quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Os Dez Melhores Filmes de 2015

Quinta-feira, 31 de dezembro. É desesperador olhar para o relógio e perceber que 2015 está quase acabando e que a nossa a prometida lista dos com Os Dez Melhores Filmes do Ano ainda não foi lançada por aqui. Mas não precisamos mais nos preocupar: afinal, acabamos de “tirá-la  do forno”!

Como a seleção e a análise de cada um dos filmes demorou mais do que o previsto para ser publicada, não nos alongaremos demais nos comentários, deixando que os mesmos se desenvolvam apenas nos comentários sobra cada uma dessas incríveis obras. Sempre contando com aquelas famosas “injustiças pontuais” que possamos ter cometido, tentaremos não decepcionar ninguém!

E antes que digam que este ou aquele filme são de um ano anterior a 2015, ou que tal produção estreou em determinado Festival em tal data, lembramos que o critério que sempre escolheremos para estabelecer os filmes que integrarão as listas especiais de fim de ano obedecerão a seguinte regra: produções que estrearam em 2015 nas salas de cinema do Brasil através do circuito comercial; ou aquelas lançadas diretamente em Home Video ou VOD.

Esclarecido isso, não custa lembrar que, assim como a seleção dos melhores filmes brasileiros realizada no início do mês, essa listagem também não é longa, mas os comentários a respeito de cada um dos eleitos acabaram se estendendo um pouco mais do que o esperado. Então, sem mais conversas, vamos à Lista com Os Dez Melhores Filmes de 2015 (em ordem decrescente), mas com uma observação importante antes de começar: “Mad Max: Estrada da Fúria” é diversão pura! É BOM DEMAIS! É EXCELENTE! George Miller é um sujeito fabuloso!

Agora sim, a nossa lista:

10º. LUGAR: “SAMBA”

(Samba, França, 2014) - de Olivier Nakache e Eric Toledano

Data da Estreia: 9 de julho de 2015

Assim como a lista que definiu “Os Dez Melhores Filmes Nacionais de 2015”, o nosso décimo lugar nesta seleção também propõe contemplar e reverenciar um trabalho diferente; um filme que foi lembrado em poucas (ou, possivelmente, em nenhuma) das listas dos melhores do ano elaboradas pelos principais blogs e sites de entretenimento especializados em Cinema. Destacamos “Samba”, quinto longa-metragem dos cineastas franceses Olivier Nakache e Eric Toledano como um dos melhores filmes de 2015. A comédia dramática é, ainda, a quarta colaboração do ator Omar Sy com a dupla de diretores depois de “Nos Jours Heureux” (2006), “Tellement Proches” (2009), e do mundialmente prestigiado “Intocáveis” (2011).

Sy interpreta Samba Cissé, um imigrante senegalês que vive há dez anos na França e que, desde então, vinha se mantendo de forma ilegal no país, garantindo o seu sustento às custas de subempregos e trabalhos informais. Tentando regularizar a sua situação, Samba terá a valiosa companhia de Alice (Charlotte Gainsbourg), uma executiva experiente que vem sofrendo de estafa devido ao seu estressante trabalho, mas que tenta reconstruir a sua vida profissional como voluntária da ONG que cuida dos interesses daqueles que vivem na clandestinidade. Ambos lutam para vencer as adversidades da vida: ele faz o possível para obter os documentos necessários para conquistar um trabalho digno; já ela tenta recuperar a saúde e a boa forma rapidamente. Cabe ao destino determinar se a união dos dois virá através da busca de um bem comum.

“Samba” ainda conta com um talentoso time de coadjuvantes (destaque para Izïa Higelin e Tahar Rahim) que engrandecem a história, mas patina ao tratar do assunto da imigração com muito humor e bastante otimismo. O que o torna um bom filme é, essencialmente, a atuação despojada e convincente de Omar Sy, que vem trazendo para os filmes de Nakache e Toledano o calibre, a força e a elegância que qualquer produção francesa (ou francófona) exprime ao fazer sua carreira internacional. O longa é, ainda, uma opção alternativa de entretenimento para os fãs de filmes semelhantes à ele: tanto os mais densos e pretensiosos como os de outra dupla de cineastas, os excelentes irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne, no caso; quanto as batidas comédias (dramáticas ou românticas) de moldes excessivamente artificiais que vem sendo produzidas em Hollywood nos últimos anos, por exemplo.

"Samba" (2014) de Olivier Nakache e Eric Toledano
Quad Productions [fr] | Ten Films [fr] | Gaumont [fr] | TF1 Films Productions [fr] | Korokoro [fr]

9º. LUGAR: “O CONTO DA PRINCESA KAGUYA”

(Kaguyahime no Monogatari, Japão, 2013) - de Isao Takahata

Data da Estreia: 16 de julho de 2015

Com seus 30 anos de fundação recém-completados, o Studio Ghibli continua presenteando os fãs de cinema e, sobretudo, os de desenhos animados com obras extraordinariamente sensíveis e de uma beleza visual ao mesmo tempo sutil e impactante. Prova disso é que, há pouco mais de um mês, “As Memórias de Marnie” (2014) de Hiromasa Yonebayashi estreou em algumas salas do país e já se tornou mais um sucesso absoluto da companhia. Entretanto, foi o penúltimo de seus títulos (distribuído com certo atraso no Brasil) que cativou plateias, emocionado e trazendo brilho, leveza e reflexão para as telas. “O Conto da Princesa Kaguya” traz Isao Takahata (um dos fundadores da Ghibli) em ótima forma, e digamos: na sua plenitude como animador e como cineasta.

Sem os abundantes recursos do cinema de animação atual, Takahata colocou a ponta de seu lápis em um esboço de papel para rascunhar a adaptação do popular (e milenar) conto japonês “O Cortador de Bambu”. Dádiva celestial, Kaguya é uma misteriosa princesa que, ainda bebê, é encontrada dentro do caule de um bambu brilhante por um simples camponês. A garotinha é adotada pelo cortador e por sua esposa e cresce na aldeia levando uma vida simples rodeada por amigos leais. Passado o tempo, ela se transforma em uma bela jovem e é forçada a abandonar as “suas raízes” para começar a receber uma educação de princesa na capital; sempre financiada por um enigmático tesouro administrado pelo “pai”.

Kaguya é, agora, uma nova representante da nobreza que passa a ser cobiçada pelos homens mais importantes do Japão, incluindo até mesmo o Imperador. Nenhum deles realmente a ama, e ela acaba desafiando todos os pretendentes a cumprirem tarefas impossíveis a fim de evitar a união com uma pessoa que sequer conhece. Por suas escolhas, a princesa acaba sendo punida e descobre que o seu triste destino e o objetivo principal de sua visita ao nosso mundo foram, simplesmente, o de conhecer a sordidez e a insignificância do espírito humano.

