terça-feira, 31 de março de 2015

Vistos e Revistos em 2015 #março

O tenso mês de março chegou ao fim! Particularmente (e pessoalmente) foi um mês difícil, mas não me impediu de manter a viciosa rotina de frequentar o cinema ou assistir a bons filmes em casa.

Este mês foram 40 filmes vistos ou revistos, um pouco menos que os 43 de janeiro e os 44 de fevereiro, mas suficientes para ampliar objetivo de manter a média superior a 1 filme/dia. Média que que, por sinal, continua muito boa!

Março teve uma motivação especial, e julgo que ela seja a responsável por não ter feito a média despencar vertiginosamente (como sempre ocorrem nesse mesmo período em anos anteriores): boa parte dos filmes que assisti esse mês fizeram parte da programação da Mostra “Cinema Japonês - ParteI” exibida no Cine Humberto Mauro, aqui em Belo Horizonte. Com cópias belíssimas em película (nos formatos de 16mm e 35mm), a mostra se destacou no cenário cultural da cidade, permitindo um maior contato e aprofundamento com uma das cinematografias mais belas do mundo. O desejo era, de fato, apreciar todas as raridades! (artigo completo sobre esta mostra AQUI)

Para finalizar ressalto, mais uma vez, que indico todos os filmes aos quais assisto! A ladainha continua a mesma: cada um deles, por pior que seja, tem direito a uma indicação, simplesmente pela proposta à experiência da degustação cinematográfica. Uma vez ou outra (no caso, quase sempre) o que agrada aos olhos de um pode não agradar aos olhos de todos os outros.

Observação: os filmes em destaque na lista a seguir possuem perfil e crítica na sessão “Sempre um Clássico”, é só clicar e conferir!

A seguir compartilho todos os 127 filmes já apreciados em 2015:

001 - Abominável Doutor Phibes, O (The Abominable Dr. Phibes, Reino Unido | Estados Unidos, 1971)

002 - Abutre, O (Nightcrawler, Estados Unidos, 2014)

003 - Além da Fronteira (Out in the Dark, Israel | Estados Unidos, 2012)

004 - Alien, o Oitavo Passageiro (Alien, Estados Unidos | Reino Unido, 1979)


006 - Amantes Crucificados, Os (Chikamatsu Monogatari, Japão, 1954)

007 - Anabazys - O Terceiro Testamento de Glauber Rocha (Anabazys, Brasil, 2007)

008 - Aniversário Macabro (The Last House on the Left, Estados Unidos, 1972)

009 - Ao Rufar dos Tambores (Drums Along the Mohawk, Estados Unidos, 1939)

010 - Aplausos (Applaus, Dinamarca, 2009)

011 - Atire a Primeira Pedra (Destry Rides Again, Estados Unidos, 1939)

012 - Batman (Batman, Estados Unidos | Reino Unido, 1989)

013 - Beau Geste (Beau Geste, Estados Unidos, 1939)

014 - Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) (Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance), Estados Unidos | Canadá, 2014)

015 - Boxtrolls, Os (The Boxtrolls, Estados Unidos, 2014)

016 - Cake: Uma Razão para Viver (Cake, Estados Unidos, 2014)

017 - Caminhos da Floresta (Into the Woods, Estados Unidos | Reino Unido | Canadá, 2014)

018 - Carícia Fatal (Ratos e Homens) (Of Mice and Men, Estados Unidos, 1939)

019 - Como Treinar o seu Dragão 2 (How to Train your Dragon 2, Estados Unidos, 2014)

020 - Conto da Princesa Kaguya, O (Kaguyahime no Monogatari, Japão, 2013)

021 - Contos da Lua Vaga (Ugetsu Monogatari, Japão, 1953)

022 - Corcunda de Notre Dame, O (The Hunchback of Notre Dame, Estados Unidos, 1939)

023 - Costela de Adão, A (Adam’s Rib, Estados Unidos, 1949)

024 - De Onde se Avistam as Chaminés (Entotsu no Mieru Basho, Japão, 1953)

025 - Departamento Q - Guardiões das Causas Perdidas (Kvinden i Buret, Dinamarca | Alemanha | Suécia, 2013)

026 - Desconstruindo Harry (Deconstructing Harry, Estados Unidos, 1997)

027 - Deserto Azul (Deserto Azul, Brasil | Chile, 2013)

028 - Dois Dias, uma Noite (Deux Jours, une Nuit, Bélgica | França | Itália, 2014)

029 - Duelo Silencioso (Shizukanaru Kettô, Japão, 1949)

030 - Dúvida (Doubt, Estados Unidos, 2008)

031 - Ela Volta na Quinta (Ela Volta na Quinta, Brasil, 2014)

032 - Em Trânsito (Em Trânsito, Brasil, 2013)

033 - Era uma Vez em Tóquio (Tôkyô Monogatari, Japão, 1953)

034 - Estranho Mundo de Jack, O (The Nightmare Before Christmas, Estados Unidos, 1993)

035 - Exterminador do Futuro, O (The Terminator, Reino Unido | Estados Unidos, 1984)

036 - Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final, O (Terminator 2: Judgment Day, Estados Unidos | França, 1991)

037 - Fargo - Uma Comédia de Erros (Fargo, Estados Unidos | Reino Unido, 1996)

038 - Festa de Família (Festen, Dinamarca | Suécia, 1998)

039 - Filho Único (Hitori Musuko, Japão, 1936)

040 - Fotografia Oculta de Vivian Maier, A (Finding Vivian Maier, Estados Unidos, 2013)

041 - Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo (Foxcatcher, Estados Unidos, 2014)

042 - Frances Ha (Frances Ha, Estados Unidos, 2012)

043 - Frenesi (Frenzy, Reino Unido, 1972)

044 - Garota Exemplar (Gone Girl, Estados Unidos, 2014)

045 - Gigante de Ferro, O (The Iron Giant, Estados Unidos, 1999)

046 - Gilbert Grape: Aprendiz de Sonhador (What’s Eating Gilbert Grape, Estados Unidos, 1993)

047 - Gunga Din (Gunga Din, Estados Unidos, 1939)

048 - Halloween - A Noite do Terror (Halloween, Estados Unidos, 1978)

049 - Heróis Esquecidos (The Roaring Twenties, Estados Unidos, 1939)

050 - Homem das Multidões, O (O Homem das Multidões, Brasil, 2013)

051 - Homem que Amava as Mulheres, O (L’Homme qui Aimait les Femmes, França, 1977)

052 - Ida (Ida, Polônia | Dinamarca | França | Reino Unido, 2013)

053 - Imagens (Images, Reino Unido | Estados Unidos, 1972)


055 - Inquilino, O (Le Locataire, França, 1976)

056 - Intendente Sanshô, O (Sanshô Dayû, Japão, 1954)

057 - Interestelar (Interstellar, Estados Unidos | Reino Unido | Canadá, 2014)

058 - Invenção de Hugo Cabret, A (Hugo, Estados Unidos, 2011)

059 - Irmãos Cara de Pau, Os (The Blues Brothers, Estados Unidos, 1980)

060 - Irmãos Marx no Circo, Os (At the Circus, Estados Unidos, 1939)

