sábado, 30 de dezembro de 2017

Os Dez Melhores Filmes de 2017

Não foi fácil superar os obstáculos impostos pelo impiedoso ano de 2017, principalmente ao tentar manter a coragem e a resistência para vencer todos os desafios que apareciam pelo caminho. Uma das principais motivações que me mantiveram de pé estão diretamente ligadas à paixão incondicional que carrego pelo cinema, ao passo que a missão de escolher os melhores filmes da temporada me pareceu ser tão ou mais complicada quanto os percalços da vida cotidiana.

Também encaro como motivação particular escrever sobre eles, pois não me senti confiante ao fechar essa lista. Vi muito menos filmes do que gostaria, incluindo aqueles pelos quais estava mais ansioso (basta conferir o “ainda faltam ser conferidos” que coloquei no final deste texto); mantive uma certa distância de alguns blockbusters (não por soberba, mas por falta de frequentar as salas de cinema mesmo); e alimentei um desânimo incomum em relação à essa rotina nos últimos doze meses.

Mas como 2018 já bate à porta, chegou a hora de divulgar as minhas fiéis preferências, apresentando uma pequena análise acerca dos dez títulos que escolhi. Dessa vez os textos estão mais sucintos e procuram apenas situar o leitor dentro do universo de cada um deles, ativando a curiosidade e os espírito de cinefilia que existe dentro de cada leitor.

Para os que dizem que este ou aquele trabalho fora lançado em um ano anterior ao de 2017 – ou que tal filme tenha sido exibido pela primeira vez em determinado Festival – lembramos que o critério que sempre utilizo para definir quais os títulos que integrarão as nossas listas especiais de fim de ano obedecem a seguinte regra: produções que estrearam em 2017 nas salas de cinema do Brasil através do circuito comercial; ou aquelas lançadas diretamente em Home Video ou serviços de streaming.

Após esse breve esclarecimento, vamos diretamente à lista com Os Dez Melhores Filmes de 2017 (em ordem decrescente):

10º. LUGAR: “O FILHO DE JOSEPH”

(Le Fils de Joseph, França | Bélgica, 2016) - de Eugène Green

Data da Estreia: 16 de março de 2017

Resistência é a palavra de ordem, e poder inaugurar esta lista com uma obra de Eugène Green só me faz querer acreditar que a arte ainda conserva o sublime poder de operar milagres. O cinema encara essa luta com bravura, se configurando como uma das principais plataformas de reflexões e debates da sociedade moderna. Ao entrar em contato com “O Filho de Joseph”, acabamos sendo transportados para um terreno de possibilidades paradigmáticas entremeadas pelas casualidades da vida cotidiana. Através de contextos bíblicos metamorfoseados em dramas habituais, somos convidados a reexaminar alguns aspectos sobre a jornada sagrada da nossa própria existência.

Vincent (Victor Ezenfis) é um jovem angustiado e inquieto que pretende encontrar o pai, ao qual nunca conheceu. Ele vive com a mãe, Marie (Natacha Régnier), uma mulher retraída e solitária que se mantém zelosa em relação à sua criação. Após alguns lances de sorte investigativa, o jovem descobre ser filho de Oscar Pormenor (Mathieu Amalric), famoso editor literário de caráter contestável. A fim de confrontá-lo, Vincent passa a transitar por uma risível elite intelectual parisiense até conhecer o simpático Joseph (Fabrizio Rongione), irmão fracassado de Oscar; e o destino dos dois acaba enlaçado por uma crônica altruísta e emocional.

"Le Fils de Joseph" (2016) de Eugène Green - Coffee and Films [fr] | Les Films du Fleuve [be]
Film Factory [fr] | TSF [fr] | En Haut des Marches [fr] | VOO [be] | BE TV [be]

9º. LUGAR: “OKJA”

(Okja, Coreia do Sul | Estados Unidos, 2017) - de Joon-ho Bong

Data da Estreia: 28 de junho de 2017

Uma obra de impacto com o poder de marejar os nossos olhos... Procurando combater as intimidações impostas pela sociedade do capital, o lançamento de “Okja” veio para promover uma série debates e provocar dolorosas reflexões acerca dos investimentos e dos rumos tomados pela indústria alimentícia ao redor do planeta. Desprovido do habitual pedantismo doutrinador, o filme tece uma abordagem crítica e precisa em relação ao consumo global de carne, ao passo que cativa e conquista o grande público apresentando o vínculo de amizade incondicional entre Mija (Seo-hyun Ahn), uma garotinha simpática e super valente, e Okja, uma adorável criatura gigante.

Acima desta fofa relação paira a sombra da poderosa Mirando Corporation, multinacional comandada pela dissimulada Lucy Mirando (Tilda Swinton) que, há uma década, apresentava para o mundo uma nova espécie animal descoberta na América do Sul “afetuosamente” batizada de “super porco”. Visionária, a executiva decide espalhar alguns filhotes em fazendas de vários países para que, ao final de dez anos, possa promover o concurso que escolherá o melhor e mais apetitoso super porco, transformando-o em símbolo máximo da sua empresa. Criada nas montanhas da Coreia do Sul, Okja acaba vencendo a competição e passa a ser alvo da crueldade humana.

"Okja" (2017) de Joon-ho Bong - Kate Street Picture Company [us]
Lewis Pictures [kr] | Plan B Entertainment [us] | Netflix [us]

8º. LUGAR: “CLASH”

(Eshtebak, Egito | França, 2016) - de Mohamed Diab

Data da Estreia: 4 de maio de 2017

O caráter de urgência impresso pelo argumento de “Clash” destaca a relevância e o vigor dos inúmeros projetos cinematográficos que, de forma instintiva, tentam ecoar as suas mensagens para o mundo ao expor os reflexos de uma realidade – aparentemente – distante da nossa. São filmes como esse que acabam despertando a atenção do ocidente para os impactantes dias de fúria que marcam, desde o início da década, a onda revolucionária de protestos da chamada Primavera Árabe. Com forte sustentação na desobediência civil, os movimentos se espalharam por vários países do Norte da África e transformaram o Egito em uma nação desafortunada.

Claustrofóbico, conflituoso e vociferante, o longa mostra como toda a polarização de um estado em choque pode caber dentro de um camburão da polícia. A trama se desenvolve a partir do momento em que vários cidadãos começam a ser presos nas violentas manifestações que se seguiram após o presidente Mohamed Morsi ser deposto por um golpe militar em 2013. Jornalistas, simpatizantes das causas do exército e membros da Irmandade Muçulmana são jogados dento de uma mesma carroceria de caminhão e passam a encarar situações de extremo desconforto provocadas, justamente, pela convivência forçada entre indivíduos que possuem posicionamentos políticos bem distintos.

"Eshtebak" (2016) de Mohamed Diab - Sampek Productions [fr] | Acamedia Pictures [ae] | Niko Film [de]
Fortress Film Clinic [ae] | Pyramide International [fr] | ARTE France [fr] | Arte France Cinéma [fr]
CNC Aide aux cinémas du monde - Institut Français [fr] | EMC Pictures [ae] | Film-Clinic [eg]
Ministère des Affaires étrangères et du Développement International [fr]

7º. LUGAR: “DE CANÇÃO EM CANÇÃO”

(Song to Song, Estados Unidos, 2017) - de Terrence Malick

Data da Estreia: 20 de julho de 2017

Fragmentos de racionalidade invadem a cena musical texana para preencher, com desejos e desilusões, uma trama ambiciosa e sensível que gira em torno da vida de um casal jovens compositores que almeja alcançar o sucesso no mundo do entretenimento. A descrição pode parecer complexa, mas, quando o deslumbre visual malickiano transborda na tela, começamos a contemplar a beleza incomum de relacionamentos desleais ao observar como dois triângulos amorosos se entrecruzam em uma história romântica de fácil compreensão – sobretudo por ser guiada pelo elenco estelar encabeçado por Rooney Mara, Ryan Gosling, Michael Fassbender e Natalie Portman.

