quinta-feira, 30 de abril de 2015

Vistos e Revistos em 2015 #abril

O ano de 2015 não está sendo muito tranquilo, e abril foi um daqueles meses extremamente difíceis que, como consequência, passou num piscar de olhos. Por problemas externos e particulares, a frequência nos cinemas e a apreciação de bons filmes alcançaram uma média bem menor que a habitual.

Assim como este mês voou, desta vez também serei breve em meus comentários: foram 25 filmes vistos ou revistos, quantidade inferior aos três primeiros meses do ano que registram marcas superiores a 40. Como alento, o contingente mensal foi suficiente para manter a média superior a 1 filme/dia, marca que pretendo conservar e consolidar como um objetivo até o final do ano. A média ainda está muito boa e fico feliz por isso!

Novamente ressalto que indico todos os filmes aos quais assisto! Ainda enfatizo que cada um deles, por pior que seja, tem direito a uma recomendação, simplesmente pela proposta à experiência da degustação cinematográfica. Uma vez ou outra (no caso, quase sempre) o que agrada aos olhos de um pode não agradar aos olhos de todos os outros.

Observação: os filmes em destaque na lista a seguir possuem perfis e críticas nas sessões “Sempre um Clássico” ou “Identidade Nacional”, ou ainda fizeram parte da programação anual do Projeto “Cinema em Transe” do Sesc Palladium de Belo Horizonte que valoriza as nossas mais recentes produções nacionais. É só clicar e conferir!

Sem mais protelar, compartilho a seguir todos os 152 filmes já apreciados em 2015:

001 - Abismo Prateado, O (O Abismo Prateado, Brasil, 2011)

002 - Abominável Doutor Phibes, O (The Abominable Dr. Phibes, Reino Unido | Estados Unidos, 1971)

003 - Abutre, O (Nightcrawler, Estados Unidos, 2014)

004 - Além da Fronteira (Out in the Dark, Israel | Estados Unidos, 2012)

005 - Alien, o Oitavo Passageiro (Alien, Estados Unidos | Reino Unido, 1979)


007 - Amantes Crucificados, Os (Chikamatsu Monogatari, Japão, 1954)

008 - Amargo Regresso (Coming Home, Estados Unidos, 1978)

009 - Anabazys - O Terceiro Testamento de Glauber Rocha(Anabazys, Brasil, 2007)

010 - Aniversário Macabro (The Last House on the Left, Estados Unidos, 1972)

011 - Ao Rufar dos Tambores (Drums Along the Mohawk, Estados Unidos, 1939)

012 - Aplausos (Applaus, Dinamarca, 2009)

013 - Atire a Primeira Pedra (Destry Rides Again, Estados Unidos, 1939)

014 - Batman (Batman, Estados Unidos | Reino Unido, 1989)

015 - Beau Geste (Beau Geste, Estados Unidos, 1939)

016 - Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) (Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance), Estados Unidos | Canadá, 2014)

017 - Blade Runner, o Caçador de Androides (Blade Runner, Estados Unidos | Hong Kong | Reino Unido, 1982)

018 - Blow-Up - Depois Daquele Beijo (Blowup, Reino Unido | Itália | Estados Unidos, 1966)

019 - Boxtrolls, Os (The Boxtrolls, Estados Unidos, 2014)


021 - Cake: Uma Razão para Viver (Cake, Estados Unidos, 2014)

022 - Caminhos da Floresta (Into the Woods, Estados Unidos | Reino Unido | Canadá, 2014)

023 - Carícia Fatal (Ratos e Homens) (Of Mice and Men, Estados Unidos, 1939)


025 - Céu que nos Protege, O (The Sheltering Sky, Reino Unido | Itália, 1990)

026 - Cinzas no Paraíso (Days of Heaven, Estados Unidos, 1978)


028 - Como Treinar o seu Dragão 2 (How to Train your Dragon 2, Estados Unidos, 2014)

029 - Conto da Princesa Kaguya, O (Kaguyahime no Monogatari, Japão, 2013)

030 - Contos da Lua Vaga (Ugetsu Monogatari, Japão, 1953)

031 - Corcunda de Notre Dame, O (The Hunchback of Notre Dame, Estados Unidos, 1939)

032 - Costela de Adão, A (Adam’s Rib, Estados Unidos, 1949)

033 - De Onde se Avistam as Chaminés (Entotsu no Mieru Basho, Japão, 1953)

034 - Deixe a Luz Acesa (Keep the Lights On, Estados Unidos, 2012)

035 - Departamento Q - Guardiões das Causas Perdidas (Kvinden i Buret, Dinamarca | Alemanha | Suécia, 2013)

036 - Desconstruindo Harry (Deconstructing Harry, Estados Unidos, 1997)

037 - Deserto Azul (Deserto Azul, Brasil | Chile, 2013)

038 - 2 Coelhos (2 Coelhos, Brasil, 2012)

039 - Dois Dias, uma Noite (Deux Jours, une Nuit, Bélgica | França | Itália, 2014)

040 - Duelo Silencioso (Shizukanaru Kettô, Japão, 1949)

041 - Dúvida (Doubt, Estados Unidos, 2008)

042 - E aí, Meu Irmão, Cadê Você? (O Brother, Where Art Thou?, Reino Unido | França | Estados Unidos, 2000)


044 - Em Trânsito (Em Trânsito, Brasil, 2013)

045 - Era uma Vez em Tóquio (Tôkyô Monogatari, Japão, 1953)

046 - Espantalho (Scarecrow, Estados Unidos, 1973)

047 - Estranho Mundo de Jack, O (The Nightmare Before Christmas, Estados Unidos, 1993)

048 - Exterminador do Futuro, O (The Terminator, Reino Unido | Estados Unidos, 1984)

049 - Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final, O (Terminator 2: Judgment Day, Estados Unidos | França, 1991)

050 - Fargo - Uma Comédia de Erros (Fargo, Estados Unidos | Reino Unido, 1996)

051 - Festa de Família (Festen, Dinamarca | Suécia, 1998)

052 - Filho Único (Hitori Musuko, Japão, 1936)

053 - Filme para Poeta Cego (Filme para Poeta Cego, Brasil | Cuba, 2012)

054 - Fotografia Oculta de Vivian Maier, A (Finding Vivian Maier, Estados Unidos, 2013)

055 - Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo (Foxcatcher, Estados Unidos, 2014)

056 - Frances Ha (Frances Ha, Estados Unidos, 2012)

057 - Frenesi (Frenzy, Reino Unido, 1972)

058 - Garota Exemplar (Gone Girl, Estados Unidos, 2014)

059 - Gigante de Ferro, O (The Iron Giant, Estados Unidos, 1999)

060 - Gilbert Grape: Aprendiz de Sonhador (What’s Eating Gilbert Grape, Estados Unidos, 1993)

061 - Gunga Din (Gunga Din, Estados Unidos, 1939)

