domingo, 31 de maio de 2015

Vistos e Revistos em 2015 #maio

Maio serviu para alavancar esta lista!

Juntamente com fevereiro, este foi o melhor mês para a apreciação de grandes filmes (outros, nem tanto): ao todo foram 44 títulos vistos ou revistos que ampliam e mantêm a média superior a 1 filme/dia, marca que pretendo conservar e consolidar como um objetivo até o final do ano. Se a média aumentou ainda mais, continuo muito feliz com este estimado adimplemento!

Lembro que sempre indico todos os filmes aos quais assisto! Friso que cada um deles, por pior que seja, tem direito a uma recomendação, simplesmente pela proposta à experiência da degustação cinematográfica. Uma vez ou outra (no caso, quase sempre) o que agrada aos olhos de um pode não agradar aos olhos de todos os outros.

Observação: os filmes em destaque na lista a seguir possuem perfis e críticas nas sessões “Sempre um Clássico” ou “Identidade Nacional” ou ainda fizeram parte da programação anual do Projeto “Cinema em Transe” do Sesc Palladium de Belo Horizonte que valoriza as nossas mais recentes produções nacionais. É só clicar e conferir!

Compartilho com vocês, portanto, todos os 196 filmes já apreciados em 2015:

001 - Abismo Prateado, O (O Abismo Prateado, Brasil, 2011)

002 - Abominável Doutor Phibes, O (The Abominable Dr. Phibes, Reino Unido | Estados Unidos, 1971)

003 - Abutre, O (Nightcrawler, Estados Unidos, 2014)

004 - Além da Fronteira (Out in the Dark, Israel | Estados Unidos, 2012)

005 - Alien, o Oitavo Passageiro (Alien, Estados Unidos | Reino Unido, 1979)


007 - Amantes Crucificados, Os (Chikamatsu Monogatari, Japão, 1954)

008 - Amargo Regresso (Coming Home, Estados Unidos, 1978)

009 - Amores de Apache (Casque d’Or, França, 1952)

010 - Anabazys - O Terceiro Testamento de Glauber Rocha (Anabazys, Brasil, 2007)

011 - Aniversário Macabro (The Last House on the Left, Estados Unidos, 1972)

012 - Anjo do Mal (Pickup on South Street, Estados Unidos, 1953)

013 - Ao Rufar dos Tambores (Drums Along the Mohawk, Estados Unidos, 1939)

014 - Aplausos (Applaus, Dinamarca, 2009)

015 - Atire a Primeira Pedra (Destry Rides Again, Estados Unidos, 1939)

016 - Batman (Batman, Estados Unidos | Reino Unido, 1989)

017 - Beau Geste (Beau Geste, Estados Unidos, 1939)

018 - Besta Humana, A (La Bête Humaine, França, 1938)

019 - Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) (Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance), Estados Unidos | Canadá, 2014)

020 - Blade Runner, o Caçador de Androides (Blade Runner, Estados Unidos | Hong Kong | Reino Unido, 1982)

021 - Blow-Up - Depois Daquele Beijo (Blowup, Reino Unido | Itália | Estados Unidos, 1966)

022 - Boulevard do Crime, O (Les Enfants du Paradis, França, 1945)

023 - Boxtrolls, Os (The Boxtrolls, Estados Unidos, 2014)


025 - Cake: Uma Razão para Viver (Cake, Estados Unidos, 2014)

026 - Caminhos da Floresta (Into the Woods, Estados Unidos | Reino Unido | Canadá, 2014)

027 - Carícia Fatal (Ratos e Homens) (Of Mice and Men, Estados Unidos, 1939)

028 - Carrossel da Esperança (Jour de Fête, França, 1949)

029 - Casa de Bambu (House of Bamboo, Estados Unidos, 1955)

030 - Casal Osterman, O (The Osterman Weekend, Estados Unidos, 1983)


032 - Céu que nos Protege, O (The Sheltering Sky, Reino Unido | Itália, 1990)

033 - Cinzas no Paraíso (Days of Heaven, Estados Unidos, 1978)

034 - Clube dos Cinco (The Breakfast Club, Estados Unidos, 1985)


036 - Como Treinar o seu Dragão 2 (How to Train your Dragon 2, Estados Unidos, 2014)

037 - Conto da Princesa Kaguya, O (Kaguyahime no Monogatari, Japão, 2013)

038 - Contos da Lua Vaga (Ugetsu Monogatari, Japão, 1953)

039 - Corcunda de Notre Dame, O (The Hunchback of Notre Dame, Estados Unidos, 1939)

040 - Costela de Adão, A (Adam’s Rib, Estados Unidos, 1949)

041 - De Onde se Avistam as Chaminés (Entotsu no Mieru Basho, Japão, 1953)

042 - Deixe a Luz Acesa (Keep the Lights On, Estados Unidos, 2012)

043 - Demônio da Argélia, O (Pépé le Moko, França, 1937)

044 - Demônio das Onze Horas, O (Pierrot le Fou, França | Itália, 1965)

045 - Departamento Q - Guardiões das Causas Perdidas (Kvinden i Buret, Dinamarca | Alemanha | Suécia, 2013)

046 - Desconstruindo Harry (Deconstructing Harry, Estados Unidos, 1997)

047 - Deserto Azul (Deserto Azul, Brasil | Chile, 2013)

048 - 2 Coelhos (2 Coelhos, Brasil, 2012)

049 - Dois Dias, uma Noite (Deux Jours, une Nuit, Bélgica | França | Itália, 2014)

050 - Dragões da Violência (Forty Guns, Estados Unidos, 1957)

051 - Duelo Silencioso (Shizukanaru Kettô, Japão, 1949)

052 - Dúvida (Doubt, Estados Unidos, 2008)

053 - E aí, Meu Irmão, Cadê Você? (O Brother, Where Art Thou?, Reino Unido | França | Estados Unidos, 2000)


055 - Elite de Assassinos (The Killer Elite, Estados Unidos, 1975)

056 - Em Trânsito (Em Trânsito, Brasil, 2013)

057 - Enigma para Demônios (Enigma para Demônios, Brasil, 1975)

058 - Era uma Vez em Tóquio (Tôkyô Monogatari, Japão, 1953)

059 - Esculacho (Esculacho, Brasil, 2013)

060 - Espantalho (Scarecrow, Estados Unidos, 1973)

061 - Estranho Mundo de Jack, O (The Nightmare Before Christmas, Estados Unidos, 1993)

