terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Feito no Brasil | Os Dez Melhores Filmes Nacionais de 2018

Renegado por muitos, execrado por vários outros, o Cinema Brasileiro sobrevive a mais um ano extremamente difícil – não só para os seus meios de produção e distribuição internos, mas sim para a construção e manutenção da identidade cultural do país como um todo e junto das demais formas de expressões artísticas. Fato que não pode ser negado é o de que, apesar desse angustiante período de turbulências, os profissionais da área continuam trabalhando de maneira firme e corajosa para entregarem projetos cada vez mais audaciosos e inventivos que ainda colocam o Brasil entre os principais mercados cinematográficos do planeta.

Procurando garantir um espaço cativo para boa parte das produções nacionais lançadas a cada semana, o Rotina Cinematográfica vem, pelo quarto ano consecutivo, apresentar a sua lista com os melhores filmes da temporada. Destacaremos as dez obras que mais nos chamaram a atenção ao longo de 2018, sempre acreditando e batalhando para que todas elas conquistem um espaço maior em nossos circuitos de exibição no futuro – afinal, divulgar e valorizar o nosso cinema é uma atividade extremamente necessária!

Antes de divulgarmos a relação final, é importante lembrar que os critérios adotados para estabelecer quais seriam os títulos escolhidos para compor essa seleção são subjetivos e ficam restritos apenas aos filmes que estrearam em 2018 nas salas de cinema do país através do circuito comercial, ou aqueles lançados diretamente em vídeo ou em plataformas de streaming.

Depois deste breve esclarecimento, acompanhem agora a nossa Lista com Os Dez Melhores Filmes Nacionais de 2018 (em ordem decrescente):

10º. LUGAR: “O ANIMAL CORDIAL”

(O Animal Cordial, Brasil, 2017) - de Gabriela Amaral Almeida

Data da Estreia: 9 de agosto de 2018

Malicioso, sagaz e extremamente tenso, “O Animal Cordial” carrega todo o fôlego e potência que o prodigioso cinema de gênero que vem sendo realizado no país precisa para continuar conquistando a crítica e o público em geral. Assim como em seus aclamados curtas, a realizadora Gabriela Amaral Almeida consegue, mais uma vez, equilibrar muito bem as doses de horror e de suspense para criar subterfúgios que enganem o espectador a partir de eventos comuns que começam a tomar rumos absolutamente inesperados. Inácio (Murilo Benício) é dono de um sofisticado restaurante de classe média alta na cidade de São Paulo que, próximo ao fim do expediente, acaba sendo surpreendido por dois bandidos armados que invadem o seu estabelecimento e dão início a um violento jogo de descortesias e inospitalidades.

Despido de sua aparente civilidade, Inácio começa a confrontar Magno (Humberto Carrão), um dos criminosos, dando início a um embate físico e psicológico que se prolongará por toda a madrugada e que também passa a envolver sua fiel atendente Sara (Luciana Paes), o desconfiado cozinheiro Djair (Irandhir Santos), bem como os três últimos clientes que ainda jantavam no momento do assalto. A partir desse ponto, as reviravoltas provocadas pelos personagens criam dinâmicas sufocantes em um ambiente dominado pela hostilidade, preconizando a frenética luta pela sobrevivência em um espaço restrito. Ao final, podemos observar através deste brilhante e cuidadoso estudo de personalidades que, da persuasão à loucura, o ser humano pode alcançar o cerne de sua brutalidade desenvolvida em seu substrato emocional mais profundo.

"O Animal Cordial" (2017) de Gabriela Amaral Almeida - RT Features [br] | Canal Brasil [br]

9º. LUGAR: “BENZINHO”

(Benzinho, Brasil | Uruguai | Alemanha, 2018) - de Gustavo Pizzi

Data da Estreia: 23 de agosto de 2018

Carregado por uma força emocional contagiante, “Benzinho” arranca lágrimas de qualquer pessoa que o assista, justamente por despertar sensações tão afetuosas e singelas que as fazem relembrar dos mais íntimos e sinceros convívios familiares e por demonstrar que essa relação nem sempre é uma maravilha, sobretudo quando os conflitos naturais entre pais e filhos passam a desencadear uma angustiante espiral de sentimentos. Tentando administrar a instabilidade financeira do marido e os atritos conjugais da irmã, Irene (Karine Teles) ainda precisa de toda energia e versatilidade que uma mãe de quatro filhos possui para colocar em ordem uma casa que sempre parece estar virada do avesso. Seus problemas parecem dobrar de tamanho quando Fernando (Konstantinos Sarris), seu primogênito, recebe um convite para jogar handebol profissionalmente na Alemanha.

