segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Memórias #13 | Wes Craven (1939 - 2015)

Responsável por colocar nas telas dos cinemas todos os nossos piores e maiores pesadelos, o cineasta, produtor e roteirista Wes Craven teve a sua morte anunciada pela família no final da noite deste último domingo, dia 30, em Los Angeles. Natural de Cleveland, Craven tinha 76 anos e travava, há algum tempo, uma batalha complicada contra um câncer no cérebro.

Constantemente creditado como o reinventor dos filmes de terror adolescentes, Wes Craven obteve grandes elogios e reconhecimento já em seus primeiros trabalhos como diretor na cena independente dos Estados Unidos com o amedrontador e controverso “Aniversário Macabro” (1972), e com o fabuloso “Quadrilha de Sádicos” (1977). Entretanto, o sucesso foi alcançado com a idealização tanto de “A Hora do Pesadelo” quanto “Pânico”, duas da maiores e mais bem-sucedidas franquias do chamado “terror teen”.

Com toda certeza, Wes Craven deixou um grande número de crianças e pré-adolescentes (que assistiam aos seus filmes escondidos) sem conseguirem fechar os olhos durante algumas noites pelos meados da década de 80. Curiosamente, o diretor teve uma de suas principais crias inspiradas por traumas de sua própria infância. O funesto e medonho Freddy Krueger, que surge apavorante em “A Hora do Pesadelo” (1984), foi inspirado em um maltrapilho e desfigurado morador de rua que vagueava próximo à casa do ainda pequeno Wes. Casa essa localizada próxima a um cemitério da rua Elm, nos subúrbios de Cleveland (daí a “Elm Street” do título original do filme).

O diretor Wes Craven (1939 - 2015) - Getty Images

Wes Craven ainda roteirizou mais quatro continuações menores para a história, produzidas e lançadas em sequência entre os anos de 1985 e 1989, todas com diretores diferentes. Krueger voltou a aterrorizar os espectadores na década de 90, em “A Hora do Pesadelo 6 - Pesadelo Final: A Morte de Freddy” (1991) de Rachel Talalay, e em “O Novo Pesadelo: A Volta de Freddy Krueger” (1994) com Craven finalmente reassumindo a direção da franquia.

Assim como Freddy, o diretor também é o pai de Ghostface, ícone e estrela antagônica daquele que viria a ser o seu mais novo sucesso de bilheteria. “Pânico” (1996) repaginou os gêneros de terror e horror traduzindo-os para os dramas reais da contemporaneidade, além de ter possibilitado que Wes Craven brincasse com os próprios clichês e convenções dos filmes que o tornaram famoso. A franquia seguiu com uma sequência imediata, “Pânico 2” (1997), e uma mais vindoura, “Pânico 3” (2000).

O último filme de Wes Craven como diretor foi, inclusive, “Pânico 4” (2011). Contudo, ele ainda estava trabalhando como consultor e produtor executivo da série de televisão “Pânico”, produzida pela MTV, inspirada integralmente em seus quatro longas e que está com a sua primeira temporada sendo exibida nos Estados Unidos.

Apesar de alguns deslizes, como “Amaldiçoados” (2005) e “A Sétima Alma” (2010), Wes Craven possuía uma mente inegavelmente brilhante, pois primava pelo entretenimento sem deixar de lado o sadismo e o realismo brutal que permeavam as suas narrativas e definiam as características principais de suas personagens. O imaginário criativo e fantasmagórico do diretor certamente fará falta em um cenário carente de boas produções do gênero que o consagrou como um dos maiores.

Que agora descanse em paz... (1939 - 2015)

Dez filmes dirigidos por Wes Craven que indico (em ordem de predileção):

01 - Quadrilha de Sádicos (The Hills Have Eyes, Estados Unidos, 1977)

02 - Pânico (Scream, Estados Unidos, 1996)

03 - Aniversário Macabro (The Last House on the Left, Estados Unidos, 1972)

04 - A Hora do Pesadelo (A Nightmare on Elm Street, Estados Unidos, 1984)

05 - O Monstro do Pântano (Swamp Thing, Estados Unidos, 1982)

06 - A Maldição dos Mortos-Vivos (The Serpent and the Rainbow, Estados Unidos, 1988)

07 - Pânico 2 (Scream 2, Estados Unidos, 1997)

08 - Música do Coração (Music of the Heart, Estados Unidos, 1999)

09 - As Criaturas Atrás das Paredes (The People Under the Stairs, Estados Unidos, 1991)

10 - Um Vampiro no Brooklyn (Vampire in Brooklyn, Estados Unidos, 1995) (:-P)

"Scream" (1996) de Wes Craven - Dimension Films [us] | Woods Entertainment [us]

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Três Assim #8 | Os cem anos de Ingrid Bergman

Elegante, versátil e internacional! Nascida em Estocolmo em 29 de agosto de 1915, a polivalente atriz sueca Ingrid Bergman estaria completando 100 anos de idade neste próximo sábado. Para não passar por essa significativa data sem um registro, o Rotina Cinemeira presta homenagens a esta formidável artista que, tanto no mundo do entretenimento quanto no coletivo social, contribuiu muito com suas deliberadas opiniões e que, com o seu talento e intrepidez, pôde atuar em uma dezena de filmes memoráveis, se configurando como um dos maiores ícones da Sétima Arte e uma das mulheres com a personalidade mais forte e independente do Século XX.

A atriz tem as suas bases artísticas fundadas principalmente no teatro. Influenciada pela família e sobretudo pelo pai, Justus Bergman (fotógrafo, boêmio e amante das artes), Ingrid acabou ingressando muito jovem na Real Escola de Arte Dramática de Estocolmo, e antes mesmo que terminasse o seu curso, já estreava nos cinemas de seu país a convite de empresários e produtores do ramo. Em menos de cinco anos, Ingrid Bergman já tinha participado de pelo menos dez produções do seu país, das quais mais se destacam “O Grande Pecado” (1935) de Gustaf Edgren; e “A Mulher que Vendeu a Alma” (1938) e “Esta Noite Contigo”, ambos de Gustaf Molander.

Entretanto, o seu maior sucesso foi “Intermezzo” (1936), também de Molander, filme que chamou a atenção dos grandes caçadores de talentos e executivos de Hollywood, profissionais que acabaram levando a atriz para despejar todo o brilho de suas atuações em Los Angeles na refilmagem “Intermezzo: Uma História de Amor” (1939), dirigido por Gregory Ratoff e com Leslie Howard no elenco.

A estonteante atriz sueca Ingrid Bergman (1915 - 1982) - Divulgação

Nos Estados Unidos, Ingrid Bergman teve a oportunidade de trabalhar com os mais conceituados e renomados diretores dos grandes estúdios tais como Alfred Hitchcock (já nos Estados Unidos), George Cukor, Leo McCarey, Sam Wood e Vincente Minnelli. Sua versatilidade também possibilitou com que filmasse com os maiores expoentes do cultuado cinema europeu, dentre eles Ingmar Bergman, Jean Renoir e Roberto Rossellini. A avalanche de talento, carisma e habilidade da atriz permitiram que ela fosse reconhecida e premiada nos mais importantes festivais de cinema no mundo, como o Globo de Ouro, nos Estados Unidos; o BAFTA no Reino Unido; o César, na França; e o Festival de Veneza, na Itália.