062 - Halloween - A Noite do Terror (Halloween, Estados Unidos, 1978)

063 - Heróis Esquecidos (The Roaring Twenties, Estados Unidos, 1939)

064 - História Real, Uma (The Straight Story, França | Reino Unido | Estados Unidos, 1999)

065 - Homem das Multidões, O (O Homem das Multidões, Brasil, 2013)

066 - Homem Morto (Dead Man, Estados Unidos | Alemanha | Japão, 1995)

067 - Homem que Amava as Mulheres, O (L’Homme qui Aimait les Femmes, França, 1977)

068 - Ida (Ida, Polônia | Dinamarca | França | Reino Unido, 2013)

069 - Imagens (Images, Reino Unido | Estados Unidos, 1972)


071 - Inquilino, O (Le Locataire, França, 1976)

072 - Intendente Sanshô, O (Sanshô Dayû, Japão, 1954)

073 - Interestelar (Interstellar, Estados Unidos | Reino Unido | Canadá, 2014)

074 - Invenção de Hugo Cabret, A (Hugo, Estados Unidos, 2011)

075 - Irmãos Cara de Pau, Os (The Blues Brothers, Estados Unidos, 1980)

076 - Irmãos Marx no Circo, Os (At the Circus, Estados Unidos, 1939)


078 - Janela Indiscreta (Rear Window, Estados Unidos, 1954)

079 - Jogo da Imitação, O (The Imitation Game, Reino Unido | Estados Unidos, 2014)

080 - Juiz, O (The Judge, Estados Unidos, 2014)

081 - Juno (Juno, Estados Unidos, 2007)

082 - Juventude sem Arrependimento (Waga Seishun ni Kuinashi, Japão, 1946)

083 - Ladrão de Casaca (To Catch a Thief, Estados Unidos, 1955)

084 - Leviatã (Leviafan, Rússia, 2014)

085 - Libertador (Libertador, Venezuela | Espanha, 2013)

086 - Lira do Delírio, A (A Lira do Delírio, Brasil, 1978)

087 - Livre (Wild, Estados Unidos, 2014)

088 - Lobo atrás da Porta, O (O Lobo atrás da Porta, Brasil, 2013)

089 - Locke (Locke, Reino Unido | Estados Unidos, 2013)

090 - Lucia de B. (Lucia de B., Holanda | Suécia, 2014)

091 - Lucy (Lucy, França, 2014)

092 - Magia ao Luar (Magic in the Moonlight, Estados Unidos | Reino Unido, 2014)

093 - Mapas para as Estrelas (Maps to the Stars, Canadá | Alemanha | França | Estados Unidos, 2014)

094 - Mocidade de Lincoln, A (Young Mr. Lincoln, Estados Unidos, 1939)

095 - Morro dos Ventos Uivantes, O (Wuthering Heights, Estados Unidos, 1939)

096 - Mulher faz o Homem, A (Mr. Smith Goes to Washington, Estados Unidos, 1939)

097 - Mulheres, As (The Women, Estados Unidos, 1939)

098 - Música de Gion, A (Gion Bayashi, Japão, 1953)

099 - No Tempo das Diligências (Stagecoach, Estados Unidos, 1939)

100 - Nova Dubai (Nova Dubai, Brasil, 2014)

101 - Nova Saga do Clã Taira, A (Shin Heike Monogatari, Japão, 1955)


103 - Operação Big Hero (Big Hero 6, Estados Unidos, 2014)

104 - Ouvir o Rio (Ouvir o Rio, Brasil, 2013)

105 - Pai e Filha (Banshun, Japão, 1949)

106 - Para Sempre Alice (Still Alice, Estados Unidos | França, 2014)

107 - Paraíso Infernal, O (Only Angels Have Wings, Estados Unidos, 1939)

108 - Paris, Texas (Paris, Texas, Alemanha Ocidental | França | Reino Unido, 1984)

109 - Parque Soviético (Parque Soviético, Brasil, 2013)

110 - Passageiro - Profissão: Repórter, O (Professione: Reporter, Itália | Espanha | França, 1975)

111 - Performance (Performance, Reino Unido, 1970)

112 - Portal do Inferno (Jigokumon, Japão, 1953)

113 - Priscilla, a Rainha do Deserto (The Adventures of Priscilla, Queen of the Desert, Austrália | Reino Unido, 1994)

114 - Profecia, A (The Omen, Estados Unidos | Reino Unido, 1976)

115 - Profundo Desejo dos Deuses, O (Kamigami no Fukaki Yokubô, Japão, 1968)

116 - Pusher (Pusher, Dinamarca, 1996)

117 - Quadrophenia (Quadrophenia, Reino Unido, 1979)

118 - Rocco e seus Irmãos (Rocco e i suoi Fratelli, Itália | França, 1960)

119 - Rotina tem seu Encanto, A (Sanma no Aji, Japão, 1962)

120 - Sangue de Artista (Babes in Arms, Estados Unidos, 1939)


122 - Selma: Uma Luta pela Igualdade (Selma, Reino Unido | Estados Unidos, 2014)

123 - Selvagem da Motocicleta, O (Rumble Fish, Estados Unidos, 1983)

124 - Serra (Serra, Brasil, 2013)

125 - Sete Suspeitos, Os (Clue, Estados Unidos, 1985)

126 - Sexo, Drogas e Impostos (Spies & Glistrup, Dinamarca, 2013)

127 - Sniper Americano (American Sniper, Estados Unidos, 2014)

128 - Sob a Pele (Under the Skin, Reino Unido | Estados Unidos | Suíça, 2013)


130 - Sono de Inverno (Kis Uykusu, Turquia | França | Alemanha, 2014)

131 - Space Jam - O Jogo do Século (Space Jam, Estados Unidos, 1996)

132 - Suspiria (Suspiria, Itália, 1977)

133 - Tangerinas (Mandariinid, Estônia | Geórgia, 2013)

134 - Teoria de Tudo, A (The Theory of Everything, Reino Unido, 2014)

135 - Terra de Ninguém (Badlands, Estados Unidos, 1973)

136 - Tokyo-Ga (Tokyo-Ga, Estados Unidos | Alemanha Ocidental, 1985)

137 - Tomboy (Tomboy, França, 2011)

138 - Tommy (Tommy, Reino Unido, 1975)

139 - Trágica Obsessão (Obsession, Estados Unidos, 1976)

140 - Trash Humpers (Trash Humpers, Estados Unidos | Reino Unido | França, 2009)

141 - Três Mulheres (3 Women, Estados Unidos, 1977)

142 - Triunfo (Triunfo, Brasil, 2014)

143 - Ulime (Ulime, Cabo Verde, 2010)


145 - Vida de Casado (Meshi, Japão, 1951)

146 - Vida de O’Haru, A (Saikaku Ichidai Onna, Japão, 1952)