Uma avalanche de ansiedades e incertezas invadem a vida dessa família. Alegrias, chateações e sofrimentos passam a fazer parte da rotina de cada um dos personagens e ajudam a compor essa história absolutamente apaixonante, um legítimo recorte da brasileiríssima expressão “gente como a gente” condensado nos olhos marejados de Irene que revelam o sentimento de saudade que vai preenchendo a tela nos momentos finais do filme, mesmo antes de Fernando partir para a sua jornada de descobertas. Auxiliado por um elenco de apoio poderoso, que conta com os nomes de Adriana Esteves, César Troncoso e Otávio Müller, o diretor e produtor Gustavo Pizzi demonstra muito arrojo e maturidade ao conduzir o segundo trabalho em longa-metragem, mesmo após um intervalo de oito anos que separam os lançamentos de “Benzinho” e do não menos inventivo “Riscado” (2010).

"Benzinho" (2018) de Gustavo Pizzi - Bubbles Project [br] | TV Zero [br] | Baleia Filmes [br] | Mutante Cine [uy]

8º. LUGAR: “HISTÓRIAS QUE NOSSO CINEMA (NÃO) CONTAVA”

(Histórias que Nosso Cinema (não) Contava, Brasil, 2018) - de Fernanda Pessoa

Data da Estreia: 23 de agosto de 2018

Com uma premissa absurdamente brilhante, “Histórias que Nosso Cinema (não) Contava” reescreve parte da memória cultural coletiva brasileira através de um pequeno recorte do período da ditadura militar retratado de forma icônica em uma compilação de trechos dos mais famosos filmes da era da pornochanchada, gênero cinematográfico de teor cômico e erótico que invadiu e dominou as telas do país ao longo das décadas de 70 e 80. Fora a nudez e o sexo, esse fenômeno popular camuflava o seu viés crítico ao brincar com a (in)consciência de uma sociedade que tratava com humor o machismo, a homofobia e o racismo, temas considerados tabus à época. Por outro lado, o senso de civilidade dava as caras ao discutir abertamente assuntos inqualificáveis como a luta armada e a violência do Estado, por exemplo.

As mensagens estavam ali para quem quisesse absorver, em parte, muito graças ao perfil dissimulado de alguns diretores que driblavam a censura para conseguir deixar fragmentos de seus recados impressos nas películas, tal como as denúncias praticamente silenciosas e quase martirizáveis contra a tortura – ou, simplesmente, por aqueles que tentavam vender a ideia do “milagre econômico” pormenorizada pela modernização do Brasil nos chamados “anos de chumbo”. É de se louvar o árduo e minucioso processo de pesquisa da cineasta Fernanda Pessoa, que teve o cuidado de selecionar cena por cena das dezenas de filmes que foram incluídos no corte final; tudo isso somado ao categórico e impecável trabalho de montagem de sua equipe transformam este documentário em mais um importante instrumento de investigação da nossa história política e social.

"Histórias que Nosso Cinema (não) Contava" (2018) de Fernanda Pessoa - Pessoa Produções [br] | Studio Riff [br]

7º. LUGAR: “BARONESA”

(Baronesa, Brasil, 2017) - de Juliana Antunes

Data da Estreia: 14 de junho de 2018

Legítimo representante do Cinema de Guerrilha, “Baronesa” mistura o documentário e a ficção para retratar, de forma íntegra e corajosa, o cotidiano sofrido de comunidades humildes que tentam se desenvolver à margem dos impiedosos avanços de uma grande metrópole. Lidando com a opressão habitual que marca essa escala de interações, a câmera procura conquistar o seu espaço em um ambiente que, na maioria das vezes, ainda insiste em ser atroz, misógino e truculento. As lentes passam então a registrar a relação de cumplicidade entre Andreia e Leidiane, amigas de longa data que moram em casas vizinhas na Vila Mariquinhas, situada na Zona Norte de Belo Horizonte. As duas vivem compartilhando angústias, receios, sonhos e planos para o futuro; mas quando um anunciado conflito entre traficantes interrompe uma dessas conversas, Andreia pensa em deixar o bairro imediatamente.

