sábado, 25 de julho de 2015

20 Filmes que completam 20 Anos em 2015 | Parte III

Um melodrama sutil, poético e inocente que ajudou a repaginar o belíssimo e comovente cinema iraniano; um retrato frio e marginal de uma intolerante e brutal sociedade moderna; o início da história de amor do casal mais apaixonado e apaixonante do cinema; uma pequena grande catástrofe para pequenos grandes heróis; e um profundo e atraente thriller psicológico que reinventou e refundou as bases dos gêneros de suspense e filmes policiais das produções cinematográficas mais recentes.

Continue acompanhando a retrospectiva que o RotinaCinemeira vem realizando ao longo do mês de julho ao elencar 20 importantes trabalhos produzidos e lançados no ano de 1995. Filmes inesquecíveis e clássicos contemporâneos que ainda mantém o fôlego e chegam vigorosos em 2015, completando os seus 20 anos. Preciosidades que, se ainda não estão, já deveriam estar nas estantes (ou nos HDs) de qualquer cinéfilo.

O Balão Branco (Badkonake Sefid, Irã, 1995)

Direção: Jafar Panahi

Durante as comemorações do Ano Novo Persa, a encantadora Razieh (Aida Mohammadkhani) insiste para que sua mãe (Fereshteh Sadre Orafaiy) lhe compre de presente um peixinho dourado que ela viu em uma loja. Segunda a garotinha, o peixe é muito mais bonito e mais gordo do que aqueles que a família tem na fonte do quintal de casa. Com muita persistência e com a ajuda do irmão Ali (Mohsen Kafili), a mãe acaba sendo convencida por Razieh e dá o dinheiro de suas últimas economias para que filha tenha o peixinho. Entretanto, a pequena ainda passará por uma grande provação até chegar à loja.

Percorrendo as ruas de Teerã, somos confrontados por uma sociedade ocupada, afadigada e egoísta, e percebemos o quanto as relações humanas estão perdendo em sensibilidade. No meio do caminho, vários adultos tentam se aproveitar da inocência da menina, enquanto outros não lhe dão a menor atenção. Razieh perde o dinheiro por duas vezes, mas não mede esforços para recuperá-lo. Para ela, essa “pequena grande aventura” é uma desafiadora jornada de fé, um misto de liberdade e responsabilidade que lhe dá forças para não desistir de seus sonhos e propósitos.

Vencedor do Prêmio Câmera de Ouro na quinzena de realizadores e semana da crítica do Festival de Cannes, “O Balão Branco” é o longa-metragem de estreia do (na época) promissor diretor Jafar Panahi, que também concebeu a ideia original do filme e contou com a colaboração do renomado Abbas Kiarostami para escrever o roteiro. O longa representa um dos marcos do ciclo de “repopularização” do sempre cultuado cinema iraniano, complexo e demasiadamente artístico em décadas anteriores e que ganhou um novo fôlego a partir dos 90, aproximando e se inspirando ainda mais do naturalismo poético do cinema japonês e da sutileza do neorrealismo italiano.

"Badkonake Sefid" (1995) de Jafar Panahi - Ferdos Films | I.R.I.B. Channel 2 [ir]

O Ódio (La Haine, França, 1995)

Direção: Mathieu Kassovitz

Os desgastados e mais do que habituais chavões “soco no estômago” ou “tapa na cara da sociedade” podem funcionar muito bem para descrever a estreia de “O Ódio” nos cinemas da França em 1995. Filmado no melhor estilo do cinema-verdade, o segundo longa do jovem Mathieu Kassovitz salta aos olhos do espectador escancarando, de forma visceral, a antiga problemática social e institucional das infundadas e truculentas ações policiais contra as minorias, e as consequentes eclosões de motins contra àqueles que estão na rua para, teoricamente, proteger toda uma sociedade. O principal detalhe é que as retaliações partem de grupos de vândalos revoltosos, alienados e igualmente estapafúrdios.

Morador dos subúrbios de Paris, Abdel (Abdel Ahmed Ghili) é um jovem imigrante árabe que chega inconsciente a um hospital após ser violentamente espancado por policiais. O rapaz corre risco de vida e, pelo fato do ataque ter transcorrido impunemente, acaba inspirando a revolta e o ódio de outros jovens que, assim como ele, moram no mesmo conjunto habitacional e também sofrem um tratamento diferenciado, simplesmente por não serem legítimos cidadãos franceses. Entre eles estão Vinz (Vincent Cassel), um judeu raivoso e pouco inteligente; Saïd (Saïd Taghmaoui), norte-africano mais sereno, mas profundamente preocupado com o seu incerto futuro; e um não menos inconformado Hubert (Hubert Koundé), negro e boxer que, dos três, é o mais maduro e centrado, justamente por conseguir canalizar a raiva em suas lutas.