061 - Irmãs Diabólicas (Sisters, Estados Unidos, 1973)

062 - Janela Indiscreta (Rear Window, Estados Unidos, 1954)

063 - Jogo da Imitação, O (The Imitation Game, Reino Unido | Estados Unidos, 2014)


065 - Juno (Juno, Estados Unidos, 2007)

066 - Juventude sem Arrependimento (Waga Seishun ni Kuinashi, Japão, 1946)

067 - Ladrão de Casaca (To Catch a Thief, Estados Unidos, 1955)

068 - Leviatã (Leviafan, Rússia, 2014)

069 - Libertador (Libertador, Venezuela | Espanha, 2013)

070 - Lira do Delírio, A (A Lira do Delírio, Brasil, 1978)

071 - Livre (Wild, Estados Unidos, 2014)

072 - Lobo atrás da Porta, O (O Lobo atrás da Porta, Brasil, 2013)

073 - Locke (Locke, Reino Unido | Estados Unidos, 2013)

074 - Lucia de B. (Lucia de B., Holanda | Suécia, 2014)

075 - Lucy (Lucy, França, 2014)

076 - Magia ao Luar (Magic in the Moonlight, Estados Unidos | Reino Unido, 2014)

077 - Mapas para as Estrelas (Maps to the Stars, Canadá | Alemanha | França | Estados Unidos, 2014)

078 - Mocidade de Lincoln, A (Young Mr. Lincoln, Estados Unidos, 1939)

079 - Morro dos Ventos Uivantes, O (Wuthering Heights, Estados Unidos, 1939)

080 - Mulher faz o Homem, A (Mr. Smith Goes to Washington, Estados Unidos, 1939)

081 - Mulheres, As (The Women, Estados Unidos, 1939)

082 - Música de Gion, A (Gion Bayashi, Japão, 1953)

083 - No Tempo das Diligências (Stagecoach, Estados Unidos, 1939)

084 - Nova Saga do Clã Taira, A (Shin Heike Monogatari, Japão, 1955)


086 - Operação Big Hero (Big Hero 6, Estados Unidos, 2014)

087 - Ouvir o Rio (Ouvir o Rio, Brasil, 2013)

088 - Pai e Filha (Banshun, Japão, 1949)

089 - Para Sempre Alice (Still Alice, Estados Unidos | França, 2014)

090 - Paraíso Infernal, O (Only Angels Have Wings, Estados Unidos, 1939)

091 - Paris, Texas (Paris, Texas, Alemanha Ocidental | França | Reino Unido, 1984)

092 - Parque Soviético (Parque Soviético, Brasil, 2013)

093 - Passageiro - Profissão: Repórter, O (Professione: Reporter, Itália | Espanha | França, 1975)

094 - Portal do Inferno (Jigokumon, Japão, 1953)

095 - Profecia, A (The Omen, Estados Unidos | Reino Unido, 1976)

096 - Profundo Desejo dos Deuses, O (Kamigami no Fukaki Yokubô, Japão, 1968)

097 - Pusher (Pusher, Dinamarca, 1996)

098 - Rotina tem seu Encanto, A (Sanma no Aji, Japão, 1962)

099 - Sangue de Artista (Babes in Arms, Estados Unidos, 1939)


101 - Selma: Uma Luta pela Igualdade (Selma, Reino Unido | Estados Unidos, 2014)

102 - Serra (Serra, Brasil, 2013)

103 - Sete Suspeitos, Os (Clue, Estados Unidos, 1985)

104 - Sexo, Drogas e Impostos (Spies & Glistrup, Dinamarca, 2013)

105 - Sniper Americano (American Sniper, Estados Unidos, 2014)

106 - Sob a Pele (Under the Skin, Reino Unido | Estados Unidos | Suíça, 2013)


108 - Sono de Inverno (Kis Uykusu, Turquia | França | Alemanha, 2014)

109 - Space Jam - O Jogo do Século (Space Jam, Estados Unidos, 1996)

110 - Suspiria (Suspiria, Itália, 1977)

111 - Tangerinas (Mandariinid, Estônia | Geórgia, 2013)

112 - Teoria de Tudo, A (The Theory of Everything, Reino Unido, 2014)

113 - Tokyo-Ga (Tokyo-Ga, Estados Unidos | Alemanha Ocidental, 1985)

114 - Tommy (Tommy, Reino Unido, 1975)

115 - Trágica Obsessão (Obsession, Estados Unidos, 1976)

116 - Trash Humpers (Trash Humpers, Estados Unidos | Reino Unido | França, 2009)

117 - Três Mulheres (3 Women, Estados Unidos, 1977)

118 - Triunfo (Triunfo, Brasil, 2014)

119 - Ulime (Ulime, Cabo Verde, 2010)


121 - Vida de Casado (Meshi, Japão, 1951)

122 - Vida de O’Haru, A (Saikaku Ichidai Onna, Japão, 1952)

123 - Virunga (Virunga, Reino Unido | Congo, 2014)

124 - Vitória Amarga (Dark Victory, Estados Unidos, 1939)

125 - Você vai Conhecer o Homem dos seus Sonhos (You Will Meet a Tall Dark Stranger, Estados Unidos | Espanha, 2010)

126 - Whiplash: Em Busca da Perfeição (Whiplash, Estados Unidos, 2014)

127 - Zombie - O Despertar dos Mortos (Dawn of the Dead, Itália | Estados Unidos, 1978)

*"The Judge" (2014) - Warner Bros. [us] | Big Kid Pictures [us] | Team Downey [us] | Village Roadshow Pictures [us]

Sempre um Clássico #6 | Alma em Pânico (1952)

(Angel Face, Estados Unidos, 1952). Dirigido por Otto Preminger e com roteiro de Frank S. Nugent e Oscar Millard, baseado em história escrita por Chester Erskine. Elenco: Jean Simmons, Robert Mitchum, Barbara O’Neil, Herbert Marshall, Mona Freeman, Leon Ames, Kenneth Tobey, Raymond Greenleaf, Griff Barnett, Robert Gist, Morgan Farley, Jim Backus.

O universo abrupto e cínico do Cinema Noir sempre nos ofereceu histórias inebriantes. Romances condenados à eterna infelicidade são estabelecidos em ambientes inóspitos e, constantemente, observamos neles a moralidade de alguns homens ruir nas garras de desvirtuadas (porém, poderosas) “femme fatales”. “Alma em Pânico” é um exemplar destoante do movimento que, embora não seja colocado entre os maiores clássicos do gênero, é adorado por inúmeros fãs que contribuem ao longo dos anos na ampliação de sua tardia notoriedade.

Complexo pela presença de elementos freudianos na sustentação do roteiro, o longa dirigido por Otto Preminger desenrola uma gama de situações espantosas provocadas por um desequilíbrio mental que, a princípio, é encoberto por uma maligna obsessão da personagem principal. Aqui, o drama psicológico da figura feminina desenvolve todo o perigo manipulador, passional e, por vezes, sexual que um bom filme noir exige.