Áspero, poético e puramente verdadeiro, o filme não economiza em clemência e nem em intensidade ao tratar a relação direta do ser humano com a violência sob o ponto de vista feminino, o que acaba alumiando a personalidade forte e visceral de suas protagonistas. Vencedor da Competitiva Aurora na Mostra de Cinema de Tiradentes em 2017, o vigoroso longa-metragem de estreia de Juliana Antunes enriquece ainda mais a atual safra do cinema mineiro, colocando em evidência uma grande geração de jovens cineastas que vêm se destacando no cenário nacional desde o início desta última década. Com narrativas inquietas e questionadoras, as produções independentes realizadas no Estado procuram estampar nas telas o quanto é dura a vida nas periferias.

"Baronesa" (2017) de Juliana Antunes - Ventura [br] | Filmes de Plástico [br] | Katásia Filmes [br] | Pepeka Pictures [br]

6º. LUGAR: “PELA JANELA”

(Pela Janela, Brasil | Argentina, 2017) - de Caroline Leone

Data da Estreia: 18 de janeiro de 2018

Afeita ao magnetismo do teatro e com algumas participações de destaque na televisão, a veterana atriz Magali Biff ainda não havia demonstrado todas as suas qualidades em uma tela de cinema até se envolver de três projetos muito interessantes ao longo de 2017, dentre os quais o doloroso e inspirador “Pela Janela”, filme no qual é a grande protagonista, vem recebendo constantes elogios desde a sua estreia no início do ano. A trama se desenvolve a partir de uma difícil situação enfrentada por sua personagem, Rosália, uma modesta operária que passou a maior parte da vida se dedicando ao trabalho como chefe da linha de produção em uma moderna fábrica de reatores elétricos na periferia de São Paulo. De forma inesperada, ela acaba sendo dispensada, pois o patrão alega que não é mais necessário mantê-la no quadro da empresa.

Abatida e emocionalmente desmoronada, Rosália busca conforto nos enternecidos braços do irmão, José (Cacá Amaral), que trabalha como motorista particular de uma tradicional família rica. Com medo que a irmã mergulhe em um estado depressivo mais grave, ficando sozinha na casa que dividem, ele decide fazer um convite para que ela o acompanhe em uma viagem de carro até Buenos Aires. Da mais sincera relação de cumplicidade entre os dois, surge o mote que norteia esta comovente jornada de autoconhecimento na qual Rosália, apesar de relutar, começa a abrir janelas para se reconhecer em mundos completamente diferentes, mesmo estando tão próxima de realidades sociais tão semelhantes à sua.

"Pela Janela" (2017) de Caroline Leone - Dezenove Som e Imagem [br]

5º. LUGAR: “AS BOAS MANEIRAS”

(As Boas Maneiras, Brasil | França | Alemanha, 2017) - de Juliana Rojas e Marco Dutra

Data da Estreia: 7 de junho de 2018

Em franco crescimento no mercado de produção audiovisual, o cinema de gênero feito no Brasil apresenta aspectos tão peculiares que já é capaz de dominar os ambientes aonde reverberam a ambição e a ousadia, expressas tanto em suas novas formas de abordagem quanto nas suas principais influências externas. Maiores nomes do segmento na contemporaneidade, Juliana Rojas e Marco Dutra misturam – mais uma vez – fantasia e realidade para compor aquele que talvez seja o projeto cinematográfico mais criativo dessa temporada. “As Boas Maneiras” conta a extraordinária história de Clara (Isabél Zuaa), contratada para acompanhar os últimos dias da gestação de sua nova patroa, a rica e solitária Ana (Marjorie Estiano), auxiliando nos atuais e futuros cuidados com o bebê e organizando os demais afazeres domésticos em um enorme apartamento de um bairro nobre de São Paulo.