147 - Virunga (Virunga, Reino Unido | Congo, 2014)

148 - Visitante, O (The Visitor, Estados Unidos, 2007)

149 - Vitória Amarga (Dark Victory, Estados Unidos, 1939)

150 - Você vai Conhecer o Homem dos seus Sonhos (You Will Meet a Tall Dark Stranger, Estados Unidos | Espanha, 2010)

151 - Whiplash: Em Busca da Perfeição (Whiplash, Estados Unidos, 2014)

152 - Zombie - O Despertar dos Mortos (Dawn of the Dead, Itália | Estados Unidos, 1978)

* "Sisters" (1973) - American International Pictures (AIP) [us] | Pressman-Williams

quarta-feira, 29 de abril de 2015

CCBB BH recebe a partir desta quarta versão compacta do Festival de Documentários “É Tudo Verdade” | Rotina em Belo Horizonte

Criado em São Paulo há exatos vinte anos, o Festival de Documentários “É Tudo Verdade” chega à capital mineira, que o recebe pela quarta vez em uma versão compacta. De hoje até o dia 4 de maio será exibida uma seleção especial de 13 filmes, com três sessões diárias sempre às 14:00, 16:00 e 18:00 no Centro Cultural Banco do Brasil, integrante do Circuito Cultural Praça de Liberdade em Belo Horizonte.

Para a abertura do Festival foi escolhido o longa “A Paixão de J.L.” de Carlos Nader, vencedor da Competição Brasileira de Longas-metragens do “É Tudo Verdade” e do prêmio da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (ABRACCINE) no início deste mês. O filme será exibido às 19:00 e, após a projeção, contará com a presença do diretor do longa, Carlos Nader e do diretor e organizador do Festival, Amir Labaki.

“A Paixão de J.L.” acompanha um projeto autobiográfico do artista José Leonilson que, no início do ano de 1990, resolve gravar em fitas cassete um diário falado. Na época, Leonilson tinha 33 anos e descobriu ser portador do vírus HIV quando finalmente havia conseguido encontrar um parceiro. Disposto a tornar a sua vida mais leve, ele passa a se dedicar exclusivamente às suas gravações, pregando o amor e a liberdade.

O material bruto para produção do filme é basicamente a voz de Leonilson, e o diretor ainda teve a sensibilidade de não utilizar nenhuma imagem sequer dessa personagem, mas sim imagens relacionadas a tudo aquilo que ele pensava, falava e gravava. O artista registrou impressões sobre acontecimentos históricos à sua volta, como a queda do Muro de Berlim e a Reunificação da Alemanha ou o Impeachment do Presidente Fernando Collor de Mello no Brasil, bem como assuntos que lhe são profundamente caros, como o homoerotismo e a arte de uma forma geral. “A Paixão de J.L.” sintetiza a vida e a obra de José Leonilson, recriando de maneira poética o mundo em que ele viveu.

"A Paixão de J.L." (2014) de Carlos Nader - Itaú Cultural [br]

Além do vencedor da Competitiva Nacional, “A França é a nossa Pátria” (2015) do diretor cambojano Rithy Panh também integra a programação do festival com duas exibições especiais, nesta quinta, dia 30 de abril, e na próxima segunda, dia 4 de maio, sempre as 18:00. Vencedor da Competitiva Internacional, o longa retrata os efeitos e as influências que a colonização francesa impôs sobre Camboja, Laos e Vietnã na época em que integravam a Península da Indochina.

A edição belorizontina do “É Tudo Verdade” ainda inclui mais quatro longas-metragens internacionais que integram mostras diferenciadas dentro deste mesmo Festival: o argentino “Chamas de Nitrato” (2014) de Mirko Stopar; o estadunidense “Como Cheirar uma Rosa: uma Visita com Ricky Leacock à Normandia” (2014) de Les Blank e Gina Leibrecht; o norueguês “Drone” (2014) de Tonje Hessen Schei; e o francês “O Sicário, Quarto 164” (2010) de Gianfranco Rosi.

Uma outra mostra especial, denominada “Retrospectiva Musical”, ainda trará para os mineiros dois documentários biográficos interessantes sobre importantes nomes da música popular brasileira: “Paulinho da Viola - Meu Tempo é Hoje” (2004) de Izabel Jaguaribe, sobre a vida de uma das maiores lendas do nosso samba, o cantor e compositor Paulinho Viola; e “Herbert de Perto” (2009) de Roberto Berliner e Pedro Bronz, sobre a carreira artística e a vida de superações de Herbert Vianna, líder dos Paralamas do Sucesso.

A programação completa da mostra pode ser acessada através do site do Festival (www.etudoverdade.com.br) ou diretamente pelo link “Festival ÉTudo Verdade em Belo Horizonte”. O Centro Cultural Banco do Brasil está localizado na Praça da Liberdade, 450 – Bairro Funcionários, Belo Horizonte.

Lembrando que a entrada é gratuita, mas o espaço é muito pequeno (apenas 80 lugares) e está sujeito a lotação.

Com base na compacta programação do Festival que visita Belo Horizonte por apenas seis dias, o Rotina Cinemeira selecionou quatro filmes imperdíveis que não podem deixar de ser conferidos pelo público. Confira:

O País de São Saruê (O País de São Saruê, Brasil, 1971)

Direção: Vladimir Carvalho

Em comemoração aos 80 anos do diretor paraibano Vladimir Carvalho, um dos principais cineastas nordestinos e autor de obras singulares como “Brasília Segundo Feldman” (1979), “O Evangelho Segundo Teotônio” (1984) e “Barra 68 - Sem Perder a Ternura” (2001), o Festival É Tudo Verdade exibirá aquela que, talvez, seja a sua obra-prima.

Com título inspirado na literatura de cordel de Manoel Camilo dos Santos, “O País de São Saruê” é um documentário sobre a região sertaneja do Rio do Peixe e as evoluções de suas atividades econômicas. As imagens fortes e extremamente realistas mostram a dificuldade de sobrevivência de uma população que está inserida no chamado “polígono da seca” e a sua relação com a terra, a aridez e a escassez de água.

Exibição: sexta-feira, 1º. de maio, 14:00

"O País de São Saruê" (1971) de Vladimir Carvalho - Paraíba Produções Cinematográficas [br]

É Tudo Verdade (It’s All True, França | Estados Unidos, 1993)

Direção: Bill Krohn, Myron Meisel, Orson Welles, Richard Wilson e Norman Foster

Para marcar o centenário de um dos maiores nomes do cinema mundial, o ator e diretor estadunidense Orson Welles, os organizadores do “É Tudo Verdade” selecionaram para a programação deste ano o curioso documentário sobre a visita que Welles fez ao Brasil. Curiosamente, o filme é homônimo ao Festival.