Envoltos na polêmica que orbita a esfera da pretensiosa autoindulgência estão aqueles que, inevitavelmente, discutem qual será o momento em que Terrence Malick voltará à sua grande forma. “De Canção em Canção” não é um filme brilhante, mas resgata um pouco da essência transcendental que permeava o realismo de suas obras há, pelo menos, cinco anos. O processo de desconectar narrativas já e parte inerente do seu propósito de fazer cinema, mas poder sentir que o cineasta volta a ficar emparelhado com seu lado mais poético e reflexivo alimenta as esperanças de que ele ainda possa convencer a maioria dos críticos em seu próximo trabalho.

"Song to Song" (2017) de Terrence Malick - Buckeye Pictures [us]
FilmNation Entertainment [us] | Waypoint Entertainment [us]

6º. LUGAR: “JOHN FROM”

(John From, Portugal | França, 2015) - de João Nicolau

Data da Estreia: 5 de janeiro de 2017

A estreia tardia de “John From” no Brasil não contribuiu na corroboração do sucesso de um dos filmes que mais chamou a atenção do público durante a 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, realizada no distante ano de 2015. Entretanto, o encantador trabalho do diretor João Nicolau ainda merece ser visto com bastante carinho, pois coloca em evidência a fabulosa safra das produções contemporâneas portuguesas que, de forma extravagante, flertam com o inimaginável e promovem um certo desprendimento da realidade. A narrativa discorre sob a ótica de uma garota de quinze anos de idade que enfrenta com vivacidade todas as contrariedades da juventude.

Rita (Julia Palha) curte as quentes tardes de verão se refrescando na varanda de seu apartamento e, embora não se queixe dessa monótona rotina, gostaria que suas férias fossem um pouco mais animadas. Inesperadamente, um leque de possibilidades se abre quando ela começa a nutrir uma paixão adolescente por um vizinho mais velho, o fotógrafo Filipe (Filipe Vargas), recém-chegado de uma fascinante expedição na Melanésia. Disposta a conquistar os olhares de um gajo experiente, a jovem acaba mergulhando em um universo de descobertas arrebatadoras que misturam a concretude da inventividade com as quimeras da fantasia.

"John From" (2015) de João Nicolau - O Som e a Fúria [pt] | Shellac Sud [fr]

5º. LUGAR: “TONI ERDMANN”

(Toni Erdmann, Alemanha | Áustria | Suíça | Romênia | França, 2016) - de Maren Ade

Data da Estreia: 9 de fevereiro de 2017

Dolorosamente tenro e reconfortante, “Toni Erdmann” procura desconcertar a nossa aparente estabilidade comportamental ao nos apresentar os desenlaces de um conflito familiar não tão inusitado. O primoroso trabalho de composição realizado pela cineasta alemã Maren Ade ainda possui uma incrível capacidade de hipnotizar, pois faz uma crítica certeira à banalização de todos os nossos interesses comuns, rebatendo desejos que sempre são alimentados pela indolência e pela monotonia da vida cotidiana. Nesse cenário, seguimos os passos do eloquente Winfried Conradi (Peter Simonischek), um senhor que não mede esforços para se reaproximar da filha, Ines (Sandra Hüller), uma jovem executiva extremamente bem-sucedida.

Relutante em voltar para a casa após uma tentativa frustrada de acompanhar Ines em uma viagem de negócios à Bucareste, Winfried se equilibra entre a imprudência e a sensatez para assumir o papel de Toni Erdmann, o seu excêntrico e desaforado alter ego, dono de um senso de humor incomum que quase ultrapassa os limites do escárnio. Através de situações constrangedoras e surpreendentemente engraçadas, ele busca frear a ambição descomedida da filha passando a limpo essa descompensada relação paternal. Fluindo de modo delicado, natural e, por vezes, subversivo, o vínculo afetivo que vai sendo restabelecido entre os dois é cativante.

"Toni Erdmann" (2016) de Maren Ade - Komplizen Film [de]
Coop99 Filmproduktion [at] | KNM [ch] | MonkeyBoy [de] | HiFilm [ro]

4º. LUGAR: “A QUALQUER CUSTO”

(Hell or High Water, Estados Unidos, 2016) - de David Mackenzie

Data da Estreia: 2 de fevereiro de 2017

O xerife Marcus Hamilton (Jeff Bridges) tenta seguir o rastro de dois criminosos que vêm realizando uma série de assaltos a instituições financeiras do estado do Texas. A estratégia traçada por eles é bastante complexa, pois escolhem as menores agências de cidades do interior como alvo, ficando menos expostos a eventuais pistas que possam ser deixadas. Com o desenrolar dos acontecimentos, compreendemos os principais anseios e motivações do centrado Toby (Chris Pine) e do inconstante Tanner (Ben Foster), irmãos que têm como propósito comum de acumular uma grande quantia em dinheiro para reaver o rancho da família, que fora hipotecado.

Destaque positivo na última temporada de premiações nos Estados Unidos, “A Qualquer Custo” surpreendeu a crítica ao levar para as telas uma moderna releitura de gênero que mesclam elementos míticos dos populares westerns com a ferocidade cáustica impressa em filmes sobre roubos à bancos. Conduzido por um argumento sólido e original, o longa resguarda a sua credibilidade ao transmitir a sua mensagem sem fazer rodeios e, por mais clichê que a expressão possa parecer, consegue se garantir com a força das interpretações e com o poder dos diálogos. Caprichosamente volúvel, a narrativa ainda procura quebrar alguns esteriótipos típicos da sociedade.

"Hell or High Water" (2016) de David Mackenzie - Sidney Kimmel Entertainment [us]
MWM (MadisonWellsMedia) [us] | Film 44 [us] | LBI Productions [us]

3º. LUGAR: “EU, DANIEL BLAKE”

(I, Daniel Blake, Reino Unido | França | Bélgica, 2016) - de Ken Loach

Data da Estreia: 5 de janeiro de 2017

Programado para chegar aos cinemas brasileiros na última semana de 2016, o penúltimo vencedor da Palma de Ouro teve a sua estreia adiada e, por esse simples motivo, merece estar presente nessa lista justamente para não ficar esquecido entre um grupo de filmes apreciados na virada do último ano. Esquecimento, inclusive, é o que toma conta da vida do personagem principal, Daniel Blake (Dave Johns), um carpinteiro de 59 anos que, após ter sofrido um infarto, enfrenta dificuldades para receber os subsídios do auxílio desemprego e luta contra as burocracias impostas pelo sistema em relação à assistência e seguridade social.