As duas acabam desenvolvendo um forte e afetuoso vínculo de amizade, mas o sobrenatural começa a interferir de forma direta nessa relação quando Ana passa a apresentar comportamentos cada vez mais estranhos em noites de lua cheia. Manifestadas através de atitudes agressivas que afloram uma avidez carnal e sanguinolenta, as suas constantes crises de sonambulismo são responsáveis por descortinar a atmosfera de medo e desejo que define, com absurda subjetividade e sutileza, as bases para um espantoso, sufocante e violento terror psicológico. Marcado pela transição súbita entre o primeiro e o segundo atos, os diretores continua demonstrando condescendência frente aos recortes sociais que fez, mesmo após o impetuoso relaxamento que imprimem na narrativa. Por outro lado, o filme não deixa de transferir todas as alegorias e fabulações para a tela, ao mostrar Clara, anos depois, tendo de cuidar de Joel (Miguel Lobo), rebento licantropo de Ana.

"As Boas Maneiras" (2017) de Juliana Rojas e Marco Dutra - Canal+ [fr]
Centre National de la Cinématographie (CNC) [fr] | Dezenove Som e Imagem [br] | Filmes do Caixote [br]
Globo Filmes [br] | Good Fortune Films [fr] | Urban Factory [fr] | ZDF/Arte [de]

4º. LUGAR: “PRAÇA PARIS”

(Praça Paris, Portugal | Argentina | Brasil, 2017) - de Lúcia Murat

Data da Estreia: 26 de abril de 2018

Glória (Grace Passô) trabalha como ascensorista na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Ao longo do dia, centenas de pessoas transitam apressadas pelo seu elevador sem sequer trocar o mínimo de cordialidades – atitudes que praticamente transformam a operadora em mais uma das milhares de criaturas que vagam invisíveis aos olhos da sociedade. Moradora do Morro da Providência, favela mais antiga do país, ela ainda precisa de muita coragem para continuar levando a vida adiante, mesmo enfrentando alguns problemas com o irmão, preso por chefiar o tráfico local, e tendo que lidar com os traumas adquiridos através do convívio com um pai extremamente abusivo durante a infância. Decidida a mudar os rumos de seu destino, Glória passa a frequentar sessões terapia oferecidas gratuitamente pela própria UERJ.

Ela começa a ser atendida por Camila (Joana de Verona), uma jovem portuguesa que chegou ao Brasil para concluir os estudos de pós-graduação em psicanálise e violência urbana. A partir desse momento, a construção da narrativa passa a incomodar o olhar benévolo do espectador, que passa a acompanhar, de forma apreensiva, o clima de tensão que cresce a cada consulta, justamente por reunir na mesma sala duas mulheres de mundos absolutamente diferentes. Enquanto uma delas enxerga na própria vivência a chance para exorcizar todos os seus demônios, a outra – aparentemente mais preparada para lidar com os dilemas da racionalidade – se encontra completamente perdida ao perceber que um mundo construído por significações não se encaixa em uma realidade hostil. Com uma direção precisa que traça uma crítica forte, mas ao mesmo tempo sensível, ao cotidiano perverso de uma grande cidade, Lúcia Murat entrega ao público uma de suas obras mais complexas e urgentes.

"Praça Paris" (2017) de Lúcia Murat - CEPA Audiovisual [ar] | Fado Filmes [pt] | Rede Telecine [br] | Taiga Filmes [br]

3º. LUGAR: “CAFÉ COM CANELA”

(Café com Canela, Brasil, 2017) - de Ary Rosa e Glenda Nicácio

Data da Estreia: 23 de agosto de 2018

Longa-metragem de estreia de Ary Rosa e Glenda Nicácio, promissora dupla de cineastas baianos, “Café com Canela” vai até o coração do Recôncavo para nos apresentar o cotidiano de uma comunidade humilde que se sustenta na base do afeto, da amizade e da resistência para sobreviver ao tortuoso caminho de encontros e desencontros que todo ser humano deve percorrer ao longo de sua breve existência. Reunidos em um animado churrasco na casa de Violeta (Aline Brunne), um grupo de amigos começa a relembrar alguns dos fatos que permanecerão marcados na vida de cada um – que vão desde de situações constrangedoramente engraçadas, passando por inspiradoras histórias de amor, e chegando até aos relatos mais comoventes sobre a irreparável dor de se perder alguém tão querido.