Sublime, apaixonante e cheio de vida: o fato é que, em consonância com toda a sua arte, a simplicidade dos traços e a beleza das cores transformaram o trabalho tradicionalmente minimalista do mestre Isao Takahata em um dos melhores (e mais significativos) filmes assistidos por aqui em 2015!

"Kaguyahime no Monogatari" (2013) de Isao Takahata - Studio Ghibli [jp] | Dentsu [jp] | Hakuhodo DY Media Partners [jp]
KDDI Corporation [jp] | Mitsubishi [jp] | Nippon Television Network (NTV) [jp] | Toho [jp]

8º. LUGAR: “BEASTS OF NO NATION”

(Beasts of no Nation, Estados Unidos, 2015) - de Cary Joji Fukunaga

Data da Estreia: 16 de outubro de 2015 (lançamento global pela Netflix)

Com carreira sólida em alguns dos principais Festivais de Cinema do mundo, “Beasts of no Nation” chegou para inovar. Premiado em Veneza (onde já estreou em competição) e com exibições especiais em Toronto, o filme foi apresentado ao público através da estreia mundial promovida pela rede de entretenimento Netflix, que disponibilizou o produto em seu catálogo no mês outubro deste ano. O longa-metragem é a primeira obra de ficção com o selo de produção original da companhia.

Baseado no romance homônimo de Uzodinma Iweala (cidadão estadunidense de origem nigeriana) e dirigido com rara versatilidade por Cary Joji Fukunaga, “Beasts of no Nation” reflete, com um realismo absurdo, os dramas que qualquer criança pode viver estando em um país africano que enfrente as perversões de uma guerra civil. Todas essas crianças são aqui representadas por Agu (Abraham Attah), um garoto alegre que vive em um vilarejo militarmente controlado, mas que, de repente, tem a sua vida destroçada pelos conflitos que batem à porta de sua casa.

Depois de ser separado da mãe e dos irmãos mais novos; e depois de ter o pai, o avô e o irmão mais velho brutalmente executados por militantes rebeldes que tomaram toda a cidade, Agu foge para a mata e se depara com uma milícia aliada ao governo. Sem saída, ele acaba sendo aliciado pelo comandante da facção (formidavelmente interpretado por Idris Elba) e treinado para ser mais um jovem e vingativo soldado à serviço do horror.

Nos âmbitos social e político, “Beasts of no Nation” escancara uma realidade nua e crua, trazendo para o centro das discussões um tema que, por conveniência, costuma escapar às nossas vistas e que ainda precisa ser muito mais explorado e discutido, sobretudo no cinema que, desde a sua criação, sempre foi um importante veículo e um chamativo palanque para as discussões das maiores mazelas da humanidade.

Já no ramo do entretenimento, a Netflix vem mostrando que ainda pretende romper mais barreiras. Depois de ter sido indicada ao Oscar de melhor documentário com “A Praça Tahrir”, em 2014, e com “Virunga”, neste ano, as suas futuras produções podem começar a ganhar um destaque ainda maior e surpreender não só nos circuitos de premiações, como também dominar esse mercado extremamente competitivo nas quais estão inseridas.

"Beasts of no Nation" (2015) de Cary Joji Fukunaga - Netflix [us] | Red Crown Productions [us] | Participant Media [us]
Come What May Productions [us] | Mammoth Entertainment [us] | New Balloon [us]

7º. LUGAR: “DIVERTIDA MENTE”

(Inside Out, Estados Unidos, 2015) - de Pete Docter e Ronnie Del Carmen

Data da Estreia: 18 de junho de 2015

Depois do hiato de um ano sem lançar uma produção inédita (muito por conta do adiamento da estreia de “O Bom Dinossauro”), a Pixar retornou com todas as forças em 2015, mostrando que tem fôlego de sobra para continuar criando os mirabolantes universos fantásticos que sempre fascinaram crianças e adultos ao longo de 20 anos de uma história de sucesso. O que reforça o poder impresso por sua marca dentro da indústria cinematográfica mundial, sinônimo de sua incansável fábrica de ideias, é o sucesso instantâneo conquistado por “Divertida Mente”, que chegou aos cinemas no meio deste ano.

Desta vez, a ousadia criativa do estúdio resolveu explorar a mente de Riley, uma simpática garotinha de 11 anos de idade que enfrenta um dos maiores dilemas (se não, o maior) que um ser humano da sua idade pode ser acometido: deixar toda uma vida em sua cidade natal para se mudar com a família para um lugar completamente diferente. No caso de Riley, ela se muda de uma aconchegante cidade no interior do Estado de Minnesota para a caótica e quente São Francisco, na Califórnia. Um verdadeiro choque que deve ser assimilado com calma e extremo cuidado pelo seu cérebro, habitado e controlado por várias emoções/personagens diferentes: Alegria, Tristeza, Raiva, Medo e Nojinho.

A Alegria é a líder das emoções e faz o possível e o impossível para que Riley esteja sempre feliz. Entretanto, uma confusão provocada pela Tristeza na sala de controle faz com que ela e Alegria sejam arremessadas para fora da mesma. Emocionalmente, a vida da garota fica de cabeça para baixo enquanto duas de suas principais emoções percorrem os seus pensamentos mais profundos buscando retornar à sala de controle, sempre com a ajuda de Bing Bong (amigo imaginário da Riley e nosso personagem preferido!)

“Divertida Mente” tem a seu favor, assim como a maioria dos filmes produzidos pela Pixar, o brilhantismo de um roteiro cuidadosamente bem escrito e bem amarrado. Riley é a protagonista do longa, mas pouco aparece. Há muito de psicologia no filme, e são as suas animadas emoções que fazem com que o conceito aparentemente abstrato da história possa ser traduzido em muita diversão! O enredo é bastante complexo (tanto é que não agradou muito os pequenos), mas nos cativa desde o princípio, além de nos deixar uma bela mensagem que nos faz refletir sobre nossas próprias sensações e experiências ao longo da vida.

"Inside Out" (2015) - de Pete Docter e Ronnie Del Carmen - Walt Disney Pictures [us] | Pixar Animation Studios [us]

6º. LUGAR: “TAXI TEERÔ

(Taxi, Irã, 2015) - de Jafar Panahi

Data da Estreia: 19 de novembro de 2015

Saindo como a grande vencedora do Urso de Ouro do Festival de Berlim em 2015, a aclamação do público e da crítica à “Taxi Teerã” de Jafar Panahi coroa uma carreira singular repleta de filmes inesquecíveis e carregada de muita luta e coragem pessoal, sobretudo nesses últimos anos de trabalho do destemido diretor iraniano, inimigo público número um de algumas das maiores autoridades de seu país.