Ingrid Bergman também foi a grande homenageada da 68ª. Edição do Festival de Cannes deste ano. A atriz, que foi a presidente do Júri do renomado Festival no ano de 1973, teve, na edição de 2015, o documentário “Eu sou Ingrid Bergman” (2015) de Stig Björkman exibido na Mostra Cannes Classics como parte das comemorações do centenário de seu nascimento. Com uma série de entrevistas e com a reunião de materiais inéditos como cartas, diários e fotografias de Ingrid, o filme faz um recorte aproximado de sua intimidade revelando aspectos peculiares sobre as suas vidas familiar e amorosa dando enfoque, sobretudo, nas relações afetivas com os filhos e com os companheiros.

Atrás apenas de Katharine Hepburn e empatada com Meryl Streep, Ingrid Bergman é uma das maiores vencedoras do Oscar. Num total de sete indicações, a atriz foi agraciada com a estatueta em três ocasiões: melhor atriz por “À Meia Luz” (1944) de George Cukor e por “Anastácia, a Princesa Esquecida” (1956) de Anatole Litvak; e melhor atriz coadjuvante por “Assassinato no Expresso Oriente” (1974) de Sidney Lumet. Entretanto, são três outros filmes que desenham e podem, numa tarefa completamente impossível, “resumir” a carreira impecável que uma das mais encantadoras e estonteantes damas que o Cinema teve o prazer de nos apresentar! Confira as nossas indicações para o seu fim de semana:

Casablanca (Casablanca, Estados Unidos, 1942)

Direção: Michael Curtiz

Tratar da carreira de Ingrid Bergman em Hollywood (e no Cinema, de maneira geral) sem reverenciar a sua atuação em “Casablanca” é um dever indissociável para todos aqueles que dedicam um tempo para apreciar ou discorrer um pouco sobre a sua carreira. Após o relativo sucesso de seu segundo “Intermezzo” e de atuações limpas em “Fúria no Céu” de W. S. Van Dyke e na versão de Victor Fleming para “O Médico e o Monstro” (ambas de 1941), a atriz finalmente desponta para o público ao esbanjar elegância neste clássico absoluto dirigido por Michael Curtiz.

A história se desenvolve durante os conflitos iniciais da Segunda Guerra Mundial, onde o americano expatriado Rick Blaine (Humphrey Bogart) se mantém como o dono de um famoso bar em Casablanca, no Marrocos Francês. A cidade é rota de fuga para àqueles que desejam escapar das perseguições dos nazistas na Europa. Além de oferecer diversão para os mais ricos, o Night Club de Blaine funciona como um mercado negro, onde passes livres são vendidos a preços extremamente salgados para os que buscam se exilar.

A noite caótica de Casablanca ainda revelaria uma surpresa: quando Victor Laszlo (Paul Henreid), líder da resistência tcheca, chega à cidade trazendo consigo sua esposa, Ilsa Lund (Bergman), Rick Blaine se reencontra com um passado no qual ele relutava para esquecer. A dama era sua antiga amante, o grande amor da sua vida que, de maneira inesperada, fora interrompido há algum tempo, em Paris. Atender Lazlo e, consequentemente, Ilsa poderá trazer para o negociante uma série de complicações imprevistas e um turbilhão de confusões emocionais.

As atuações intensas e elegantes, bem como a química entre Bergman e Bogart, são tão penetrantes aos olhos do espectador que o filme se tornou um divisor de águas na carreira de ambos. Bogart finalmente se consagrou como um dos maiores atores de sua geração (e de todos os tempos) e Bergman emendou, já no ano seguinte, o clássico “Por quem os Sinos Dobram” (1943) de Sam Wood. Curiosamente, o carisma e a simpatia do casal não foram reaproveitados em nenhum outro filme (atitude que era muito comum por parte dos produtores executivos da época diante de um grande sucesso) e os dois nunca voltaram a contracenar, embora tenham construído, a partir de “Casablanca”, uma intensa e duradoura amizade.

Humphrey Bogart com Ingrid Bergman em "Casablanca" (1942) de Michael Curtiz - Warner Bros. [us]

Viagem à Itália (Viaggio in Italia, Itália | França, 1954)

Direção: Roberto Rossellini

Quase sete anos de um casamento repleto de amor, cumplicidade, três filhos e cinco filmes. Juntos, Ingrid Bergman e o diretor italiano Roberto Rossellini formaram um dos casais mais inflamados, polêmicos e escandalosos da história do cinema, afinal ambos se apaixonaram e iniciaram um relacionamento quando ainda estavam casados com os seus respectivos pares. Por fim, abandonaram (cada um) a sua família para poderem viver juntos. O embaraçoso episódio fez com que Ingrid, acostumada e muito bem adaptada à rotina de Hollywood, fosse forçada pelo governo estadunidense a deixar o país acusada de adúltera e de mau exemplo para a sociedade e para as mulheres americanas.

Sem poder filmar por anos nos Estados Unidos, mas bem afastada dos escândalos em um “disfarçado exílio”, Ingrid Bergman pôde dar novos rumos na carreira e participar de várias produções e coproduções europeias na Alemanha Ocidental, na França, no Reino Unido e, sobretudo, na Itália. Na mira das lentes do marido, a atriz brilhou em “Stromboli” (1950) e, dois anos mais tarde, em “Europa ‘51” (1952), ambos filmados na “Terra da Bota”. Entretanto, é em “Viagem à Itália” que observamos a sinergia do trabalho e do talento do casal confluir para uma obra-prima que trata, curiosa e ironicamente, de uma crise conjugal. No filme acompanhamos Katherine Joyce (Bergman) e Alexander “Alex” Joyce (George Sanders), um rico e sofisticado casal britânico que segue para o Sul da Itália com a finalidade de vender uma propriedade recentemente adquirida por herança de um falecido tio de Alex.

Antes da viagem, a relação entre os dois já não caminhava muito bem. O silêncio resignado que ampliava de maneira abissal a distância entre o casal ressoou ainda mais grave quando eles entraram em contato com a misteriosa e fantasmagórica Nápoles, bem como os seus peculiares habitantes. Katherine começa a recordar de um poeta ao qual amou e que morreu durante a Guerra e, além disso, mergulha no fascínio que os napolitanos têm pela morte ao visitar os melancólicos museus da cidade e também de Pompeia; já Alex investe em escapas mal-intencionadas para Ilha de Capri, aonde flerta com várias mulheres, mas sempre tentando evitar o adultério; nos raros momentos de intimidade com Katherine, Alex se mostra sarcástico; já com ele, ela é extremamente crítica.