A partir do registro desse encontro, voltamos no tempo para mergulhar profundamente nos dramas de Margarida (Valdinéia Soriano), uma mulher amargurada que decide se afastar de qualquer tipo de convívio social após a morte do filho. Ela se separa do marido, perde o contato com os amigos mais próximos e acaba se isolando por completo no interior de sua residência. Através de fragmentos narrativos que, de maneira proposital, não obedecem uma cronologia linear, procuramos entender quais os reais motivos que levaram à essa clausura e nos emocionamos com a sensível jornada de redescobertas e transformações que Margarida vive a partir do momento em que Violeta bate à sua porta. Poética e extremamente representativa, a realização de “Café com Canela” abala toda uma estrutura sentimental ao evocar as virtudes mais singelas e poderosas que emanam da alma e que são tão caras à construção de nossa identidade moral.

"Café com Canela" (2017) de Ary Rosa e Glenda Nicácio
Rosza Filmes Produções [br] | Arco Audiovisual [br] | Petrobrás [br]

2º. LUGAR: “PIRIPKURA”

(Piripkura, Brasil, 2017) - de Mariana Oliva, Renata Terra e Bruno Jorge

Data da Estreia: 1º de março de 2018

Pelo segundo ano consecutivo, um documentário que aborda de forma tão clara os principais desafios da questão indígena e o absurdo retrocesso em relação às políticas de demarcação de terras figura na lista de melhores filmes brasileiros do ano, demonstrando o quanto essas discussões continuam urgentes em nosso país. “Piripkura” acompanha de perto os desafios de Jair Candor, servidor de carreira da FUNAI, que há quase 30 anos luta para manter contato com Pakyî e Tamandua, últimos sobreviventes da etnia nômade que dá nome ao filme. Os índios vivem em uma pequena faixa de reserva florestal no Estado do Mato Grosso que, ano após ano, se encontra cada vez mais pressionada pelos implacáveis avanços de grandes fazendas e da indústria madeireira.

As expedições lideradas por Jair ganham a eventual companhia de Rita, irmã de Pakyî e tia de Tamandua, terceira remanescente da tribo que há muito tempo procurou refúgio em outra região, justamente por temer a violência que estava dizimando o seu povo. Envolto nos debates de questões sociais, o altruísmo é constantemente massacrado pelo insensato jogo de interesses que não dá a mínima para a preservação do patrimônio histórico e ambiental. Equilibrados entre a crueza e a sensibilidade, os olhares de Mariana Oliva, Renata Terra e Bruno Jorge capturam, com extremo arrojo e precisão, os capítulos mais importantes dessa sedutora crônica de resistência – que acaba sendo construída na base do acaso através de um desfecho emocionante que transcende os limites da humanidade ao registrar o raro encontro entre o indigenista e os nativos.

"Piripkura" (2017) de Mariana Oliva, Renata Terra e Bruno Jorge
Zeza Filmes [br] | Maria Farinha Filmes [br] | Grifa Filmes [br]

1º. LUGAR: “ARÁBIA”

(Arábia, Brasil, 2017) - de Affonso Uchôa e João Dumans

Data da Estreia: 5 de abril de 2018

Após ser consagrado como o grande vencedor da 50ª edição do Festival de Brasília, realizada em 2017, “Arábia” já se transformava em um dos maiores clássicos contemporâneos do Cinema Brasileiro, justamente pelo fato de abordar, de forma bastante engajada, temáticas tão caras à realidade e ao momento delicado pelo qual a nossa sociedade vem passando. Com uma narrativa densa e essencialmente humana, o longa traça a dramática jornada emocional de Cristiano (Aristides de Sousa), um homem solitário que decide cair na estrada para tentar ganhar a vida. Ele é apenas mais uma daquelas criaturas socialmente invisíveis, um indivíduo marginalizado que jamais teria a sua a história conhecida caso não tivesse sido vítima de um trágico acidente de trabalho em uma siderúrgica na cidade de Ouro Preto.