Através de um dos gêneros (quase) infalíveis da arte cinematográfica, o falso documentário, Panahi nos traz um panorama da vida cotidiana no Irã, disposto sobre as várias camadas de sua sociedade. E nada melhor para construir um retrato fiel e sutilmente humanizado dessa sociedade do que apresentá-lo ao público em um mesmo espaço, comum a todos os concidadãos do diretor: o interior de um taxi que, diariamente, recebe dezenas de passageiros de diferentes classes sociais.

O taxi é guiado pelo próprio Jafar Panahi, que instala algumas câmeras no interior do veículo a fim de registrar as suas desventuras pelas ruas de Teerã. À medida em que vai atendendo os seus clientes, o diretor tenta esboçar algum diálogo com o objetivo de criar um painel social diversificado e opinativo acerca de alguns assuntos como a política nacional, os direitos civis, as crenças e os costumes locais, dentre outros. Situações extremamente constrangedoras, delicadas ou engraçadas também ocorrem entre a origem e o destino de cada um dos passageiros, o que enriquece ainda mais a trajetória reflexiva e consoladora proposta para o longa.

Panahi segue um caminho tortuoso a bordo de uma encapsulada liberdade de expressão, mas com um absurdo potencial criativo. Apesar de todas as limitações legais impostas ao cineasta para a realização deste e d outros futuros filmes, ele acaba conseguindo explorar uma narrativa original que rechaça o idealismo do direito de escolha em detrimento ao facinoroso conceito da existência restrita.

Humor refinado, sempre espirituoso e afiado! A verve artística e política de Jafar Panahi está cada vez mais forte, por mais que muitos ainda insistam em calá-lo!

"Taxi" (2015) de Jafar Panahi - Jafar Panahi Film Productions [ir]

5º. LUGAR: “STAR WARS EPISÓDIO VII: O DESPERTAR DA FORÇA”

(Star Wars Episode VII: The Force Awakens, Estados Unidos, 2015) - de J. J. Abrams

Data da Estreia: 17 de dezembro de 2015

Um dos principais motivos para que a nossa primeira lista de melhores filmes do ano chegasse um pouco atrasada foi a tão aguardada estreia mundial de mais um episódio da célebre e estrondosa Saga Intergaláctica idealizada por George Lucas há quase quatro décadas atrás. O simples fato de não nos decepcionar no cinema já seria suficiente para colocar “O Despertar da Força” entre os nossos dez títulos favoritos de 2015, e foi exatamente isso que aconteceu: nas mãos de J. J. Abrams, o Universo de “Star Wars” continua poderoso, respeitando as suas origens e despertando em novos fãs a vontade de acompanhar todos os acontecimentos que aconteceram “há muito tempo em uma galáxia muito distante”.

Experiente, criativo e (relativamente) ousado, Abrams ainda não possui o currículo magnificente de um Steven Spielberg, por exemplo, mas vem conquistando com naturalidade o posto de maior nome do entretenimento na atualidade. Depois de oferecer novas possibilidades à outra poderosa série de ficção científica com dois ótimos filmes, “Star Trek” (2009) e “Além da Escuridão: Star Trek” (2013), o diretor usou uma fórmula diferente para o novo “Star Wars” (no caso mais uma fantasia do que, propriamente, um sci-fi): contar uma história que caminha entre a continuação e a refilmagem acabou misturando, de maneira genial, os sentimentos nostálgicos com os encantamentos frente as novidades. J. J. Abrams não continuará atrás das câmeras para comandar o “Episódio VIII”, mas segue como produtor executivo da nova trilogia. Vem coisa muito boa por aí!

Agora, falar especificamente do filme seria pouco proveitoso neste espaço, até mesmo porque muitas pessoas ainda não tiveram a oportunidade de acompanhar este novo episódio, e estragar algumas das maiores surpresas de “O Despertar da Força” não está nos nossos planos. O importante é ressaltar que toda mitologia e as referências mais populares da saga continuam sendo claramente manifestadas; e o retorno do trio Mark Hamill, Carrie Fisher e Harrison Ford (este último, peça mais que fundamental no enredo) não aparece, aqui, simplesmente para ser homenageado.

Chewbacca, C-3PO, R2-D2, estão todos de volta! Mas uma das coisas que mais nos emociona é saber que, passados anos do lançamento das outras duas trilogias, ainda conseguimos somos capazes de fazer incríveis novos amigos: Rey (Daisy Ridley) e Finn (John Boyega) são divertidos e apaixonantes; Poe Dameron (Oscar Isaac) é o piloto de X-Wing que sempre sonhamos ser; BB-8 (nem precisávamos dizer) esbanja simpatia; e Kylo Ren (Adam Driver) é aquele que que amaremos odiar... A Força voltou com tudo!

"Star Wars Episode VII: The Force Awakens" (2015) - de Lucasfilm [us] | Bad Robot [us] | Truenorth Productions [is]

4º. LUGAR: “PERDIDO EM MARTE”

(The Martian, Estados Unidos | Reino Unido, 2015) - de Ridley Scott

Data da Estreia: 1º. de outubro de 2015

Dentre todas as boas megaproduções realizadas por Hollywood em 2015, a escolha pontual de “Perdido em Marte” para figurar na lista dos melhores filmes do ano se faz absolutamente necessária. Depois de uma sequência de trabalhos decepcionantes como “Prometheus” (2012), “O Conselheiro do Crime” (2013) e “Êxodo: Deuses e Reis” (2014), celebrar a volta de Ridley Scott à boa forma, assumindo aqui um ambicioso projeto de sucesso, é primordial!

Baseado no romance de ficção científica “The Martian” de Andy Weir, o longa de Scott caminha por terrenos mais seguros que não extrapolam os esforços excepcionais dos astronautas de “Gravidade” (2013) de Alfonso Cuarón, e muito menos se desvairam pelo universo positivamente desorientador de “Interestelar” (2014) de Christopher Nolan. “Perdido em Marte” é, sem dúvida, uma experiência cinematográfica mais “degustativa”, um blockbuster levemente ruidoso (no seu melhor sentido) e extremamente agradável.

Botânico da pequena tripulação da Ares III (Missão que promove pesquisas em Marte a serviço da Nasa), o astronauta Mark Watney (Matt Damon) é atingido por uma antena e dado como morto após desaparecer em uma inesperada tempestade de poeira no Planeta Vermelho. Sem se dar conta de que o colega poderia estar apenas desacordado, a equipe comandada pela dedicada e experiente Melissa Lewis (Jessica Chastain) decide interromper os trabalhos, abortar a missão e retornar imediatamente para a Terra. Sozinho em solo marciano, Watney desperta e agora deve enfrentar todos os tipos de adversidades para sobreviver com suprimentos escassos em um ambiente tempestuosamente inóspito.