Em 1942, logo após as filmagens de “Cidadão Kane” (1941), Orson Welles desembarca no Brasil com planos para realizar um filme sobre a cultura local do país. Entretanto, uma série de contratempos acabaram impedindo que o projeto fosse concluído. Através de imagens da época (incluindo cenas do filme que chegaram a ser gravadas), o documentário mostra os diversos motivos pelos quais o trabalho de Welles não pode ser concluído como, por exemplo, a insatisfação da RKO Pictures e do Governo Brasileiro com a apresentação dos primeiros materiais que foram rodados. Sem dúvida nenhuma, uma das histórias de bastidores mais interessantes da história do cinema.

Exibição: quinta-feira, 30 de abril, 14:00

"É Tudo Verdade" (1993) de Bill Krohn, Myron Meisel, Orson Welles, Richard Wilson e Norman Foster
Canal + [fr] | Les Films Balenciaga [fr] | Paramount Pictures [us] | RKO Pictures [us]

Santo Forte (Santo Forte, Brasil, 1999)

Direção: Eduardo Coutinho

Eduardo Coutinho é considerado, por muitos, o maior documentarista brasileiro e um dos melhores cineastas do mundo quando tratamos especificamente do gênero. Desde a sua morte no ano passado, Coutinho vem recebendo uma série de homenagens e programações especiais em mostras de cinema pelo país. Obviamente, o principal festival dedicado à cultura do documentário na América Latina não poderia deixar de inserir um dos filmes do mestre em sua programação.

Com conversas realizadas no ano de 1997, em um período compreendido entre a missa campal celebrada pelo Papa João Paulo II no Aterro do Flamengo, em outubro, e as celebrações do Natal, “Santo Forte” adentra profundamente na vida de católicos, umbandistas e evangélicos de uma favela carioca, revelando as suas maiores intimidades. Vemos assim como a religiosidade de várias pessoas sofrem uma série de interferências e como cada um, a seu modo, detalha a sua crença na comunicação direta com o sobrenatural através da intervenção de santos, orixás, guias ou do Espírito Santo.

Exibição: domingo, 3 de maio, 14:00

"Santo Forte" (1999) de Eduardo Coutinho - Centro de Criação de Imagem Popular (CECIP) [br]

Carregador 1118 (Carregador 1118, Brasil, 2014)

Direção: Eduardo Consonni e Rodrigo T. Marques

O filme acompanha o cotidiano de Antônio da Silva, ou Tonho, veterano carregador de caixas de mercadorias do CEAGESP, maior entreposto comercial da América Latina. Imigrante nordestino, ele vive em São Paulo desde 1969, mantendo desde então uma vida dura, de incerteza econômica e também amorosa. Neste momento, ele está se separando da mulher, mas não há tempo de parar para rediscutir a relação, pois o trabalho o espera. Entretanto, quando chega à noite, ele guarda seus poucos pertences num armário e, por lá mesmo, a fim de minimizar a exaustão que seu corpo carrega e as dores do amor perdido, ele encara a vida noturna vagando pelos bares da cidade.

Exibição: segunda-feira, 4 de maio, 14:00

"Carregador 1118" (2014) de Eduardo Consonni e Rodrigo T. Marques - Complô [br]

O Festival é breve, mas a vida é finita! Aproveite os filmes e boas sessões!

terça-feira, 28 de abril de 2015

Memórias #8 | Antônio Abujamra (1932 - 2015)

Expoente do teatro brasileiro e referência em Bertolt Brecht e Roger Planchon nos palcos do país, o criativo ator e diretor de teatral Antônio Abujamra faleceu hoje, aos 82 anos, em sua residência na cidade de São Paulo.

Com uma das trajetórias dramatúrgicas mais longevas do país, Abujamra teve sua carreira solidificada basicamente pelos seus trabalhos como crítico teatral, iluminador, tradutor e, posteriormente, autor de peças. A sua intrínseca relação com os palcos vem desde o início dos anos 50 e, fortemente influenciado por teorias e métodos dos maiores nomes que revolucionaram o teatro contemporâneo, não demorou muito para que ele se enveredasse para a direção e para a atuação. Na televisão ganhou destaque e atenção popular ao interpretar bruxo Ravengar, grande vilão da novela “Que Rei sou Eu?” (1989) da TV Globo.

A partir desse momento, os trabalhos de Antônio Abujamra na televisão foram permanentes, com o ator participando de uma dezena de telenovelas e minisséries, geralmente em pequenos papéis ou participações especiais. Desde o ano 2000, Abujamra também apresentava o programa “Provocações” na TV Cultura, onde se comportava de maneira audaz frente aos diálogos e debates construídos com os seus entrevistados. As entrevistas e intervenções do apresentador eram sempre desafios instigantes que exploravam com máxima plenitude o potencial de reflexão de seus convidados ao discutir assuntos inabituais.

Nos últimos cinco anos de programa, por exemplo, Abujamra recebeu algumas das personalidades mais importantes do Cinema Nacional de outrora como Jorge Bodanzky, Leon Cakoff, Neville de Almeida, Norma Bengell e Ugo Giorgetti, além de nomes importantes da nova geração de cineastas como Hilton Lacerda, Luiz Bolognesi e Monique Gardenberg.

Antônio Abujamra apresentava há mais de quinze anos o programa "Provocações" - TV Cultura [br]

À propósito, sua relação com a Sétima Arte era no mínimo interessante pois, apesar de poucos trabalhos frente as câmeras, as interpretações de Abu (como era conhecido pelos amigos) também eram, de certa forma, entranhadamente provocativas. O ator rouba a cena em sua pequena participação na pele de um advogado em “Quem Matou Pixote?” (1991) de José Joffily e, ainda como coadjuvante, se destaca como o Conde de Mata-Porcos em “Carlota Joaquina: Princesa do Brazil” (1995) de Carla Camurati; e como o diretor do Theatro Municipal do Rio de Janeiro em “Villa-Lobos - Uma Vida de Paixão” (2000) de Zelito Viana.

As multifaces de um ator versátil e irreverente como Antônio Abujamra acabaram lhe rendendo reconhecimento com o Kikito de Melhor Ator no Festival de Cinema de Gramado pelo filme “Festa” (1989), de Ugo Giorgetti. No longa, Abu dá vida a um ator decadente que, junto com um gaitista (Jorge Mautner) e um jogador de sinuca (Adriano Stuart), foi contratado para animar a festa de um senador da República em uma luxuosa mansão de São Paulo. A festa transcorre sem que nenhum dos três seja chamado em momento algum para fazer o seu trabalho. Nesta interminável espera, os três contam suas histórias de vida e revelam os pequenos truques que utilizam para sobreviver. A união e a química entre Abujamra, Mautner e Stuart neste filme de Giorgetti são, sem dúvida alguma, um dos momentos mais virtuosos da história do nosso cinema.

Nos últimos anos, Abujamra ainda teve pequenas aparições em filmes de relativo sucesso no país como “Assalto ao Banco Central” (2011) de Marcos Paulo e os premiados “É Proibido Fumar” (2009) e “Que Horas Ela Volta?” (2015), ambos de Anna Muylaert.