Após causar alvoroço no Festival de Cannes, “Eu, Daniel Blake” construiu uma belíssima trajetória internacional, pois tinha – e sempre terá – um recado importante para transmitir à nossa tão fragmentada comunidade global. Carregado por um realismo inerente, o longa ainda consegue encontrar espaço para sacudir a alma do espectador e arrancar dele algumas lágrimas. O desespero de Blake é manifesto e retrata a dura realidade dos trabalhadores na Inglaterra. Com isso, Ken Loach conseguiu construir o autêntico cenário do limbo social através de um drama superlativo, amargo e tempestuoso que tenta nocautear o Estado com um humor ácido e absolutamente sincero.

"I, Daniel Blake" (2016) de Ken Loach - Sixteen Films [gb] | Why Not Productions [fr]
Wild Bunch [fr] | Les Films du Fleuve [be] | Canal+ [fr] | Ciné+ [fr]

2º. LUGAR: “CORRA!”

(Get Out, Japão | Estados Unidos, 2017) - de Jordan Peele

Data da Estreia: 18 de maio de 2017

Após quatro meses de relacionamento, chegou o momento apropriado para que o fotógrafo Chris Washington (Daniel Kaluuya) conheça os Armitage, familiares de Rose (Allison Williams), sua namorada. A experiência poderia ser desconcertante, afinal o rapaz é negro e, inevitavelmente, vive alimentado pelo enfado histórico-cultural que moldou uma sociedade segregacionista, acreditando que será recebido com hostilidade por essas pessoas brancas. Depois de um encontro cordial, uma série de revelações começa a acobertar o ambiente de harmonia com uma esvoaçada atmosfera de medo e desconfiança. O jovem passa a ser perseguido de forma implacável e mergulha em um aparente pesadelo sem fim.

Ao longo de décadas, a representação figurativa do terror enquanto gênero cinematográfico demonstra, de maneira incessante, uma assombrosa maleabilidade para tecer brilhantes críticas sociais acerca dos principais dilemas dos seres humanos. Inquietante, perturbadora e sarcástica, a surpreendente estreia do humorista Jordan Peele como cineasta comprova isso. Pautado pela sagacidade de um magnífico roteiro escrito pelo próprio diretor, “Corra!” consegue imprimir um ritmo eletrizante a todos os seus acontecimentos, construindo uma sátira afiada, eficaz e subversiva que ainda é capaz de identificar – através do despojo de algumas amarras do preconceito racial – um grupo de figuras absolutamente repugnantes com personalidades terrivelmente reconhecíveis.

"Get Out" (2017) de Jordan Peele - Universal Pictures [us] | Blumhouse Productions [us]
QC Entertainment [us] | Monkeypaw Productions [us] | Dentsu [jp] | Fuji Television Network [jp]

1º. LUGAR: “O.J.: MADE IN AMERICA”

(O.J.: Made in America, Estados Unidos, 2016) - de Ezra Edelman

Data da Estreia: não houve

A conveniência e o ineditismo acabaram possibilitando a inclusão do vencedor do Oscar de Melhor Documentário deste ano no topo da lista. Com aproximadamente oito horas de duração, “O.J.: Made in America” dificilmente estrearia no circuito comercial do país. Veiculado apenas na televisão, o longa invadiu as salas de cinema somente na sua estreia em Sundance e durante a sua participação no Festival Internacional de Documentários de Amsterdã, ambos realizados em 2016. Ambicioso, o filme propõe uma série de discussões acerca da ilusória latência das tensões raciais manifestadas de maneira impiedosa pela sociedade estadunidense, sobretudo na cidade de Los Angeles.

A exposição dessa indecorosa fratura moral passa a ser refletida no célebre veredito proclamado à O.J. Simpson, astro do futebol americano acusado de assassinar a esposa e um amigo em 1994. Dividido em cinco hipnotizantes episódios, a narrativa reconstrói toda a trajetória de ascensão e queda de “Juice” (apelido pelo qual o jogador também era aclamado) e apresenta um desolador retrato do mundo contemporâneo. Buscando respostas imprecisas sobre o papel da mídia na construção de um ídolo conseguimos compreender quais são as engrenagens e as raízes desse movimento de discriminação através daquele que ficou conhecido como o julgamento do século.

"O.J.: Made in America" (2016) de Ezra Edelman - ESPN Films [us] | Laylow Films [us]

Entendemos que uma relação com apenas dez títulos acaba sendo muito pequena para categorizar e traduzir a ampla produção cinematográfica internacional. Dessa forma, resolvemos incluir, no final deste artigo, pequenas listas de filmes que se encaixam em algumas categorias que também julgamos importantes. Confira:

Também mereceram destaque este ano: “Frantz” (2016) de François Ozon; “Moonlight: Sob a Luz do Luar” (2016) de Barry Jenkins; “Na Vertical” (2016) de Alain Guiraudie; “Personal Shopper” (2016) de Olivier Assayas; “Bom Comportamento” (2017) de Benny Safdie e Josh Safdie; e “Na Praia à Noite Sozinha” (2017) de Sang-soo Hong.

Não vimos e nem veremos: “Transformers: O Último Cavaleiro” (2017) de Michael Bay.

Ainda faltam ser conferidos: “Paterson” (2016) de Jim Jarmusch; “Blade Runner 2049” (2017) de Denis Villeneuve; “Em Ritmo de Fuga” (2017) de Edgar Wright; “Star Wars Episódio VIII: Os Últimos Jedi” (2017) de Rian Johnson; “Planeta dos Macacos: A Guerra” (2017) de Matt Reeves; e “T2 Trainspotting” (2017) de Danny Boyle.

Podem obter grande destaque em 2018: “Desamor” (2017) de Andrey Zvyagintsev; “A Forma da Água" (2017) de Guillermo del Toro; “Happy End” (2017) de Michael Haneke; “Os Iniciados” (2017) de John Trengove; “Lady Bird: É Hora de Voar” (2017) de Greta Gerwig; e “Western” (2017) de Valeska Grisebach.

Maior expectativa para 2018: “The Square: A Arte da Discórdia” (2017) de Ruben Östlund.

(*) Lembrando que críticas, apontamentos de injustiças ou esquecimentos podem ser expressos nos comentários... ;-)

(**) Também não descartaremos os elogios! :-D

Confira também as listas com “Os Dez Melhores Filmes” de cada ano elaboradas pelo Rotina Cinematográfica em artigos anteriores:


É isso... ATÉ 2018!

E VIVA O CINEMA!

sábado, 23 de dezembro de 2017

Feito no Brasil | Os Dez Melhores Filmes Nacionais de 2017

No período em que a maioria dos blogs e sites de entretenimento começam a reservar as últimas semanas do mês para organizar retrospectivas, prestar homenagens e compor as listas com os melhores filmes da temporada, o Rotina Cinematográfica vem, pelo terceiro ano consecutivo, presentear os seus leitores com um artigo especial que já se configura como uma das marcas mais emblemáticas do nosso espaço e que, comumente, não chega a ser elaborado por outras plataformas especializadas em cinema. Destacaremos agora dez relevantes trabalhos produzidos no país e que mais nos chamaram a atenção ao longo de 2017. Projetos cada vez mais audaciosos e inventivos que colocam o Brasil entre os principais mercados cinematográficos do planeta.