O que observamos a partir do incidente são uma série de situações incrivelmente dramáticas ou hilariantes que nos fazem ficar ainda mais íntimos do personagem principal. O carisma peculiar de Matt Damon ajuda a construir um Mark Watney otimista, irônico e, sobretudo, perseverante sempre que confrontado por situações desfavoráveis. Os registros bem-humorados de suas experiências científicas em prol da própria vida só reforçam a nossa torcida para que esse improvável herói aguarde o seu resgate com total invulnerabilidade.

A operação de resgate é, inclusive, um dos pontos de sustentação mais sublimes de todo o filme. Saber que boa parte das maiores mentes pensantes do planeta (Terra) se engajaram e se dedicaram, de maneira quase exclusiva, para salvar a vida de um único ser humano é imensamente gratificante e prazeroso, mesmo que expedições desse tipo ainda orbitem apenas pelo universo da ficção.

"The Martian" (2015) de Ridley Scott - Twentieth Century Fox Film Corporation [us] | Scott Free Productions [gb]
Genre Films [us] | International Traders [jo] | Mid Atlantic Films [hu]

3º. LUGAR: “A PELE DE VÊNUS”

(La Vénus à la Fourrure, França | Polônia, 2013) - de Roman Polanski

Data da Estreia: 24 de setembro de 2015

Destaque da já longínqua edição de 2013 do Festival de Cannes, onde foi um dos concorrentes à Palma de Ouro, o último longa-metragem do diretor francês Roman Polanski chegou com um relativo atraso às salas de cinema do Brasil.  “A Pele de Vênus” é a versão cinematográfica para a montagem teatral de sucesso do dramaturgo estadunidense David Ives que, por sua vez criou o argumento da peça através de uma adaptação clássica do romance homônimo do escritor e jornalista austríaco Leopold von Sacher-Masoch.

Com uma narrativa extremamente envolvente, a trama é desencadeada pelas ações de uma atriz que não mede esforços para tentar convencer um diretor de teatro de que ela seria a escolha perfeita para interpretar o papel da protagonista de sua mais nova peça, “La Vénus à la Fourrure”, inspirada na obra de Sacher-Masoch. Em vários momentos de pura inconveniência, e outros de extrema sensualidade, Vanda (Emmanuelle Seigner) consegue intimidar e forçar Thomas (Mathieu Amalric) a não só iniciar a sua audição, como também participar da réplica de suas falas. Todas as ações do filme se passam dentro de um velho teatro vazio durante uma tempestade na noite de Paris.

Relutante em fazer o teste desde o início, Thomas começa a ser seduzido pela surpreendente e formidável interpretação de Vanda e depois acaba sendo arrastado e cercado pelos encantos de uma mulher de personalidade e intenções ambivalentes (ou melhor, ambíguas). Dotado de instabilidade emocional, o diretor adentra no jogo de cena proposto pela sua “candidata”, afinal, ela é realmente perfeita para o papel! E o que era para ser um simples teste prossegue para um verdadeiro ensaio, ou melhor, para uma encenação da peça, onde ator, personagem e dramas pessoais se misturam. Vanda acusa Thomas repetidas vezes por ter escolhido um tema sexista para a peça e a angústia deflagrada começa a perseguir ambos a cada ato encenado.

Denso, tenso e explicitamente erótico! “A Pele de Vênus” deforma os conceitos da libido, do machismo, do sadomasoquismo e do abuso sexual, abrindo um leque de possibilidades temáticas que discutem como é desigual o tratamento nas relações entre homens (sempre superiores) e mulheres (tratadas de maneira depreciativa) em ambientes como os do cinema e do teatro.

"La Vénus à la Fourrure" (2013) de Roman Polanski - R.P. Productions [fr] | A.S. Films [fr] 

2º. LUGAR: “WHIPLASH: EM BUSCA DA PERFEIÇÃO”

(Whiplash, Estados Unidos, 2014) - de Damien Chazelle

Data da Estreia: 8 de janeiro de 2015

Escrito e dirigido pelo jovem e promissor Damien Chazelle, esta verdadeira joia do cinema independente dos Estados Unidos conquistou o grande público como há muito não se via e continua sendo um sucesso absoluto desde o seu lançamento. Um dos primeiros títulos a chegar aos cinemas do Brasil em 20015, “Whiplash: Em Busca da Perfeição” é um filme para ver, ouvir e, sobretudo, refletir. O grande vencedor do tradicional Festival de Sundance em 2014 propõe discutir a música não apenas em seu sentido amplo e contemplativo, mas também questionar os limites que algumas pessoas estão dispostas a extrapolar a fim de alcançar uma excelência pré-determinada pelas suas ambições.

Afinal, é válido submeter talentos prodigiosos da música a uma condição cruel e humilhante para retirar deles a sonora perfeição de seus dons? O elegante brilho improvisado do jazz e a poderosa assinatura de duas furiosas baquetas vão além dos ritmos pelos quais a história de superação do jovem baterista Andrew Neyman (Miles Teller) são embaladas. O início de sua carreira já soa doentio, afinal o próprio Andrew se cobra muito, desejando transformar-se brevemente em um dos maiores músicos de sua geração. Com muito estudo e trabalho, ele acaba conseguindo uma vaga no conservatório mais conceituado do país, e após muitos outros ensaios, Neyman conquista o posto de baterista substituto da banda principal da escola.

O desenvolvimento musical do jovem, contudo, é acompanhado sob as severas vistas e impecáveis ouvidos do autoritário Terence Fletcher (J. K. Simmons), regente/comandante titular da banda. A truculência que dita o perfeccionismo almejado por Fletcher desafia os sentidos, a sanidade e a saúde de Andrew que continua ensaiando exaustivamente até alcançar uma situação degradante. A autodestruição do músico caminha pela tênue linha que separa o estimulante incentivo de um professor entusiasmado e o fustigante abuso de um mestre tirano.

Simmons, vencedor do Oscar de melhor ator coadjuvante pelo papel, domina a projeção e rouba a cena desde o início, mas Miles Teller também se agiganta, colocando a sua atuação (e desempenho musical) em um nível extremamente elevado. Prova disso é o frenético embate final entre professor e aluno, capaz de fazer inveja às sequências dos mais célebres dos duelos de westerns estadunidenses. “Whiplash: Em Busca da Perfeição” é pura transpiração, sangue, lágrimas e aplausos!