062 - Exterminador do Futuro, O (The Terminator, Reino Unido | Estados Unidos, 1984)

063 - Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final, O (Terminator 2: Judgment Day, Estados Unidos | França, 1991)

064 - Fargo - Uma Comédia de Erros (Fargo, Estados Unidos | Reino Unido, 1996)

065 - Festa de Família (Festen, Dinamarca | Suécia, 1998)

066 - Filho Único (Hitori Musuko, Japão, 1936)

067 - Filme para Poeta Cego (Filme para Poeta Cego, Brasil | Cuba, 2012)

068 - Fotografia Oculta de Vivian Maier, A (Finding Vivian Maier, Estados Unidos, 2013)

069 - Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo (Foxcatcher, Estados Unidos, 2014)

070 - Frances Ha (Frances Ha, Estados Unidos, 2012)

071 - French Cancan (French Cancan, França | Itália, 1954)

072 - Frenesi (Frenzy, Reino Unido, 1972)

073 - Fúria Sanguinária (White Heat, Estados Unidos, 1949)

074 - Garota Exemplar (Gone Girl, Estados Unidos, 2014)

075 - Garoto de Bicicleta, O (Le Gamin au Vélo, Bélgica | França | Itália, 2011)

076 - Gigante de Ferro, O (The Iron Giant, Estados Unidos, 1999)

077 - Gilbert Grape: Aprendiz de Sonhador (What’s Eating Gilbert Grape, Estados Unidos, 1993)

078 - Grande Ilusão, A (La Grande Illusion, França, 1937)

079 - Guarda-Chuvas do Amor, Os (Les Parapluies de Cherbourg, França | Alemanha Ocidental, 1964)

080 - Gunga Din (Gunga Din, Estados Unidos, 1939)

081 - Halloween - A Noite do Terror (Halloween, Estados Unidos, 1978)

082 - Heróis Esquecidos (The Roaring Twenties, Estados Unidos, 1939)

083 - História Real, Uma (The Straight Story, França | Reino Unido | Estados Unidos, 1999)

084 - Homem das Multidões, O (O Homem das Multidões, Brasil, 2013)

085 - Homem Morto (Dead Man, Estados Unidos | Alemanha | Japão, 1995)

086 - Homem que Amava as Mulheres, O (L’Homme qui Aimait les Femmes, França, 1977)

087 - Hora Mágica, A (A Hora Mágica, Brasil, 1999)

088 - Ida (Ida, Polônia | Dinamarca | França | Reino Unido, 2013)

089 - Imagens (Images, Reino Unido | Estados Unidos, 1972)

090 - Implacáveis: Fuga Perigosa, Os (The Getaway, Estados Unidos, 1972)

091 - Inimigo Público (The Public Enemy, Estados Unidos, 1931)


093 - Inquilino, O (Le Locataire, França, 1976)

094 - Intendente Sanshô, O (Sanshô Dayû, Japão, 1954)

095 - Interestelar (Interstellar, Estados Unidos | Reino Unido | Canadá, 2014)

096 - Invenção de Hugo Cabret, A (Hugo, Estados Unidos, 2011)

097 - Irmãos Cara de Pau, Os (The Blues Brothers, Estados Unidos, 1980)


099 - Irmãs Diabólicas (Sisters, Estados Unidos, 1973)

100 - Janela Indiscreta (Rear Window, Estados Unidos, 1954)

101 - Jogo da Imitação, O (The Imitation Game, Reino Unido | Estados Unidos, 2014)

102 - Juiz, O (The Judge, Estados Unidos, 2014)

103 - Juno (Juno, Estados Unidos, 2007)

104 - Juventude sem Arrependimento (Waga Seishun ni Kuinashi, Japão, 1946)

105 - Kill Bill: Volume 1 (Kill Bill: Vol. 1, Estados Unidos, 2003)

106 - Ladrão de Casaca (To Catch a Thief, Estados Unidos, 1955)

107 - Leviatã (Leviafan, Rússia, 2014)

108 - Libertador (Libertador, Venezuela | Espanha, 2013)

109 - Lira do Delírio, A (A Lira do Delírio, Brasil, 1978)

110 - Livre (Wild, Estados Unidos, 2014)

111 - Lobo atrás da Porta, O (O Lobo atrás da Porta, Brasil, 2013)

112 - Locke (Locke, Reino Unido | Estados Unidos, 2013)

113 - Lucia de B. (Lucia de B., Holanda | Suécia, 2014)

114 - Lucy (Lucy, França, 2014)

115 - Magia ao Luar (Magic in the Moonlight, Estados Unidos | Reino Unido, 2014)


117 - Maldição do Demônio, A (La Maschera del Demonio, Itália, 1960)

118 - Manuscrito de Saragoça, O (Rekopis Znaleziony w Saragossie, Polônia, 1965)

119 - Mapas para as Estrelas (Maps to the Stars, Canadá | Alemanha | França | Estados Unidos, 2014)

120 - Médico e o Monstro, O (Dr. Jekyll and Mr. Hyde, Estados Unidos, 1931)

121 - Mocidade de Lincoln, A (Young Mr. Lincoln, Estados Unidos, 1939)

122 - Morro dos Ventos Uivantes, O (Wuthering Heights, Estados Unidos, 1939)

123 - Mortos Caminham, Os (Merrill’s Marauders, Estados Unidos, 1962)

124 - Mulher faz o Homem, A (Mr. Smith Goes to Washington, Estados Unidos, 1939)

125 - Mulheres, As (The Women, Estados Unidos, 1939)

126 - Mundo é uma Cabeça, O (O Mundo é uma Cabeça, Brasil, 2004)

127 - Música de Gion, A (Gion Bayashi, Japão, 1953)

128 - Mutantes, Os (Os Mutantes, Brasil, 1970)

129 - No Tempo das Diligências (Stagecoach, Estados Unidos, 1939)

130 - Noite do Espantalho, A (A Noite do Espantalho, Brasil, 1974)

131 - Nos Domínios do Terror (Twice-Told Tales, Estados Unidos, 1963)

132 - Nova Dubai (Nova Dubai, Brasil, 2014)

133 - Nova Saga do Clã Taira, A (Shin Heike Monogatari, Japão, 1955)


135 - Olhos sem Rosto, Os (Les Yeux sans Visage, França | Itália, 1960)

136 - Operação Big Hero (Big Hero 6, Estados Unidos, 2014)