Quem nos segue desde o princípio sabe que sempre procuramos garantir um espaço generoso para as produções nacionais, promovendo grande parte dos projetos que foram lançados recentemente e que, por algum motivo, não obtiveram o reconhecimento que merecem. Nossa preocupação é manifesta e legítima, afinal, muitos dos filmes que serão apresentados aqui estrearam em pouquíssimas salas, sendo basicamente reduzidas ao circuito cultural Rio-SP. No nosso caso, a maioria das sessões que acompanhamos estavam restritas à festivais e mostras especiais realizadas ao longo dos últimos anos em Belo Horizonte. Dessa forma, fica ainda mais evidente a importância de divulgarmos uma lista como esta, pois acreditamos que esses valorosos projetos merecem o mesmo espaço – ou até mesmo um destaque maior – do que as demais produções rodadas ao redor do mundo. Valorizar o Cinema Brasileiro é FUNDAMENTAL!

Antes de começarmos a tecer os elogios para cada uma dessas obras, é importante lembrar que o critério escolhido para estabelecer quais os títulos que iriam compor essa relação final se restringem apenas aos filmes que estrearam em 2017 nas salas de cinema do país através do circuito comercial, ou aqueles lançados diretamente em Home Video ou serviços de streaming.

Depois desta brevíssima introdução, acompanhem agora a Lista com Os Dez Melhores Filmes Nacionais de 2017 (em ordem decrescente):

10º. LUGAR: “CORPO ELÉTRICO”

(Corpo Elétrico, Brasil, 2017) - de Marcelo Caetano

Data da Estreia: 17 de agosto de 2017

Antes mesmo de sua estreia, “Corpo Elétrico” ameaçava abalar as estruturas da sociedade prometendo levar para as telas um recorte cordial e singular do universo LGBT, vítima constante das amarras do conservadorismo quando explorado pelo cinema comercial. Mantendo distância das esferas do discurso ativista, o longa procura conclamar a ideia da coexistência, ou simplesmente mostrar para o seu espectador que a realidade já é dura o suficiente para continuar sendo recoberta por camadas e mais camadas de preconceito. Dentro de uma ótica existencialista, o diretor Marcelo Caetano cumpre o seu papel oferecendo ao público uma proposta narrativa autêntica e reverberante.

As férias estão chegando e Elias (Kelner Macêdo) só queria ter motivos para pensar no mar. O jovem trabalha em uma pequena confecção de roupas femininas no centro de São Paulo e, à medida que o fim de ano se aproxima, ainda precisa encarar uma carga maior de responsabilidades para atender todas as demandas. Depois de enfrentarem uma exaustiva jornada de horas extras, Elias e outros funcionários da fábrica decidem sair para tomar uma cerveja. As possibilidades geradas nesses novos encontros fazem com que o rapaz amplie os seus horizontes afetivos, mantendo o espírito livre para transitar por vários ambientes.

Em momentos de adversidades, a solidão e a libido acabam se tornando parceiras improváveis, fazendo com que Elias realimente a sua independência carnal com mais uma série de novas perspectivas traçadas a cada fortuito encontro. Mesmo que os seus dilemas preencham a projeção por muito mais tempo, “Corpo Elétrico” não segue o padrão clássico de construção do arco dramático de um protagonista. Seu tom realista é absolutamente fiel aos anseios e individualidades de cada coadjuvante que são conduzidos por uma avidez e sensibilidade extremamente marcantes, condensando situações ditas mundanas em uma irresistível crônica urbana sobre o desejo e a sexualidade.

"Corpo Elétrico" (2017) de Marcelo Caetano - Africa Filmes [br] | Desbun Filmes [br] | Plateau Produções [br]

9º. LUGAR: “ERA O HOTEL CAMBRIDGE”

(Era o Hotel Cambridge, Brasil | França | Espanha, 2016) - de Eliane Caffé

Data da Estreia: 16 de março de 2017

“Enquanto morar for um privilégio, ocupar é um direito...” A máxima é antiga, mas não há melhor maneira de se expressar até que o clima de tensão não pare de tomar conta da vida daqueles indivíduos que reivindicam apenas um teto – ou daqueles que ainda pretendem recuperar o mínimo da dignidade para continuarem vivendo. Consciente de sua importância dentro do cinema brasileiro de resistência, a diretora paulistana Eliane Caffé propõe uma branda reflexão sobre o assunto, procurando se comunicar diretamente com públicos distintos sem deixar de lado o tom essencialmente crítico de sua narrativa – em especial pelo momento delicado pelo qual está passando o país.

“Era o Hotel Cambrige” retrata a trajetória incomum de um grupo de refugiados recém-chegados ao Brasil que se unem ao movimento de trabalhadores sem-teto para, juntos, tomarem posse de um edifício abandonado no centro da cidade de São Paulo. Misturando realidade e ficção, acompanhamos a rotina diária desses desabrigados e começamos a identificar e compreender os anseios e as motivações que todos eles carregam para seguirem engajados na militância social. É muito fácil se conectar aos dramas dessas personagens, pois a câmera também invade e compartilha esse espaço com os moradores e transforma o espectador em cúmplice das angústias relacionadas à iminente ameaça de despejo.

A dissimulação, a falta de assistência e o efeito de abandono são alguns dos maiores dilemas do mundo contemporâneo, fazendo parte do legítimo comportamento de uma comunidade global cada vez mais debilitada e hipócrita. O que acontece na ocupação de um velho hotel da maior metrópole da América Latina é apenas um fragmento da vida de milhões de pessoas que, por razões absurdas, estão incapazes de se reintegrar na sociedade. Mas o estilhaço é grande, e o debate acerca das políticas de inclusão é urgente e fundamental. A luta continua!

"Era o Hotel Cambridge" (2016) de Eliane Caffé - Aurora Filmes [br] | Tu Vas Voir Productions [fr]

8º. LUGAR: “GUERRA DO PARAGUAY”

(Guerra do Paraguay, Brasil, 2017) - de Luiz Rosemberg Filho

Data da Estreia: 30 de março de 2017

Retumbante alegoria cinematográfica, “Guerra do Paraguay” não é necessariamente uma obra espetaculosa com eletrizantes contornos bélicos e sangrentos, mas sim um minucioso estudo sobre a arrogância, o contrassenso e o desconforto indissociáveis e onipresentes em todos os conflitos armados que construíram a trágica e vergonhosa história da humanidade; a sua imponência está justamente na poesia e na amortização deste disparate. Após combater com bravura e brio na Guerra do Paraguai (1864 - 1870), um desvanecido soldado raso (Alexandre Dacosta) retorna ao Brasil e tem um encontro atemporal com duas irmãs (Ana Abbott e Patrícia Niedermeier), últimas integrantes de um grupo de artistas mambembes que fora dissolvido pelos novos e atraentes meios de comunicação e entretenimento.

A aproximação dessas realidades é pautada pela fugacidade, pois, diferente do ignóbil militar, as atrizes estão vivendo próximas do desatino e do obscurantismo dos dias atuais e, sem sombra de dúvidas, é a notável transitoriedade entre o passado e o presente que reforçam o embate de ideias entre mundos completamente distintos. Por um lado, observamos a hostilidade, a ignorância e a virulência de um caótico sistema de conflagração representado pela figura de um servo submisso e, pelo outro, reverenciamos o virtuoso discurso de uma consciência quase utópica que defende a plena conquista da liberdade – arquétipos fidedignos da barbárie e da esperança idealista.