"Whiplash" (2014) de Damien Chazelle - Bold Films [us] | Blumhouse Productions [us] | Right of Way Films [us]

1º. LUGAR: “BIRDMAN OU (A INESPERADA VIRTUDE DA IGNORÂNCIA)”

(Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance), Estados Unidos, 2014) - de Alejandro González Iñárritu

Data da Estreia: 29 de janeiro de 2015

Despretensiosamente poderoso, “Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)” é um dos projetos cinematográficos mais ousados dos últimos anos. Grande vencedor da última edição do Oscar, o longa-metragem dirigido pelo diretor mexicano Alejandro González Iñárritu não decepcionou em nenhum momento, se transformando em um produto exemplar e resoluto desde o instante em que foi anunciado como uma mordaz e avinagrada crítica ao show business e ao feroz e impiedoso universo particular dos críticos de arte.

Apesar de apontar um acuminado dedo repreensor sobre a própria indústria que o consagrou, a atmosfera do filme é carregada de coragem e não se importa com as consequências que as frenéticas sátiras ela propõe “vender” poderiam acarretar. Entretanto, toda a vivacidade e carga dramática da trama recai sobre os ombros e sobre o egocentrismo exacerbado de Riggan Thompson (Michael Keaton), um ator decadente que está atrás de um reconhecimento e de uma adoração pública que, na verdade, sempre possuiu, mesmo que escondido por detrás da máscara do popular super-herói Birdman.

Recusando de prontidão um quarto projeto que retomaria a milionária franquia de filmes com o personagem que o transformou em um astro de Hollywood há mais de duas décadas, Riggan prefere (re)conquistar o prestígio se aventurando na direção de um espetáculo consagrado da Broadway, inspirado em um conto de realismo sujo do escritor Raymond Carver. A peça, é claro, será roteirizada, adaptada e estrelada pelo próprio Riggan Thomson, já dominado pela arrogância e pela impulsividade de um ilusório narcisismo.

É óbvio que o progresso de sua nova empreitada não iria transcorrer tranquilamente. Em meio aos ensaios e a poucos dias da estreia, Riggan enfrenta uma série de contratempos: um dos principais integrantes do elenco se acidenta e é prontamente substituído pelo talentoso (mas, petulante) Mike Shiner (Edward Norton); a namorada e colega de elenco, Laura (Andrea Riseborough) acredita que está grávida; e Sam (Emma Stone), sua única filha, parece estar próxima de uma recaída dias depois de ter saído de uma clínica de reabilitação. Para piorar situação, Thomson precisa lidar com as pressões de seu agente (Zach Galifianakis); das pesadas e insensíveis críticas de uma colunista do New York Times (Lindsay Duncan); e de uma estranha e misteriosa voz que insiste em embaralhar os seus pensamentos.

Ainda acreditando ser o sujeito especial que, infortunadamente, se transformou em um talento desperdiçado, Riggan vira a chave e passa do artista malogrado e incompreendido para o homem que percebe que sempre foi o herói de seus próprios devaneios, sendo que somente ele pode “desbaratinar” essas fantasias. A inesperada virtude carregada de completa ignorância é a catarse final de um personagem que, enfim, tem o valor de seu talento reconhecido!

O FILME DO ANO!

"Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance)" (2014) de Alejandro González Iñárritu - New Regency Pictures [us]
M Prods [us] | Grisbi Productions, Le [us] | TSG Entertainment [us] | Worldview Entertainment [us]

Bom, também entendemos que, com um cardápio tão variado e excelente quanto o que tivemos esse ano, o tamanho de uma lista com apenas dez filmes acaba ficando muito pequeno. Dessa forma, resolvemos incluir, no final deste artigo, pequenas listas que citam somente o título, o ano de produção e o diretor de filmes que se encaixam em algumas categorias que também julgamos importantes. Confira:

Também mereceram destaque este ano: “A Acusada” (2014) de Paula van der Oest; “Acima das Nuvens” (2014) de Olivier Assayas; “Blind” (2014) de Eskil Vogt; “Para Sempre Alice” (2014) de Richard Glatzer e Wash Westmoreland; “Sono de Inverno” (2014) de Nuri Bilge Ceylan; e “Vício Inerente” (2014) de Paul Thomas Anderson.

Não vimos e nem veremos: “Ted 2” (2015) de Seth MacFarlane.

Ainda faltam ser conferidos: “O Clã” (2015) de Pablo Trapero; “O Clube” (2015) de Pablo Larraín; “Expresso do Amanhã” (2013) de Joon-ho Bong; “Força Maior” (2014) de Ruben Östlund; “Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros” (2015) de Colin Trevorrow; e “Ponte dos Espiões” (2015) de Steven Spielberg.

Podem obter grande destaque em 2016: “O Filho de Saul” (2015) de László Nemes; “A Garota Dinamarquesa" (2015) de Tom Hooper; “Juventude” (2015) de Paolo Sorrentino; “Procurando Dory” (2016) de Andrew Stanton e Angus MacLane; “Os Oito Odiados” (2015) de Quentin Tarantino; e “Tangerina” (2015) de Sean Baker.

Maior expectativa para 2016: “O Regresso” (2015) de Alejandro González Iñárritu (ele, mais uma vez!).

(*) Lembrando que críticas, apontamentos de injustiças ou esquecimentos podem ser expressos nos comentários... ;-)

(**) Também não descartaremos os elogios! :-D

ENTÃO É ISSO! QUE O ANO DE 2016 SEJA TÃO ESPECIAL QUANTO FOI O DE 2015: UM ANO DE EXCELENTES FILMES, INESQUECÍVEIS PARA TODOS NÓS!

VIVA O CINEMA!

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Memórias #retrospectiva | As despedidas que marcaram o ano de 2015

No primeiro artigo publicado pelo Rotina Cinemeira, escrevi que, vez ou outra, apareceria por aqui para poder exprimir a minha consternação diante uma perda. À época estava um tanto assustado, pois 2014 acabava de terminar e fechava uma triste conta: há muito tempo não me lembrava de um ano tão sombrio para o mundo do cinema, onde perdemos muitas das figuras mais fascinantes e inspiradoras ainda vivas, sendo que algumas delas acabaram nos deixando de uma forma muito cruel, violenta e amarga (como nos casos de Eduardo Coutinho e Robin Williams, por exemplo).

O fato é que, quando uma personalidade, ícone ou grande gênio da sétima arte se vai, é importante que se registre quão grandiosa foi a sua carreira e a sua obra. Isso infelizmente ocorre à medida que o mundo gira (e sim, todas essas partidas me doem muito!). Para aumentar o lamento, 2015 começou com as despedidas de verdadeiras lendas que desafortunadamente desabitaram o nosso plano, como o ator australiano Rod Taylor; o cineasta italiano Francesco Rossi; e a eterna musa de Federico Fellini, a atriz sueca Anita Ekberg.

