sexta-feira, 10 de julho de 2015

Memórias #12 | Omar Sharif (1932 - 2015)

Uma verdadeira e legítima lenda! Nascido na histórica e mítica Alexandria, Omar Sharif também foi imortalizado na História do Cinema como o Sherif Ali e como o inesquecível Doutor Yuri Jivago. O ator egípcio, que há algum tempo já sofria os reveses da Doença de Alzheimer, morreu no início da tarde desta sexta-feira, vítima de um ataque cardíaco, aos 83 anos, na cidade do Cairo.

Ambas conduzidas pela batuta do diretor britânico David Lean, as personagens de Sharif citadas anteriormente integram, respectivamente, os filmes “Lawrence da Arábia” (1962) e “Doutor Jivago” (1965), inquestionavelmente os dois maiores sucessos cinematográficos da carreira do ator. Pelos papéis, Omar Sharif recebeu, inclusive, os seus dois prêmios Globo de Ouro de interpretação: Melhor Ator Coadjuvante em 1963, com Sherif Ali (papel que ainda lhe rendeu, no mesmo ano, sua única indicação ao Oscar, também para coadjuvante), e Melhor Ator Principal em Drama em 1966, com Yuri Jivago.

A sua primeira aparição de forma quase “refracionária” em uma desértica linha do horizonte de “Lawrence da Arábia” está entre um dos momentos mais marcantes registrados nas melhores lembranças de muitos cinéfilos. Como um destemido e reacionário nômade, ele surge para ser o “desobediente braço direito” de Thomas Edward Lawrence (interpretado de maneira primorosa por Peter O’Toole), um militar britânico que desempenha papel importante no eixo de ligação da Coroa Inglesa com o Califado durante a Revolta Árabe (1916 - 1918) na Primeira Guerra Mundial. O filme ajudou a destacar Omar Sharif como um dos principais (se não, o principal) atores de origem árabe, e o primeiro deles a construir e solidificar uma carreira internacional no Cinema.

Antes do estouro e da conquista da fama com o sucesso de “Lawrence da Arábia”, Omar Sharif já era um astro reconhecido no Egito desde meados dos anos 50, tendo atuado em pelo menos vinte filmes no país. Entretanto, o ator começou a chamar a atenção do mundo e das principais figuras do cinema (dentre elas, David Lean) ao atuar como coadjuvante (creditado como Omar Cherif) em seu primeiro filme na Europa, o thriller de espionagem “A Aventureira do Oriente” (1956) de Richard Pottier e, dois anos mais tarde, protagonizar a produção franco-tunisiana “Goã” (1958) de Jacques Baratier.

Omar Sharif em "Lawrence of Arabia" (1962) de David Lean - Horizon Pictures (II) [gb]

A escalada para o sucesso continuou pós “Lawrence da Arábia” e, já em 1964, Omar Sharif começava a figurar em Hollywood participando de uma série de filmes como o virtuoso e apaixonante “O Rolls- Royce Amarelo” de Anthony Asquith, o belo drama de guerra “A Voz do Sangue” de Fred Zinnemann, e a megaprodução “A Queda do Império Romano” de Anthony Mann, onde interpretou o Rei Armênio Sohamus.

“Doutor Jivago” veio no ano seguinte, corando Omar Sharif como um ator singular na excelente interpretação de seu primeiro grande protagonista. A famosa adaptação do romance de Boris Pasternak mostra a proibida e sofrida história de amor do jovem médico aristocrata com a ignóbil enfermeira Lara Antipova em meio aos devastadores conflitos da Revolução Russa de 1917. Lara é interpretada pela sempre bela Julie Christie que, ao lado de Sharif, é constantemente lembrada por formar um dos casais mais emblemáticos e inesquecíveis do Cinema em mais este belo épico romance de guerra.

Dentro dos papéis inesquecíveis e das atuações marcantes ainda podemos destacar que, bem antes de um visionário e ambicioso projeto do diretor estadunidense Steven Sodebergh e do ator porto-riquenho Benício Del Toro sobre a vida de Ernesto Che Guevara, era Omar Sharif que, por décadas, ostentava a fiel representação do revolucionário argentino entre todas as narrativas cinematográficas até então realizadas. O ótimo “Che! Causa Perdida” (1969) de Richard Fleischer decai sobre toda a vida que Guevara construiu desde a sua chegada a Cuba, em 1956, até o momento em que sucumbiu diante de tropas militares na Bolívia através da luta pela “causa perdida” da Revolução no país.

De grandes personagens da literatura mundial à biografados revoltosos, passando por contrabandistas mouriscos e criminosos sarracenos; e por sheiks árabes e príncipes muçulmanos; Omar Sharif contribuiu muito para o rompimento das barreiras marginais dos preconceitos que sempre limitaram e ainda costumam limitar atores e atrizes de países periféricos (com pouca ou nenhuma tradição no cinema) a encarar papéis secundários ou etnicamente estereotipados e discriminados.

O legado de humanidade do carismático Omar Sharif fica como exemplo, e o que nos resta é continuar lembrando e reverenciando mais um desses gigantescos mitos, mantendo viva a memória e a história do bom Cinema.

Descanse em paz... (1932 - 2015)

Dez filmes com Omar Sharif que indico (em ordem de predileção):

01 - Lawrence da Arábia (1962) - de David Lean

02 - Doutor Jivago (1965) - de David Lean

03 - Funny Girl - A Garota Genial (1968) - de William Wyler

04 - Mar de Fogo (2004) - de Joe Johnston

05 - A Noite dos Generais (1967) - de Anatole Litvak

06 - Che! Causa Perdida (1969) - de Richard Fleischer

07 - Uma Amizade sem Fronteiras (2003) - de François Dupeyron

08 - Sementes de Tamarindo (1974) - de Blake Edwards

09 - O Rolls-Royce Amarelo (1964) - de Anthony Asquith

10 - Top Secret! Super Confidencial (1984) - de Jim Abrahams, David Zucker e Jerry Zucker

Omar Sharif com Julie Christie em "Doctor Zhivago" (1965) de David Lean
Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) [us] | Carlo Ponti Production [it] | Sostar S.A.

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