137 - Ouvir o Rio (Ouvir o Rio, Brasil, 2013)

138 - Pai e Filha (Banshun, Japão, 1949)

139 - Para Sempre Alice (Still Alice, Estados Unidos | França, 2014)

140 - Paraíso Infernal, O (Only Angels Have Wings, Estados Unidos, 1939)

141 - Paris, Texas (Paris, Texas, Alemanha Ocidental | França | Reino Unido, 1984)

142 - Parque Soviético (Parque Soviético, Brasil, 2013)

143 - Passageiro - Profissão: Repórter, O (Professione: Reporter, Itália | Espanha | França, 1975)

144 - Pequeno Nicolau, O (Le Petit Nicolas, França | Bélgica, 2009)

145 - Performance (Performance, Reino Unido, 1970)

146 - Pickpocket - O Batedor de Carteiras (Pickpocket, França, 1959)

147 - Portal do Inferno (Jigokumon, Japão, 1953)

148 - Priscilla, a Rainha do Deserto (The Adventures of Priscilla, Queen of the Desert, Austrália | Reino Unido, 1994)

149 - Profecia, A (The Omen, Estados Unidos | Reino Unido, 1976)

150 - Profundo Desejo dos Deuses, O (Kamigami no Fukaki Yokubô, Japão, 1968)

151 - Proibido! (Verboten!, Estados Unidos, 1959)

152 - Pusher (Pusher, Dinamarca, 1996)

153 - Quadrophenia (Quadrophenia, Reino Unido, 1979)

154 - Queda da Casa de Usher, A (La Chute de la Maison Usher, França, 1928)

155 - Rocco e seus Irmãos (Rocco e i suoi Fratelli, Itália | França, 1960)

156 - Rota ABC (Rota ABC, Brasil, 1991)

157 - Rotina tem seu Encanto, A (Sanma no Aji, Japão, 1962)

158 - Sangue de Artista (Babes in Arms, Estados Unidos, 1939)


160 - Selma: Uma Luta pela Igualdade (Selma, Reino Unido | Estados Unidos, 2014)

161 - Selvagem da Motocicleta, O (Rumble Fish, Estados Unidos, 1983)

162 - Serra (Serra, Brasil, 2013)

163 - Sete Suspeitos, Os (Clue, Estados Unidos, 1985)

164 - Sexo, Drogas e Impostos (Spies & Glistrup, Dinamarca, 2013)

165 - Sniper Americano (American Sniper, Estados Unidos, 2014)

166 - Sob a Pele (Under the Skin, Reino Unido | Estados Unidos | Suíça, 2013)


168 - Solaris (Solyaris, União Soviética, 1972)

169 - Som Diferente, Um (Pump Up the Volume, Canadá | Estados Unidos, 1990)

170 - Sono de Inverno (Kis Uykusu, Turquia | França | Alemanha, 2014)

171 - Space Jam - O Jogo do Século (Space Jam, Estados Unidos, 1996)

172 - Suspiria (Suspiria, Itália, 1977)

173 - Tangerinas (Mandariinid, Estônia | Geórgia, 2013)

174 - Teoria de Tudo, A (The Theory of Everything, Reino Unido, 2014)

175 - Terra de Ninguém (Badlands, Estados Unidos, 1973)

176 - Tokyo-Ga (Tokyo-Ga, Estados Unidos | Alemanha Ocidental, 1985)

177 - Tomboy (Tomboy, França, 2011)

178 - Tommy (Tommy, Reino Unido, 1975)

179 - Trágica Obsessão (Obsession, Estados Unidos, 1976)

180 - Trash Humpers (Trash Humpers, Estados Unidos | Reino Unido | França, 2009)

181 - Três Mulheres (3 Women, Estados Unidos, 1977)

182 - Triunfo (Triunfo, Brasil, 2014)

183 - Ulime (Ulime, Cabo Verde, 2010)


185 - Último Metrô, O (Le Dernier Métro, França, 1980)

186 - Van Gogh (Van Gogh, França, 1991)

187 - Viagem à Lua (Le Voyage dans la Lune, França, 1902)

188 - Vida de Casado (Meshi, Japão, 1951)

189 - Vida de O’Haru, A (Saikaku Ichidai Onna, Japão, 1952)

190 - Virunga (Virunga, Reino Unido | Congo, 2014)

191 - Visitante, O (The Visitor, Estados Unidos, 2007)

192 - Vitória Amarga (Dark Victory, Estados Unidos, 1939)

193 - Você vai Conhecer o Homem dos seus Sonhos (You Will Meet a Tall Dark Stranger, Estados Unidos | Espanha, 2010)

194 - Whiplash: Em Busca da Perfeição (Whiplash, Estados Unidos, 2014)

195 - You Rock My World (You Rock My World, Estados Unidos, 2001)

196 - Zombie - O Despertar dos Mortos (Dawn of the Dead, Itália | Estados Unidos, 1978)

*"At the Circus" (1939) de Edward Buzzell - Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) [us]

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Três Assim #5 | Cineastas que se Dirigem

Maio ficou marcado para os amantes do Cinema como o mês em que se comemorou o centenário de um de seus maiores ícones: o cineasta estadunidense Orson Welles.

Gênio e por muitas vezes controverso, Welles tinha o costume de atuar em quase todos os filmes que dirigia, abruptas consequências de uma personalidade forte. As intermináveis pressões que sofria por parte dos estúdios pelos quais trabalhou ao longo de sua conturbada carreira como realizador fizeram com que ele não abrisse mão de ter um maior controle em todas as suas produções.

O refúgio intelectual que Orson Welles buscava para escapar dessa desgastante situação era, simplesmente, a concentração de toda a sua força criativa na produção dos longas. O diretor colocava o máximo de seu talento em cada um dos trabalhos, conjugando as suas magistrais direções com as melancólicas interpretações que, geralmente, assumiam o papel de protagonismo. Reflexo exemplar disso é o clicherizado (porém, trivial) vislumbro esmagador que “Cidadão Kane” (1941) representou para a História do Cinema.

O artigo sobre o centenário de Orson Welles pode ser conferido clicando AQUI.

Aproveitando o ensejo, o Rotina Cinemeira indicará para o seu fim de semana três filmes de diretores que, assim como Orson Welles, tinham e ainda tem o costume de se dirigir, empregando em suas obras toda a singularidade e originalidade do cinema de autor muito embora sejam, por vezes, retalhados ou criticados pelos grandes estúdios da indústria cinematográfica.