Soberba, pujante e metafórica, a composição do enredo garante sua eficácia recorrendo à eloquência narrativa e sendo sustentada por diálogos afiados que ganham ainda mais força com a teatralidade presente nas ações de cada uma das personagens. O desenvolvimento desta celeuma moral produz uma coleção de sequências memoráveis capaz de transferir para o filme uma dose exata de reflexão. A estética autoral de Luiz Rosemberg Filho carrega no poder da palavra uma crítica certeira contra a banalização da morte e a violência injustificada.

"Guerra do Paraguay" (2017) de Luiz Rosemberg Filho - Cavideo [br]
Canal Brasil [br] | Cafeína Produções [br] | Link Digital [br] 

7º. LUGAR: “BINGO: O REI DAS MANHÃS”

(Bingo: O Rei das Manhãs, Brasil, 2017) - de Daniel Rezende

Data da Estreia: 24 de agosto de 2017

Qual foi a chave do sucesso para o campeão de audiência na faixa matinal da TV se transformar em um dos maiores estouros populares da década de 80? O alucinante e turbulento “Bingo: O Rei das Manhãs” traz essa resposta ao remontar a jornada de loucura e dissimulação de Augusto Mendes (Vladimir Brichta), um operário a serviço das artes dramáticas. Enérgico e saliente, o ator ficou conhecido pelas participações em alguns dos projetos mais famigerados da pornochanchada, mas também era tido como um homem extremamente obstinado, pois possuía o temperamento forte e percorria o brilho dos holofotes de maneira incansável.

Sonhando em construir uma célebre e duradoura carreira no mundo do entretenimento, Augusto passa a enxergar no teste de personagem para o novo programa infantil de uma emissora mediana uma grande chance de alcançar fama e reconhecimento. Após superar uma dezena de candidatos nas audiências, o papel de Bingo – primeiro palhaço da história da televisão brasileira – finalmente era dele. Desde o início percebemos que missão de fazer os outros rirem nunca foi uma brincadeira, sobretudo quando a vida particular começa a sufocar esse artista, pesando a angústia pelo distanciamento do filho e o incômodo pela conturbada relação profissional com Lúcia (Leandra Leal), diretora da atração.

Amargurado, Augusto transpirava talento por trás da maquiagem. Bingo conquistou multidões, mas era muito complicado lidar com a glória tendo que preservar a sua verdadeira identidade. O anonimato lhe entregava apenas fragmentos de uma realidade cruel, palco propício para um astro se render ao álcool e à dependência química de forma inevitável. “Bingo: O Rei das Manhãs” foi inspirado na fascinante trajetória de Arlindo Barreto que, durante anos, interpretou o palhaço Bozo na antiga TVS (hoje SBT), e que, até hoje, declara o seu amor pelos palcos, sempre à procura do próximo foco de luz.

"Bingo: O Rei das Manhãs" (2017) de Daniel Rezende - Empyrean Pictures [us] | Gullane [br] | Warner Bros. [br]

6º. LUGAR: “O FILME DA MINHA VIDA”

(O Filme da Minha Vida, Brasil, 2017) - de Selton Mello

Data da Estreia: 3 de agosto de 2017

Emocionalmente equilibrado, “O Filme da Minha Vida” refulge como uma afetuosa crônica sobre encontros e despedidas, um turbilhão impetuoso capaz de transbordar o espírito de uma plateia inteira com entusiasmos e melancolias, evocando um misto de sentimentos arrebatadores. O longa também fica marcado pelo seu extraordinário apuro técnico e evidencia o pleno amadurecimento de Selton Mello como um cineasta que, já no seu terceiro filme, se consolida como um dos melhores contadores de histórias da sua geração. Competente como poucos, ele ainda participa da trama dando a vida à Paco, um sujeito bronco e matuto que é peça de apoio fundamental no drama vivido pelos protagonistas em uma pequena cidade do sul do país.

Antigo amigo da família do imigrante francês Nicolas Terranova (Vincent Cassel), Paco agora oferece amparo compassivo a Sofia (Ondina Clais) e Tony (Johnny Massaro), respectivamente, esposa e filho que foram abandonados por esse homem há pouco mais dois anos. De maneira inclusivamente sórdida, Nicolas acaba partindo no mesmo trem que trouxe Tony de volta ao lar depois de ter passado algumas temporadas estudando na capital. O jovem havia acabado de se formar e, desde então, encara a sua rotina ministrando aulas de língua francesa em uma escola e tentando encontrar impresumíveis respostas sobre o paradeiro do pai e as razões que o levaram a deixá-lo sozinho com a sua mãe.

Colidente, nostálgico e essencialmente romântico, “O Filme da Minha Vida” carrega consigo o formidável peso das lembranças e a ansiedade incontida que orbita o plano das descobertas, características essas que alimentam a fabulosa capacidade de reconstrução do amor. Lisonjeira, a obra ainda comove ao prestar uma singela homenagem ao não menos conflituoso “Rio Vermelho” (1948) de Howard Hawks, sempre reforçando o poder de encantamento atrelado ao cinema e o mundo de possibilidades que ele pode proporcionar.

"O Filme da Minha Vida" (2017) de Selton Mello - Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) [us]
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5º. LUGAR: “JONAS E O CIRCO SEM LONA”

(Jonas e o Circo sem Lona, Brasil, 2015) - de Paula Gomes

Data da Estreia: 16 de março de 2017

Fruto de uma pesquisa sobre a encantadora jornada de trupes mambembes que ainda fazem do interior da Bahia o seu picadeiro, o documentário “Jonas e o Circo sem Lona” conta a admirável história de Jonas Laborda, um garoto de 13 anos que alimenta o sonho de manter vivo o circo que fundou no quintal de sua casa. Ele ainda teve a fantástica ideia de convidar os seus melhores amigos para participar de alguns espetáculos improvisados e apresentá-los para os moradores do humilde bairro onde vivem. É o próprio Jonas quem cria a dinâmica dos números, seleciona as músicas, confecciona os figurinos e controla a venda de ingressos.

Cativante e melancólico, o filme vai muito além de cambalhotas, malabarismos e trampolinagens, levantando questões importantes acerca da infância e da juventude. Ao mesmo tempo que lida com o sucesso ou o fracasso de suas exibições, Jonas se equilibra na corda bamba da vida tendo que encarar os dilemas da adolescência e descobrir as dificuldades que enfrentará na transição para a fase adulta. Teimoso, ele pretende abandonar a escola e se juntar ao tio para viver trabalhando em um um circo itinerante, mas acaba sendo impedido pela mãe, que prefere que o filho continue estudando.

Vindo de uma tradicional família de artistas circenses, o menino fica sem compreender o porquê de não poder perpetuar essa respeitável herança. É nesse momento que a lente da câmera começa a perseguir os seus olhares, sempre recobertos de lágrimas que teimam em não cair e que evidenciam uma grande tristeza diante de tamanhas frustrações. A narrativa flui de maneira harmoniosa, revelando a sua extrema sensibilidade e força de percepção documental, uma vez que a diretora Paula Gomes estabelece uma sincera relação de amizade com Jonas – “...este não é o final do seu filme...”. Impossível não se emocionar!

"Jonas e o Circo sem Lona" (2015) de Paula Gomes - Plano 3 Filmes [br]

4º. LUGAR: “ELON NÃO ACREDITA NA MORTE”

(Elon não Acredita na Morte, Brasil, 2016) - de Ricardo Alves Jr.