Dona de um rosto angelical, Diane Tremayne (Jean Simmons) é uma refinada dama da alta sociedade de Los Angeles. A jovem é demasiadamente dedicada ao pai, Charles Tremayne (Herbert Marshall), e juntos vivem na mansão de Catherine Tremayne (Barbara O’Neil), segunda esposa de Charles e madrasta de Diane. Um misterioso acidente provocado por um vazamento de gás acaba envenenando a dona da casa, que tem que ser atendida às pressas. É nesse momento que Frank Jessup (Robert Mitchum), motorista da ambulância que vai à mansão, é envolvido na história.

Jean Simmons em "Angel Face" (1952) de Otto Preminger - RKO Radio Pictures [us]

Durante a prestação de socorro à Senhora Tremayne, Frank conhece Diane que, instantaneamente, se apaixona por ele. Rapidamente, a bela moça seduz o motorista, destruindo intencionalmente o seu relacionamento com a noiva, Mary Wilton (Mona Freeman) e envolvendo-o de maneira profunda na sua vida, fazendo com que ele desenvolva uma certa ambição e gosto pelo luxo. Frente a todas investidas de Diane, Frank logo se torna chofer da família Tremayne, porém não demora muito para que ele comece a suspeitar das atitudes e das intenções da nova namorada.

Juntando as peças de um misterioso quebra-cabeça, Frank começa a enxergar que por trás de toda a doçura transparecida nas atitudes de Diane existe uma mente perigosa. Ao descobrir o ódio velado da enteada pela madrasta, são reveladas ao motorista todas as maquinações da mulher que ele vinha aprendendo a amar. O acidente com o gás foi, na verdade, provocado deliberadamente por Diane que, apesar de falhar, continuava com a intenção de matar Catherine.

Com uma frieza descomunal no olhar, que impede Diane de exprimir qualquer sentimento de culpa, o plano de assassinato é enfim executado porém, como consequência, a vida de seu pai também é suprimida. Vemos aqui, em uma interpretação rasa do Complexo de Electra, uma psicopatia compulsiva de uma pessoa que é capaz de tudo para remover todas as barreiras que a impedem de ser feliz. Suas ações envolviam Frank diretamente aos acontecimentos e, quando a consciência deste finalmente pesa, ele já é incapaz de escapar deste relacionamento movido por um ódio mortal que converge para um encerramento impressionante e maravilhosamente assustador.

“Alma em Pânico” se diferencia das demais produções da cena noir por ser sarcástico e contraditório. Aqui a personagem feminina é central, invertendo a postura da “femme fatale”, que em vez de ser o alvo do interesse masculino é a responsável por enredar o homem em seu ardil. Porém, o que torna o filme um clássico absoluto são, principalmente, as atuações iluminadas de Jean Simmons e Robert Mitchum.

Robert Mitchum e Jean Simmons em "Angel Face" (1952) de Otto Preminger - RKO Radio Pictures [us]

Simmons foi escalada com precisão pois, nunca havendo feito o tipo “menina má”, interpretou com rara singularidade um papel incompatível às suas características enquanto atriz. Já Mitchum, um dos mais expressivos atores de Hollywood, apesar de “encher a tela” em qualquer filme que participa, consegue se mostrar um sujeito apático e dominado pelas artimanhas da personagem de sua colega. Sob a batuta de Otto Preminger, um dos mais sádicos realizadores de Hollywood, o filme foi rodado cercado de polêmicas e confusões nos bastidores. Com toda sua excentricidade, o diretor austríaco soube muito bem como controlar o elenco com habilidade e manipular a mise en scène com sutileza.

Para encerrar a contenda, vale destacar que o ciúme extrapolado sempre rendeu histórias interessantes tanto na vida real quanto na ficção na ficção. Recentemente essa obsessão paranoica pôde ser semelhantemente notada na trama de “Garota Exemplar” (2014). Embora as motivações da personagem Amy do filme de David Fincher fossem diferentes das de Diane de “Alma em Pânico”, observamos que as complexidades das ações vão além do que os nossos olhos podem enxergar. “Nunca seja um espectador passivo...” é o que o dizia a personagem de Mitchum, embora já estivesse completamente manipulado.

Vemos então como o amor é, por vezes, destacado por contornos doentios, deixando cada vez mais evidente que, por mais que tenhamos o controle de nossos impulsos e emoções, nunca saberemos ao certo quem são as pessoas com quem nos envolvemos. Esse sempre será um fato comum (e aterrador) na vida de todos nós.


quinta-feira, 26 de março de 2015

Memórias #6 | Jorge Loredo (1925 - 2015)

Espalhadas por todos os cantos, garotas deste Brasil Varonil acordaram na manhã de hoje viúvas de Jorge Loredo, ou melhor, Zé Bonitinho “o prerigote das mulheres”. Internado a quase dois meses em um hospital da Zona Sul do Rio de Janeiro, o comediante faleceu, aos 89, vítima de complicações de uma doença pulmonar crônica.

Ator, humorista e, paralelamente, advogado, Jorge Loredo era o típico suburbano carioca, aquele que acaba enfrentando, invariavelmente, muitas dificuldades desde cedo. Filho de família simples e criado no bairro de Campo Grande, aos 12 anos foi diagnosticado com osteomielite (inflamação nos ossos) na perna esquerda. Sofrendo de dores constantes, Loredo preferia ficar recluso, o que acabou o transformando em uma criança introvertida. Ainda na juventude, aos 20 anos, o ator foi internado em um sanatório, para o tratamento de uma tuberculose.

Incentivado por seus médicos, Jorge Loredo começou a participar de um grupo teatral do hospital para enfrentar o seu problema com a timidez e a sociabilidade e, neste momento, descobriu sua vocação para ator. Ao receber alta, Loredo procurou uma escola de teatro profissional sempre em busca de papéis dramáticos porém, em sua primeira audição, o ator representou, contra a sua vontade, o monólogo cômico “Como Pedir uma Moça em Casamento”. Aprovado, passou a dedicar a sua carreira ao humor e as comédias.

Ícone do humor, Jorge Loredo dava vida a Zé Bonitinho há mais de 50 anos - Divulgação

A figura de Zé Bonitinho, maior sucesso do ator, foi sendo construída aos poucos. O conquistador barato de bigodinho ralo e topete frondoso arquitetado à base de uma lata inteira de Gumex era O Bárbaro, personagem de Jorge Loredo em “Noites Cariocas”, programa da extinta TV Rio na década de 60. As roupas extravagantes, os trejeitos exagerados e o leque de cantadas sofríveis foram sendo incorporados aos poucos, mas a “inigualável beleza” do Bárbaro era tão clarividente que foi a principal responsável por rebatizá-lo. Zé Bonitinho, “o amigo do peito da mulherada”, enfim ganhava vida.

A marca Zé Bonitinho sempre foi uma das mais icônicas da comédia nacional e ao longo de décadas esteve presente nos principais programas do gênero na televisão brasileira. Loredo começou dividindo o eterno banco de Manuel de Nóbrega na “Praça da Alegria” com outros gênios do humor como Ronald Golias e Moacyr Franco. O ator ainda trabalhou com Chico Anysio, inclusive em “A Escolinha do Professor Raimundo”, e retornou “ao mesmo banco” trabalhando com o filho de Manuel, Carlos Alberto de Nóbrega, em “A Praça é Nossa”.

