domingo, 12 de julho de 2015

20 Filmes que completam 20 Anos em 2015 | Parte II

Uma comédia nascida da formidável colaboração entre quatro jovens cineastas; um faroeste fantástico que desordena as convenções do gênero mais coeso do cinema nos Estados Unidos; uma das mais singelas e puras adaptações de uma obra literária para a grande tela; a contemporânea fábula que ainda continua encantando crianças e adultos; e um visceral thriller policial que se transformou em clássico instantâneo de maneira súbita.

Continue acompanhando a retrospectiva que o Rotina Cinemeira que, ao longo deste mês de julho, vem elencando 20 importantes trabalhos produzidos e lançados no ano de 1995 e que mantém o fôlego e chegam vigorosos em 2015, completando os seus 20 anos. Filmes que, se não estão, já deveriam estar nas estantes (ou nos HDs) de qualquer cinéfilo.

Grande Hotel (Four Rooms, Estados Unidos, 1995)

Direção: Allison Anders, Alexandre Rockwell, Robert Rodriguez e Quentin Tarantino

A excepcional e inteligentíssima comédia “Grande Hotel” surge do esforço e da colaboração entre quatro grandes amigos (Anders, Rockwell, Rodriguez e Tarantino), importantes nomes de mais um talentoso e promissor ciclo de jovens cineastas estadunidenses que, já em seus primeiros trabalhos, prometiam inovar e dar uma nova roupagem às formas de se produzir e realizar um filme na sempre mutante e poderosa indústria hollywoodiana.

Quatro distintos segmentos que são entrelaçados pelas sempre efusivas comemorações de Ano Novo de Los Angeles; quatro histórias curiosas que se desenvolvem em quatro quartos do decadente Mon Signor Hotel, uma tradicional estalagem de Hollywood que vive severos momentos de crise financeira. Em meio a um cenário festivo e de aparente tranquilidade, acompanhamos o trabalho de Ted (Tim Roth), um solitário carregador/mensageiro que está em seu primeiro dia de trabalho no hotel e acaba se envolvendo de maneira direta na história de cada um dos hóspedes desses quartos ao tentar atender os seus pedidos mais ultrajantes e escandalosos.

Em “O Ingrediente que Falta” (dirigido por Allison Anders), assistimos ao desespero de uma irmandade de cinco exóticas bruxas que se reúne na suíte nupcial do Hotel para tentar desfazer um poderoso feitiço, entretanto, elas ainda necessitam de uma indispensável e nada convencional substância. Na segunda sequência, “O Homem Errado” (de Alexandre Rockwell), Ted vai fazer uma entrega de gelo, mas o faz em um quarto errado e acaba presenciando Sigfried (David Proval) amarrar e amordaçar a sua esposa Angela (Jennifer Beals), pois desconfia que ela esteja o traindo e que seu amante ainda possa estar muito próximo.

As desventuras de Ted continuam no segmento “The Misbehavers” (dirigido por Robert Rodriguez), quando ele recebe 500 dólares de um homem (Antonio Banderas) e de sua esposa (Tamlyn Tomita) para tomar conta de seus dois filhos enquanto saem sozinhos para se divertir. Tentando se desvencilhar da pedante companhia das crianças, o carregador acaba se envolvendo em outra enrascada. Em “O Homem de Hollywood” (de Quentin Tarantino) Ted se depara e tenta arbitrar uma medonha aposta: o hóspede da cobertura (um diretor de cinema interpretado pelo próprio Tarantino) coloca em jogo o seu valiosíssimo carro de colecionador contra um mísero (porém, importante) dedo mindinho.

Inexplicavelmente raro e genial, as situações “Grande Hotel” possuem humor refinado, selvagem e hilariante! Merece ser conferido!

"Four Rooms" (1995) de Allison Anders, Alexandre Rockwell, Robert Rodriguez e Quentin Tarantino
Miramax [us] | A Band Apart [us]

Homem Morto (Dead Man, Estados Unidos | Alemanha | Japão, 1995)

Direção: Jim Jarmusch

Com um incidente que deixa o seu futuro predestinado, William Blake (Johnny Depp) parte em uma mística viagem onde se confunde entre a fantasia e a realidade percorrendo, de maneira errante, os confins mais longínquos do meio oeste estadunidense. Blake já é um homem morto, pois se envolveu com a mulher errada de uma cidade errada. Ele acaba ficando gravemente ferido ao assassinar o ex-noivo de sua infortunada conquista, ainda se encontrando com uma bala cravada no lado esquerdo de seu peito.