Já na primeira semana de atividade do nosso blog, mais precisamente no segundo dia, morria Odete Lara, uma das mulheres mais belas do país e símbolo elegante do Cinema Novo Brasileiro. Foi muito triste ter que começar um trabalho inaugurando de prontidão a coluna “Memórias”, que ainda homenageou outras 15 personalidades ao longo do ano. Mais triste ainda é saber que uma lista inaugurada por Odete em fevereiro (e pelas quais também passaram nomes como os de Carlos Manga, Cláudio Marzo e Jorege Loredo) tenha sido encerrada por outra de nossas maiores divas em dezembro: a esplendorosa Marília Pêra.

Astros e estrelas se vão constantemente (Christopher Lee e Omar Sharif também foram embora há pouco tempo), e ainda assim essas despedidas continuam sendo sempre avassaladoras. Apesar de ter sido um ano menos dilacerante do que o de 2014 para o Cinema, 2015 pôde nos proporcionar os seus momentos de dolorosas e lancinantes punhaladas.

Relembre agora alguns dos adeuses mais marcantes não só para o mundo do cinema, mas uma lista completa que ainda contém outras figuras notáveis que admirava muito e que também partiram neste ano.

Lembrando que os artistas em destaque (negrito) foram contemplados com homenagens especiais prestadas na coluna “Memórias” ao longo de 2015, ou ainda tiveram textos especiais que lembraram as suas partidas em algum momento...

QUE AGORA DESCANSEM EM PAZ...

JANEIRO

Dia 1: Donna Douglas

Dia 2: Bill Hart

Dia 4: René Vautier

Dia 7: Khan Bonfils; Rod Taylor

Dia 9: Samuel Goldwyn Jr.

Dia 10: Francesco Rosi; Taylor Negron

Dia 11: Anita Ekberg

Dia 17: Donald Harron; Faten Hamama

Dia 25: Demis Roussos

Dia 30: Geraldine McEwan; Than Wyenn

Dia 31: Lizabeth Scott

FEVEREIRO

Dia 2: Stewart Stern

Dia 4: Odete Lara

Dia 11: Roger Hanin

Dia 12: Movita

Dia 14: Louis Jourdan

Dia 23: Ben Woolf

Dia 27: Leonard Nimoy

A atriz sueca Anita Ekberg (1931 - 2015) em "La Dolce Vita" (1960) - Riama Film [it]

MARÇO

Dia 1: Daniel von Bargen

Dia 3: José Rico; Lynn Borden

Dia 4: Harve Bennett


Dia 8: Inezita Barroso; Sam Simon

Dia 10: Richard Glatzer

Dia 20: Gregory Walcott


Dia 26: Jorge Loredo

Dia 28: Gene Saks; Miroslav Ondrícek

ABRIL

Dia 1: Cynthia Lennon

Dia 2: Manoel de Oliveira; Ricardo Della Rosa

Dia 6: James Best

Dia 7: Geoffrey Lewis

Dia 10: Barbara Heliodora

Dia 13: Eduardo Galeano; Günter Grass

Dia 14: Percy Sledge

Dia 20: Cláudio Cunha

Dia 23: Roberto Talma

Dia 26: Jayne Meadows

Dia 27: Andrew Lesnie


Dia 30: Ben E. King; Nigel Terry; Patachou; Penna Filho

O cineasta portugês Manoel de Oliveira (1908 - 2015) - Divulgação

MAIO

Dia 1: Grace Lee Whitney

Dia 2: Michael Blake

Dia 4: Ellen Albertini Dow

Dia 9: Elizabeth Wilson; Jean Gruault

Dia 14: B. B. King

Dia 16: Elias Gleizer

Dia 20: Mary Ellen Trainor

Dia 21: Zé do Rádio

Dia 23: John Nash; Anne Meara

Dia 26: Vicente Aranda

Dia 29: Betsy Palmer

JUNHO

Dia 6: Pierre Brice; Richard Johnson


Dia 9: Nuno Melo

Dia 10: Robert Chartoff

Dia 11: Ron Moody

Dia 12: Fernando Brant; José Messias

Dia 14: Zito

Dia 22: James Horner; Laura Antonelli

Dia 23: Dick Van Patten; Magali Noël

Dia 27: Chris Squire

O ator britânico Christopher Lee (1922 - 2015) em "Dracula" (1958) - Hammer Films [gb]

JULHO

Dia 3: Amanda Peterson, Diana Douglas

Dia 6: Jerry Weintraub

Dia 10: Omar Sharif; Roger Rees

Dia 16: Alcides Ghiggia

Dia 18: Alex Rocco

Dia 21: Theodore Bikel

Dia 22: Natasha Parry

Dia 30: Lynn Anderson

AGOSTO

Dia 3: Coleen Gray

Dia 4: Billy Sherrill

Dia 7: Sólveig Anspach; Uggie

Dia 16: Anna Kashfi

Dia 17: Yvonne Craig

Dia 18: Bud Yorkin

Dia 19: Antonio Larreta

Dia 26: Peter Kern

Dia 30: Oliver Sacks, Wes Craven

O ator egípcio Omar Sharif (1932 - 2015) em "Doctor Zhivago" (1965)
Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) [us] | Carlo Ponti Production [it]

SETEMBRO

Dia 1: Dean Jones

Dia 5: Frederick ‘Dennis’ Greene; Sergio Ciani, o Alan Steel; Setsuko Hara

Dia 6: Martin Milner

Dia 7: Candida Royalle

Dia 10: Dickie Moore

Dia 13: Betty Lago

Dia 17: Carlos Manga

Dia 19: Brian Sewell; Jackie Collins; Marcin Wrona

Dia 20: Mario Caiano

Dia 23: Carlos Álvarez-Nóvoa

Dia 28: Catherine E. Coulson

Dia 29: Hellmuth Karasek

Dia 30: Caio César de Melo

OUTUBRO


Dia 6: Kevin Corcoran

Dia 7: Elena Lucena

Dia 9: Gordon Honeycombe

Dia 10: Aachi Manorama

Dia 12: Joan Leslie

Dia 14: Luiz Carlos Miele

Dia 20: Yoná Magalhães

Dia 24: Maureen O’Hara

Dia 26: Sam Sarpong

A atriz irlandesa Maureen O'Hara (1920 - 2015) em "The Quiet Man" (1952) - Argosy Pictures [us]