Entretanto, toda a convergência de talento e genialidade de Jorge Loredo (e, consequentemente, Zé Bonitinho) pode ser conferida em “Sem Essa, Aranha” (1970), de Rogério Sganzerla, uma das obras mais representativas do Cinema Marginal Brasileiro. No longa Loredo interpreta o banqueiro Aranha, um cafajeste nato que se relaciona com três mulheres diferentes, cada uma integrante de uma classe social diferente. Carregada de humor negro, o filme penetra de forma escatológica no drama social do país. Por vezes Aranha e por vezes Zé Bonitinho, a personagem principal é a representação escarrada de uma desorientada burguesia. Obrigatório para qualquer brasileiro, “Sem Essa, Aranha” é uma erupção de clandestinidade.

Jorge Loredo como Zé Bonitinho em "Sem Essa, Aranha" (1970) de Rogério Sganzerla - Belair Filmes [br]

Jorge Loredo atuou em poucos filmes (dez ao todo), mas a sua presença em cena era sempre marcante. Mesmo nas produções em que não interpretava a sua personagem mais marcante, Jorge Loredo sempre apresentava com elementos típicos associados ao caricato Zé Bonitinho, principalmente nos figurinos chamativos ou nos acessórios vistosos. Dentre seus principais trabalhos estão “O Abismo” (1977), também de Sganzerla; “Tudo Bem” (1978) de Arnaldo Jabor; e “Chega de Saudade” (2007) de Laís Bodanzky. Sua última aparição no cinema foi no longa “O Palhaço” (2011) de Selton Mello.

Longe da televisão há alguns anos, Zé Bonitinho partiu sem nos deixar, pela última vez, o seu famoso tilintar de sobrancelhas e aquele “tostão de sua voz”. Entretanto, aplausos não faltarão para esse genuíno ícone do humor. O mundo está ficando cada vez mais chato e sem graça, pois os verdadeiramente bons estão indo embora.

Descanse em paz... (1925 - 2015)

Dez filmes com Jorge Loredo que indico (em ordem de predileção):

01 - Sem Essa, Aranha (1970) - de Rogério Sganzerla

02 - Chega de Saudade (2007) - de Laís Bodanzky

03 - O Abismo (1977) - de Rogério Sganzerla

04 - A Espiã que Entrou em Fria (1967) - de Sanin Cherques

05 - Um Caso de Polícia (1959) - de Carla Civelli

06 - Sai Dessa, Recruta (1960) - de Hélio Barroso

07 - Tudo Bem (1978) - de Arnaldo Jabor

08 - Câmera, Close! (2005) - de Susanna Lira

09 - A Suprema Felicidade (2010) - de Arnaldo Jabor

10 - O Palhaço (2011) - de Selton Mello

terça-feira, 24 de março de 2015

Projeto “Cinema em Transe” recomeça em 2015 no Sesc Palladium com o filme “Ela Volta na Quinta” de André Novais Oliveira | Rotina em Belo Horizonte

Após um breve intervalo, o Projeto “Cinema em Transe” retorna em 2015 à Sala Professor José Tavares de Barros no Sesc Palladium. Para abrir a programação neste ano, será exibido hoje, às 20:00, o longa “Ela Volta na Quinta” do mineiro André Novais Oliveira.

Alguém partiu, alguém ficou... Entre imagens do cotidiano e situações observadas no ambiente familiar, “Ela Volta na Quinta” reinventa as cenas de um casamento lançando luz sobre a sua intimidade e revelando seus maiores conflitos. André Novais Oliveira tem o costume de trabalhar com personagens e dramas reais ao produzir as suas ficções e, no caso desta, é a própria família do diretor que dá vida às personagens (incluindo o próprio André).

O longa já foi apresentado na Mostra de Cinema de Tiradentes e obteve destaque significativo nos Festivais de Cinema de Brasília e do Rio de Janeiro. Neste último, inclusive, “Ela Volta na Quinta” foi o vencedor do prêmio de melhor filme nacional na VII Semana de Realizadores. Já em Brasília, na 47ª edição do festival, o filme venceu nas categorias de melhor atriz coadjuvante (Elida Silpe) e melhor ator coadjuvante (Renato Novais Oliveira).

Ao final da projeção André Novais Oliveira estará presente na sala para participar de um debate sobre o filme.

"Ela Volta na Quinta" (2014) de André Novais de Oliveira - Filmes de Plástico [br]

O Projeto “Cinema em Transe” foi criado em janeiro de 2013 com o intuito de promover o Cinema Nacional passando a exibir filmes brasileiros quinzenalmente no Sesc Palladium. Ao longo dos últimos dois anos, as ações do projeto contribuíram muito para a divulgação e difusão do cinema produzido no país, possibilitando um contato maior do público com importantes obras da nossa cinematografia, por vezes raras e de difícil acesso.

O objetivo atual do projeto é focar na apresentação de trabalhos lançados recentemente, sendo que muitos deles são inéditos em Belo Horizonte e, provavelmente, enfrentarão dificuldades para serem lançados em circuito comercial. Em 2014, por exemplo, foram exibidos filmes excelentes que tiveram pouco ou nenhum destaque nas salas da cidade. Dentre eles podemos destacar longas produzidos ou filmados em Minas Gerais, como no caso de “Exilados do Vulcão” (2013) de Paula Gaitán e “O Homem das Multidões” (2013) de Marcelo Gomes e Cao Guimarães.

Os filmes exploram os temas mais variados e as produções abrangem todo o território nacional. O público teve oportunidade de acompanhar trabalhos como “A Floresta de Jonathas” (2012) de Sergio Andrade (AM), “Avanti Popolo” (2012) de Michael Wahrmann (RS) e “Depois da Chuva” (2013) de Marília Hughes e Cláudio Marques (BA).  Além disso, o último ano foi inundado por uma série de produções do visceral cinema pernambucano que vem ganhando respeito e notoriedade em festivais de todo o mundo. Entre os títulos exibidos em 2014 estavam “Eles Voltam” (2012) de Marcelo Lordello, “O Som ao Redor” (2012) de Kleber Mendonça Filho, “Amor, Plástico e Barulho” (2013) de Renata Pinheiro e “Tatuagem” (2013) de Hilton Lacerda.

"Tatuagem" (2013) de Hilton Lacerda foi um dos destaques da última temporada do Projeto "Cinema em Transe"
Rec Produtores Associados Ltda. [br]

Cabe ressaltar o enorme valor cultural deste projeto, visto que o domínio da indústria hollywoodiana nos mercados consumidores mundo a fora é cada vez maior. No Brasil, esse caráter absolutamente predatório pode ser observado na maciça ocupação de uma única superprodução que chega a dominar quase metade das salas em determinados períodos do ano. No caso mais recente, observamos o amplo domínio do filme “Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1” (2014) que ocupou, em um certo momento, 47% das salas de todo o país.