Data da Estreia: 27 de abril de 2017

Impactante e potencialmente corrosivo, o magnético suspense presente no enredo claustrofóbico de “Elon não Acredita na Morte” é capaz de desorganizar a mente do espectador. Apesar de se desenvolver com uma aparente cautela, a sua narrativa é inquieta e absolutamente transgressora, pois tem a intenção de envolver o público em todas as casualidades que levam o personagem principal a percorrer um desalinhado caminho sem volta, uma jornada emocional sobressaltada pela efervescente arte do desencontro que pode mexer com os seus brios e propiciar a hesitação, a imprudência e a loucura.

Elon (Rômulo Braga) trabalha como vigia noturno e tem a sua rotina quebrada por completo quando a sua esposa, Madalena (Clara Choveaux), desaparece misteriosamente. Em busca de repostas, ele passa a vagar pelos cantos mais sombrios da cidade à procura de pistas que possam ajudá-lo a esclarecer todas as incongruências deste insólito acontecimento. O drama vivido pelo protagonista tem um destino incerto, cabendo exclusivamente àqueles que o observam do outro lado da tela reconhecer a autenticidade das pistas e juntar as peças de um ilógico quebra-cabeças. Perdido, Elon já não sabe mais em quem ou no que acreditar, pois a agonia e o medo acabaram devastando todos os seus sentimentos.

Amparado por uma essência provocativa, o primeiro longa de ficção do diretor mineiro Ricardo Alves Jr. tem no elemento da dedução a sua principal virtude. O filme é recheado por pequenas reviravoltas, mas não são elas que dão os tons de agitação imoderada que seriam próprios aos desenlaces de uma trama como essa. As conclusões aqui talvez sejam formadas apenas pela nossa experiência sensorial e, tal qual as insanidades do amor moderno, revelam um cenário cada vez mais preenchido pela desesperança, pela morbidez e pela vultuosidade. Estrondoso e inteligente, “Elon não Acredita na Morte” faz incandescer o cinema nacional contemporâneo.

"Elon não Acredita na Morte" (2016) de Ricardo Alves Jr. - Entrefilmes [br]
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3º. LUGAR: “REDEMOINHO”

(Redemoinho, Brasil, 2016) - de José Luiz Villamarim

Data da Estreia: 9 de fevereiro de 2017

Baseado em um dos volumes da pentalogia “Inferno Provisório”, obra literária de Luiz Ruffato, “Redemoinho” também traça alguns dos objetivos principais pensados pelo escritor ao redimensionar o desalinhado panorama social da classe operária brasileira, ficcionalizando a sua vida cotidiana e expondo todas as suas amarguras e ressentimentos. Delineado por um discurso preciso sobre as contradições entre ideais imaginários – normalmente provocado pelo abismal choque de realidades – o drama foca no reencontro de dois amigos de infância que dividiram inúmeros sonhos e desilusões e que, agora, revivem as sombras do passado que foram abandonadas em Cataguases, município do interior das Minas Gerais.

Luzimar (Irandhir Santos) nunca teve a oportunidade de sair da sua rotina, casou-se muito cedo com Toninha (Dira Paes) e sempre trabalhou em uma modesta usina de tecelagem da cidade. Já Gildo (Júlio Andrade) obteve mais êxito ao construir toda a sua história em São Paulo, bem distante de suas origens. Fortuitamente, o destino de ambos volta a se cruzar durante a véspera de Natal, momento em que Gildo retorna para fazer uma visita à mãe. Entre uma cerveja e outra, a reunião começa descontraída e os antigos companheiros vão revelando as suas grandes realizações e os seus maiores arrependimentos.

Entretanto, o clima de camaradagem começa a ser diluído por dilemas cíclicos e entrelaçados que, inevitavelmente, voltam à tona. Recheada por um embate de diálogos ásperos e rancorosos, a trama passa a girar em torno de uma tragédia ocorrida no tempo em que eles eram garotos, num episódio que transformou de maneira profunda a vida de todos. Impactante, severo e remissível, “Redemoinho” ainda marcou a proeminente estreia de José Luiz Villamarim em projetos cinematográficos. Em 2016, o diretor esteve à frente de projetos igualmente ousados como “Justiça” e “Nada Será Como Antes”, duas das mais elogiadas minisséries da TV Globo.

"Redemoinho" (2016) de José Luiz Villamarim - Bananeira Filmes [br] | Globo Filmes [br]

2º. LUGAR: “MARTÍRIO”

(Martírio, Brasil, 2016) - de Vincent Carelli, Tatiana Almeida e Ernesto de Carvalho

Data da Estreia: 13 de abril de 2017

Arrojado, impressionante e poderoso, “Martírio” coloca em evidência todo o transtorno ético e moral que paira sobre as inúmeras decisões arbitrárias que tentam mascarar o nosso clarividente estado de exceção; situação essa que ainda provoca o descomunal retrocesso estabelecido pelas dissuasivas políticas de demarcação de terras. O documentário causa revolta e indignação ao escancarar o lacerante e impiedoso tratamento que o governo brasileiro destina às populações indígenas, focando sobretudo na imposição de sua força abusiva e desproporcional ao perseguir, de maneira implacável, uma comunidade Guarani-Kaiowá no Mato Grosso do Sul.

O principal objetivo do antropólogo e diretor Vincent Carelli foi comprovar, através do peso e do vigor de suas imagens, a crueza de um genocídio brutal que reflete o nítido conflito de interesses responsável por derramar sangue em terras ditas sagradas, mas que nunca fora tratado como uma tragédia anunciada. O próprio título do filme já traduz os sentimentos de angústia e padecimento que conduziram o espírito de resistência de um povo torturado ao longo de séculos, provando que a história de violência e extermínio contra eles é infinda e tem origens tão antigas quanto a sua luta para sobreviver.

“Martírio” venceu o Prêmio de Melhor Filme do Júri Popular e o Prêmio Especial do Júri do 49° Festival de Brasília, configurando, assim, um momento oportuno para endereçarmos mais um recado às autoridades amparadas pelo discurso da grande mídia e sustentadas pelo domínio do agronegócio. As discussões propostas pelo longa são urgentes e merecem a atenção de cada indivíduo, pois são capazes de dar voz e assertar uma condição circunstancial para a formação ou a evolução da nossa consciência crítica. É fundamental que tenhamos contato com obras impactantes e significativas como essa, pois são elas que destacam a importância do cinema como uma das maiores ferramentas de construção da sociedade.

"Martírio" (2016) de Vincent Carelli, Tatiana Almeida e Ernesto de Carvalho - Vídeo nas Aldeias [br] | Papo Amarelo [br]

1º. LUGAR: “A CIDADE ONDE ENVELHEÇO”

(A Cidade Onde Envelheço, Brasil | Portugal, 2016) - de Marília Rocha

Data da Estreia: 9 de fevereiro de 2017

“De onde venho, meu velho, para onde vou? ...” O tempo possui um tino implacável para tudo aquilo que é fugaz e transitório. Tal qual o poeta mineiro Paulo Mendes Campos escrevia para o amigo Otto Lara Resende quando deixava o seu amado estado natal rumo ao Rio de Janeiro, somos levados a aproveitar os nossos ínfimos fragmentos de vida como se estivéssemos saboreando um pequeno fruto agridoce ou relaxando com os poucos tragos que um único cigarro pode oferecer. Nessa arrevesada lógica, todos nós fazemos parte de uma crônica aflita sobre o impacto de ser estrangeiro em qualquer lugar.