A morte de Abu é lamentável, pois o país perde, acima de tudo, um de seus maiores nomes dentro das artes cênicas, um grande mestre dos palcos e ilustre pensador do ofício de atuar.

Que descanse em paz... (1932 - 2015)

Dez filmes com Antônio Abujamra que indico (em ordem de predileção):

01 - Quem Matou Pixote (1996) - de José Joffily

02 - Festa (1989) - de Ugo Giorgetti

03 - Carlota Joaquina: Princesa do Brazil (1995) - de Carla Camurati

04 - Sermões - A História de Antônio Vieira (1989) - de Júlio Bressane

05 - Olhos de Vampa (1996) - de Walter Rogério

06 - Quanto Vale ou é por Quilo (2005) - de Sergio Bianchi

07 - Oswaldianas (segmento “Perigo Negro") (1992) - de Rogério Sganzerla

08 - Lua Cheia (1989) - de Alain Fesnot

09 - Caminho dos Sonhos (1998) - de Lucas Amberg

10 - Villa-Lobos - Uma Vida de Paixão (2000) - de Zelito Viana

Antônio Abujamra e Adriano Stuart em "Festa" (1989) de Ugo Giorgetti
Embrafilme [br] | La Luna Arte [br] | Nello de Rossi Filmes [br] | Quanta Centro de Produções Cinematográficas [br]

“Brasil S/A” de Marcelo Pedroso é destaque do Projeto “Cinema em Transe” nesta terça no Sesc Palladium | Rotina em Belo Horizonte

É inegável que o atual momento do Cinema Brasileiro esbanja originalidade, robustez e eficácia. Para enaltecer as nossas recentes produções, o Projeto “Cinema em Transe” dá sequência à sua programação exibindo hoje, às 20:00, na Sala Professor José Tavares de Barros do Sesc Palladium, o longa “Brasil S/A” (2014) de Marcelo Pedroso. Com humor ácido e silencioso que, por vezes, remete ao clássicos “Tempos Modernos” (1936) de Charles Chaplin e "Playtime - Tempo de Diversão" (1967) de Jacques Tati, o filme é fruto de uma autorreflexão sobre o Brasil dos dias de hoje, evidenciando a nossa subalternidade e as contradições de uma modernização descomedida.

A ordem e o progresso soam paradoxais para nós brasileiros quando, costumeiramente, nos enxergamos ou nos posicionamos na periferia do mundo. Ao privatizar a nossa nação, já no título do filme, o diretor pernambucano Marcelo Pedroso mostra que, nos últimos anos, o Brasil vem experimentando uma série de entorpecidas situações no seu campo de desenvolvimento, resultados de um desenfreado avanço que redefine as nossas estruturas sociais mais arcaicas. A evolução (ou involução?) sempre vai na contramão dos problemas que já pareciam ser historicamente determinados.

Em mais de 500 anos de história, o Brasil teve no cultivo da cana-de-açúcar uma de suas principais forças econômicas. Edilson (Edilson Silva) passou a maior parte de sua vida trabalhando como cortador de cana e, a partir do momento em que as máquinas surgem na sua vida, ele deixa o canavial rumo a uma missão interplanetária, explorando o espaço pela primeira vez. “Um pequeno passo para Edilson, um salto gigantesco para o Brasil”. Os ecos insólitos de imagens e de sons alumiam o contrassenso da vida moderna e revelam a eterna vocação que o nosso país tem de ser a predestinada nação do futuro.

Em 2014, “Brasil S/A” venceu cinco Troféus Candango na 47ª. edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro nas categorias de melhor direção e melhor roteiro, com Marcelo Pedroso; melhor montagem, com Daniel Bandeira; melhor som, com Pablo Lamar; e melhor trilha sonora, com Mateus Alves. Com destaque significativo em algumas mostras e festivais de cinema pelo país, o longa iniciou recentemente a sua carreira internacional ao participar, em fevereiro, da Mostra Forum do Festival de Cinema de Berlim, que abre espaço para obras experimentais ou de vanguarda.

"Brasil S/A" (2014) de Marcelo Pedroso - Símio Filmes [br]

Marcelo Pedroso é um dos principais nomes do novo cinema pernambucano e possui um importante currículo como documentarista, onde podemos destacar relevantes e inventivos filmes como o longa-metragem “Pacific” e o média-metragem “Balsa”, ambos de 2009, além do curta “Câmara Escura” (2012).  Sempre abordando temas com forte teor social e político, ele ainda lançou, em 2013, o aclamado e provocativo curta de ficção “Em Trânsito”. “Brasil S/A” é o primeiro longa ficcional do diretor, que estará presente na Sala Professor José Tavares de Barros ao final da projeção para participar de um debate sobre o filme.

Criado em janeiro de 2013 com o intuito de promover o Cinema Nacional, o Projeto “Cinema em Transe” se transformou em um importante veículo para a disseminação de produções lançadas recentemente e que obtiveram destaque significativo em festivais de cinema pelo Brasil e pelo mundo. Ao longo desses últimos dois anos, as ações do projeto contribuíram muito para a divulgação e difusão do cinema produzido no país, explorando vários temas e possibilitando um contato maior do público com importantes obras da nossa cinematografia, por vezes raras e de difícil acesso.

Ressalvando o enorme valor cultural do projeto, vale lembrar que as exibições no Sesc Palladium são quinzenais e em sessão única. Dessa forma, se a divulgação desses filmes não for feita permanentemente, muitos deles continuarão enfrentando grandes dificuldades para se lançarem no circuito comercial. Alguns desses excelentes filmes, por exemplo, são inéditos em Belo Horizonte e, lamentavelmente, terão pouco ou nenhum destaque nas salas de cinema da cidade. Confira, então, as produções já exibidas pelo projeto em 2015 com o link para os respectivos artigos e ajudem a divulgá-los:



Viva o Cineclubismo e viva o Cinema Nacional!


Observação: a entrada para a sessão de “Brasil S/A” esta noite é gratuita, mas é necessário retirar os ingressos na bilheteria do Sesc Palladium duas horas antes da sessão. O espaço está sujeito a lotação.

A Sala Professor José Tavares de Barros está localizada no Sesc Palladium, na Avenida Augusto de Lima 420, centro de Belo Horizonte.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Três Assim #2 | Os 75 anos de Al Pacino

Figura representativa de produções da época mais decorosa de Hollywood e vencedor do Oscar de Melhor Ator por “Perfume de Mulher” (1992), Al Pacino, uma das maiores lendas vivas do cinema mundial, completa 75 anos neste fim de semana.

De origem familiar ítalo-americana, o ator nova iorquino enraizado no Bronx também se aproxima de meio século dedicado ao cinema. Sua carreira duradoura conta com interpretações intensas e corajosas em um currículo invejável de 48 filmes.