Fora isso, é notório o monopólio da Globo Filmes em relação à produção, distribuição e exibição de filmes nas principais salas de cinema do Brasil, sobretudo as de circuito popular e comercial. Por meio dela, alguns artistas chegam a emplacar até dois filmes por ano e chegam a permanecer em cartaz em mais de uma sala por um longo período. Enquanto isso, alguns dos nossos excelentes profissionais de cinema sofrem a duras penas na tentativa de encontrar alguma distribuidora e emplacar seus incríveis trabalhos em pingadas salas deste mesmo circuito. É triste, mas é uma realidade que deve ser combatida.

Já que o “Cinema em Transe” se transformou numa importante “arma” para esse combate, cabe lembrar que a entrada para a sessão de “Ela Volta na Quinta” esta noite é gratuita, mas é necessário retirar os ingressos na bilheteria do Sesc duas horas antes da sessão. O espaço está sujeito a lotação.

A Sala Professor José Tavares de Barros está localizada no Sesc Palladium, na Avenida Augusto de Lima 420, centro de Belo Horizonte.


segunda-feira, 23 de março de 2015

Memórias #5 | Cláudio Marzo (1940 - 2015)

O comportamento sóbrio e honesto frente às câmeras (que nos brindou com personagens marcantes em algumas das principais telenovelas brasileiras) sintetiza a carreira do paulistano Cláudio Marzo, falecido neste último fim de semana, aos 74 anos, no Rio de Janeiro.

Reconhecido como um dos artistas que melhor representou a sua geração, Marzo já estava fadado ao sucesso. Descendente de uma família de imigrantes italianos, o ator não possuía nenhuma influência artística na sua infância. Mesmo assim Cláudio, filho de pai metalúrgico e mãe dona de casa, abandonou os estudos aos 17 anos para trabalhar como figurante em pequenas produções da TV Paulista.

Cláudio Marzo seguiu seu sonho e, mesmo sem uma relação intrínseca com a arte, conseguiu se firmar na profissão ao ser contratado pela TV Tupi no início da década de 60. “Sempre tive vontade de ser ator, achava uma coisa fantástica! Os atores me emocionavam. Achava interessante você transmitir consciência de mundo para as pessoas. Na época eu acreditava, ingenuamente até, que o teatro pudesse modificar o mundo”, dizia.

Cláudio Marzo em "O Homem Nu" (1997) de Hugo Carvana - Mac Comunicação e Produção [br]

Assim como a maioria dos atores de sua época, Cláudio Marzo despejou boa parte de seu talento nas primeiras produções da televisão brasileira. Entre os anos de 1960 e 1964 trabalhou com certo destaque em vários episódios de teleteatro da “TV de Vanguarda” e do “Grande Teatro Tupi”, ambos programas notáveis da extinta emissora de Assis Chateaubriand. Em 1965 foi contratado pela TV Globo, fazendo parte do primeiro time de atores da recém inaugurada emissora e estreando em “A Moreninha” (1965).

Entre os principais trabalhos de Cláudio Marzo na Globo estão as novelas “O Sheik de Agadir” (1966), “Véu de Noiva” (1969), “Carinhoso” (1973) e “Brilhante” (1981), além do seu maior sucesso, “Irmãos Coragem” (1970), onde dividiu o protagonismo com Tarcísio Meira e Cláudio Cavalcanti. Ironicamente, o grande reconhecimento pela sua carreira na teledramaturgia veio com um trabalho em outra emissora. Interpretando Joventino, o Velho do Rio em “Pantanal” (1990), da também extinta TV Manchete, Marzo recebeu o Troféu Imprensa de melhor ator na ocasião.

As incursões do ator pelo cinema foram tímidas, mas renderam bons frutos. Ao todo foram 35 longas-metragens, sendo que a maior parte dos quais Cláudio Marzo foi protagonista ficavam restritos a dramas e romances de pouca expressão. Entretanto, como coadjuvante de luxo, participou de algumas das maiores pérolas do nosso cinema como os densos “A Lira do Delírio” (1978) de Walter Lima Jr. e “Pra Frente Brasil!” (1982) de Roberto Farias.

Porém, seu papel mais lembrado é a do escritor Sílvio Proença na comédia “O Homem Nu” (1997) assinada por Fernando Sabino e dirigida pelo inseparável amigo Hugo Carvana. A trama mostra as desventuras deste homem que passa por uma série de situações constrangedoras ao ser trancado, completamente nu, do lado de fora do apartamento de uma nova amiga. Por este trabalho, Cláudio Marzo recebeu o Kikito de melhor ator no Festival de Gramado em 1997.

A dedicação do ator a dramaturgia era, de fato, apaixonante. Cláudio Marzo era um dos poucos atores que ainda mantinham uma relação quase que transcendental com a arte que, num contexto geral, vem sendo traspassada de maneira aterradora pela artificialidade do mundo moderno.

Ele segue seu caminho e agora descansa em paz... (1940 - 2015)

Dez filmes com Cláudio Marzo que indico (em ordem de predileção):

01 - Pra Frente, Brasil! (1982) - de Roberto Farias

02 - A Lira do Delírio (1978) - de Walter Lima Jr.

03 - O Homem que Comprou o Mundo (1968) - de Eduardo Coutinho

04 - Copacabana me Engana (1968) - de Antonio Carlos da Fontoura

05 - Se Segura, Malandro! (1978) - de Hugo Carvana

06 - A Dama do Lotação (1978) - de Neville de Almeida

07 - Parahyba Mulher Macho (1983) - de Tizuka Yamasaki

08 - Meteoro (2007) - de Diego de la Texera

09 - O Homem Nu (1997) - de Hugo Carvana

10 - O Flagrante (1976) - de Reginaldo Faria

Cláudio Marzo com Anecy Rocha no visceral "A Lira do Delírio" (1978) de Walter Lima Jr.
Embrafilme [br] | Produções Cinematográficas R. F. Farias Ltda. [br]

sexta-feira, 20 de março de 2015

Sempre um Clássico #5 | O que Terá Acontecido a Baby Jane? (1962)

(What Ever Happened to Baby Jane?, Estados Unidos, 1962). Dirigido por Robert Aldrich e com roteiro de Lukas Heller, baseado no romance homônimo de Henry Farrell. Elenco: Bette Davis, Joan Crawford, Victor Buono, Maidie Norman, Anna Lee, Marjorie Bennett, Julie Allred, Gina Gillespie, Dave Willock, Anne Barton, Barbara Merrill, Robert Cornthwaite.

Relacionamentos conflituosos sempre foram bons fundamentos para ilustrar e exemplificar a imperfeição da natureza humana. Quando mal resolvidos, eles acabam por arrendar uma série de sentimentos ruins como o ódio, a inveja, a indiferença e o desprezo. As mágoas se tornam cada vez maiores e, por vezes, inexplicáveis, convergindo enfim para uma convivência amargurada e gradativamente doentia. Nos dramas familiares o embaraço torna-se ainda mais doloroso e em “O que Terá Acontecido a Baby Jane?” podemos acompanhar como todos os limites de sanidade podem ser extrapolados em uma bizarra e claustrofóbica relação entre duas irmãs.