Um drama verdadeiramente real incrementado por uma paisagem inspiradora e ao mesmo tempo hostil, “Viagem à Itália” é a ilustração recalcada e simples de um par que está cansado de levar adiante um casamento que, visivelmente, vai se desintegrando aos olhos da sociedade. Pelas mãos e olhares do cineasta italiano, a história dos Joyce é transformada em um apaixonado e lancinante romance que recebe constantemente boas doses de cinismo, crueldade e, principalmente, solidão. Vale lembrar que o desgaste e o distanciamento também chegaram para Ingrid Bergman e Roberto Rossellini, que acabaram se divorciando em 1957.

George Sanders com Ingrid Bergman em "Viaggio in Italia" (1954) de Roberto Rossellini
Italia Film [it] | Junior Film [it] | Sveva Film [it]

Sonata de Outono (Höstsonaten, França | Alemanha Ocidental | Suécia, 1978)

Direção: Ingmar Bergman

Ao lado de Ingrid, o cineasta Ingmar Bergman também é considerado o maior nome da história do Cinema Sueco. Apesar de possuírem o mesmo sobrenome, os dois não tinham nenhuma relação de parentesco, e muito menos haviam trabalhado juntos em algum filme até o ano de 1978, quando realizaram “Sonata de Outono”, primeira e única contribuição entre a atriz e o diretor.

No longa, Ingrid interpreta Charlotte Andergast, uma pianista profissional de carreira renomada e bem-sucedida que recebe uma carta de sua filha, Eva (Liv Ullmann), a qual não vê há sete anos. Tímida e reprimida, Eva anseia pelo amor da mãe, que por muito tempo negligenciou os filhos e toda a família, mas que agora arrumou um tempo para visitá-la em sua residência, localizada em uma afastada província da Suécia.

Num primeiro momento, a chegada de Charlotte reacende um amedrontado sentimento de carinho e afetividade entre mãe e filha. Entretanto, o encontro das duas mulheres começa a mudar de tom quando Charlotte se surpreende com a presença de sua outra filha, Helena (Lena Nyman), na casa da irmã mais velha. Helena é deficiente mental, e Eva a tomou para seus cuidados retirando-a da instituição em que sua mãe a havia colocado pouco antes de seguir a sua carreira internacional como música. A presença de Helena na casa de Eva é somente o estopim de uma bomba de tensão que está prestes a explodir.

Assombrada por rancores, ressentimentos e cobranças escondidas em lembranças do passado, a relação conflituosa entre mãe e filha se reconstrói de maneira lenta e nervosa em um embate especioso. Interpondo um confronto sustentado por um Prelúdio de Chopin, onde Charlotte impõe sua superioridade e virtuosismo perante a filha, e uma conversa noturna em que Eva libera todas as suas feras revelando a incapacidade afetiva da mãe ao lidar com ela e com Helena, Ingmar Bergman tece uma das mais amargas reflexões sobre o intrincado tema dos relacionamentos familiares.

Marcado por um desfecho sublime, “Sonata de Outono” também foi o último filme feito por Ingrid Bergman para o cinema (a atriz ainda faria o telefilme “Golda”, em 1982, ano de seu falecimento). No início das filmagens, ela tinha acabado de ser diagnosticada com câncer nas mamas, doença que tiraria a vida de uma das maiores estrelas do cinema de todos tempos quatro anos depois, coincidentemente, no dia de seu aniversário.

Liv Ullmann com Ingrid Bergman em "Höstsonaten" (1978) de Ingmar Bergman
Personafilm [de] | Filmédis [fr] | Incorporated Television Company (ITC) [gb] | Suede Film

É ISSO... CELEBREM INGRID BERGMAN!

BOM FIM DE SEMANA E BOAS SESSÕES!

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Depois de boa estreia em São Paulo, Mostra de Cinema Permanente Curta Circuito aporta em mais uma Capital Brasileira no mês de agosto | Rotina em Salvador

Idealizado em 2001 pela Associação Curta Minas/ABD-MG com o intuito de valorizar a exibição e disseminação de curtas-metragens nacionais, a Mostra de Cinema Permanente Curta Circuito já possui um grande destaque no cenário cultural de Belo Horizonte há quatorze anos e também realiza, por algum tempo, exibições especiais em cidades do interior do Estado de Minas Gerais. Expandindo cada vez mais as suas fronteiras e após um debute de sucesso em São Paulo no início de agosto, o projeto se prepara para mais uma estreia especial ainda neste mês, desta vez abraçando a capital baiana.

Sucesso absoluto na formação regular de um público consumidor de Cinema Nacional da melhor qualidade, o Curta Circuito conquistou o seu espaço e ganhou notoriedade no decorrer dos anos ampliando o seu caráter e objetivos iniciais, passando a privilegiar também os médias-metragens e, posteriormente, integrar alguns longas em sua vasta e variada programação. Absorvendo e propagando na sua linha curatorial todas as formas de se fazer e de se pensar cinema, o projeto ainda apresenta, além da exibição constante de excelentes filmes, encontros do público com alguns convidados (sejam eles diretores, atores ou críticos de cinema) que através de ciclos de debates ajudam a remodelar ou reconstruir padrões críticos de uma identicidade brasileira através da realização e da produção de obras que promovem uma reflexão que vai além da diversão.

Atualmente, o amplo trabalho da coordenação de Cláudio Constantino e Daniela Fernandes somado aos esforços da curadoria do projeto visam estabelecer, basicamente, o encontro cada vez mais rotineiro (e íntimo) das pessoas com as variadas formas de produção audiovisual brasileiras realizadas ao longo de décadas e décadas na História do Cinema Nacional. Essas atividades também incluem produções extremamente recentes de uma vigorosa e pujante safra e inventiva linha cinematográfica que vem, mesmo que de forma independente, conquistando um número cada vez maior de fãs. Filmes como “Exilados do Vulcão” (2013) de Paula Gaitán; “Periscópio” (2013) de Kiko Goifman; “A História da Eternidade” de Camilo Cavalcante; e “A Vizinhança do Tigre” (2014) de Affonso Uchoa (inclusive, curador do projeto) fizeram parte de uma das Mostras do projeto, denominada “Eixo BR” realizadas em Belo Horizonte em suas últimas edições.

Além desses importantes e recentes lançamentos, uma parceria firmada com a Cinemateca Brasileira nos últimos anos de projeto ainda foi/é responsável por nos brindar com as exibições de eternos clássicos restaurados em belíssimas cópias em película 35mm que, por muitas vezes esquecidos, voltam a reabitar a nossa memória. Na Mostra "Clássicos BR" (que recheia essa primeira edição em Salvador com três grandes produções), obras valorosas como, por exemplo, “O Grande Momento” (1958) de Roberto Santos; “A Rainha Diaba” (1974) de Antonio Carlos da Fontoura; “A Lira do Delírio” (1978) de Walter Lima Jr.; e “Na Estrada da Vida” (1983) de Nelson Pereira dos Santos foram projetadas num curto espaço de dois anos ao longo da Mostra Permanente.