Presenciar diretores que aparecem em seus próprios filmes é tão antigo quanto o próprio Cinema: Georges Méliès, por exemplo, ainda no início do Século XX produzia, orquestrava e ainda atuava em todas as suas verdadeiras obras de arte (tudo ao mesmo tempo!); já Alfred Hitchcock era famoso pelas “aparições relâmpago” em quase todos os filmes que dirigiu, embora nunca tenha chegado a atuar efetivamente.

Entre os cineastas contemporâneos temos Quentin Tarantino, que sempre nos brinda com pequenas, porém especiais aparições em alguns dos seus longas, com destaque para o Mr. Brown de “Cães de Aluguel” (1992) e o desesperadamente hilário Jimmie Dimmick de “Pulp Fiction - Tempo de Violência” (1994). Há também aqueles atores que em projetos pessoais e ambiciosos se dirigiram e conquistaram o seu espaço entre os maiores realizadores do mundo, como é o caso de Kevin Costner por “Dança com Lobos” (1990) e Mel Gibson por “Coração Valente” (1995).

Entretanto, o ponto principal aqui é destacar aqueles diretores que rotineiramente tem o costume de atuar em seus filmes, bem como Méliès (quase que “primitivamente”), Welles (excentricamente) e Charles Chaplin, que ainda não havia sido citado, mas é um dos pioneiros na grandiosa arte de roteirizar, produzir, dirigir e, ainda por cima, estrelar os próprios filmes. Confira agora as nossas dicas e recomendações:

Meu Tio (Mon Oncle, França | Itália, 1958)

Direção: Jacques Tati

Jacques Tati foi o gênio das comédias francesas e, assim como Chaplin, tinha em Monsieur Hulot o seu Carlitos. Hulot é uma persona carismática que, embora bem-aventurada e conservadora, está sempre condenada a fazer as coisas erradas desencadeando uma série de situações patéticas e atrapalhadas. Ao todo, Tati dirigiu oito filmes em sua carreira, dos quais metade tiveram como protagonista o seu personagem mais famoso.

A explosão de humor observada em “Meu Tio” é canalizada na excêntrica personalidade de Monsieur Hulot, uma espécie de herói contumaz que em visita ao Senhor e à Senhora Arpel (Jean-Pierre Zola e Adrienne Servantie) - seu cunhado e sua irmã, respectivamente - se encontra estranhado ao deparar-se com um mundo completamente dependente da alta tecnologia. Os Arpel vivem em uma casa ultramoderna, limpa e desinfeta e ainda se orgulham de possuírem um belo jardim, além de equipamentos domésticos de última geração.

Em meio a este universo futurista bem programado, aparentemente pacato e repleto de conforto encontramos Gerard (Alain Bécourt), o aborrecido filho do casal Arpel, entediado com a falta de emoções em sua monótona vida. Habituado ao mundo caloroso e receptivo de onde veio, Monsieur Hulot permanece inadaptado às modernidades, mesmo recebendo do Senhor Arpel um cargo em sua fábrica de tubos plásticos. Para o delírio de seu sobrinho, que tem o mesmo espírito livre e sonhador do tio, Hulot vai colocar tudo de pernas pera o ar nessa deleitável sátira à vida mecanizada.

Dirigindo e atuando, Tati ainda interpreta Monsieur Hulot em mais três ocasiões: “As Férias do Senhor Hulot” (1953), “Playtime - Tempo de Diversão” (1967) e “As Aventuras de Senhor Hulot no Tráfego Louco” (1971).

"Mon Oncle" (1958) de Jacques Tati - Gaumont Distribution [fr] | Specta Films [fr] | Gray-Film [fr] | Alter Films [fr]

O Estranho sem Nome (High Plains Drifter, Estados Unidos, 1973)

Direção: Clint Eastwood

Frente às câmeras, personalidade forte, espontaneidade e talento genuíno, despejando em todos os seus papéis aquela típica e sórdida canalhice; atrás delas, presteza nos processos de produção e atenção nos bastidores das filmagens. Clint Eastwood tem o cinema em seu DNA, e sua experiência como um ícone máximo do western spaghetti e astro dos principais filmes de ação das décadas de 70 e 80 nos Estados Unidos acabaram por credenciá-lo como um dos maiores entendidos da sétima arte e figura respeitada em Hollywood.

Eastwood trabalhou com diretores renomados dos dois gêneros citados anteriormente (dentre eles Brian G. Hutton, Don Sigel, Joshua Logan e Ted Post) e tem empregada, em muitos de seus filmes, um pouco da filosofia cinematográfica de cada um desses cineastas, inclusive em seus filmes mais premiados: “Os Imperdoáveis” (1992) e “Menina de Ouro” (2004). Durante a sua carreira como diretor acabou criando em alguns de seus filmes, de maneira praticamente transgressora, variações para o pistoleiro solitário que ele mesmo deu vida na “Trilogia dos Dólares” (1964 - 1966) de Sérgio Leone.

Em “O Estranho sem Nome”, Eastwood interpreta mais uma vez um misterioso bandoleiro que, montado em seu cavalo, chega à pequena cidade mineradora de Lago provocando alvoroço entre os moradores e causando espanto pela sua frieza. Impressionadas com as intrépidas atitudes do forasteiro, as autoridades locais decidem contratá-lo a qualquer preço para proteger o povoado de Stacey Bridges (Geoffrey Lewis) e seus primos, os irmãos Carlin (Anthony James e Dan Vadis).

Os três “foras da lei” estão prestes a deixar a prisão e retornarão à Lago para iniciar uma série de vinganças contra todo o povoado que, um ano antes, precisou do serviço do trio para assassinar de maneira covarde o delegado Jim Duncan (Buddy Van Horn), que relataria para as autoridades federais que a mina local explorada pelos moradores era, na realidade, de propriedade do Estado. “O Estranho”, personagem de Eastwood, aceita a proposta e, agindo como uma espécie de justiceiro sobrenatural, modificará de maneira definitiva e aterradora a vida de todos: bandidos, poderosos e a população em geral.