Jane Hudson (Bette Davis) foi uma notável artista do Vaudeville dos Estados Unidos que alcançou a fama como a estrela mirim Baby Jane. Com o peso da idade e a distância do público, Jane vive no esquecimento enclausurada em uma mansão de Los Angeles com Blanche Hudson (Joan Crawford), a sua irmã mais nova. Um acidente automobilístico ocorrido anos antes foi o grande responsável por selar um amargo destino para ambas. Blanche fica presa a uma cadeira de rodas pelo resto da sua vida, já Jane, entregue ao alcoolismo, assume o rancoroso dever de cuidar da irmã.

O ressentimento entre as irmãs é antanho e remete ao passado artístico das duas. Como a maioria das crianças prodígio, Jane tinha a carreira impulsionada pelo marketing (existia, inclusive, uma boneca com o seu nome), era querida por todos e, por ser muito mimada, tinha todos os seus desejos prontamente atendidos. Blanche era mais reservada e observava dos bastidores o crescente sucesso da irmã.

Julie Allred interpreta Baby Jane Hudson ainda na infância em "What Ever Happened to Baby Jane?" (1962)
The Associates & Aldrich Company [us] | Seven Arts Productions [gb] | Warner Bros. [us]

Anos mais tarde a situação se inverte e Blanche se torna uma prestigiada atriz de Hollywood. Seu talento frente às câmeras é contagiante e extremamente natural. Seus filmes são muito populares e adorados por inúmeros fãs porém, uma cláusula contratual firmada com as irmãs Hudson indicava que para cada filme feito com Blanche outro deveria ser produzido com Jane. Essa determinação não agradava os executivos do estúdio, uma vez que a a ex-atriz mirim se revelou um fiasco, Jane é uma péssima intérprete e a falta de prestígio na fase adulta fez com que a sua carreira sofresse forte declínio.

Ao retornarem de uma festa, Jane acaba atropelando Blanche (acidentalmente ou não) no portão da garagem de casa. O episódio, como foi mencionado anteriormente, acaba encerrando de maneira precoce a brilhante carreira da uma jovem atriz, que agora fica à mercê da irmã. Movida pelo sentimento de culpa (ou pela falta dele) relativo ao acidente que vitimou Blanche, Jane a mantém encarcerada na mansão e passa a infernizar a sua vida.

O fio condutor da trama é, portanto, o ódio crescente que Jane nutre pela irmã por acreditar que Blanche se aproveitou oportunamente da fama de Baby Jane para se tornar uma grande atriz. O ódio começa a ser traduzido em uma série de agressões verbais e físicas e Jane ainda se encontra imergida em um irreversível processo de corrosão mental, pois acredita na falsa ilusão de estar prestes a retornar ao estrelato de forma triunfal.

Joan Crawford e Bette Davis em "What Ever Happened to Baby Jane?" (1962)
The Associates & Aldrich Company [us] | Seven Arts Productions [gb] | Warner Bros. [us]

O filme representa a concentração de todo o talento e virtuosismo de Robert Aldrich em pouco mais de duas horas de projeção. “O que Terá Acontecido a Baby Jane?” talvez seja a sua obra-prima, pois o diretor trabalhou em todos os aspectos da trama de maneira acertada e soube manter o mistério até os minutos finais, convergindo até o ponto da surpreendente revelação que acaba oferecendo ao espectador um final surpreendente e imprevisível. Uma guinada genial no enredo justamente no retumbante encerramento do longa.

Cabe ainda valorizar o impecável trabalho dos atores coadjuvantes que nos ajudam a enxergar o quão paranoico e dissimulado é o relacionamento entre as duas irmãs quando observado de um ponto de vista marginal. Elvira (Maidie Norman), a empregada da mansão, é muito afeiçoada a Blanche e, carregada de inconformismo, faz de tudo para protegê-la dos maus tratos da irmã. Senhora Bates (Anna Lee), a vizinha, é sempre desconfiada, mas nunca chega a tentar investigar o que de tão sinistro ocorre naquela casa. Já Edwin Flagg (Victor Buono) não é nada mais do que um desacreditado (porém, oportunista) músico que se candidata a vaga de acompanhante de Jane, que ainda sonha recuperar a fama com o seu antigo espetáculo.

Bette Davis e Victor Buono em "What Ever Happened to Baby Jane?" (1962)
The Associates & Aldrich Company [us] | Seven Arts Productions [gb] | Warner Bros. [us]

A temática de grandes estrelas que caem no ostracismo e tentam recuperar o prestígio de outrora são um tema muito frequente nas produções de Hollywood. Notando as claras referências, observamos em “O que Terá Acontecido a Baby Jane?” uma progressão do (não menos genial) clássico noir “Crepúsculo dos Deuses” (1950), de Billy Wilder. Porém, enquanto neste último observamos uma severa crítica à triste maneira como algumas estrelas se comportam, combatendo o esquecimento com isolamento, enxergamos no primeiro a perda da consciência de Jane contrastada à ânsia de voltar ao estrelato como o mote para cometer toda a série de atrocidades contra Blanche.

Porém, o longa de Aldrich foi o responsável por inaugurar o subgênero “psycho biddy”, desmembramento dos filmes de suspense que fundem o melodrama e o humor negro ao drama psicológico. Os filmes sempre trazem como protagonistas mulheres mais velhas que estão em situação de perigo. Confrontadas por sentimentos controversos, elas caminham por uma linha tênue dominada pelo descontrole e pela insanidade. Dentre os exemplos mais célebres podemos elencar “Almas Mortas” (1964) de William Castle, “A Dama Enjaulada” (1964) de Walter Grauman e “Com a Maldade na Alma” (1964) do próprio Aldrich.

Joan Crawford em "What Ever Happened to Baby Jane?" (1962)
The Associates & Aldrich Company [us] | Seven Arts Productions [gb] | Warner Bros. [us]

Não há como citar também que grande parte do sucesso de “O que Terá Acontecido a Baby Jane?” se deve a uma das mais ardilosas intrigas hollywoodianas: a rixa quase mortal entre Bette Davis e Joan Crawford. Ao apostar todas as fichas na escalação das atrizes para protagonistas, Aldrich conseguiu realizar uma das maiores proezas da história do cinema ao eternizar e sublimar a relação de ódio mútuo entre elas.

A rivalidade entre as duas era uma atração à parte e o que acontecia nos bastidores durante a fase de produção já seria, por si só, um ótimo enredo para outro filme. Os desentendimentos aconteciam pelos motivos mais fúteis. Joan Crawford exigia um camarim maior que o de Bette Davis que retrucava dizendo que “camarins grandes não fazem bons filmes”. Ainda a pedido de Davis, foi instalada no set de filmagens uma máquina da Coca-Cola; a solicitação foi feita simplesmente para irritar Crawford, viúva de Alfred Steele, diretor executivo da Pepsi.

Há quem diga que o tapa que Bette Davis deu no rosto de Joan Crawford foi verdadeiro. Por outro lado (e para não deixar barato), sabendo que Bette a arrastaria pelo chão em cena, Joan enchia os bolsos com pesos para que sua rival tivesse mais dificuldades na ação. Resultado: Bette Davis teve um pequeno problema na coluna e, por conta disso, ficou afastada das filmagens por algumas semanas.