Notadamente imperdíveis, as exibições em Salvador começarão hoje e se estenderão ao longo de todo o fim de semana com sessões às 19:00 na quinta e na sexta-feira e às 18:00 no sábado e no domingo. Os filmes que serão projetados este mês (todos clássicos absolutos!) contemplam as décadas de 70 e de 80 e se correlacionam ao mostrarem o olhar crítico dos cineastas sobre a cultura e a dinâmica social brasileira à época, revelando um cotidiano batalhador e sofrido; o escancaro das realidades marginais; a rebeldia adolescente; e as intranquilidades da vida adulta.

A programação completa está disponível no próprio site do Projeto Curta Circuito (http://www.curtacircuito.com.br/) ou pode ser acessada diretamente pelo link "Curta Circuito em Salvador (BA)".

A Sala Walter da Silveira está localizada na DIMAS (Diretoria de Audiovisual da Fundação Cultural da Bahia), na Rua General Labatut 27, no subsolo da Biblioteca Pública dos Barris, em Salvador.

A ENTRADA É FRANCA!

A sessão que inaugura a Mostra em Salvador esta noite é a do filme “Ladrões de Cinema” (1977) de Fernando Coni Campos, com Antônio Pitanga, Grande Otelo, Jean-Claude Bernardet e Milton Gonçalves no elenco. E agora confira agora as sinopses, dias de exibição e informações sobre os debatedores de cada uma das sessões dessa semana:

Dia 27/08 - Ladrões de Cinema (Ladrões de Cinema, Brasil, 1977)

Direção: Fernando Coni Campos

Durante a celebração do carnaval carioca, uma equipe de cineastas estadunidenses tem os seus equipamentos e materiais de filmagem roubados por um bloco de índios aos quais eles documentavam. Logo após o furto, os ladrões que, na verdade, são moradores da comunidade de Morro do Pavãozinho resolvem eles mesmos fazerem um filme que terá como tema a Inconfidência Mineira.

Após a sessão, haverá um bate-papo com a editora do CinePipocaCult Amanda Aouad, também crítica de cinema e filiada à Abraccine.

"Ladrões de Cinema" (1977) de Fernando Coni Campos - Cinemateca Brasileira [br] | Banco de Conteúdos Culturais

Dia 28/08 - Sessão Topografias do diretor Aloysio Raulino

Inventário da Rapina (Inventário da Rapina, Brasil, 1986)

Baseando-se em textos, relatos e músicas do poeta e ensaísta paulistano Cláudio Willer, o “Inventário da Rapina” registra as impressões dos momentos vividos no Brasil e que podem ser traduzidos ou sentidos em qualquer época. Um drama intimista, patriótico e atemporal.

O Porto de Santos (O Porto de Santos, Brasil, 1978)

Registro documental descritivo e poético do Porto de Santos e de seus trabalhadores (doqueiros, marinheiros e prostitutas) que se encontram afetados ou envolvidos por uma paralisação grevista.

Lacrimosa (Lacrimosa, Brasil, 1970)

Retrato cru e contínuo de São Paulo a partir de uma viagem itinerante e ininterrupta pelas ruas da cidade. Seguindo pela Marginal Tietê e pelas demais vias da maior metrópole brasileira, observamos uma paisagem ser desenhada por grandes edifícios e fábricas, bem como terrenos baldios, favelas e muita miséria. Uma compassiva e lacrimosa visualidade urbana.

O Tigre e a Gazela (O Tigre e a Gazela, Brasil, 1976)

Tudo se mistura: fisionomias, gestos e falas das diversas personagens das ruas vivas de São Paulo. Mendigos, pedintes, foliões e pessoas inquietamente simples relatam os seus anseios e suas loucuras. Os diversos sons e imagens registrados ainda são intercalados e ilustrados com extratos do psiquiatra e pensador franco-martinicano Frantz Fanon.

Após a sessão, haverá um bate-papo com o cineasta e diretor do Instituto de Radiofusão Educativa da Bahia, José Araripe Jr. e com a arquiteta urbanista e artista visual Silvana Olivieri.

"Inventário da Rapina" (1986); "Lacrimosa" (1970); "O Porto de Santos" (1978); "O Tigre e a Gazela" (1976)
Filmes de Aloysio Raulino - Divulgação Forumdoc.bh [br]

Dia 29/08 - Marcelo Zona Sul (Marcelo Zona Sul, Brasil, 1970)

Direção: Xavier de Oliveira

Morador da Zona Sul do Rio de Janeiro, o inquieto jovem Marcelo (Stepan Nercessian) evita a escola e o trabalho e, ao lado de seus amigos, sai pelas ruas em busca de aventuras inconsequentes como forma de fuga, represália e desforra contra uma realidade que o sufoca. O fracasso de sua escapadela e a aparente rebeldia sem causa podem ser deflagradas pelo seu bom coração e pela vontade de nunca querer, de fato, ter deixado a tranquilidade e as mordomias da sua vida de classe média.

Os conflitos da rebeldia latente da adolescência com a inocente pureza preservada da infância revelam as contradições das gerações mais novas que sempre serão a grande esperança de um aperfeiçoado mundo adulto no futuro.

Após a sessão, haverá um bate-papo com o pesquisador de cinema Rafael Carvalho, crítico filiado a Abraccine.

"Marcelo Zona Sul" (1970) de Xavier de Oliveira - Ipanema Filmes [br] | Lestepe Produções Cinematográficas [br]

Dia 30/08 - Wilsinho Galiléia (Wilsinho Galiléia, Brasil, 1978)

Direção: João Batista de Andrade

Mesclando depoimentos fictícios e reais, o banditismo arrojado ou o heroísmo lacônico acabam se confundindo no documento visual que reconstrói a curta e trágica vida de Wilsinho, um jovem transformado em contraventor perigoso desde os seus quatorze anos de idade. Autor de inúmeros crimes e diversas vezes preso, Wilsinho acabou sendo fuzilado pela polícia na casa de sua namorada, Geni.

Proibido pela ditadura de ser lançado comercialmente nos cinemas, o documentário biográfico foi produzido em formato 16mm sob encomenda da Rede Globo de Televisão e exibido no programa “Globo Repórter”.

Após a sessão, haverá um bate-papo com o cineasta Geraldo Moraes.

"Wilsinho Galiléia" (1978) de João Batista de Andrade - Cinemateca Brasileira [br] | Banco de Conteúdos Culturais

AO CURTA CIRCUITO, SUCESSO SEMPRE! AOS SOTEROLPOLITANOS, BOAS SESSÕES!

terça-feira, 18 de agosto de 2015

“Permanência” de Leonardo Lacca é destaque do Projeto “Cinema em Transe” nesta terça no Sesc Palladium | Rotina em Belo Horizonte

Passado e memória; silêncio e fraqueza; ribombo e desejo! Os dramas da sociedade contemporânea são cercados pelos medos e pelas incertezas de um mundo habitado pela desconfiança e traduzido pelo sentimento da perda ou da ausência, mas que ainda segue girando na sua incessante e conflituosa busca pela felicidade plena. Em um diálogo simplório e honesto com o seu espectador, “Permanência” acaba tratando de tudo isso com uma eloquente singeleza. O longa-metragem de estreia do diretor pernambucano Leonardo Lacca dará sequência à programação de 2015 do Projeto “Cinema em Transe” e pode ser conferido hoje, às 20:00, na Sala Professor José Tavares de Barros do Sesc Palladium, no centro de Belo Horizonte.

