quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

20 Filmes que completam 20 Anos em 2018 | Parte I

Caminhando firme e tentando me equilibrar na corda bamba que mantém o ser humano vivo entre a descrença e a perseverança, pude refletir bastante ao longo das últimas semanas e tomar uma decisão sobre a continuidade ou não deste modesto blog. Muitos amigos vêm dizendo que se uma pessoa não deu pelo menos uma surtada em 2018, ela não soube viver o ano como deveria. Nesse momento eu fecho os olhos, respiro fundo, mantenho a calma, procuro levar essa máxima como um ensinamento e resolvo, por fim, tirar a ferrugem das falanges para retomar o exercício da escrita – como podem perceber.

Vai ser difícil, mas vou recomeçar com alguns rabiscos, ideias vagas sobre pares de filmes dos quais, num futuro que espero que não demore, eu ainda consiga desenvolver estudos mais claros e originais. Dessa forma, retomo as atividades com uma série de publicações que, de acordo com as minhas ideias iniciais, deveriam ser compartilhadas entre os meses de junho e julho de cada um dos anos correntes.

Como a maioria das pessoas, acredito que todos filmes devam ser submetidos à uma indeterminada e variável ação do tempo até serem encaixados em um patamar que, de fato, mereçam estar. É claro que uma boa parte deles já nascem como obras-primas instantâneas, mas tenho em mente que todos os outros precisem esperar o momento certo para receber a devida atenção ou o verdadeiro reconhecimento do público para que, enfim, também possam ser considerados trabalhos inesquecíveis e fundamentais dentro da eternizada linha evolutiva da História do Cinema.

Vinte anos habitando o imaginário coletivo de milhões de espectadores e fãs (ou sobrevivendo à duras e pesadas críticas de especialistas ao redor do mundo) talvez sejam mais do que suficientes para que qualquer filme venha a ser considerado um jovem clássico contemporâneo, ou para que alguma pérola desconhecida possa ser redescoberta por pesquisadores. Com base nesse recorte temporal, começarei a elencar uma série de importantes títulos da cinematografia internacional que foram produzidos e lançados no ano de 1998 totalizando, até a próxima quarta-feira, o número total de 20 filmes.

A lista será composta por obras que, de certa forma, se transformaram em peças cinematográficas atemporais devido à diferentes graus de subjetividade acumuladas por elas ao longo deste período (aclamação popular, participação em festivais, premiações ou reconhecimento da crítica). Começando com um dos maiores expoentes do cinema brasileiro, acompanhe agora o início dessa pequena retrospectiva que farei ao longo da semana e conheça, ou relembre, alguns grandes filmes que vem sobrevivendo ao tempo e que ainda mantêm todo o fôlego e vigor completando os seus 20 anos em 2018. Títulos essenciais que, se ainda não estão, já deveriam estar nas estantes (ou nos HDs) de qualquer cinéfilo.

Central do Brasil (Central do Brasil, Brasil | França, 1998)

Direção: Walter Salles

Vencedor do Urso de Ouro do Festival Internacional de Berlim em 1998 e do Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro em 1999, “Central do Brasil” conta a jornada emotiva e transformadora de Dora (Fernanda Montenegro) uma professora aposentada que tenta somar uma renda extra escrevendo cartas para analfabetos na estação Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Apesar de não possuir nenhum tato emocional, ela decide acolher Josué (Vinícius de Oliveira), um garoto humilde que acabara de perder a mãe em um acidente e que tenta desesperadamente encontrar o pai, figura qual nunca conheceu. Mesmo a contragosto, Dora embarca com Josué para o interior da Bahia, rumo ao sofrido coração de um país fascinante que ambos jamais imaginavam conhecer.

Em questão de prático reconhecimento, a trajetória do filme representa o ponto mais alto do cinema nacional nos primeiros anos da chamada “Retomada” e, para muitos, o capítulo mais importante da história de nossa filmografia. Mesmo com a premiada carreira internacional, “Central do Brasil” ainda carrega o peso de ter sido a última produção brasileira a figurar entre as finalistas da categoria de Melhor Filme Estrangeiro na cerimônia do Oscar. O constante vício de enaltecermos somente os vencedores das coisas que são convenientes pode acabar nos escondendo que toda a maestria e a simplicidade que Walter Salles empregou neste trabalho primoroso também está presente em muitos outros projetos realizados todos os anos por aqui.

"Central do Brasil" (1998) de Walter Salles - MACT Productions [fr] | Riofilme [br] | VideoFilmes [br]

Três é Demais (Rushmore, Estados Unidos, 1998)

Direção: Wes Anderson

Max Fischer (Jason Schwartzman) é um garoto perspicaz e desatinado que recebe uma bolsa de estudos para ingressar na tradicional Rushmore Academy, escola preparatória para jovens de famílias ricas. Correndo o risco de ser expulso por conta de suas notas, o rapaz decide participar das atividades extracurriculares oferecidas pela instituição e consegue obter destaque em praticamente todas elas. Mesmo sem nenhuma desenvoltura para o convívio social, Max começa a desenvolver uma distinta amizade com Herman Blume (Bill Murray), um milionário desencantado com a vida que busca forças para enfrentar uma crise de identidade. Ambos acabam se apaixonando pela professora Rosemary Cross (Olivia Williams), e é da estranheza desse triângulo amoroso que o destino dos personagens tomam substanciais rumos de mudança.

A partir do lançamento de “Três é Demais”, observamos uma característica peculiar que passa a se tornar cada vez mais recorrente no cinema de Wes Anderson, virtudes que ajudaram o promissor cineasta a estabelecer as bases narrativas de todos os seus projetos no futuro. Fugindo das variáveis básicas que fundamentam a construção de um bom drama, o diretor procura tratar com leveza as angústias e as confusões do ser humano e tenta registrar a jornada de superação de suas personagens com toda a coragem, frescor e originalidade que o nicho das produções indie contemporâneas se propõem a fazer, principalmente em comédias de conteúdo como essa.