Auxiliando nos cuidados com o servidor hospitalizado, o jovem André (Murilo Caliari) acaba encontrando um simples caderno quando vai à casa de Cristiano para resgatar alguns de seus pertences. O que por acaso se descobre ao folhear algumas das páginas é que o operário mantinha uma espécie de diário manuscrito no qual rabiscava impressões sobre cada um dos destinos tomou, reflexões acerca dos aprendizados que acumulou em cada experiência profissional e lamentos por conta dos amigos e dos amores que foi deixando pelo caminho. Livremente inspirado em um dos contos do livro “Dublinenses” de James Joyce, o roteiro escrito por Affonso Uchôa e João Dumans é sustentado por uma linguagem absolutamente particular que, de certo modo, consegue absorver as principais questões políticas do país e transferir para o âmago pessoal de seu protagonista que, por sua vez, retransmite todos os seus dilemas e insatisfações para uma realidade mais palpável.

"Arábia" (2017) de Affonso Uchôa e João Dumans - Katásia Filmes [br] | Vasto Mundo [br]

Para finalizar, é importante ressaltarmos que uma lista com apenas dez títulos é muito pequena frente ao grande número de produções de qualidade que foram lançadas ao longo deste último ano. Filmes que sempre nos farão querer descobrir um pouco mais sobre todos os tipos cinema que vêm sendo feitos na nossa própria casa. Dessa forma, resolvemos incluir mais uma pequena relação de trabalhos que também se encaixam em algumas categorias que julgamos importantes. Confira:

Também mereceram destaque este ano: “Aos Teus Olhos” (2017) de Carolina Jabor; “Todos os Paulos do Mundo” (2017) de Rodrigo de Oliveira e Gustavo Ribeiro; “O Desmonte do Monte” (2018) de Sinai Sganzerla; “Ex-Pajé” (2018) de Luiz Bolognesi; “O Processo” (2018) de Maria Augusta Ramos; e “Tropykaos” (2018) de Daniel Lisboa.

Não vimos e nem veremos: “O Candidato Honesto 2” (2018) de Roberto Santucci.

Ainda faltam ser conferidos: “Canastra Suja” (2016) de Caio Sóh; “Super Orquestra Arcoverdense de Ritmos Americanos” (2016) de Sérgio Oliveira; “O Beijo no Asfalto” (2018) de Murilo Benício; “Ferrugem” (2018) de Aly Muritiba; “A Moça do Calendário” (2018) de Helena Ignez; e “Tinta Bruta” (2018) de Filipe Matzembacher e Marcio Reolon.

Podem obter grande destaque em 2019: “Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos” (2018) de João Salaviza e Renée Nader Messora; “Humberto Mauro” (2018) de André Di Mauro; “A Sombra do Pai” (2018) de Gabriela Amaral Almeida; “Temporada” (2018) de André Novais Oliveira; “Tito e os Pássaros" (2018) de Gustavo Steinberg, Gabriel Bitar e André Catoto; e “Turma da Mônica: Laços” (2019) de Daniel Rezende.

Maior expectativa para 2019: “Sócrates” (2018) de Alex Moratto.

(*) Lembrando que críticas, apontamentos de injustiças ou esquecimentos podem ser expressos nos comentários... ;-)

(**) Também não descartaremos os elogios! :-D

Confira também as listas com “Os Dez Melhores Filmes Nacionais” elaboradas pelo Rotina Cinematográfica em anos anteriores:

2017       -       2016       -       2015

Nosso maior desejo é que ao ano de 2019 continue nos presenteando com filmes tão espetaculares e importantes quanto os desta temporada! A cultura é essencial para a construção de nossa civilidade; e resistir a tempos de apatia será absolutamente fundamental nesses próximos meses. Nunca, mas nunca se esqueçam de valorizar o nosso produto...

VIVA SEMPRE O CINEMA NACIONAL!

Um comentário:

  1. Adorei a lista, Arábia com toda certeza foi a maior surpresa que tivemos esse ano. senti falta de Paraíso Perdido de Monique Gardenberg.

    ResponderExcluir