Grande vencedor da 49ª edição do Festival de Brasília, realizado em 2016, “A Cidade Onde Envelheço” marca a estreia da proeminente cineasta Marília Rocha na condução de um longa-metragem de ficção. Recheado de nostalgia e sensibilidade, o filme não busca explicar o sentido de tudo aquilo que é efêmero, mas tenta ressignificar o complexo conceito da liberdade ao acompanhar a rotina de Francisca (Francisca Manuel), uma jovem portuguesa que vive há quase um ano em Belo Horizonte e que está prestes a receber Teresa (Elizabete Francisca), uma antiga conhecida com quem perdeu o contato desde quando decidiu sair de Lisboa.

Afetuosa e inspiradora, a narrativa se inclina para os eventos corriqueiros das duas emigrantes e a relação de ambas com a cidade. Entre alegrias e decepções, risos e alguns soluços engasgados na garganta, podemos observar uma verdadeira amizade se consolidando. Entretanto, sabemos que a melancolia é o único mal irremediável, afinal, conseguimos lidar muito bem com o choque de realidade e as particularidades de viver em um país desconhecido, mas desmoronamos quando nos pegamos com saudades de casa. Aqui, o dilema do existir sempre pairará sobre a decisão de criar raízes e sobre a escolha do lugar onde queremos envelhecer.

"A Cidade Onde Envelheço" (2016) de Marília Rocha - Anavilhana Filmes [br] | Terratreme Filmes [pt]

Para finalizar, é importante ressaltar que uma lista com apenas dez títulos é muito pequena frente ao grande número de produções de qualidade que foram lançadas ao longo deste ano; filmes que sempre nos fazem querer descobrir um pouco mais sobre os tipos cinema que são feitos na nossa própria casa. Dessa forma, resolvemos incluir, no final deste artigo, uma pequena relação de trabalhos que também se encaixam em algumas categorias que julgamos importantes. Confira:

Também mereceram destaque este ano: “A Família Dionti” (2015) de Alan Minas; “Mais do que eu possa me Reconhecer” (2015) de Allan Ribeiro; “Antes o Tempo não Acabava” (2016) de Sergio Andrade e Fábio Baldo; “Rifle” (2016) de Davi Pretto; “Como Nossos Pais” (2017) de Laís Bodanzky; e “Joaquim” (2017) de Marcelo Gomes.

Não vimos e nem veremos: “Internet: O Filme” (2017) de Filippo Capuzzi Lapietra.

Ainda faltam ser conferidos: “Clarisse ou Alguma Coisa sobre Nós Dois” (2015) de Petrus Cariry; “Animal Político” (2016) de Tião; “Divinas Divas” (2016) de Leandra Leal; “As Duas Irenes” (2017) de Fabio Meira; “Um Filme de Cinema” (2017) de Walter Carvalho; e “Vazante” (2017) de Daniela Thomas.

Podem obter grande destaque em 2018: “Arábia” (2017) de Affonso Uchoa e João Dumans; “Baronesa" (2017) de Juliana Antunes; “Unicórnio” (2017) de Eduardo Nunes; “Ferrugem” (2018) de Aly Muritiba; “O Grande Circo Místico” (2018) de Carlos Diegues; e “Marighella” (2018) de Wagner Moura.

Maior expectativa para 2018: “As Boas Maneiras” (2017) de Juliana Rojas e Marco Dutra.

(*) Lembrando que críticas, apontamentos de injustiças ou esquecimentos podem ser expressos nos comentários... ;-)

(**) Também não descartaremos os elogios! :-D

Confira também as listas com “Os Dez Melhores Filmes Nacionais” elaboradas pelo Rotina Cinematográfica em anos anteriores:


Meu maior desejo é de que 2018 nos presentei com filmes tão espetaculares quanto os desta temporada! E nunca se esqueçam de valorizar o nosso produto...

VIVA SEMPRE O CINEMA NACIONAL!

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Sempre um Clássico #Especial | Filmes que completam 100 anos em 2017

Com um percurso relativamente curto dentro do mundo das artes, o cinema já foi capaz de produzir um número incontável de histórias que habitam ou habitaram o imaginário de bilhões de pessoas que já passaram por este planeta. Fascinante, hipnótico e monumental, esse mercado sempre despertou um interesse particular naqueles que, um dia, foram fisgados pelo poder magnético e reluzente de uma grande tela. A paixão é, de fato, instantânea.

Nesse encantador caminho sem volta, frequentemente nos deparamos com obras que nos ajudam a conhecer e melhor compreender como foi construída a charmosa, imponente e vasta memória filmográfica mundial e, ao final de 2017, alguns dos títulos mais importantes de todos os tempos alcançarão um patamar ainda maior nessa extraordinária trajetória: se tornarão filmes centenários!

Sobrevivendo ao desgaste, à destruição ou ao mero ostracismo, um conjunto de verdadeiras pérolas da sétima arte continuarão sendo lembradas com carinho por críticos, cinéfilos e pelo público em geral; e pegando carona nessa oportuna ideia de organizar retrospectivas, resolvemos escolher três formidáveis trabalhos que, definitiva e literalmente, marcaram época desde os seus lançamentos em 1917 e que, a partir de janeiro, iniciarão mais um capítulo de sua – agora – carreira secular.

Para descobrir, relembrar e apreciar! Começamos a nossa seleção com um curta singular que infelizmente não existe mais, mas representa o embrião de um doloroso processo de afirmação do gênero que mais enfrentou dificuldades para prosperar no Brasil:

O Kaiser (O Kaiser, Brasil, 1917)

Direção: Álvaro Marins, o Seth

No ano em que o Cinema de Animação no Brasil também completa 100 anos, nada mais justo do que prestar uma homenagem à obra que é considerada a pedra fundadora desta fascinante arte no país. Marco embrionário de uma história de resistência criativa, “O Kaiser” foi um curta-metragem idealizado e dirigido pelo cartunista fluminense Álvaro Marins, mais conhecido como Seth. Sobressaltando as antigas vinhetas animadas que já eram apresentadas nos encerramentos dos cinejornais, o filme acabou sendo o primeiro do ramo a ser produzido em caráter comercial no país, pois visava alcançar o apelo popular e ainda estimular a formação de um novo mercado consumidor.

“O Kaiser” teve a sua estreia no Rio de Janeiro no dia 22 de janeiro de 1917, sendo exibido no tradicional Cine Pathé da Cinelândia apenas três meses antes do Brasil declarar guerra à Alemanha e iniciar a sua discreta participação na Primeira Guerra Mundial. A relação entre o desenho e esse subsequente abalo diplomático é direta, afinal o curta fazia uma crítica ácida e bem-humorada à soberania e ao expansionismo alemão. Nele, o Imperador Guilherme II está sentado diante de um globo terrestre e vislumbra as suas futuras anexações e potenciais conquistas. Para demonstrar toda a autocracia, influência e poder, o monarca coloca o próprio capacete militar no objeto que – por sua vez – ganha vida, passa a controlar a situação e acaba o engolindo.

Pouco se sabe sobre os detalhes ou resquícios deixados pelo roteiro original, mas sabemos que o projeto se mostrava audacioso e revolucionário tanto em sua concepção quanto em seu desenvolvimento, pois era sustentado por uma base narrativa linear que possuía começo, meio e fim. Infelizmente, a cópia do filme foi uma das várias vítimas do tempo e se perdeu por falta de acondicionamento e de preservação adequada, deixando como herança apenas uma imagem de referência do trabalho pioneiro de Seth.