Assim se enreda o faroeste dantesco e nada convencional do diretor Jim Jarmusch, revelando ao espectador um emaranhado de situações esdrúxulas que retratam a morbidez de uma região que, em uma determinada época da História, talvez tenha sido habitada pelas maiores escórias da humanidade. Uma civilização subvertida que parece funcionar na base de pilhas gastas e que “se perde” na tentativa de evolução, composta também por personagens peculiares que povoam um árido e insípido deserto de acres sem lei.

Blake era um simples, honesto e bem-sucedido contador em Cleveland que, após perder os pais, se mudou para essa cidade menor com a promessa e a garantia de emprego em uma metalúrgica, o que acabou não acontecendo. O revés do jovem foi tão grande que o próprio não esperava comprar briga com todo o povoado, se vendo agora perseguido por um grupo de caçadores de recompensas que querem o seu pescoço a qualquer custo.

O “crime” cometido pelo contador marca somente o início de seu profundo amadurecimento e de sua corrida contra a iminente morte. Perdido, sem dinheiro e com a cabeça a prêmio, o fugitivo ainda terá a companhia do índio “Ninguém” (Gary Farmer em uma atuação brilhante), um sábio nativo que, acreditando que William Blake seja o famoso poeta inglês de mesmo nome, lhe guia para uma aprazível e bucólica jornada espiritual.

"Dead Man" (1995) de Jim Jarmusch
Pandora Filmproduktion [de] | JVC Entertainment Networks [jp] | Newmarket Capital Group [us] | 12 Gauge Productions [us]

Razão e Sensibilidade (Sense and Sensibility, Estados Unidos | Reino Unido, 1995)

Direção: Ang Lee

Adaptação clássica do romance homônimo publicado em 1811 por Jane Austen, “Razão e Sensibilidade” relata com esmero inigualável os dramas de Elinor Dashwood (Emma Thompson) e Marianne Dashwood (Kate Winslet), jovens filhas do segundo casamento do rico Senhor Dashwood (Tom Wilkinson), que morre repentinamente deixando desentendimentos e conflitos litigiosos sem definição. As duas ainda possuem uma irmã mais nova, Margaret (Emilie François) e um meio-irmão mais velho, John (James Fleet) que, pelas regras legais de transmissão de herança e sucessão legítima, toma posse das propriedades da família deixando as jovens em uma situação delicada e adversa.

A mudança das irmãs Dashwood para uma casa menor e mais simples se torna inevitável e observamos que, ao encararem essa inesperada situação de desamparo, carência e relativa pobreza, Elinor e Marianne começam a revelar os contrastes de suas personalidades ao lidarem de formas diferentes com tais dificuldades. Enquanto a primeira é centrada e realista, a segunda é mais emotiva e passional. Entretanto, os problemas aos poucos vão sendo resolvidos quando cada uma encontra, à sua maneira, o melhor caminho para alcançar a felicidade, mesmo enfrentando uma sociedade obcecada pelo status financeiro e social. Através da troca de suas experiências de vida, Elinor e Marianne ainda tentam buscar juntas o equilíbrio entre a razão e a sensibilidade em seus relacionamentos, conquistando também a harmonia no amor.

Caprichosamente belo, o filme dirigido com o talento cuidadoso do cineasta taiwanês Ang Lee se tornou muito popular pela simplicidade de sua narrativa. Inclusive, grande parte do sucesso da adaptação cinematográfica de “Razão e Sensibilidade” também se deve ao empenho de Emma Thompson que (além de atuar) escreveu todo o roteiro do filme ao longo de duradouros quatro anos e meio. Emma adaptou de maneira leve e moderna a obra literária de Austen, sempre prestando atenção em manter intactas a fidelidade romântica e ironia ácida dos escritos originais da autora inglesa. Pelo trabalho impecável e, de certa forma, visionário, a atriz recebeu merecidamente tanto o Oscar quanto o Globo de Ouro de Melhor Roteiro Adaptado em 1996.

"Sense and Sensibility" (1995) de Ang Lee - Columbia Pictures Corporation [us] | Mirage Enterprises [us]

Babe, o Porquinho Atrapalhado (Babe, Austrália | Estados Unidos, 1995)

Direção: Chris Noonan

Uma encantadora fábula moderna feita para crianças que também é capaz de seduzir o mais sisudo dos adultos. Baseado no romance infantil “The Sheep-Pig” do escritor inglês Dick King-Smith, “Babe, o Porquinho Atrapalhado” conta, da maneira mais desastrada possível, a mudança de rotina na vida de todos os “moradores” da fazenda de Arthur Hoggett (James Cromwell) com o nascimento de Babe, um leitãozinho muito esperto que pensa que é um cachorro.