Para comemorar a data, o Rotina Cinemeira embarca em uma pequena retrospectiva deste grande astro recomendando três grandes filmes. As produções indicadas perpassam por momentos distintos de sua carreira e possuem 20 anos de diferença, começando com um de seus maiores sucessos e encerrando com uma recente estreia que está em cartaz nos cinemas do Brasil.

Um Dia de Cão (Dog Day Afternoon, Estados Unidos, 1975)

Direção: Sidney Lumet

Al Pacino estreou nos cinemas em “Uma Garota Avançada” (1969) de Fred Coe e, cinco anos mais tarde, já despontava como um dos atores mais virtuosos, promissores e desejados da indústria cinematográfica. Neste curto espaço de tempo ele deu vida à Michael Corleone no incomparável “O Poderoso Chefão” (1972) e sua posterior sequência, ambos de Francis Ford Coppolla. Em meio aos dois filmes, o ator participou das elogiadas produções “Espantalho” (1973) de Jerry Schatzberg e “Serpico” (1973) de Sidney Lumet.

A parceria com Lumet foi repetida dois anos mais tarde em “Um Dia de Cão”, que mostra as consequências de um assalto a banco mal planejado, misturando à narrativa comédia e drama de uma maneira singela e harmoniosa. O filme é baseado na história real de John Wojtowicz que, com as mesmas motivações do personagem da ficção, elaborou e procedeu crime semelhante em uma agência do Brooklyn em 1972. Na ficção é Sonny Wortzik (vivido por Pacino) que arquiteta toda a ação, motivado a conseguir dinheiro fácil para que o seu amante, Leon (Chris Sarandon), faça uma cirurgia de mudança de sexo.

O assalto estava programado para durar apenas poucos minutos mas, fundamentado exclusivamente pelo amor a Leon e tendo um parceiro nada inteligente nessa operação (Sal, vivido pelo extraordinário John Cazale), Sonny entra em colapso e, em questão de horas, envolve uma quantidade significativa de reféns, provoca uma gigantesca mobilização policial, e chama a atenção da imprensa, que transforma o drama dos dois assaltantes em um grande show midiático. Histórias assim sempre possuem um clímax de tirar o fôlego e, assistir a “Um Dia de Cão” é, com certeza, uma experiência eletrizante.

"Dog Day Afternoon" (1975) de Sidney Lumet - Warner Bros. [us] | Artists Entertainment Complex

Fogo Contra Fogo (Heat, Estados Unidos, 1995)

Direção: Michael Mann

Na época das filmagens de “Fogo Contra Fogo”, além de astro disputado entre diretores e produtores de Hollywood, Al Pacino já possuía uma carreira consolidada e tardiamente reconhecida. Nos últimos vinte anos (entre “Um Dia de Cão” e “Fogo Contra Fogo”), ele deu vida a personagens icônicos no cinema, papéis inesquecíveis para muitos cinéfilos como Tony Montana em “Scarface” (1983), Ricky Roma em “O Sucesso a Qualquer Preço” (1992) e, mais uma vez, Michael Corleone em “O Poderoso Chefão - Parte III” (1990).

No longa de Michel Mann, Al Pacino interpreta Vincent Hanna, um agente que trabalha no Departamento de Roubos e Homicídios da Polícia de Los Angeles. Completamente apaixonado por seu serviço, o policial percebe que sua vida pessoal está em desequilíbrio, justamente pela excessiva dedicação ao trabalho, o que acaba prejudicando, inclusive, o seu casamento. Em meio ao seu drama particular, Hanna deve investigar um grande assalto ocorrido na cidade, que vitimou três policiais e causou um prejuízo de mais de um milhão de dólares em títulos de crédito aos cofres públicos.

Encabeçando este crime e liderando mais uma série de roubos altamente planejados está Neil McCauley (Robert De Niro), um criminoso de renome que está determinado a nunca mais voltar para a cadeia após passar muitos anos preso. Ao lado do seu braço direito, Chris Shiherlis (Val Kilmer), Neil comandará a sua perigosa gangue com imoral frieza, confrontando diretamente o experiente, determinado e atarefado Vincent Hanna.

Com uma trama obsessivamente arrepiante, “Fogo Contra Fogo” se tornou um clássico instantâneo, um épico do gênero policial e um dos melhores filmes do diretor Michael Mann. O filme ainda é famoso por fazer com que duas das maiores estrelas de Hollywood contracenassem pela primeira vez. Al Pacino e Robert De Niro já tinham integrado o elenco de “O Poderoso Chefão - Parte II” (1974) de Coppolla, mas não se encontraram frente às câmeras nenhuma vez na ocasião. O encontro dos dois astros voltou a acontecer em “As Duas Faces da Lei” (2008) de Jon Avnet.

Al Pacino e Robert De Niro em "Heat" (1995) de Michael Mann - Warner Bros. [us] | Regency Enterprises [us]

Não Olhe para Trás (Danny Collins, Estados Unidos, 2015)

Direção: Dan Fogelman

Além de “As Duas Faces da Lei”, os últimos vinte anos de carreira de Al Pacino fora repletos de trabalhos importantes dos quais merecem grande destaque “Donnie Brasco” (1997) de Mike Newell, “O Informante” (1999) de Michael Mann, “Insônia” (2002) de Christopher Nolan, “You Don’t Know Jack” (2010) de Barry Levinson e “Salomé”, (2013) dirigido pelo próprio ator.

Recentemente, Al Pacino estreou seu mais novo trabalho, a comédia dramática “Não Olhe para Trás”, onde interpreta Danny Collins (personagem que dá nome ao filme no título original), um veterano artista pop que, embora não tenha caído no ostracismo, vive há mais de 30 anos sem compor nenhuma música e apenas reprisa e reproduz antigos sucessos em seus shows.

Cansado da rotina de álcool, drogas e mulheres, exageros que a fama lhe proporcionou, Danny encontra um forte motivo para dar novos rumos para sua vida. O músico descobre uma carta que John Lennon escreveu para ele há mais de quarenta anos, mas que nunca tinha chegado em suas mãos. Inspirado pelas palavras do eterno beatle, Collins decide interromper a carreira para tentar estabelecer laços afetivos com o filho, já adulto, a quem nunca conheceu.

“Não Olhe para Trás” estreou no Brasil no último dia 16 e continua em cartaz em algumas salas de cinema do país. Oportunidade excelente para ver como Al Pacino ainda mantém uma boa forma e um ótimo programa para o seu momento de descanso.

Al Pacino no recém lançado "Danny Collins" (2015) de Dan Fogelman - Big Indie Pictures [us] | ShivHans Pictures [us]

É ISSO... BOM FIM DE SEMANA E BOAS SESSÕES!