"High Plains Drifter" (1973) de Clint Eastwood - Universal Pictures [us] | The Malpaso Company [us]

Desconstruindo Harry (Deconstructing Harry, Estados Unidos, 1997)

Direção: Woody Allen

Comediante de palco e roteirista de alguns dos melhores programas de humor e telefilmes da Televisão dos Estados Unidos, Woody Allen teve o seu primeiro roteiro original adaptado para o cinema em “O que é que Há, Gatinha?” (1965). O projeto foi dirigido por Clive Donner e Richard Talmadge e contava com o próprio Woody no elenco, que ainda era recheado pelo estrelismo de Peter Sellers, Peter O’Toole e Romy Schneider.

Woody Allen ficou insatisfeito com a experiência e se irritou muito com as interferências e alterações que o estúdio fazia em seu texto (à época, a pequena Famous Artists Productions). A partir desse momento, ficou decidido que ele próprio dirigiria os seus roteiros e com total controle criativo sobre a produção e as filmagens. Já no ano seguinte foi lançado “O que Há, Tigresa?” (1966) com pequeno e relativo sucesso.

Em um curtíssimo espaço de tempo, Woody Allen já se consolidava como um dos maiores cineastas da indústria hollywoodiana, emplacando uma série de sucessos onde além de dirigir, também atuava. Dentre os filmes relevantes podemos destacar “Bananas” (1971), “O Dorminhoco” (1973), “A Última Noite de Bóris Grushenko” (1975) e, por fim, “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” (1977), filme que rendeu à Woody Allen a única indicação ao Oscar na categoria de Melhor Ator.

Alternando entre atuar ou não atuar em seus filmes Woody Allen vem, desde 1982, lançando ao menos um filme por ano nos cinemas. Em meio a este período vemos um de seus melhores trabalhos, “Desconstruindo Harry” (1997), onde o próprio diretor dá vida a Harry Block, um escritor que sofre de um grave distúrbio psicológico que o faz ter sérios problemas de relacionamento com as pessoas que estão ao seu redor. Aguardando a concessão para publicar o seu próximo livro, Block começa a desenvolver a desagradável mania de utilizar, de maneira muito discreta, fatos da sua própria vida como fonte de inspiração para a composição de sua obra, isso inclui particularidades sobre familiares, amigos e conhecidos.

Harry, na verdade, está acometido pelo “bloqueio de escritor” e, ao mesmo tempo em que causa uma série de confusões irritando todas as pessoas de seu círculo de convívio próximo, ele é forçado a enfrentar (de maneira literal) os seus próprios demônios, lembrando de acontecimentos do passado e reencontrando com alguns personagens de seus best-sellers (sejam eles reais ou fictícios) que voltam para assombrá-lo.

Enfim, o ser humano e seus carmas...

"Deconstructing Harry" (1997) de Woody Allen - Sweetland Films | Jean Doumanian Productions [us]

É ISSO... BOM FIM DE SEMANA E BOAS SESSÕES!

Observação: assim como o Harry Block de Woody Allen, o redator deste texto sofreu muito com bloqueios criativos para escrever o artigo. Depois de quase uma semana sem poder escrever para o Rotina Cinemeira, encaro e defino como “árdua” a missão de voltar escrever neste espaço. Não me deixem perder o fôlego e, se possível, continuem compartilhando as minhas impressões sobre essa maravilha que é o Cinema!

Obrigado.

terça-feira, 19 de maio de 2015

“Mais do que eu possa me Reconhecer” de Allan Ribeiro é destaque do Projeto “Cinema em Transe” nesta terça no Sesc Palladium | Rotina em Belo Horizonte

No incessante esforço de levar os novos filmes realizados no Brasil para um maior e mais diversificado número de pessoas, a exibição do documentário “Mais do que eu possa me Reconhecer” (2015), do diretor carioca Allan Ribeiro, dará sequência à programação do Projeto “Cinema em Transe”. O longa produzido pela Acalante Filmes pode ser conferido hoje, às 20:00, na Sala Professor José Tavares de Barros do Sesc Palladium, no centro de Belo Horizonte.

Repleta de recentes e grandiosas produções, a cinematografia brasileira alcança um patamar de aceitação de público e crítica cada vez mais respeitável. Na cena documental o país já era onipresente, sendo um dos principais representantes do gênero no mundo e tendo nos nomes de Eduardo Coutinho, João Moreira Salles e Vladimir Carvalho os seus maiores expoentes. Nome estimado no cenário vanguardista do cinema autoral, Allan Ribeiro mantém a tradição documentarista do país ao lançar em seu novo trabalho um olhar raro e invulgar sobre o professor e artista plástico Darel Valença Lins.

Trancafiado em oitocentos metros quadrados de solidão, o gravurista pernambucano descobre na videoarte uma imanente companhia para manter viva a sua intrínseca e espelhada relação com o mundo, que já lhe é cara. Entrevistado pelo próprio Allan Ribeiro em uma prosa franca e afetuosa, Darel esbanja erudição ao discursar sobre a sua maneira de fazer arte e sobre o incômodo de se “fazer cinema” ao traduzir em palavras a simplicidade caseira de suas filmagens. O artista ainda questiona os comedidos métodos de trabalho e o olhar econômico de Allan para realização do filme. Por fim, a troca de experiências entre os dois personagens nos leva a presenciar um registro arrebatador e cativante desse encontro.

Recheadas de originalidade e com uma qualidade cada vez mais plural, as nossas produções estão ganhando pujança, refletindo, inclusive, no amadurecimento nítido e categórico de nossos documentários. Resultado disto, foi observar “Mais do que eu possa me Reconhecer” sendo escolhido pelo júri da crítica como o grande vencedor da Mostra Aurora (seção competitiva de longas-metragens), que integrou 18ª. Edição da Mostra de Cinema de Tiradentes, plataforma importante para o lançamento de novos filmes no circuito nacional e que ocorreu no início deste ano.

"Mais do que eu possa me Reconhecer" (2015) de Allan Ribeiro - Acalante Filmes [br]

Dirigindo o seu segundo longa, Allan Ribeiro estará presente na Sala Professor José Tavares de Barros para participar de um debate sobre “Mais do que eu possa me Reconhecer” logo após a sua projeção. O diretor também é responsável pelo belíssimo e poético “Esse Amor que nos Consome” (2012), longa dirigido em conjunto com o amigo Douglas Soares e que fez parte da programação do Projeto “Cinema em Transe” no ano passado com uma exibição especial em abril de 2014.