NOVEMBRO

Dia 1: Fred Dalton Thompson

Dia 4: Melissa Mathison

Dia 7: Gunnar Hansen

Dia 10: Daniel Fleetwood; Sandra Moreyra

Dia 11: Phil ‘Animal’ Taylor

Dia 15: Vincent Margera

DEZEMBRO

Dia 3: Tutuca

Dia 4: Robert Loggia


Dia 6: Chun-Hsiung Ko; Holly Woodlawn; Nicholas Smith

Dia 7: Ken Weatherwax; Shirley Stelfox

Dia 12: Nydia Lícia; Rose Siggins

Dia 23: Michael Earl

Dia 25: Sadhana Shivdasani

Dia 27: Haskell Wexler

Dia 28: Lemmy Kilmister

Dia 31: Natalie Cole; Wayne Rogers

A atriz brasileira Marília Pêra (1943 - 2015) em "Pixote: A Lei do mais Fraco" (1981) - Embrafilme [br] | HB Filmes [br]

Observação: queria muito ter dedicado uma coluna “Memórias” à Maureen O’Hara, mas fiquei estarrecido ao saber de sua morte (ocorrida no final de outubro) apenas há duas semanas atrás. E essa notícia já é suficientemente triste para continuar escrevendo por hoje...

Para 2015 eu digo que já deu! E espero profundamente que 2016 trabalhe com muita moderação os seus requintes de crueldade...

sábado, 19 de dezembro de 2015

O legado centenário de Édith Piaf | Filmes embalados pelo gracioso cantar da Pequena Pardal de Paris

O brilho espontâneo e timidamente desajeitado de Édith Piaf iluminou de maneira muito breve os palcos pelos quais ela se apresentou, mas, enquanto viveu, a singeleza traduzida pela sua voz cumpriu com primor e requinte a missão tragicamente bela de cantar a vida! Mundialmente celebrada, uma das artistas francesas mais representativas do século XX estaria completando 100 anos no dia de hoje.

Édith Piaf (1915 - 1963) - Divulgação Lipnitzki/Roger Viollet/Getty

Expressiva intérprete da chanson française, Piaf era genuinamente uma estrela da música, mas o vicejo irradiante das notas cantadas por ela ainda são capazes de conquistar quaisquer ouvidos, leigos ou não, como também arrebatar todos os corações tocados por suas incríveis performances (neste último caso, não é preciso ser um exímio conhecedor das artes para se apaixonar por Édith). Não é à toa que, frequentemente, o Cinema toma emprestado grande parte do seu talento e da sua genialidade para engrandecer uma série de filmes; sejam elas pequenas ou megaproduções; blockbusters ou filmes de arte; dramas extremamente densos, comédias escrachadas ou, até mesmo, explosivos filmes de ação.

Exemplo disso é que, creditado apenas em trilhas sonoras, o nome de Édith Piaf aparece em mais de uma centena de títulos, onde algumas de suas outras centenas de músicas acabam embalando muitas das cenas mais famosas da história do cinema, ou então acabam dando o tom e o ritmo perfeitos para todo o enredo de um trabalho cinematográfico. “L’Hymne à L’Amour” (em português, “O Hino ao Amor”), uma de suas canções mais belas, foi a escolhida para batizar a tradução brasileira do filme sobre a sua vida, “Piaf: Um Hino ao Amor” (2007) de Olivier Dahan, do qual falaremos logo mais.


“La Vie en Rose”, um dos primeiros e maiores sucessos de Piaf, além de dar nome à tradução do título nos Estados Unidos para a cinebiografia anteriormente citada, dulcifica a trilha de dramas completamente distintos como “Sabrina” (1995) de Sydney Pollack (bem como a versão de 1954, de Billy Wilder); “O Verão de Sam” (1999) de Spike Lee; e “O Americano Tranquilo” (2002) de Phillip Noyce; a canção também está presente de forma graciosa na animação da Pixar “Wall-E” (2008) de Andrew Stanton; e até mesmo no alucinante “X-Men: Primeira Classe” (2011) de Matthew Vaughn.

Já o clássico “Non, Je ne Regrette Rien” aparece tanto em “Babe, o Porquinho Atrapalhado na Cidade” (1998) de George Miller, com absurda leveza, quanto em “Os Sonhadores” (2003) de Bernardo Bertolucci, de forma vociferante e revolucionária; há quem lembre ainda que a música ecoa como o despertador de sonhos em “A Origem” (2010) de Christopher Nolan. Piaf era completa, o seu talento era um deslumbre, e a sua obra se fez universal!

Entretanto, a sua contribuição para o Cinema vai muito além das canções incluídas em trilhas sonoras. Aproveitando a data em que se comemora o centenário de nascimento de Édith Piaf, o Rotina Cinemeira ainda selecionou mais quatro excelentes filmes para os seus leitores: dois em que La Môme brilha como atriz, e outros dois em que ela permite que os outros também brilhem por ela, retratando as suas efemérides em cinebiografias emocionantes e imperdíveis!

Confira a nossa seleção:

Estrela sem Luz (Étoile sans Lumière, França, 1946)

Direção: Marcel Blistène

Édith Piaf cantava pelas ruas de Paris desde a sua batalhada e sofrida adolescência, mas foi lançar seu primeiro álbum somente no ano de 1936, aos 21 anos. O sucesso imediato permitiu com que ela também se aventurasse por musicais e peças teatrais nas famosas casas de shows do bairro Montparnasse, atuando como uma verdadeira vedete dos shows de variedades, observado o grande dom que também tinha para a interpretação. Durante os anos 40, Édith se arriscou como atriz de cinema, participando de poucas e pequenas produções como protagonista, das quais destacaram-se “Montmartre sur Seine” (1941) de Georges Lacombe (sua estreia nas telas) e “Neuf Garçons, un Coeur” (1948) de Georges Friedland.

Entretanto, o seu trabalho mais conhecido é “Estrela sem Luz”, no qual interpreta a ingênua Madeleine, uma jovem provinciana dona de uma voz fabulosa que viaja para Paris depois de ser contratada pelo famoso empresário Roger Marney (Marcel Herrand). Madeleine chega à cidade para dublar Stella Dora (Mila Parély), uma estrela do cinema mudo de voz desagradável que teme pelo fim de sua carreira com a chegada do cinema falado em 1929.

Os filmes de Stella, claro, continuam sendo um sucesso, e Madeleine sequer é convidada para a grande estreia; mas, com a ajuda do namorado Pierre (Yves Montand) e do engenheiro de som Gaston (Serge Reggiani), a jovem resolve que não ficará à sombra do brilho da atriz que ela aceitou “doar” o seu talento. Apesar de sempre compararem este filme ao clássico “Cantando na Chuva” (1952) de Stanley Donen de Gene Kelly, vale sempre lembrar que o musical francês precede o hollywoodiano em seis anos.