Naturalmente propensos à violência, os três amigos passam toda uma noite em conflito com a polícia e, embora estejam consumidos pela ira, cada um toma conta das ações dos outros, de forma que a situação não saia totalmente do controle. O cenário muda quando um dos policiais perde a sua arma totalmente carregada em mais um violento evento. Ela acaba caindo nas mãos de Vinz que, disposto a descarregá-la, promete matar um policial para “igualar o placar” caso Abdel não resista aos ferimentos.

Transparecendo a realidade nua e crua sem abrir mão da originalidade, “O Ódio” é simplesmente o espelho das inúmeras sociedades contemporâneas (principalmente aquelas de grandes e heterogêneos aglomerados urbanos) que se encontram em um devastador e irreversível colapso e que ainda incorporam, em sua desajuizada filosofia, mais um batido clichê: o “olho por olho, dente, por dente”.

"La Haine" (1995) de Mathieu Kassovitz - Canal+ [fr] | Confinergie 6 | Egg Pictures [us] | Kasso Inc. Productions
La Sept Cinéma [fr] | Les Productions Lazennec [fr] | Polygram Filmed Entertainment [us] | Studio Image [fr]

Antes do Amanhecer (Before Sunrise, Estados Unidos | Áustria | Suíça, 1995)

Direção: Richard Linklater

“Antes de Qualquer Coisa”, é importante dizer que aquele toque de conquista mágico e emocionalmente forte que Céline (Julie Delpy) e Jesse (Ethan Hawke) levaram para as telas (há exatos 20 anos!) continua encantando e inspirando os mais pirados e enlouquecidos casais do mundo. Dirigido de forma comprometida e soberba por Richard Linklater, “Antes do Amanhecer” talvez seja o romance mais intenso e verdadeiro que o cinema foi capaz de registrar. O filme se tornou um clássico imediato, fazendo com que um incontável número de fãs se apaixonassem instantaneamente pelo casal (assim como ocorreu com os próprios protagonistas durante o longa).

Após se conheceram em uma viagem de trem pela Europa, a ponderada e tímida estudante francesa e o carismático e aventureiro americano começam a trocar as suas impressões sobre a vida e sobre o mundo, e logo sentem grande empatia um pelo outro. Em uma das paradas, Jesse convida Céline para descer e passar o resto do dia com ele, ajudando-o a vencer uma “tediosa coleção de horas” que enfrentaria sozinho em um aeroporto, esperando a sua volta para os Estados Unidos até o amanhecer. Céline aceita a proposta e, a partir daí, acompanhamos o gradativo e abrasado envolvimento dos dois, tendo como cenário uma belíssima e romântica Viena. Os diálogos acabam tomando caminhos ainda mais interessantes e os dois jovens começam a conversar, inclusive, sobre a própria relação, colocando em prática as conclusões a que chegam juntos e refazendo a si mesmos, um através do outro. Permeados pela certeza de que terão muito pouco tempo juntos, Céline e Jesse farão de sua única noite um instante inesquecível e, se possível, eterno.

Romântico sem sequer se aproximar da fronteira do piegas, “Antes do Amanhecer” é um filme de rara preciosidade, pois transcende qualquer definição de gênero cinematográfico. Assim como o cruelmente belo “Antes do Pôr-do-Sol” (2004) e o asfixiante “Antes da Meia-Noite” (2013), também protagonizados por Delpy e Hawke e dirigidos por Linklater, o primeiro filme dessa apaixonante trilogia trata o relacionamento amoroso das personagens de maneira limpa, honesta e verdadeira. A explosão hormonal e o incontido espírito de descobertas deste dará lugar às cicatrizes da maturidade e as rugas de uma dilacerante harmonia nos demais, brindando, de forma decorosa, a vida e o amor.

Entretanto, “Antes do Amanhecer” é como tudo na vida deveria ser... Lindo demais!

"Before Sunrise" (1995) de Richard Linklater - Castle Rock Entertainment [us] | Detour Filmproduction [us]
Filmhaus Wien Universa Filmproduktions [at] | Sunrise Production | Columbia Pictures Corporation [us]

Apollo 13 - Do Desastre ao Triunfo (Apollo 13, Estados Unidos, 1995)

Direção: Ron Howard

O espírito desbravador da Humanidade e os Seus consequentes sonhos e desejos de conquistas (cada vez maiores!) acompanham-na desde a pré-história. Visto de fora e de muito longe, aquele pequeno ponto azul no universo pode até ser compreendido como uma unidade de força, cooperação e resistência entre seus pares. Voltando para a superfície e observando tudo daqui mesmo, entendemos que a controversa e polêmica chegada à Lua, em 1969, representou mais um grandioso capítulo e um salto gigantesco para a Sua história e, talvez, para estes que (aqui) vivem a tal “Humanidade”. Entretanto, os pequenos passos que foram dados por estes homens, Seus humildes representantes, enfrentaram (e ainda enfrentam) caminhos ásperos, tortuosos e problemáticos.