Buscando ainda a disseminação de obras atuais e extremamente necessárias, destacamos os importantes trabalhos de Allan Ribeiro em curtas-metragens que se enquadram ou flertam com o gênero documental, como é o caso do seco e reflexivo “A Dama do Peixoto” (2010) e do alegórico e performático “O Clube” (2014). Além desses, podemos indicar também o seu ótimo primeiro trabalho como diretor no curta de ficção “Depois das Nove” (2008).

Criado em janeiro de 2013 com o intuito de promover o Cinema Nacional, o Projeto “Cinema em Transe” se transformou em um importante veículo para a disseminação de produções lançadas recentemente e que obtiveram destaque significativo em festivais de cinema pelo Brasil e pelo mundo. Ao longo desses últimos dois anos, as ações do projeto contribuíram muito para a divulgação e difusão do cinema produzido no país, explorando vários temas e possibilitando um contato maior do público com importantes obras da nossa cinematografia, por vezes raras e de difícil acesso.

Ressalvando o enorme valor cultural do projeto, vale lembrar que as exibições no Sesc Palladium são quinzenais e em sessão única. Dessa forma, se a divulgação desses filmes não for feita permanentemente, muitos deles continuarão enfrentando grandes dificuldades para se lançarem no circuito comercial. Alguns desses excelentes filmes, por exemplo, são inéditos em Belo Horizonte e, lamentavelmente, terão pouco ou nenhum destaque nas salas de cinema da cidade. Confira, então, as produções já exibidas pelo projeto em 2015 com o link para os respectivos artigos e ajudem a divulgá-los:





Viva o Cineclubismo e viva o Cinema Nacional!


Observação: a entrada para a sessão de “Mais do que eu possa me Reconhecer” esta noite é gratuita, mas é necessário retirar os ingressos na bilheteria do Sesc Palladium duas horas antes da sessão. O espaço está sujeito a lotação.

A Sala Professor José Tavares de Barros está localizada no Sesc Palladium, na Avenida Augusto de Lima 420, centro de Belo Horizonte.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Cine Humberto Mauro exibe a partir desta sexta a Mostra “Fuller/Peckinpah: Homens de Violência” | Rotina em Belo Horizonte

Com descomedimento rústico e bestial transbordando na grande tela, começa hoje no Cine Humberto Mauro, em Belo Horizonte, a Mostra “Fuller/Peckinpah: Homens de Violência”. Ao todo serão exibidos, até o dia 6 de junho, 21 filmes, sendo 12 do “bay stater” Samuel Fuller e outros 9 do californiano Sam Peckinpah.

Os diretores estadunidenses são contemporâneos e realizaram, ao longo de décadas (sobretudo entre os anos 50 e 70), dezenas de filmes em que a temática da violência era costumeiramente trabalhada, sendo que muitos deles são considerados por críticos como verdadeiras pérolas, clássicos absolutos do cinema mundial.

Características básicas já percebidas em antigos cineastas que inspiraram Fuller e Peckinpah (como William A. Wellman e Raoul Walsh), a agressividade e a sanguinolência passaram a ser não somente o fio condutor das narrativas, mas também começaram a se configurar como recurso estético nas mãos dos dois. Empregadas estilisticamente pelos diretores em seus inúmeros longas, tais definições podem ser sempre notadas na constante alternância dos diversos gêneros e subgêneros cinematográficos trabalhados por eles.

Essa pequena revolução promovida e administrada por Samuel Fuller e Sam Peckinpah ainda acabou influenciando uma geração posterior de outros grandes cineastas, como Martin Scorsese e Quentin Tarantino.

Os diretores Samuel Fuller e Sam Peckinpah - Divulgação

A programação completa da Mostra está disponível no site da Fundação Clóvis Salgado (fcs.mg.gov.br) ou pode ser acessada diretamente pelo link “Fuller/Peckinpah: Homens de Violência”

Lembrando que a entrada é gratuita, mas é necessário retirar os ingressos na bilheteria do cinema meia hora antes de cada sessão.

O Cine Humberto Mauro está localizado no Palácio das Artes, na Avenida Afonso Pena 1537, centro de Belo Horizonte.

Com base no calendário divulgado pela gerência da casa, o Rotina Cinemeira faz agora uma breve explanação das características cinematográficas de Fuller e Peckinpah, destacando, dentro dos longas selecionados no programa da Mostra, um filme imperdível de cada um dos diretores, além de indicar outras obras singulares de ambos, que podem ser conferidas ainda na segunda quinzena deste mês ou em experiências cinematográficas futuras, visto que não se tratam de retrospectivas integrais. Confira:

SAMUEL FULLER (1912 - 1997)

Filho de imigrantes judeus e nascido em Woscester, Massachusetts, Samuel Fuller se mudou muito jovem para Nova York. Aos 17 anos ele já trabalhava para o New York Journal como cartunista ou repórter policial investigativo em rondas pelas docas da cidade. O aprendizado e as experiências adquiridas na profissão o transformaram em um cidadão crítico, extremamente politizado e que se relacionava intimamente com os conflitos e os submundos da metrópole.

Soldado durante a Segunda Guerra Mundial, o até então jornalista lutou pela libertação de refugiados em campos de concentração nazista. Retornando aos Estados Unidos, Fuller se torna cineasta e despeja em suas obras toda a atmosfera visceral dos horrores vividos tanto em Nova York quanto nos fronts de batalha na Europa.

“Anjo do Mal” (1953) talvez seja a sua obra-prima, pois é um dos principais filmes da década que representam o medo pragmático da ameaça soviética e da paranoia anticomunista do pós-guerra, reflexos psicológicos e culturais de uma abalada sociedade estadunidense.

Anjo do Mal (Pickup on South Street, Estados Unidos, 1953)

O batedor de carteiras Skip McCoy (Richard Widmark) rouba a bolsa de uma mulher no metrô sem saber que dentro dela está um microfilme com Segredos de Estado. Involuntariamente ele descobre, por meio dessa interceptação, uma mensagem destinada a agentes inimigos e acaba se tornando um alvo de perseguição tanto dos espiões comunistas quanto da sua vítima potencial.

Flerte e sedução em meio a contravenções. Com um roteiro bem amarrado e escrito pelo próprio Samuel Fuller, “Anjo do Mal” nos prende do início ao fim da projeção, se enquadrando como uma das grandes obras do gênero noir e ainda empregando, em seu arco dramático, o colapso de um mundo que vivia os efeitos da Guerra Fria.