Bette Davis e Joan Crawford: rivalidade que extrapolava a ficção - Divulgação | Warner Bros. [us]

Histórias não faltam e existem artigos muito interessantes e mais bem detalhados sobre essa relação. Mas o mais importante é observar que, ao longo dos anos, a famosa rixa vai tomando contornos cada vez mais românticos pois, provavelmente, foi muito menor do que se comenta hoje. Bette Davis e Joan Crawford são muito maiores que isso e, passadas décadas do seu lançamento, “O que Terá Acontecido a Baby Jane?” se fortalece cada vez mais como um clássico que soube transformar o egocentrismo em genialidade. Assisti-lo é sinônimo de prazer, e um prazer extremamente perverso de observar essas duas lendas do cinema se digladiando ao trocar farpas e boas doses de veneno.


terça-feira, 17 de março de 2015

Cine Sesc Palladium exibe a partir desta terça a Mostra “O Roteiro no Cinema Dinamarquês” | Rotina em Belo Horizonte

Tem início hoje, no Sesc Palladium em Belo Horizonte, a Mostra “O Roteiro no Cinema Dinamarquês”. Ao todo serão exibidos na Sala Professor José Tavares de Barros, até o dia 29 de março, dez filmes que farão um recorte abalizado do atraente cinema realizado na Dinamarca, famoso por suas histórias envolventes, reflexo de roteiros muito bem construídos.

O cinema dinamarquês alcançou a sua excelência e ganhou respeito justamente pela simplicidade de suas produções. O forte teor dos textos somado às sóbrias e expressivas atuações de seus atores são herança do comedido mas poderoso cinema escandinavo. Este que sempre nos presenteou com inestimáveis obras de arte, sobretudo com Carl Theodor Dreyer e Ingmar Bergman em décadas anteriores. Nos próximos dias poderemos conferir os trabalhos de renomados diretores como Lars von Trier, Lone Scherfig e Nicolas Winding Refn.

A sessão de abertura da Mostra apresentará o cultuado “Festa de Família” (1998) de Thomas Vinterberg, que resgata a maneira clássica de fazer cinema, de forma mais realista e menos comercial. O filme é o percussor do movimento Dogma 95, um manifesto de caráter técnico que vai na contramão da exploração industrial observada em Hollywood nos últimos anos. O longa retrata o encontro de uma família dinamarquesa de classe alta na comemoração dos 60 anos de seu patriarca. Reunidos em um hotel de luxo, os filhos resolvem revelar fatos chocantes de suas vidas, manifestando os seus instintos mais cruéis e transformando a reunião em um pavoroso e aterrador evento.

"Festen" (1998) de Thomas Vinterberg - Nimbus Film Productions [dk] |SVT Drama [se]

Com o apoio da Embaixada Real e do Instituto Cultural da Dinamarca no Brasil, a Mostra ainda contempla produções que vão além do manifesto. Estão entre os títulos elencados, longas mais recentes como “Aplausos” (2009) de Martin Zandvliet; “Sexo, Drogas e Impostos” (2013) de Christoffer Boe; e “Em um Mundo Melhor” (2010) de Susanne Bier, último vencedor do país na categoria de melhor filme estrangeiro do Oscar na edição de 2011.

Outra atração da Mostra será um workshop realizado entre os dias 24 e 26 de março ministrado pelo roteirista dinamarquês Jens Dahl (responsável por trabalhos como “Pusher” (1996) de Nicolas Winding Refn; e “Rosa Morena” (2010) de Carlos Augusto de Oliveira). Em sua explanação, Dahl realizará uma revisão sobre o estilo e as técnicas narrativas dos autores dinamarqueses, grandes responsáveis pelo êxito das produções cinematográficas do país.

Selecionando apenas 16 participantes, as inscrições para o workshop se encerraram na última sexta-feira, dia 13. Porém, o público tem, até o final deste mês, a chance de conferir toda a diversidade da produção audiovisual contemporânea dinamarquesa, um cinema de pouca acessibilidade não só no Brasil como em toda a América Latina.

A programação completa está disponível no site do Sesc Palladium (www.sescmg.com.br/sescpalladium) ou pode ser acessada diretamente pelo link "O Roteiro no Cinema Dinamarquês".

A entrada é gratuita, mas é necessário retirar os ingressos na bilheteria do Sesc duas horas antes de cada sessão. O espaço está sujeito a lotação. Observação: a casa não funciona às segundas-feiras.

A Sala Professor José Tavares de Barros está localizada no Sesc Palladium, na Avenida Augusto de Lima 420, centro de Belo Horizonte.

Com base na programação divulgada pelo Cine Sesc, o Rotina Cinemeira selecionou e agora indica quatro filmes imperdíveis desta Mostra, confira:

Europa (Europa, Espanha | Dinamarca | Suécia | França | Alemanha | Suíça, 1991)

Direção: Lars von Trier

Leopold Kessler (Jean-Marc Barr) é um jovem americano de origem germânica que chega à Alemanha depois do fim da Segunda Guerra Mundial, não por obrigações militares, mas para conhecer o seu país de origem e participar da sua reconstrução. Em sua primeira viagem oficial trabalhando como estagiário nas ferrovias, ele conhece Katharina Hartmann (barbara Sukowa), filha do diretor da companhia. À medida que vai entrando no universo da família, Leopold se deixa envolver nas labirínticas manipulações de ex-oficiais nazistas. Quando o jovem toma consciência de sua ingenuidade já pode ser tarde demais.

Em um Mundo Melhor (Hævnen, Dinamarca | Suécia, 2010)

Direção: Susanne Bier

Anton (Mikael Persbrandt) é um médico que trabalha em um campo de refugiados em um lugar isolado na África. Na Dinamarca, seu país natal, estão sua mulher Marianne (Trine Dyrholm) e seus dois filhos, Elias (Markus Rygaard) e Morten (Toke Lars Bjarke). Paralelamente, acompanhamos a história do garoto Christian (William Jøhnk Nielsen) que emigra para a Dinamarca ao lado de seu pai, Claus (Ulrich Thomsem), logo após a morte da mãe. Dois mundos distintos irão se cruzar.

"Haeven" (2010) de Susanne Bier - Danmarks Radio (DR) [dk] | Det Danske Filminstitut [dk] | Film Fyn [dk]

O Amante da Rainha (En Kongelig Affære, Dinamarca | Suécia | República Checa, 2012)

Direção: Nikolaj Arcel

No século XVIII, a jovem britânica Caroline Mathilde (Alicia Vikander) se casa com o insano rei Christiano VII (Mikkel Boe Følsgaard), tornando-se rainha da Dinamarca. Quando o intelectual alemão Johann Friedrich Struensee (Mads Mikkelsen) se torna médico da corte, Christiano faz dele seu confidente e, posteriormente, ministro-chefe. Carolina também começa a se aproximar de Struensee, e logo os dois começam um romance. Idealistas corajosos que arriscam tudo em busca da liberdade do povo, eles começam a propor reformas que acabam mudando uma nação.

Noroeste (Nordvest, Dinamarca, 2013)

Direção: Michael Noer

Casper (Gustav Dyekjær Giese) trabalha como ladrão para Jamal (Dulfi Al-Jabouri), o líder de uma quadrilha árabe, porém almeja uma posição mais alta no mundo do crime. Na sua escalada, não demorará para que se alie a Björn (Roland Møller), que se dedica ao tráfico de drogas, sem imaginar que sua mudança repentina poderá custar sua vida.