O turbilhão de emoções preservado com latência em um vazio notadamente angustiante é carregado por Ivo (Irandhir Santos), um fotógrafo pernambucano que chega a São Paulo para apresentar a primeira mostra individual de seu elogiado trabalho. Ele acaba aceitando o convite de sua ex-namorada, Rita (Rita Carelli), para permanecer hospedado em sua casa durante o período em que a exposição é realizada. Entretanto, Rita se encontra casada com Mauro (Sílvio Restiffe), enquanto Ivo deixou um grande amor em Recife. Os gestos e olhares “tímidos” refletem a inquietação como a provável consequência para os assuntos mal resolvidos; a afeição e a simpatia preservadas ao longo dos anos de distância farejam uma iminente explosão de sentimentos. Inevitavelmente, a proximidade entre Ivo e Rita irá despertar antigos desejos e novas possibilidades de uma relação para os dois.

Exibido na Première Brasil do Festival do Rio de 2014, “Permanência” integrou a lista dos filmes que compunham a Mostra Novos Rumos, dedicada exclusivamente à diretores estreantes que, atualmente, são os maiores responsáveis por expressarem as novas linguagens que construirão caminhos esperançados para o nosso Cinema Nacional. Ainda em 2014, o longa venceu em duas categorias do cada vez mais importante Festival Internacional de Cinema da Fronteira, realizada no fronteiriço município gaúcho de Bagé: Lacca ficou com o prêmio de melhor direção e Irandhir Santos (com o seu já inegável e monstruoso talento) foi premiado como melhor ator. Já em 2015, a produção foi a grande vencedora da noite de premiações do XIX Cine PE Festival Audiovisual, realizado na cidade do Recife. Além de ser escolhido como o Melhor Filme da edição, ainda foram agraciadas na cerimônia Rita Carelli (atriz), Laila Pas (atriz coadjuvante); e ainda Genésio de Barros (ator coadjuvante) e Juliano Dornelles (direção de arte).

Ameno, mas com a firme e opulenta assinatura presente em todas as obras da excelente safra do Cinema Pernambucano atual, “Permanência” é uma das grandes surpresas do ano e ainda tem um interessante caminho a seguir.

"Permanência" (2014) de Leonardo Lacca - Trincheira Filmes [br]

Leonardo Lacca surge como um talento promissor deste Novo Cinema Pernambucano, justamente por possuir, em seu currículo, uma série de curtas-metragens notáveis e extremamente relevantes para a cena cultural de seu Estado. Dentre eles se destacam “Sob a Mesa” (2003), parceria com os diretores Gabriel Mascaro e Marcelo Lordello; “Interferência” e “Ventilador”, ambos de 2004; “Eisenstein” (2006); e “Décimo Segundo” (2007), o inquietante e estrondoso curta que serviu como o ponto de partida para a concepção de “Permanência”, e que também contou com a participação de Irandhir Santos e Rita Carelli no elenco. O cineasta ainda estará presente na Sala Professor José Tavares de Barros na noite de hoje para participar de um debate ao final da projeção de seu primeiro longa.

Criado em janeiro de 2013 com o intuito de promover o Cinema Nacional, o Projeto “Cinema em Transe” se transformou em um importante veículo para a disseminação de produções lançadas recentemente e que obtiveram destaque significativo em mostras e festivais de cinema pelo Brasil e pelo mundo. Ao longo desses últimos dois anos, as ações do projeto contribuíram muito para a divulgação e difusão do cinema produzido no país, explorando vários temas e possibilitando um contato maior do público com importantes obras da nossa cinematografia, por vezes raras e de difícil acesso.

Ressalvando o enorme valor cultural do projeto, vale lembrar que as exibições no Sesc Palladium são quinzenais e em sessão única. Dessa forma, se a divulgação desses filmes não for feita permanentemente, muitos deles continuarão enfrentando grandes dificuldades para serem distribuídos ou se lançarem no circuito comercial. Alguns desses excelentes filmes, por exemplo, são inéditos em Belo Horizonte e, lamentavelmente, terão pouco ou nenhum destaque nas salas de cinema da cidade. Confira, então, as produções já exibidas pelo projeto em 2015 com o link para os respectivos artigos e ajudem a divulgá-los:

- “Branco Sai, Preto Fica” (DF) de Adirley Queirós (em breve na Coluna “Identidade Nacional”);










Viva o Cineclubismo e viva o Cinema Nacional!


Observação: a entrada para a sessão de “Permanência” esta noite é gratuita, mas é necessário retirar os ingressos na bilheteria do Sesc Palladium duas horas antes da sessão. O espaço está sujeito a lotação.

A Sala Professor José Tavares de Barros está localizada no Sesc Palladium, na Avenida Augusto de Lima 420, centro de Belo Horizonte.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Grande Prêmio do Cinema Brasileiro de 2015 contará com a ajuda do público na escolha dos vencedores em algumas categorias

Anunciada e divulgada pela Academia Brasileira de Cinema, circula desde a última quinta-feira, dia 6 de agosto, a lista dos finalistas indicados ao 14o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. Maciçamente votado pelos próprios profissionais de cinema do país, o evento se tornou uma grande celebração da arte e do ofício cinematográfico da própria classe, dando o devido valor e reconhecimento às suas classes técnicas e artísticas.

Entretanto, o público (admirador e consumidor) também ajudará a escolher, em uma votação on-line no site oficial da própria Academia, os vencedores de três das mais importantes categorias do festival: Melhor Longa-Metragem de Ficção; Melhor Documentário em Longa-Metragem; e Melhor Longa-Metragem Estrangeiro. As escolhas poderão ser feitas até o final deste mês (dia 31) através do site www.academiabrasileiradecinema.com.br e, apesar de serem poucas categorias abertas ao crivo popular, não deixem de participar e VOTAR!

Na lista dos indicados à principal categoria desta edição, por exemplo, estão “Getúlio” (2014) de João Jardim, a cinebiografia do ex-presidente Getúlio Vargas que ainda concorre em mais outras 13 categorias; a jornada psicótica do thriller “O Lobo Atrás da Porta” (2013) de João Jardim, que segue na cola com as suas 12 indicações; “Tim Maia” (2014) de Mauro Lima e “Praia do Futuro” (2014) de Karim Aïnouz com dez e sete indicações, respectivamente; e “Hoje eu quero Voltar Sozinho” (2014) de Daniel Ribeiro, nosso último representante na tentativa de conquistar uma estatueta do Oscar, com apenas quatro nomeações.