Veja agora outros destaques do diretor que integram a Programação da Mostra:

- Baionetas Caladas (Fixed Bayonets!, Estados Unidos, 1951)

- A Lei dos Marginais (Underworld U.S.A., Estados Unidos, 1961)

- Agonia e Glória (The Big Red One, Estados Unidos, 1980)

E ainda filmes de Samuel Fuller que não serão exibidos, mas merecem ser conferidos:

- Capacete de Aço (The Steel Helmet, Estados Unidos, 1951)

- Paixões que Alucinam (Shock Corridor, Estados Unidos, 1963)

- O Beijo Amargo (The Naked Kiss, Estados Unidos, 1964)

"Pickup on South Street" (1953) de Samuel Fuller - Twentieth Century Fox Film Corporation [us]

SAM PECKINPAH (1925 - 1984)

Natural de uma rural e pacata cidade do interior da Califórnia, Sam Peckinpah teve uma infância rotineira e solitária. Na sua juventude, entretanto, o futuro cineasta serviu à Marinha dos Estados Unidos como fuzileiro naval. Historicamente arraigada à vida dos oficiais do país, a violência cruzou, invariavelmente, o caminho do jovem que colocou o assunto em evidência ao ingressar para o cenário e para a indústria cinematográfica.

A temática sangrenta dos filmes de Peckinpah foi desenvolvida em um cinema extremamente realista e original. Filmes de guerra, dramas sociais contemporâneos, suspenses dosados com humor negro e faroestes sempre tinham todas essas peculiares e brutais características, entretanto, a violência não era o foco principal das narrativas, mas sim a forma como o cineasta a manipula em função das características de suas personagens.

Lembrança recorrente entre os cinéfilos, a excepcional obra “Meu Ódio Será sua Herança” é considerada por muitos especialistas como um dos melhores faroestes (e filmes) de todos os tempos. Pelo filme, Peckinpah foi indicado ao prêmio de melhor direção pelo Sindicato de Diretores Americanos em 1970 e ainda recebeu uma nomeação ao Oscar de melhor roteiro original junto com Walon Green e Roy N. Sickner no mesmo ano.

Meu Ódio Será sua Herança (The Wild Bunch, Estados Unidos, 1969)

Um grupo de bandidos veteranos e “foras da lei” começa a cogitar uma possível aposentadoria em conjunto, pois percebem que a continuidade na vida de crimes já não vale muito a pena. Além de estarem envelhecidos, os tempos mudaram: as garantias de lucro em algum grande assalto estão cada vez menores, e o risco de vida só aumenta à medida em que o mundo de oportunidades que o tradicional e árido Velho Oeste oferece vai desaparecendo ao redor de todos.

Intimidadores, destemidos e sempre com as cabeças postas a prêmio, os ainda perigosos integrantes dessa quadrilha recebem uma inesperada e tentadora proposta que acabará adiando os seus planos. Um valioso carregamento de armas de um trem deve ser interceptado para um poderoso bandoleiro mexicano, e a recompensa oferecida para roubar essa remessa é de dez mil dólares. A ganância falou mais alto e agora nada poderá detê-los, a não ser a própria morte.

Grandes astros de Hollywood como William Holden, Ernest Borgnine, Edmond O’Brien, Warren Oates e Ben Johnson integram o vigoroso elenco da originalíssima realização de Sam Peckinpah que não pode deixar de ser conferida nessa Mostra imperdível!

Veja agora outros destaques do diretor que integram a Programação:

- A Morte não Manda Recado (The Ballad of Cable Hogue, Estados Unidos, 1970)

- Os Implacáveis (The Getaway, Estados Unidos, 1972)

- A Cruz de Ferro (Cross of Iron, Reino Unido | Alemanha Ocidental, 1977)

E ainda filmes de Sam Peckinpah que não serão exibidos, mas merecem ser conferidos:

- Pistoleiros do Entardecer (Ride the High Country, Estados Unidos, 1962)

- Sob o Domínio do Medo (Straw Dogs, Estados Unidos | Reino Unido, 1971)

- Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia (Bring me the Head of Alfredo Garcia, Estados Unidos | México, 1974)

"The Wild Bunch" (1969) de Sam Peckinpah - Warner Brothers/Seven Arts [us]

BOAS SESSÕES E BOM DIVERTIMENTO!

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Três Assim #4 | O centenário de Orson Welles

É notório e quase proverbial dizer que uma carreira cinematográfica fundamentada por uma genialidade controversa é transparecida pela forte personalidade de um dos artistas mais célebres do século XX. Se estivesse vivo, o excêntrico Orson Welles teria completado os seus 100 anos nesta última quarta-feira.

Ator, roteirista e produtor cultural, Orson Welles começou no rádio e no teatro já somando um número incrível de experiências bem-sucedidas que o qualificaram como um dos profissionais mais inovadores e requintados do ramo. Canonizá-lo ou santificá-lo somente pelo vislumbro esmagador de sua estreia como cineasta em “Cidadão Kane” (1941); ou apenas pelo plano-sequência mais famoso da história do cinema que abre o estupendo “A Marca da Maldade” (1958); é um erro que dez entre dez pessoas comumente costumam cometer. O diretor é muito, mas muito maior do que isto.

Atuando em quase todos os filmes que realizava, Welles era preciso na conjugação de sua magistral direção com suas melancólicas interpretações (geralmente nos papéis de protagonista). Apesar das intermináveis pressões sofridas por estúdios pelos quais trabalhou ao longo de sua conturbada carreira como realizador, ele ainda conseguia assumir relativo controle de seus projetos, sempre colocando em evidência o quão funesta e calamitosa é a condição do ser humano em sua concernida intolerância perante o mundo.

Nos filmes de Orson Welles, essas malfadadas tendências malignas que nos acompanham desde os primórdios da humanidade podem ser observadas no singular “Soberba” (1942), no lúgubre “O Estranho” (1946), no kafkiano “O Processo” (1962) e no reflexivo “Verdades e Mentiras” (1973), por exemplo. Essas invariáveis ainda são empregadas de maneira sutil em “Macbeth - Reinado de Sangue” e “Othello” (1952), adaptações cinematográficas do cineasta para obras de William Shakespeare; e em “Grilhões do Passado” (1955) que ressoa a máxima da inocência perdida que já havíamos observado em “Cidadão Kane”.