Com a ajuda de seus amigos, como os cães Rex e Fly e o ganso Ferdinand, Babe começa a aprender sobre a vida de todos os animais da fazenda e ainda tenta, a todo custo, convencer Arthur a inscrevê-lo no Campeonato Nacional de Cães Pastores. A intuição e a boa vontade do fazendeiro fazem-no permitir que Babe inicie a sua “carreira” como um pastor de ovelhas, e essa decisão vai acabar resultando situações surpreendentemente espetacular com consequências imprevisíveis. Uma lição sobre perseverança, força de vontade, superação de obstáculos e, sobretudo, companheirismo!

Engraçadinho e incontestavelmente bem-humorado, “Babe, o Porquinho Atrapalhado” venceu o Oscar na categoria de Melhores Efeitos Visuais, justamente pelo prodigioso trabalho que permitiu que todos os animais falassem, tudo com a ajuda de computadores controlados por técnicos e engenheiros dos famosos animatronics, e com o suporte especial da Jim Henson’s Creature Shop (Companhia famosa por criar as criaturas de “Os Muppets”, por exemplo). Somado a isso ainda temos, é claro, o habilidoso talento do australiano Chris Noonan que dirigiu, de forma primorosa, um desafiador elenco de animais reais.

Toda essa inovadora (e quase artesanal) técnica, pioneira na época e que deu contornos especiais a esse belíssimo trabalho, ainda foi utilizada na continuação “Babe, o Porquinho Atrapalhado na Cidade” (1998) de George Miller, e em “A Revolução dos Bichos” (1999) de John Stephenson, uma curiosa adaptação cinematográfica em live-action do clássico livro de George Orwell.

"Babe" (1995) de Chris Noonan - Kennedy Miller Productions [au] | Universal Pictures [us]

Os Suspeitos (The Usual Suspects, Estados Unidos | Alemanha, 1995)

Direção: Bryan Singer

Roger “Verbal” Kints (Kevin Spacey, vencedor do Oscar de Melhor Ator) é um dos dois sobreviventes de uma grande explosão em um cais decorrida após um terrível tiroteio que vitimou uma série de policiais e de bandidos perigosos. Além de Verbal (um reles ladrão portador de uma deficiência motora, mas o único a escapar ileso ao acidente) e da outra vítima (um traficante húngaro em estado crítico no hospital), o trabalho de resgate e investigação da polícia contabilizou 27 corpos, mas os 91 milhões de dólares em cocaína que estavam à bordo de uma embarcação desapareceram misteriosamente.

Após uma série de depoimentos dos dois criminosos, fica evidente que as ações promovidas no cais contaram com a participação do lendário Keyser Söze, um impiedoso e cerebral mestre do crime que foi o mentor intelectual de um golpe contra mafiosos de um cartel de drogas argentino, diretamente ligado aos dólares e aos compradores húngaros. O assalto arquitetado de forma calculista por Söze contou com a participação de cinco criminosos de carreira (entre eles, Verbal) que relutaram em participar juntos deste mesmo trabalho.

Após a famosa sequência que imortalizou o filme, onde os principais suspeitos do assalto são postos na line-up da sala de interrogatório da polícia (depois serem capturados pouco antes de realizarem as ações que se desencadeiam toda a trama), Verbal vai lançando de forma aleatória as peças de um quebra-cabeça aparentemente sem solução para Dave Kujan (Chazz Palminteri) o delegado responsável pelas investigações e pelo interrogatório. Kujan acredita que exista alguma informação omissa, que talvez seria a chave para a peça principal que crie o elo para a resolução do caso: descobrir, afinal, quem é Keyser Söze.

Circundada sobre a máxima de que “a maior jogada do Diabo foi convencer o mundo de que ele não existe, “Os Suspeitos” se configurou como um thriller fascinante e inesquecível, com uma das tramas mais ardilosas e cruéis do cinema transformando-se em um clássico instantâneo já à época de seu lançamento nos cinemas.

"The Usual Suspects" (1995) de Bryan Singer - PolyGram Filmed Etertainment [gb] | Spelling Films International
Blue Parrot [us] | Bad Hat Harry Productions [us] | Rosco Film GmbH [de]

Para acompanhar os filmes que foram apresentados na Parte I da nossa retrospectiva, basta visitar o artigo clicando no link AQUI.

Não tenham pressa! Continuem acompanhando essa revisão cinematográfica e aguardem a Parte III na próxima semana! Até lá...

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