolo Pasolini
Produzioni Europee Associati (PEA) [it] | Les Productions Artistes Associés [fr] | United Artists [us]

As exibições serão diárias e a programação completa está disponível no site do Sesc Palladium (sescmg.com.br/sescpalladium) ou pode ser acessada diretamente pelo link Mostra “Pasolini e o Cinema de Poesia”.

Lembrando que a entrada é gratuita, mas é necessário retirar os ingressos na bilheteria do Sesc duas horas antes de cada sessão. O espaço está sujeito a lotação. Observação: a casa não funciona às segundas-feiras.

A Sala Professor José Tavares de Barros está localizada no Sesc Palladium, na Avenida Augusto de Lima 420, centro de Belo Horizonte.

BOAS SESSÕES!

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