Entretanto, as características multifacetadas deste astro fizeram com que o seu trabalho como ator fosse valorizado e controversamente desejado por muitos diretores e produtores de cinema ao longo de anos. E para comemorar a data, o Rotina Cinemeira fará diferente ao indicar na coluna “Três Assim” dessa semana três filmes onde Welles, sob a batuta de outros grandes diretores, fez a diferença emprestando todo o seu talento e aspereza para compor personagens sombrios inesquecíveis de algumas das mais notáveis produções do cinema mundial.

Jane Eyre (Jane Eyre, Estados Unidos, 1943)

Direção: Robert Stevenson

Órfã, desprezada pela família e após viver uma infância duramente triste, Jane Eyre (Joan Fontaine) deixa o colégio onde estava internada há alguns anos para trabalhar em uma misteriosa mansão como preceptora da pequena Adele (Margaret O’Brien), filha de Edward Rochester (Orson Welles). Jane e Edward acabam se apaixonando, mas ela descobre um terrível segredo que Rochester guardava por muito tempo, justamente no dia em que iriam se casar. Como consequência, tais revelações implicarão grandes dificuldades para a continuidade do romance do casal.

Baseado no romance homônimo de Charlotte Brontë, o roteiro adaptado por John Houseman, Aldous Huxley e do próprio Robert Stevenson foi posteriormente vinculado como novela em 1946 no programa de rádio de Orson Welles, o “The Mercury Summer Theatre on the Air”. Welles repetiu o magnético papel de Rochester, enquanto a atriz Alice Frost interpretou a sofrida Jane Eyre.

Sem que se estraguem as surpresas que o filme reserva, cabe ressaltar que a direção de Stevenson é exuberante, embora uma passagem curiosa mereça ser destacada. Durante o longa, há uma engenhosa cena de incêndio, construída com contornos sombrios e atmosfera gótica. A concepção e direção dessa famosa sequência são frequentemente atribuídas ao criativo Welles, mesmo ele nunca tendo sido creditado como tal.

Orson Welles ao lado de Joan Fontaine em "Jane Eyre" (1943) de Robert Stevensson
Twentieth Century Fox Film Corporation [us]

O Terceiro Homem (The Third Man, Reino Unido, 1949)

Direção: Carol Reed

O novelista americano Holly Martins (Joseph Cotten) viaja para a sombria Viena do pós-guerra a convite do oportunista Harry Lime (Orson Welles), um velho amigo que havia lhe prometido um emprego. Chegando à cidade, Holly se depara com o funeral de Harry e é informado que o amigo morreu em circunstâncias misteriosas. Impressionado com os fatos e determinado a investigar o caso, o escritor descobre várias inconsistências nos relatos dos companheiros de Lime e acaba se envolvendo em uma arrojada e perigosa rede de intrigas.

No início da produção de “O Terceiro Homem”, era forte o desejo de Carol Reed para que James Stewart e Orson Welles integrassem o elenco de protagonistas. Entretanto, um embate com o produtor David O. Selznick, que tinha o direito de aprovação dos nomes (e, inicialmente, preferia a dupla Joseph Cotten e Noel Coward para os papéis principais), acabou atravancando o começo das filmagens.

Selznick garantiu o protagonismo para Cotten e ainda emplacou Alida Valli na pele da bela e sedutora Anna Schmidt, mas acabou tendo que engolir à seco e ceder as insistentes pressões do diretor britânico em relação a Harry Lime. O resultado final é que, em uma aparição fantasmagórica na metade da projeção do longa, Welles talvez interprete, aqui, o personagem mais brilhante de sua carreira frente as câmeras.

Entre os anos de 1951 e 1952 o ator ainda estrelou uma série de rádio onde voltou a dar vida ao astucioso Harry Lime. As tramas capituladas narravam os acontecimentos anteriores aos do filme dirigido por Reed.

Orson Welles em "The Third Man" (1949) de Carol Reed - Carol Reed's Production [gb] | London Film Productions [gb]

O Homem que não Vendeu sua Alma (A Man for all Seasons, Reino Unido, 1966)

Direção: Fred Zinnemann

Vencedor de seis Oscars (incluindo melhor filme e melhor direção) em 1967, “O Homem que não Vendeu sua Alma” conta a história de Thomas More (Paul Scofield), um chanceler inglês que, na primeira metade do século XVI, se envolveu em um complicado conluio envolvendo o corrupto Rei Henrique VIII (Robert Shaw). More é obrigado pelo Rei a aprovar o seu divórcio com a Rainha e realizar um novo casamento com a sua amante. Mesmo se sentindo pressionado, ele acaba não concedendo ao monarca tal aprovação.

Católico fervoroso, Thomas More renuncia ao seu nobre título, mas ainda se vê perseguido pelo soberano inglês, ficando extremamente dividido entre a sua convicção religiosa e as obrigações com a realeza. Apático em relação ao caso e mantendo um silêncio sepulcral, More provoca ainda mais a ira do seu rei, o que acarreta uma batalha de poderes repleta de intrigas e manobras políticas que irão comprometer o destino do Homem, da Igreja e do País.

Embora austera e intransigente, a posição de Thomas More é admirável. Mesmo apologética, a figura que enxergamos no filme foi historicamente determinante para os rumos da reforma religiosa no Reino Unido. Cinematograficamente, More rendeu a Paul Scofield o Oscar de melhor ator (mais uma das seis estatuetas do longa). Egresso do teatro, o ator britânico foi uma escolha particular do diretor Fred Zinnemann que foi na contramão dos produtores que queriam Alec Guinness para o papel principal.

Em meio a estes embustes que percorrem as fases de pré-produções hollywoodianas encontramos Orson Welles, outra escolha do diretor para um papel que, embora pequeno (o do Cardeal Thomas Wolsey), estava sendo preterido por ninguém menos que Laurence Olivier. A sua aparição é curta, mas a interpretação é incrivelmente soberba e, mesmo sendo a opção original de Zinnemann, o garboso diretor diz ter dirigido a si próprio em suas poucas cenas.

Se a história é verdadeira ou se é simplesmente mais um dos ataques de vaidade do diretor, isso ninguém nunca vai saber. O fato realmente importante é que, por mais que as produções em que participou tenham tido diretores ou produtores severamente comprometidos com os projetos, sempre notaremos um toque da genialidade ou uma fração da excentricidade desse monstro sagrado do cinema chamado Orson Welles!

Orson Welles como o Cardeal Thomas Wolsey em "A Man for all Seasons" (1966) de Fred Zinnemann - Highland Films [gb]

É ISSO... BOM FIM DE SEMANA E BOAS SESSÕES!