Para aqueles que moram no Rio de Janeiro, fica uma dica especial! A partir do dia 20 de agosto, os filmes indicados nas categorias abertas ao voto popular serão reexibidos em cinco espaços culturais ou salas da cidade a preços populares: Cine Odeon (Centro Cultural Luiz Severiano Ribeiro); Departamento de Cinema da Universidade Federal Fluminense (sessões a um Real); Biblioteca Parque de Manguinhos; Biblioteca Parque Estadual Avenida Presidente Vargas; e Núcleo de Cinema Estácio de Sá (este último, com sessões gratuitas).

Já a cerimônia de entrega acontece no dia 1º de setembro, às 21:00, no Cine Odeon que integra o Centro Cultural Luiz Severiano Ribeiro, na cidade do Rio de Janeiro. O evento terá transmissão ao vivo pela emissora de TV por assinatura Canal Brasil.

Cartaz de Divulgação do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2015
Ministério da Cultura [br] |Academia Brasileira de Cinema [br]

Além de premiar os vencedores nas 26 categorias, a Academia ainda homenageará o cineasta carioca Roberto Farias, realizador de grandes preciosidades do Cinema Nacional como “Rico Ri à Toa” (1957), “O Assalto ao Trem Pagador” (1962) e “Pra Frente, Brasil” (1982), além de dirigir a famosa sequência de filmes do cantor Roberto Carlos, da qual se destaca o título “Roberto Carlos a 300 Quilômetros por Hora” (1971).

Confira agora a lista completa com todos os indicados ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro de 2015 e, em destaque, os votos/preferidos/torcida da equipe do Rotina Cinemeira em todas as categorias:

LONGA-METRAGEM DE FICÇÃO

- “Getúlio” (Carla Camurati, Carlos Diegues e Pedro Borges)

- “Hoje eu quero Voltar Sozinho” (Daniel Ribeiro, Diana Almeida e Renato Rondon)

- “O Lobo Atrás da Porta” (Caio Gullane, Débora Ivanov, Fabiano Gullane e Gabriel Lacerda)

- “Praia do Futuro” (Andro Steinborn, Christopher Zitterbart, Fabian Gasmia, Geórgia Costa Araújo, Hank Levine, Henning Kamm e Luciano Patrick)

- “Tim Maia” (Raphael Mesquita, Rodrigo Teixeira e Rômulo Marinho Jr.)

DOCUMENTÁRIO EM LONGA-METRAGEM

- “Brincante” (Caio Gullane, Débora Ivanov, Fabiano Gullane, Gabriel Lacerda e Walter Carvalho)

- “Dominguinhos” (Deborah Osborn, Eduardo Nazarian, Felipe Briso, Gilberto Topczewski, Joaquim Castro e Mariana Aydar)

- “A Farra do Circo” (Pedro Bronz, Roberto Berliner e Rodrigo Letier)

- “Olho Nu” (André Saddy, Joel Pizzini e Paloma Rocha)

- “Tim Lopes - Histórias de Arcanjo” (Emilio Gallo e Guilherme Azevedo)

DIRETOR

- Carolina Jabor por “Boa Sorte”


- Fernando Coimbra por “O Lobo Atrás da Porta”

- João Jardim por “Getúlio”

- Karim Aïnouz por “Praia do Futuro”

ATRIZ

- Bianca Comparato (Irmã Dulce jovem) em “Irmã Dulce”

- Deborah Secco (Judite) em “Boa Sorte”

- Drica Moraes (Alzira Vargas) em “Getúlio”

- Fabiula Nascimento (Sylvia) em “O Lobo Atrás da Porta”

- Leandra Leal (Rosa) em “O Lobo Atrás da Porta”

ATOR

- Alexandre Borges (Carlos Lacerda) em “Getúlio”

- Babu Santana (Tim Maia) em “Tim Maia”

- Matheus Nachtergaele (Joãosinho Trinta) em “Trinta”

- Milhem Cortaz (Bernardo) em “O Lobo Atrás da Porta”

- Tony Ramos (Getúlio Vargas) em “Getúlio”

ATRIZ COADJUVANTE

- Alice Braga (Júlia) em “Os Amigos”

- Fabiula Nascimento (Lygia Souza) em “Não Pare na Pista: A Melhor História de Paulo Coelho”

- Glória Pires (Mãe de Dulce) em “Irmã Dulce”

- Thalita Carauta (Betty) em “O Lobo Atrás da Porta”

- Zezé Polessa (Dulcinha) em “Irmã Dulce”

ATOR COADJUVANTE

- Adriano Garib (General Zenóbio da Costa) em “Getúlio”

- Antônio Fagundes (Delegado Valadares) em “Alemão”

- Babu Santana (Caolha) em “Julio Sumiu”

- Cauã Reymond (Fábio) em “Tim Maia”

- Cauã Reymond (Playboy) em “Alemão”

- Jesuíta Barbosa (Ayrton) em “Praia do Futuro”

- José Wilker (Doutor Fausto) em “Isolados”

"O Lobo Atrás da Porta" (2013) de Fernando Coimbra - Gullane Filmes [br]

DIREÇÃO DE FOTOGRAFIA

- Adriano Goldman por “Trash: A Esperança vem do Lixo”

- Ali Olcay Gözkaya por “Praia do Futuro”

- Gustavo Hadba por “Irmã Dulce”

- Lula Carvalho por “O Lobo Atrás da Porta”

- Walter Carvalho por “Getúlio”

DIREÇÃO DE ARTE

- Claudio Amaral Peixoto por “Tim Maia”

- Daniel Flaksman por “Irmã Dulce”

- Daniel Flaksman por “Trinta”

- Tiago Marques por “Getúlio”

- Tiago Marques por “O Lobo Atrás da Porta”

FIGURINO

- Camila Soares para “Praia do Futuro”

- Cristina Kangussu para “Irmã Dulce”

- Kika Lopes para “Trinta”

- Marcelo Pies e Valeria Stefani para “Getúlio”

- Reka Koves para “Tim Maia”

MAQUIAGEM

- André Anastácio para “Alemão”

- Auri Mota para “Irmã Dulce”

- Auri Mota, David Martí, Montse Ribé e Stephen Murphy para “O Lobo Atrás da Porta”

- Lucila Robirosa para “Tim Maia”

- Martín Macias Trujillo para “Boa Sorte”

- Martín Macias Trujillo para “Getúlio”

EFEITOS VISUAIS

- Adam Rowland para “Trash: A Esperança vem do Lixo”

- Claudio Peralta para “Rio, Eu te Amo”

- Guilherme Ramalho para “Tim Maia”

- Robson Sartori para “Irmã Dulce”

- Robson Sartori e Sérgio Farjalla para “Alemão”

"Getúlio" (2014) de João Jardim - Copacabana Filmes [br] | Midas Filmes [pt] | Globo Filmes [br]

ROTEIRO ORIGINAL

- “Getúlio” (George Moura)


- “Irmã Dulce” (Anna Muylaert e L. G. Bayão)

- “O Lobo Atrás da Porta” (Fernando Coimbra)

- “O Menino e o Mundo” (Alê Abreu)