Em 2013, o documentário “Luz, Anima, Ação!” traçou um panorama histórico e evolutivo das animações brasileiras ao longo das décadas, não só reconhecendo o esforço dos principais nomes do setor, como também reverenciando o curta responsável por dar o pontapé de partida que ajudou a construir essa belíssima trajetória cinematográfica. O diretor Eduardo Calvet colheu o depoimento de várias personalidades da área e ainda propôs um desafio interessante: utilizando técnicas diferenciadas, oito desses profissionais foram convidados a a recriar as sequências de “O Kaiser” a partir daquele único fotograma existente.

E o RESULTADO foi bastante surpreendente.

"O Kaiser" (1917) de Álvaro Marins, o Seth - Ideograph [br] | Anima Mundi [br]

Rica e Pobre (The Poor Little Rich Girl, Estados Unidos, 1917)

Direção: Maurice Tourneur

Herdeira de uma família tradicional, Gwendolyn é uma criança solitária que tem tudo o que o dinheiro pode comprar. Cercada por uma dezena de empregados intransigentes, ela divide uma gigantesca e luxuosa mansão com os pais que, preocupados em somar cifras ou manter uma posição de destaque dentro da alta sociedade, não conseguem oferecer aquilo que a filha mais precisa: carinho e atenção. Esse é o típico mote de um conto moralista que sempre busca reafirmar a tese de que o amor e o respeito valem muito mais do que a aparência e os bens materiais.

A jornada de descobertas de ‘Gwen’ teria se tornado bastante cansativa se não fossem as ideias e as mãos da renomada roteirista Frances Marion, que transformou de maneira brilhante os textos da simplória peça de Eleanor Gates, dando formas mais interessantes à obra que serviu de inspiração para essa versão cinematográfica. O ato final é um espetáculo à parte, pois revela um verdadeiro cenário de desengano. Após tomar uma dose excessiva de medicamentos, a pobre menina rica passa a enxergar um mundo imaginário inspirado nas coisas e nas pessoas que conhece; todas representadas em uma sequência alucinante de delírios e sonhos surrealistas recheados de metáforas sobre a vida e sobre uma consequente fuga da realidade.

“Rica e Pobre” tenta não pormenorizar os seus ensinamentos e reflexões, mas se comporta como uma parábola conceitual sobre a negligência familiar e suas implicações. O contorno sombrio que envolve essa temática delicada é afervorado por cenas memoráveis que dão um toque exato de diversão à trama e que remetem aos anuviados clássicos da literatura infantojuvenil – como “Alice no País das Maravilhas” e “O Mágico de Oz” – que também já tiveram as suas adaptações para as telas, inclusive na sua fase silenciosa.

Com uma estética refinada e uma narrativa envolvente, o filme ainda foi um dos selecionados ao National Film Preservation Board em 1991, recebendo o selo “National Film Registry” de proteção. O primor técnico do diretor francês Maurice Tourneur ao criar algumas das suas ilusões são de uma preciosidade extremamente rara. Porém, entendemos que uma de suas principais virtudes foi registrar o genuíno talento de Mary Pickford, uma das estrelas mais expressivas do cinema mudo que, com 24 anos de idade à época das filmagens, convence a todos no papel da protagonista, uma garotinha de apenas 11 – sem sombra de dúvidas, está entre as maiores interpretações da história.

"The Poor Little Rich Girl" (1917) de Maurice Tourneur - Artcraft Pictures Corporation [us]

Terje Vigen (Terje Vigen, Suécia, 1917)

Direção: Victor Sjöström

A originalidade elementar presente nos filmes atuados ou dirigidos por Victor Sjöström traduzem, de maneira absoluta e grandiosa, a extraordinária carreira daquele que foi o maior responsável por alavancar o cinema sueco a um patamar mais elevado dentro do novo mercado de entretenimento que ainda fazia curiosos experimentos ao redor do mundo. Suas incríveis composições eram legítimas obras de arte, verdadeiras pinturas em movimento que conseguiam captar as atitudes e os olhares mais sinceros dos seres humanos. Essencialmente arrebatador, “Terje Vigen” foi o primeiro de seus trabalhos a fazer carreira internacional – um belo cartão de visitas para um competente e promissor artista.

Terje Vigen (interpretado pelo próprio Sjöström) é um modesto pescador que vive em uma ilha localizada na rota comercial da costa sul escandinava, integrando um trajeto bloqueado por navios do Império Britânico durante a Guerra Finlandesa de 1809. A fim de buscar suprimentos para a sua mulher e sua filha, ele acaba sendo capturado e preso na tentativa frustrada de perfurar esta barreira. Após cinco longos anos, o marinheiro é libertado e se depara com uma realidade ainda mais cruel do que a que tinha vivido. Recluso e completamente infeliz, o pobre homem agora só pensa no desforço da retaliação, prometendo destruir a vida de todos aqueles que lhe causaram tamanho sofrimento.

Baseada na famosa poesia narrativa do dramaturgo norueguês Henrik Ibsen, a película registra e faz o resgate de manifestações tão comuns e distintas como a compaixão, a humildade, o luto e a vingança, atribuindo a elas o mesmo conceito especioso de nosso "sofismático" caráter. Os efeitos da barbárie ferem profundamente a integridade de qualquer indivíduo e – até mesmo quando este tem um repentino encontro com o inesperado – é possível que os levem a cometer uma série de atrocidades descompassadas em nome de um ódio incontido, de modo que a impetuosidade desses sentimentos fique representada pelo ostensivo poderio imagético captado pelas câmeras.

Guardar na mente uma coleção de cenas memoráveis, e absorver cada uma das complexas emoções dispostas em uma peça fílmica de aproximadamente uma hora de duração, nos impulsiona a conhecer e admirar os vários tipos de projetos audiovisuais executados ao longo das primeiras décadas do século XX, sobretudo na sua linhagem mais clássica. Victor Sjöström é uma das mentes mais brilhantes da história da sétima arte, pesando aqui a sua notória contribuição e excelência na realização de uma infinidade de obras-primas do sedutor cinema silencioso.

"Terje Vigen" (1917) de Victor Sjöström - Svenska Biografteatern AB [se]

Filmes que também merecem destaque:

- O Imigrante (The Immigrant, Estados Unidos, 1917) - de Charles Chaplin;

- O Balneário / Carlitos nas Termas (The Cure, Estados Unidos, 1917) - de Charles Chaplin;

- Wild and Woolly (Wild and Woolly, Estados Unidos, 1917) - de John Emerson;

- O Esplêndido Amante (Alimony, Estados Unidos, 1917) - de Emmett J. Flynn;

- Coney Island (Coney Island, Estados Unidos, 1917) - de Roscoe ‘Fatty’ Arbuckle;

- Rebecca of Sunnybrook Farm (Rebecca of Sunnybrook Farm, Estados Unidos, 1917) - de Marshall Neilan;

- O Último Cartucho (Straight Shooting, Estados Unidos, 1917) - de John Ford.

E acompanhem aqui as listas de Filmes Centenários feitas pelo Rotina Cinematográfica em anos anteriores:


É ISSO! ETERNOS CLÁSSICOS... INCRÍVEIS LEMBRANÇAS!

BOAS SESSÕES!