"Nordvest" (2013) - de Michael Noer
Nordisk Film Production [dk] | Danmarks Radio (DR) [dk] | Det Danske Filminstitute [dk]

terça-feira, 10 de março de 2015

Sempre um Clássico #4 | Os Inocentes (1961)

(The Innocents, Estados Unidos | Reino Unido, 1961). Dirigido por Jack Clayton e com roteiro de William Archibald, Truman Capote e John Mortimer, baseado no romance “A Volta do Parafuso” de Henry James. Elenco: Deborah Kerr, Martin Stephens, Pamela Franklin, Megs Jenkins, Peter Wyngarde, Clytie Jessop, Michael Redgrave, Isla Cameron, Eric Woodburn.

Com uma trama bem elaborada, que engendra certo antagonismo ao roteiro, “Os Inocentes” é o típico exemplo de suspense psicológico que funciona, pois tem como principal característica a introdução de elementos fantásticos no campo diegético da narrativa. O diretor Jack Clayton estava disposto a realizar um filme com uma abordagem diferente da maioria das produções de terror daquele momento, empregando um horror que não assustaria plateias pela bizarrice ou sanguinolência, mas sim por um jogo de iluminação sombrio, por uma trilha sonora tétrica e, sobretudo, por atuações espantosas do elenco.

“Os Inocentes” impressionou pela proposta que, na época, era muito rara de se ver. Hoje, o que não faltam são exemplares do gênero que flutuam entre o real e o sobrenatural, quebra-cabeças de impressões que são notáveis pela capacidade de manter a tensão até o final da projeção. Características essas claramente observadas nos filmes de terror asiáticos do fim dos anos 90 e início dos anos 2000, bem como no (nem tão) recente clássico de Alejandro Amenábar “Os Outros” (2001), sucesso de público e que possui semelhanças fugazes de enredo quando comparadas à obra de Clayton.

Contratada por um aristocrata londrino de meia idade (Michael Redgrave), Senhorita Giddens (Deborah Kerr) começará a trabalhar como governanta em uma mansão completamente isolada no condado de Bly, zona rural da Inglaterra Vitoriana. Sua principal incumbência é cuidar dos órfãos Flora (Pamela Franklin) e Miles (Martin Stephens), sobrinhos do desinteressado milionário. Temerosa em relação ao emprego, por se tratar de sua primeira experiência profissional, a jovem parte incerta rumo ao interior e ao encontro das crianças.

Pamela Franklin, Deborah Kerr e Martin Stephens em "The Innocents" (1961) - Twentieth Century Fox Film Corporation [us]

Todas as dúvidas e preocupações da nova governanta são ligeiramente amenizadas pela natureza angelical de Flora, as duas tornam-se amigas rapidamente. Porém, no momento de sua chegada, Senhorita Giddens é alertada pela arrumadeira da mansão, Senhora Grose (Megs Jenkins), sobre a maneira misteriosa como a governanta anterior, Senhorita Jessel (Clytie Jessop), morreu e como tal assunto não poderia ser mencionado para a pequena órfã.

Flora ainda comenta que Miles está em um internato, mas insiste que o irmão retornará brevemente para a mansão. Para o espanto de todos o garoto realmente regressa, expulso do colégio antes mesmo do fim do período regular das aulas. O motivo? Miles era uma má influência e seu comportamento rebelde e agressivo representava perigo para os colegas.

Senhora Grose acredita que a direção do colégio possa ter se excedido com relação ao castigo de Miles e procura tranquilizar a Senhorita Giddens afirmando que o garoto é uma criança amável e respeitadora. A governanta também concorda que possam ter havido exageros e rapidamente se afeiçoa ao menino. Com total independência e liberdade para tomar suas decisões (visto que as crianças possuíam somente a assistência da criadagem), ela se transforma na principal autoridade do casarão.

Mesmo satisfeita com o trabalho e feliz com o bom relacionamento com Flora e Miles, Senhorita Giddens se impressiona com alguns eventos que ocorrem na mansão. Ela começa a ter visões da governanta morta e de um misterioso homem, que ela vem a identificar como Peter Quint (Peter Wyngarde), outro antigo empregado da propriedade que também morreu em circunstâncias trágicas. O sono da governanta é sempre agitado e, em algumas ocasiões, o comportamento errático (e por vezes, pervertido) das crianças a deixam ainda mais perturbada. Convencida de que a mansão está dominada pelas assombrações dos antigos funcionários, Senhorita Giddens toma a decisão de ajudar e proteger as crianças, procurando exorcizar todo o mal que ronda o casarão.

Deborah Kerr em "The Innocents" (1961) - Twentieth Century Fox Film Corporation [us]

O terror presente em “Os Inocentes” é sofisticado, pois está pautado pela maldade e pela perversão. Aquilo que nos é mais caro e doce enquanto seres humanos, que é a infância, aparentemente não se construiu de maneira adequada no caso de Flora e Miles. Ela é cruel ao invés de ser simplória e, com isso, sempre somos confrontados por essa ambiguidade: estamos de fato presenciando uma história de fantasmas possuidores ou os pequenos órfãos estão enfrentando a perda da inocência de maneira precoce?

A escalação de Truman Capote para trabalhar com o roteiro foi um dos maiores trunfos para a produção do filme. Com a inserção de subtextos e elementos psicanalíticos na história, ele mantém a dúvida e nunca nos deixa claro se há realmente uma ameaça sobrenatural ou se a Senhorita Giddens foi acometida por uma loucura. Um possível distúrbio mental da governanta pode ser relacionado a uma provável repressão sexual que também fica subentendida na trama.

Frente às câmeras, Deborah Kerr contribuiu com uma performance formidável (talvez a melhor de sua carreira), mas são as atuações mirins que roubaram a cena. Jack Clayton conseguiu retirar das crianças desempenhos impecáveis mesmo omitindo alguns detalhes da história. Pamela Franklin e Martin Stephens trabalharam com roteiros camuflados que não revelavam alguns elementos misteriosos da temática adulta que permeava a narrativa.

A direção de arte é excelente, tanto na escolha do figurino e na composição dos cenários, que ilustram bem a sofisticada Inglaterra do século XIX, quanto nos elementos fundamentais presentes em qualquer filme de terror ou suspense (chavões como portas batendo, pisos rangendo e a fraca iluminação dos famosos castiçais). Entretanto, é a elegância da fotografia em preto e branco que mais contribuiu na construção da atmosfera assustadora do filme. O diretor de fotografia Freddie Francis (famoso por trabalhos impecáveis em “Filhos e Amantes” e “O Homem Elefante”) trabalhou com foco aprofundado em todas as cenas, equilibrando bem o uso das sombras reforçadas pelo mínimo de iluminação em locações internas em contraste com planos abertos e solares no exterior da mansão. Resultado: ambientação terrivelmente sufocante!

Executado com brilhante e rara maestria, “Os Inocentes” convence pelo hipnotizante clima sombrio e por sua tensão gradativa. Um clássico do terror/suspense que corresponde à todas as expectativas.