ROTEIRO ADAPTADO

- “Boa Sorte”, adaptado da obra “Frontal com Fanta” de Jorge Furtado (Jorge Furtado e Pedro Furtado)

- “Confissões de Adolescente”, adaptado da obra “Confissões de Adolescente” de Maria Mariana (Matheus Souza)

- “Mão na Luva”, adaptado da obra “Mão na Luva” de Oduvaldo Vianna Filho (Susana Schild)

- “O Menino no Espelho”, adaptado da obra “O Menino no Espelho” de Fernando Sabino (André Carreira, Cristiano Abud e Guilherme Fiúza Zenha)

- “Tim Maia”, adaptado da obra “Vale Tudo” de Nelson Motta (Antônia Pellegrino e Mauro Lima)

MONTAGEM EM FICÇÃO

- “Boa Sorte”, realizada por Sergio Mekler

- “Getúlio”, realizada por Joana Ventura e Pedro Bronz

- “Hoje eu quero Voltar Sozinho”, realizada por Cristian Chinen

- “O Lobo Atrás da Porta”, realizada por Karen Akerman

- “Praia do Futuro”, realizada por Isabela Monteiro de Castro

MONTAGEM EM DOCUMENTÁRIO

- “Brincante”, realizada por Pablo Ribeiro

- “Dominguinhos”, realizada por Joaquim Castro

- “A Farra do Circo”, realizada por Pedro Bronz

- “O Mercado de Notícias”, realizada por Giba Assis Brasil

- “Tim Lopes - Histórias de Arcanjo”, realizada por Joana Collier

SOM

- Alessandro Laroca, Armando Torres Jr., Eduardo Virmond Lima e Felipe Schultz Mussel para “Alemão”

- Alessandro Laroca, Branko Neskov e Pedro Melo para “Getúlio”

- Armando Torres Jr., François Wolf e George Saldanha para “Tim Maia”

- Danilo Carvalho, Dirk Homann, Matthias Schwab e Waldir Xavier para “Praia do Futuro”

-  Ricardo Cutz e Vampiro para “O Lobo Atrás da Porta”

TRILHA SONORA

- André Moraes para “Copa de Elite”

- Berna Ceppas e Mauro Lima para “Tim Maia”

- Duani Martins, Eduardo Nazarian e Mariana Aydar para “Dominguinhos”

- Lina Chamie para “Os Amigos”

- Pedro Bronz e Roberto Berliner para “A Farra do Circo”

TRILHA SONORA ORIGINAL

- André Abujamra para “Trinta”

- Antonio Nóbrega para “Brincante”

- Antônio Pinto para “Trash: A Esperança vem do Lixo”

- Fabiano Krieger e Lucas Marcier para “Irmã Dulce”

- Federico Jusid para “Getúlio”

"O Menino e o Mundo" (2013) de Alê Abreu - Filme de Papel [br]

LONGA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO

- “As Aventuras do Avião Vermelho” de Frederico Pinto e José Maia

- “O Menino e o Mundo” de Alê Abreu

LONGA-METRAGEM INFANTIL

- “As Aventuras do Avião Vermelho” de Frederico Pinto e José Maia

- “Os Caras de Pau em: O Misterioso Roubo do Anel” de Felipe Joffily

- “O Menino e o Mundo” de Alê Abreu

- “O Menino no Espelho” de Guilherme Fiúza Zenha

- “O Segredo dos Diamantes” de Helvécio Ratton

LONGA-METRAGEM DE COMÉDIA

- “O Candidato Honesto” de Roberto Santucci

- “Confissões de Adolescente” de Cris D’Amato e Daniel Filho

- “Os Homens são de Marte... E é pra lá que Eu Vou” de Marcus Baldini

- “Julio Sumiu” de Roberto Berliner

- “S.O.S. Mulheres ao Mar” de Cris D’Amato

CURTA-METRAGEM DE FICÇÃO

- “O Caminhão do Meu Pai” de Maurício Osaki

- “A Era de Ouro” de Leonardo Mouramateus e Miguel Antunes Ramos

- “O Filme de Carlinhos” de Henrique Filho

- “Nua por Dentro do Couro” de Lucas Sá

- “Voltando para Casa” de Thiago Kistenmacker

DOCUMENTÁRIO EM CURTA-METRAGEM

- “O Canto da Lona” de Thiago Mendonça

- “Do Petróleo e do Cinema” de Artêmio Macedo

- “Efeito Casimiro” de Clarice Saliby

- “Se Essa Lua Fosse Minha” de Larissa Lewandowski e Pedro Henrique Brum Gossler

- “Sioma, o Papel da Fotografia” de Eneida Serrano e Karine Emerich

CURTA METRAGEM DE ANIMAÇÃO

- “Edifício Tatuapé Mahal” de Carolina Markowicz e Fernanda Salloum

- “Guida” de Rosana Urbes

- “Miroca e seu Cuco Caduco” de Diego Lopes e Claudio Bittencourt

- “A Pequena Vendedora de Fósforo” de Kyoko Yamashita

- “Viagem na Chuva” de Wesley Rodrigues

LONGA-METRAGEM ESTRANGEIRO

- “Boyhood: Da Infância à Juventude” de Richard Linklater

- “Clube de Compras Dallas” de Jean-Marc Vallée

- “O Grande Hotel Budapeste” de Wes Anderson

- “O Lobo de Wall Street” de Martin Scorsese

- “Relatos Selvagens” de Damián Szifrón

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

A herança radioativa e sociopata das bombas atômicas para o Cinema Japonês

A onda de choque e a devastação provocada pelo lançamento de “Little Boy”, a fissão nuclear de urânio que assolou a cidade de Hiroshima, completou exatos 70 anos hoje. A assombrosa retaliação estadunidense, motivada e culminada pelos ataques japoneses à base naval de Pearl Harbor, representa o único momento da história da humanidade em que armas deste tipo foram utilizadas em guerra e contra alvos civis. No próximo domingo, ainda será lembrada, de forma memoravelmente penosa, a destruição de Nagasaki pela bomba de plutônio “Fat Man”. A ofensiva apresentou efeitos agudos: matou entre 150 e 320 mil pessoas instantaneamente e deixou outras centenas de milhares envenenadas ou com severas sequelas, como queimaduras e lesões (físicas ou genéticas) irreversíveis.

Década após década, os sentimentos de pavor e angústia continuam a existir e visitam, de maneira opressiva, as mentes de sobreviventes e herdeiros de um passado aterrorizante vivido pelo Japão na reta final dos conflitos da Segunda Guerra Mundial. Deixando de lado as discussões sobre os propósitos (ir)racionais de uma guerra; ou sobre o fato da “pena” imposta pelos Estados Unidos aos japoneses ter sido rigorosa demais ou branda demais, vale lembrar que muitos inocentes viviam em Hiroshima e Nagasaki. A verdade é que o desejo e as tentativas de soerguimento da nação partiram da vontade coletiva de um povo com o orgulho profundamente ferido, e as ações de reconstrução de uma identidade já começaram no momento subsecutivo aos bombardeios.