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Identidade Nacional #2 | O Casamento dos Trapalhões (1988)

(O Casamento dos Trapalhões, Brasil, 1988). Dirigido por José Alvarenga Jr. com roteiro de Paulo Andrade. Elenco: Renato Aragão, Nádia Lippi, José de Abreu, Dedé Santana, Mussum, Zacarias, Terezinha Elisa, Marlene Silva, Susana Mattos, Gugu Liberato, Zezé Macedo, Grupo Dominó, Carlos Wilson, Luciana Vendramini, Patrícia Lucchesi, Tatiana Delamare, Helga Gahyva.

Costumeiramente, os filmes de comédia caem na contradição do primor técnico de sua produção versus o humor que efetivamente cativa o seu público. Afinal, até que ponto o que houve de melhor no cinema em seus vários momentos pôde prejudicar ou contribuir para o principal gênero de divertimento da grande tela. De maneira geral, a comédia pela comédia sempre permitiu que alguns pecados cinematográficos fossem cometidos para preservar ou garantir o chiste que conduz as suas histórias. Observamos, por exemplo, exemplares filmes dos Irmãos Marx ou de Jerry Lewis que constantemente abandonam as muletas de uma narrativa linear para não perderem a força do humorismo.

A história não é muito diferente no Brasil e, à medida em que os anos foram passando, os famosos e inesquecíveis filmes d’Os Trapalhões foram perdendo o fôlego, substituindo o que era inicialmente tosco e engraçado por uma verossimilidade diluída pouco a pouco em cada uma das produções que se seguiam, tudo isso em prol de uma retidão que infelizmente combateu o exagero e a afetação circense da trupe. Porém, são inegáveis a importância cultural e a imensa contribuição que Os Trapalhões ofereceram para fãs e não fãs do Brasil e do mundo. O programa de televisão estreou em 1977 na Rede Globo e, concomitantemente, as aventuras de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias chegaram também às salas de cinema com o filme “Os Trapalhões na Guerra dos Planetas” (1978), primeiro longa-metragem com os quatro humoristas juntos (anteriormente já tinham sido realizados 12 filmes).
 
Ressalvando os debates sobre a perda de originalidade ao longo dos anos, é importante destacar que, no âmbito das produções nacionais, os filmes da turma ainda são um fenômeno que deve ser estudado com mais atenção. Das vinte e cinco maiores bilheterias da história do cinema brasileiro (todas elas acima de quatro milhões de espectadores), treze pertencem aos Trapalhões. Com um público de quase quatro milhões e oitocentas mil pessoas, “O Casamento dos Trapalhões” ocupa a 13ª. posição dessa lista, sendo o sexto longa de maior sucesso d’Os Trapalhões (em termos de bilheteria) e destaque da coluna “Identidade Nacional” deste mês.

"O Casamento dos Trapalhões" (1988) de José Alvarenga Jr. - Cinemateca Brasileira | Banco de Conteúdos Culturais

Livremente inspirado em “Sete Noivas para Sete Irmãos” (1954) de Stanley Donen, clássico musical dos anos dourados de Hollywood, “O Casamento dos Trapalhões” mostra uma série de confusões escalonadas de um grupo de simples caipiras que moram em uma fazenda no interior do Estado de São Paulo ao se aventurarem na cidade grande. As trampolinagens são tão grandes que acabam em namoros, casamentos e mais uma série de balbúrdias intermináveis.

Esses atabalhoados matutos são Dedé, Mussum e Zacarias, irmãos de Didi (Renato Aragão), pobre e simples agricultor que também se revela rude no tratamento aos seus compares. Didi vai a trabalho para uma cidade próxima e lá acaba comprando briga com Expedito (José de Abreu) além de conquistar o coração de Joana (Nádia Lippi), que acaba seguindo com ele para a fazenda. Rendido aos encantos da bela moça ele resolve se casar, apesar de Joana (apaixonada, mas com temperamento forte) não se sentir muito à vontade com a presença dos demais irmãos do marido, que possuem maus hábitos e são bem pouco educados.

Aos poucos, Joana consegue mudar os trejeitos rústicos dos cunhados e se vê animada quando, em certo dia, Didi recebe uma carta da irmã pedindo para que os seus sobrinhos, integrantes do Grupo Dominó, passem uma temporada no rancho. A oportunidade era ótima para todos, já que os rapazes iriam participar de um show em uma festa de rodeio na cidade e os seus tios teriam a oportunidade de se divertirem um pouco. No evento, tios e sobrinhos acabam engatando seus romances e depois de arrumarem mais confusões (desta vez, com todo o bando de Expedito), novamente rumam para a fazenda, mas agora com vilão e sua gangue no encalço e determinados a destruí-los.

Nádia Lippi com Didi, Dedé, Mussum e Zacarias em "O Casamento dos Trapalhões" (1988)
Cinemateca Brasileira | Banco de Conteúdos Culturais

Assim como foi discutido no início deste artigo, reafirmo que “O Casamento dos Trapalhões” está longe de ser o melhor filme do quarteto liderado por Renato Aragão, justamente pelo esmero técnico do diretor José Alvarenga Jr. que priva um pouco o humor espontâneo que o elenco sempre possuiu. Este sequer é um dos meus filmes favoritos do grupo, entretanto foi escolhido para estar na coluna do mês por um motivo sentimental fortíssimo.

Não faço parte da geração de crianças que esperavam ansiosas por cada lançamento da turma nos cinemas. Sou ligeiramente mais novo, e pertenço à geração seguinte, a que acompanhava todos os filmes dos Trapalhões pela televisão, sempre na “Sessão da Tarde” da Rede Globo. Apesar disso, o filme representa o início da minha apaixonada relação com o cinema, sendo o primeiro que me recordo de ter visto na telona. Lançado em 1988 (ano em que, para mim, era impossível ter alguma lembrança cinematográfica forte registrada na mente) o filme, como também já foi mencionado, foi sucesso de público e se manteve em cartaz ao longo de repetidas semanas e relançado por algumas vezes em grandes cinemas do país (que, infelizmente, são pouquíssimos hoje em dia).

Os eventuais êxitos de bilheteria alcançados pelos Trapalhões resultaram em um evento preparado pelo saudoso e recém-inaugurado Cine Brasil de Belo Horizonte que, às vésperas do lançamento de “Os Trapalhões e a Árvore da Juventude” em 1991, organizou uma retrospectiva com alguns dos principais filmes da trupe e, na ocasião, fui levado por meu pai para conferir um deles. Hoje (e sempre!) terei o prazer de dizer que o primeiro filme que assisti no cinema (e um dos principais responsáveis por esse amor incontido e latente pela Sétima Arte) foi “O Casamento dos Trapalhões” que à época (hoje, nem tanto) me encheu os olhos, assim como qualquer criança apaixonada pelas aventuras de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias.