Das sete missões tripuladas do “Programa Apollo” que sucederam a triunfal jornada da Apollo 11, seis obtiveram êxito. Uma, contudo, se transformou numa verdadeira dor de cabeça e se configurou como um quase desastre. O filme reconta o drama dos astronautas Jim Lovell (Tom Hanks), Fred Haise (Bill Paxton) e Jack Swigert (Kevin Bacon) e redesenha a miraculosa estratégia de resgate da NASA que pretendia trazê-los de volta à Terra logo após um tanque de oxigênio explodir, colocando a vida destes homens, a bordo da missão Apollo 13, em risco. Encabeçadas pelo astronauta Ken Mattingly (Gary Sinise) e pelo diretor de voo Gene Kranz (Ed Harris), a equipe responsável pelo monitoramento da Missão deveria tirar da cabeça de Lovell e de seus companheiros a terrível sensação da certeza de não retorno para a casa e lutar com frieza para que a tragédia não fosse consumada.

Ocorrido em 1970, o incidente seria, até então, o maior desastre da história em relação à navegação espacial dos Estados Unidos. Explorar o espaço de forma destemida e em segurança continuou sendo um desafio, afinal, anos mais tarde, as tragédias da Challenger, em 1986, e da Columbia, em 2003, fizeram os sonhos mitológicos de Ícaro parecerem pequenos e os problemas de Houston ainda maiores perto de tamanha imponência. O longa do diretor Ron Howard foi lançado entre os dois acidentes, reforçando que os instintos primitivos de se lançar ao desconhecido são maiores que os próprios desejos de sobrevivência da Humanidade.

"Apollo 13" (1995) de Ron Howard - Universal Pictures [us] | Imagine Entertainment [us]

Seven: Os Sete Crimes Capitais (Se7en, Estados Unidos, 1995)

Direção: David Fincher

Diretor de videoclipes musicais e da sequência não tão grandiosa de “Alien3 (1992), David Fincher mostrou realmente ao que veio quando estreou seu segundo longa-metragem, o thriller psicológico “Seven: Os Sete Crimes Capitais”. A ardilosa e bem conjugada trama é mais um dos grandes clássicos modernos da década de 90 que ajudou a redefinir e reinventar alguns padrões dos gêneros de suspense e dos filmes policiais ao retratar (em um roteiro cautelosamente bem escrito por Andrew Kevin Walker) a mente engenhosa de um serial killer que escolhe as suas vítimas e baseia os seus assassinatos de acordo com a ordem dos sete pecados capitais.

O meticuloso “modus operandi” deste criminoso começa a ser desvendado na divisão de homicídios de uma delegacia, onde o jovem impetuoso e impulsivo David Mills (Brad Pitt) chega para assumir o lugar do veterano e experiente William Somerset (Morgan Freeman), que está há apenas uma semana de reformar-se. Juntos, os distintos detetives são escalados para trabalhar e tentar concluir esta intrigante e perigosa investigação. A maturidade e a sapiência de Somerset se equilibram com o temperamento voraz de Mills, entretanto, quando Tracy Mills (Gwyneth Paltrow), esposa de David, é envolvida neste embuste homicida, observamos a caçada ao assassino se tornar desesperada e, de certa forma, selvagem.

Ao final, as confissões e declarações frias do sociopata calculista (interpretado de forma magistral por Kevin Spacey) soam temerosamente cruéis, mas também são coerentes, profundas e verdadeiras. É chocante pensar nisto, mas a absolvição de um mundo ignorante talvez seja plenamente justificada pelos crimes desse assassino e alicerçadas, sobretudo, pelos pecados cometidos pelas vítimas ao longo de suas vidas.

Contundente e categórico, “Seven: Os Sete Crimes Capitais” definiu a assinatura poderosa de David Fincher, colocando-o no hall dos cineastas mais ousados e surpreendentes deste novo cenário da indústria cinematográfica, repleto de obras inteligentes e impactantes, como os seus posteriores e poderosos “Clube da Luta” (1999) e “O Quarto do Pânico” (2002). Recentemente, sua proficiência foi ressalvada com outro sucesso competentemente bem concebido, o paranoico “Garota Exemplar” (2014).

"Se7en" (1995) de David Fincher - Cecchi Gori Pictures [us] | Juno Pix | New Line Cinema [us]

É isso! E para relembrar os filmes apresentados anteriormente nessa retrospectiva, basta nos acompanhar visitando os artigos ou clicando nos links correspondentes a seguir:

PARTE I                              PARTE II

E aguardem! No final da próxima semana concluiremos essa revisão cinematográfica especial de julho com os últimos filmes na Parte IV, que promete revelar mais cinco títulos inesquecíveis!

Não deixem de conferir! Até lá...

Nenhum comentário:

Postar um comentário