Os anos que se seguiram após 1945 são gloriosos e dignificantes para o Japão, pois o país soube lidar muito bem com o revés do recém-encerrado conflito mundial traduzindo em suas várias formas de expressão e de arte os efeitos desmanteladores que só uma grande derrota pode provocar. A partir desse momento, a cultura nipônica começou a dialogar de forma inédita com o ocidente, transparecendo para o mundo todos os seus tormentos e aflições. No cinema, por exemplo, diretores consagrados como Akira Kurosawa, Kenji Mizoguchi, Mikio Naruse e Yasujirô Ozu abordavam, em obras singelas e poéticas, os dilemas e as questões tradicionais da vida simples de um país em recomposição, universalizando o problema da dor cotidiana de um povo que clamava pela harmonia e pela paz.

Entretanto, outros cineastas (como, por exemplo, o visceral Shôhei Imamura) preferiram manter sempre as feridas abertas, escancarando, de uma forma virulenta e pulsante, a realidade do tormento japonês através da flagelação e da violência. Em 1954, Ishirô Honda trouxe para as telas a paranoica e horripilante ficção científica que imortalizou a lenda da principal herança radioativa dos ataques nucleares: o monstro Godzilla.

"Gojira" (1954) de Ishirô Honda - Toho Film (Eiga) Co. Ltd. [jp]

E não entendam “Godzilla” (1954) como um mero e assustador filme de monstros. O longa-metragem de Honda traduz os paradoxais efeitos da bomba atômica no imaginário coletivo do povo japonês, defendendo a ideia de que ela é parte indissociável do carma nipônico que, marcado pelos amargos arrependimentos do pós-guerra, ainda viverá sob a forma de um bestial lagarto gigante que continuará destruindo e esmagando as maiores cidades do país através de ações implacáveis. Emergindo à superfície, atentando à impotência das principais autoridades do país e gerando o medo entre os comuns, o aberrante réptil leva o seu rastro mortífero e desbaratado até Tóquio, precisando ser detido imediatamente.

Diante de seus intermináveis e pavorosos reboots (que só pregaram a destruição e incentivaram, exclusivamente, o exacerbado consumo de sacos de pipoca), o simbolizado “Godzilla” de Ishirô Honda ainda reina como uma genuína obra-prima do terror e da ficção científica. Embora aparente, o filme não representa uma distorção absurda de uma realidade; ele nos mostra a verdadeira representação do pavor estupefato que o Japão sempre terá das bombas e dos ataques nucleares.

Invariavelmente, a temática pós-apocalíptica ainda incorpora, nesse mesmo imaginário coletivo do povo japonês, situações pregressas da destruição das bombas atômicas e um ambiente de insegurança que poderíamos vir a encontrar em um futuro, até aquele momento, impensável e distante. Mesclando o avanço da alta tecnologia com o baixo nível de vida de uma sociedade desmoronada, o surgimento do movimento Cyberpunk Japonês também veio se apropriar dos desastres provocados pela “Little Boy” em Hiroshima para produzir as suas próprias visões caóticas do mundo. Uma ambiência combalida e povoada pela incerteza e pela marginalização frente aos principais “avanços globais”, e ainda cercada pelo medo da vigilância e da interferência dominadora e sociopata de Grandes Corporações no nosso modo de viver.

Sucesso absoluto no Japão e no resto do mundo e baseado em uma história de mangá de Katsuhiro Ôtomo, a animação “Akira” (1988), concebida e dirigida pelo seu próprio criador, nos transporta para uma Neo-Tóquio destruída e caoticamente reconstruída após os conflitos da Terceira Guerra Mundial em um (na época) longínquo ano de 2019. Neste cenário inóspito observamos Kaneda, o líder de uma gangue de motoqueiros que vê seu amigo Tetsuo ser dominado por uma estranha força sobrenatural, passando a ser objeto de estudo de um projeto experimental secreto do Governo e que já se encontra completamente fora de controle. Para salvar Tetsuo, Kaneda se envolve com grupos anarquistas e passa a lutar contra o Sistema num iminente processo desencadeador de uma indesejada (mas, necessária) Guerra Civil.

A ideia central de “Akira” gira em torno das discussões sobre indivíduos que possuem poderes sobre-humanos (em particular, os de contornos psíquicos) sentidos ou adquiridos na decorrência de grandes catástrofes como, no caso, foram os ataques nucleares. As relações de todas as personagens com os cataclísmicos acontecimentos só refletem a desordem social e política de um país que sucumbiu à desordem (e que também deu vida ao Godzilla). Tais eventualidades, inclusive, são vistas por uma outra ótica nos Estados Unidos, a ótica do vencedor. O mesmo incidente que foi capaz de manter o desconfiado Japão das ficções afogado em uma amargura degenerada, proporcionou que a cultura pop ianque também produzisse os seus mitos através das desmesuradas tragédias atômicas, como é o caso do Hulk, do Demolidor e de alguns dos mutantes da franquia de X-Men. O que procede é a complexa redação do capítulo em que o “trans-humanismo” oriental acaba sendo confrontado pelo “super-heroísmo” do ocidente.

"Akira" (1988) de Katsuhiro Ôtomo - TMS Entertainment [jp] | Akira Committee Company Ltd. | Bandai [jp] | Kôdansha [jp]
Mainichi Broadcasting System (MBS) [jp] | Sumitomo Corporation [jp] | Toho Company [jp] 

A diluição da fronteira entre o real e o virtual e o aumento artificial da capacidade física e mental propostas pelo cyberpunk indicam a completa falta de barreiras morais. Resultado disto é a promoção, em “Akira”, de um discurso social agressivo e egoísta que, embora não tenha uma profunda base filosófica, ajuda a fornecer uma visão ampla e crítica sobre a alienação e infantilização da juventude (e de toda uma sociedade); a ineficiência e a corrupção nos governos de maneira geral; e a militarização e banalização de um sistema que desagrada cada vez mais àqueles que lutam pelos compromissos de uma real e eficiente modernização da contemporaneidade e de uma utópica pacificação da raça humana.

Apesar da natureza reflexiva, o ser humano nunca foi bom em resolver os seus problemas na base da conversa. Transformar em tabu assuntos como os desastres, os conflitos e as atrocidades causadas por uma índole incipiente e primitiva nunca foi um bom caminho para a evolução da nossa própria existência. Pautados na mentalidade dos cidadãos do mundo (não só os japoneses), o impacto de uma catástrofe sendo refletido pela arte cinematográfica sempre se configurou como uma bela estratégia para expor e traduzir os dramas da nossa humanidade. Refletir sobre qual herança queremos deixar para as futuras gerações é fundamental, e de filmes como esses que, a princípio, podem soar como puro entretenimento, podemos adquirir os mais valiosos aprendizados sobre os efeitos de um episódio devastador que (embora sempre rodeado de controversas) teve o mais trágico dos fins, principalmente para o Japão.

PS: Escapar deste mundo doente ainda não é possível, infelizmente!