Piaf voltou a estrelar mais um longa no final da década de 50, “Les Amants de Demain” (1959) também dirigido por Marcel Blistène, mas sem grande sucesso. Abaixo, segue um trecho de “Estrela sem Luz”, onde Édith Piaf contracena com um jovem, e ainda novato, Yves Montand.


French Cancan (French Cancan, França | Itália, 1954)

Direção: Jean Renoir

Delicado, colorido e absurdamente alegre, “French Cancan” é uma celebração às tradições mais apaixonantes da França, e tem tudo que um bom filme merece! Para começar, é dirigido pelo fabuloso Jean Renoir que, após uma década de pungentes e laboriosos projetos em Hollywood, retorna à sua terra natal para reatar os laços com o realismo poético que sempre foi a marca do seu cinema na fase francesa dos anos 20 e 30. O filme ainda é estrelado pelo icônico Jean Gabin, que interpreta o dono de um decadente café no bairro boêmio de Montmartre e que tem a brilhante ideia de repopularizar o Cancan como forma de reerguer os negócios no ramo do entretenimento, que passavam por uma crise no final do século XIX. Os palpitantes espetáculos da casa representam, de maneira simbólica, a fase embrionária da fundação do Moulin Rouge, o cabaré mais famoso das tradicionais noites parisienses.

Édith Piaf é peça fundamental na composição dessa alegoria, e não está propriamente como uma atriz em “French Cancan”, mas participa de um dos momentos mais sublimes do filme. Em um dos trechos, vários números musicais são apresentados no café de Henri Danglar (personagem de Gabin), e são cantados por nomes consagrados como os de Patachou, André Claveau, Jean Raymon, Cora Vaucaire e, claro, Piaf (personificando a cantora Eugénie Buffet). Mesmo aparecendo por cerca de 50 segundos, ela rouba a cena e encanta a todos, como sempre! Além de reverenciar a dança, “French Cancan” também é uma ode à música francesa e aos seus maiores ídolos!


Édith e Marcel (Édith et Marcel, França, 1983)

Direção: Claude Lelouch

Claude Lelouch sempre foi um cineasta muito talentoso. Exímio escritor e poeta, o diretor também sabe envolver os seus espectadores enquanto trabalha com uma câmera na mão, compondo as suas mise-en-scènes de uma forma deleitável e extremamente particular. A sua mente criativa e o seu comportamento sóbrio permitiram-lhe desenvolver um método peculiar de dirigir os atores, deixando-os mais espontâneos, verdadeiros e convincentes possíveis. Por essas e por outras qualidades, Lelouch foi o escolhido para filmar a primeira adaptação da história da vida Édith Piaf para os cinemas, no ano de 1983, passados 20 anos da sua morte.

Na verdade, o filme não é propriamente uma cinebiografia de Piaf. Ele acompanha não só a conturbada trajetória de uma das artistas mais populares do mundo, como também a carreira de um dos maiores atletas europeus da história: Marcel Cerdan, boxeador francês de origem argelina e amante de Édith Piaf. Os dois se conheceram em 1948, ano em que a cantora retornava de uma grandiosa turnê nos Estados Unidos. Pouco tempo depois, Marcel (que, na época, era casado) tornou-se campeão mundial de boxe. Entre luxuosas suítes de hotel em Nova York e voos transatlânticos para Paris, o tórrido romance entre duas das figuras públicas mais emblemáticas da França foi intenso e meteoricamente curto, até a trágica morte de Marcel no final do ano de 1949.

Marcel Cerdan (que no longa é interpretado pelo próprio filho, Marcel Cerdan Jr.) foi o grande amor da vida de Piaf que, mesmo tendo aguentado todos os tipos de sofrimento, nunca conseguiu se recuperar das consequências deste acidente; um baque que iniciou o seu definhamento, marcado por outras inúmeras desilusões amorosas e o pelo seu vício descontrolado em mofina (que aliviava as dores de uma artrite diagnosticada precocemente).

Em suma, “Édith e Marcel” é um filme raro, mas que deve ser buscado e apreciado por todos!


Piaf: Um Hino ao Amor (La Môme, França | Reino Unido | República Checa, 2007)

Direção: Olivier Dahan

O sofrimento causado pela perda de Marcel foi apenas mais uma dolorosa página dos capítulos e mais capítulos de um substancial registro das histórias de vida de Édith Piaf. Histórias essas que são contadas de maneira primorosa naquela que talvez seja a cinebiografia definitiva da frágil (e impulsiva) mulher que é considerada a maior estrela da música francesa de todos os tempos. O diretor Olivier Dahan conseguiu compor entre luzes, sombras, sorrisos e, principalmente, lágrimas, um retrato extremamente humano, garboso e empático da figura fascinante que foi La Môme.

“Piaf: Um Hino ao Amor” é uma composição mais do que íntima, é um romance passional de intensa carga dramática que acompanha os primeiros passos da menina tímida que nasceu no acanhado bairro parisiense de Belleville e que foi capaz de romper as barreiras da Europa e de todo o mundo com uma voz singular e coruscante. A infância difícil marcada pelos recorrentes abandonos dos pais, os maus tratos da avó, e até mesmo uma cegueira temporária causada por uma queratite estão todas presentes nas sequências iniciais do filme; sobre os dramas da vida adulta e as passagens da carreira artística, nem é preciso falar muito: a perda de sua única filha, o início difícil na profissão, a ascensão inesperada, bem como todos os reveses profissionais e amorosos são descritos de maneira apaixonada, sempre embalados por grande parte das músicas de seu inesquecível repertório.

Vale muito salientar que todo o sucesso desta distinta realização é ainda mais grandioso por conta da soberba interpretação de Marion Cotillard como La Momê. Carregada de muita emoção e totalmente entregue aos dramas de Édith Piaf, a atriz se transformou na tela. Como resultado, temos aqui, uma das maiores atuações femininas no cinema não só dos últimos anos, como também uma das melhores de todos os tempos. Pelo papel, Marion recebeu inúmeros prêmios como o BAFTA, o Globo de Ouro e o Oscar de melhor atriz e ainda conseguiu concretizar a tremenda façanha de engrandecer ainda mais uma lenda!

Mítica e imortal, Édith Piaf ainda segue vibrante!


Melancolia e, sobretudo, luz! Que a memória e o legado musical de Édith Piaf sejam preservados por muitos séculos!

PS: O vídeo de “L’Hymne à L”Amour” é fragmento da comédia musical “Paris Chante Toujours!” (1951) de Pierre Montazel.