Artistas que continuam encantando e conquistando fãs, Os Trapalhões sempre serão parte importante da TV e do Cinema Nacional e, sem dúvida nenhuma, ainda terão muito destaque nas colunas do Rotina Cinemeira.

Um abraço “Da Poltrona”, e até a próxima!


sexta-feira, 17 de abril de 2015

Três Assim #1 | Documentários que levantaram Plateias e Arquibancadas

Criado a pouco mais de dois meses, o Rotina Cinemeira vem, ao longo de suas publicações, discutindo o cinema em suas generalidades. Através deste espaço, eternos clássicos vêm sendo redescobertos e explorados; grandes lendas do cinema mundial recebem justas homenagens por suas singulares carreiras; e mostras e festivais (a princípio, só em Belo Horizonte) vão sendo divulgadas para que o público e os leitores tenham um contato e uma relação mais íntima e rotineira com uma das formas de expressão artística mais belas que existem.

Ao longo das postagens, filmes que fazem parte das colunas “Sempre um Clássico” e “Identidade Nacional” são automaticamente recomendados, bem como em todas as colunas da sessão “Memórias”, onde dez filmes da personalidade homenageada sempre são indicados. Entretanto, ainda faltava a este blog um espaço que efetivamente indicasse filmes para aqueles que o acompanham com frequência.

Inaugurada hoje, a coluna “Três Assim” tem a proposta de indicar, todas as sextas-feiras, três filmes para o seu fim de semana. O critério para apreciação é todo seu: assista um por dia, todos de uma vez, apenas um ou dois deles ou, simplesmente, anote essas dicas para poder aproveitá-las num futuro próximo. Os filmes recomendados sempre terão alguma relação (de um mesmo ator/diretor; de um mesmo país; de um mesmo gênero/escola cinematográfica) ou irão abarcar uma temática em comum. Lembro aqui que sugestões para os próximos temas ou agrupamento de filmes serão aceitas com entusiasmo e retransmitidas com carinho!

Geógrafo (pelo menos no papel) e único redator do RotinaCinemeira até agora, confesso que possuo gostos peculiares que fogem um pouco do meu enfado profissional. Além do cinema (grande paixão e motivo primordial para a criação deste espaço), o vício por esportes também é grande, e esse vício é tão gigantesco que no meu período de graduação cogitei escrever um livro com alguns colegas que a princípio seria grotescamente intitulado “A Geografia do Futebol” (ainda espero ter cabeça saudável, paixão futebolística, espírito geográfico e criatividade mais aflorada para escrevê-lo futuramente).

Movido por essas duas grandes paixões, o cinema e o futebol, inauguro enfim esta coluna indicando três documentários que levantaram plateias e arquibancadas por onde foram exibidos. Dois deles destaques absolutos em recentes mostras e festivais, inclusive recebendo importantes prêmios; e um outro que reflete uma outra paixão prolongada, sublimada e adjacente ao futebol: o meu Sport Club Corinthians Paulista!

Observação: a reta final dos Campeonatos Estaduais e o iminente início do Campeonato Brasileiro já no começo do mês de maio também motivaram a escolha do tema que inaugura esta coluna.

Agora, sem mais delongas, confira a lista para este fim de semana:

23 Anos em 7 Segundos (23 Anos em 7 Segundos: O Fim do Jejum Corintiano, Brasil, 2009)

Direção: Di Moretti e Júlio Xavier

Uma grande festa! O grito sufocado de uma “nação” ecoa depois de um sofrimento que parecia interminável. Após o jejum de vinte e três anos pelos quais passou sem conquistar nenhum título importante, o Corinthians venceu o Campeonato Paulista de 1977 derrotando a Ponte Preta na final. A saga histórica da quebra desse tabu é contada através do depoimento de vinte três personalidades (nem tão) ilustres, incluindo jogadores da época e devotos torcedores do clube alvinegro.

Momentos marcantes como o último título do clube em 1954, o fim da freguesia para o Santos em 1968 e a invasão corintiana ao Maracanã na semifinal do Campeonato Brasileiro de 1976 contra o Fluminense dão um toque ainda mais dramático ao filme, que se encerra com os eletrizantes sete segundos do lance do gol do título. A rede do Pacaembu estufada por Basílio é embalada por uma exorcizada narração do saudoso Osmar Santos. Uma história emocionante!

"23 Anos em 7 Segundos: O Fim do Jejum Corintiano" (2009) de Di Moretti e Júlio Xavier - Canal Azul [br]

Bahêa Minha Vida: O Filme (Bahêa Minha Vida: O Filme, Brasil, 2011)

Direção: Marcio Cavalcante

Mais do que um clube de futebol, o Esporte Clube Bahia é um patrimônio cultural do país e tem, representados por alguns (ou todos) torcedores, histórias pessoais de vida que se misturam e complementam a virtuosa trajetória do tricolor baiano desde a sua fundação, em 1931. Glorioso Campeão Brasileiro em 1959 e 1988, o time vem sofrendo nas últimas décadas com constantes rebaixamentos em amargas campanhas nas competições nacionais. Porém, a má fase nunca impediu que sua torcida deixasse de frequentar os estádios chegando, inclusive, a bater recordes e recordes de público entre todas as divisões no ano de 2007, quando estava na Série C.

Loucura e paixão sincera! “Bahêa Minha Vida” é o retrato honesto de uma fervorosa torcida que ama o Bahia e se sente componente vital de um clube que não é abandonado nem em seus piores momentos. Um filme feito com coração e capaz de emocionar qualquer torcedor, seja ele tricolor ou não.

"Bahêa Minha Vida: O Filme" (2011) de Marcio Cavalcante - Movimento Filmes [br]

O Dia do Galo (O Dia do Galo, Brasil, 2014)

Direção: Cris Azzi e Luiz Felipe Fernandes

Com sensibilidade e emoção contagiante, o documentário de Cris Azzi e Luiz Felipe Fernandes narra a épica conquista da Copa Libertadores da América pelo Atlético Mineiro. O esconjuro de quarenta e dois anos sem um título de expressão é encerrado em um dia mágico movido por paixão, fé e pelo o famoso “eu acredito! ” entoado pelos torcedores atleticanos  pelas arquibancadas dos estádios de um continente (agora) preto e branco.

Integrante da programação da última edição do CINEfoot em Belo Horizonte, “O Dia do Galo” venceu recentemente o prêmio de Melhor Longa-Metragem pelo Júri Popular na 18ª. Mostra de Cinema de Tiradentes e será um dos prováveis destaques da 20ª. Edição do Festival Internacional de Documentários “É Tudo Verdade” que chegará ao Circuito Cultural Banco do Brasil (CCBB) da capital mineira ainda no final deste mês. Mais uma grande chance para conferir este grande filme!

"O Dia do Galo" (2014) de Cris Azzi e Luiz Felipe Fernandes - Alicate [br] | Nitro Imagens [br]

É ISSO... BOM FIM DE SEMANA E BOAS SESSÕES!