"Rushmore" (1998) de Wes Anderson - American Empirical Pictures [us] | Touchstone Pictures [us]

A Maçã (Sib, Irã | França, 1998)

Direção: Samira Makhmalbaf

Consolidado como um dos movimentos culturais mais expressivos e originais da década de 90, o cinema iraniano se revelou para o mundo através de seu virtuosismo e da extrema capacidade de retratar, de maneira muito simples, a verdadeira essência de sua sociedade. Tamanho reconhecimento possibilitou que Samira Makhmalbaf, filha prodigiosa do aclamado cineasta Mohsen Makhmalbaf, chamasse atenção da crítica internacional com um belíssimo filme de estreia, tendo conduzido as gravações do projeto com apenas 18 anos de idade. Com roteiro assinado pelo pai, a jovem diretora inova na mistura entre documentário e ficção para recriar um dos episódios de natureza ética e moral mais surpreendentes já vivenciados em seu país.

A narrativa abraça a história real de Zahra e Massoumeh, duas irmãs que viveram trancafiadas dentro de casa por doze anos sem nenhum tipo de contato com o mundo exterior. Privadas de liberdade pelo conservadorismo e extremismo dos próprios pais, as meninas passam a ser amparadas pelo serviço de assistência social de Teerã e começam a enfrentar um difícil processo de adaptação e de reconhecimento de suas individualidades, além de tentarem assimilar as regras básicas de convívio na comunidade em que nasceram e que ainda irão continuar crescendo. “A Maçã” se configura, basicamente, como um doloroso estudo antropológico que debate os conceitos de alteridade e resignação frente as relações de interação e profunda dependência que o ser humano tem em relação ao outro e ao seu próprio destino.

"Sib" (1998) de Samira Makhmalbaf - Hubert Bals Fund [nl] | MK2 Productions [fr] | Makhmalbaf Productions [ir]

Quem vai Ficar com Mary? (There’s Something About Mary, Estados Unidos, 1998)

Direção: Bobby Farrelly e Peter Farrelly

Os pares de anos que popularizaram os videocassetes durante toda a década de 80 e o início dos anos 90 também contribuíram – e muito – para a explosão dos blockbusters. Além das megaproduções de apelo comercial massivo, muitos estúdios passaram a investir em trabalhos menores de jovens cineastas que, por sua vez, aproveitaram essa nova onda cultural para lançar projetos que remodelaram um gênero bastante comum no cinema criando, assim, o nicho das comédias levemente escatológicas. Com todas essas mudanças, o trabalho de garimpar pérolas em um profundo poço de inutilidades ficava cada vez mais difícil, exceto quando percebia-se a franca e pontual ascensão de diretores como os irmãos Bobby e Peter Farrelly, que tiveram uma estreia impressionante com o hilário “Debi & Lóide: Dois Idiotas em Apuros” em 1994.

Já no terceiro trabalho, a dupla demonstra um amplo controle da dissimulação (fator essencial para a construção de um bom roteiro de comédia) e do poder de provocar o público através de um flerte indefinido com o politicamente incorreto. “Quem vai Ficar com Mary?” gira em torno dos esforços de Ted Stroehmann (Ben Stiller) para reencontrar Mary Jensen (Cameron Diaz), a garota por quem era apaixonado no ensino médio, época em que era um nerd extremamente destrambelhado. Criando o pior cenário possível para essa busca, ele resolve contratar os serviços de Pat Healy (Matt Dillon), um detetive particular de reputação questionável que acaba se apaixonando pelo seu alvo de investigação.

"There's Something About Mary" (1998) de Bobby Farrelly e Peter Farrelly - Twentieth Century Fox [us]

O Chamado (Ringu, Japão, 1998)

Direção: Hideo Nakata

A assustadora e sufocante trama de “O Chamado” se desenlaça após um grupo de adolescentes começar a morrer de forma inexplicável dias depois de frequentarem juntos uma colônia de férias. A jornalista Reiko Asakawa (Nanako Matsushima) inicia uma investigação com base em uma fita VHS encontrada por ela junto aos pertences de sua sobrinha, uma das vítimas desse misterioso acontecimento. O conteúdo do vídeo apresenta imagens bizarras e perturbadoras que se relacionam diretamente com uma famosa lenda urbana. Diz-se que a pessoa que tiver contato com a gravação recebe uma ligação de alerta, anunciando que em sete dias ela irá morrer. Descrente de toda a história até ser acometida pela maldição, Reiko agora precisa correr contra o tempo para desvendar esse enigma sobrenatural e escapar da morte.

Tão sintomática quanto a explosão dos blockbusters no mercado hollywoodiano, a espantosa invasão de engenhosos filmes de suspense e terror em telas do oriente acabava por movimentar os paradigmas culturais do peculiar cinema asiático, sobretudo o japonês. Clássico contemporâneo do gênero, “O Chamado” inaugurou a safra de produções que por alguns anos sustentou uma nova febre entre cinéfilos e não cinéfilos de todo o mundo cativando, essencialmente, um público mais jovem. O surpreendente e vigoroso trabalho do diretor Hideo Nakata ainda foi o grande responsável por retroalimentar o desejo obsessivo que o establishment do entretenimento no ocidente sempre nutriu pelas refilmagens imediatas (a versão estadunidense do longa estreou apenas quatro anos depois do lançamento da original).

"Ringu" (1998) de Hideo Nakata - Basara Pictures [jp] | Imagica [jp] | Asmik Ace Entertainment [jp]
Kadokawa Shoten Publishing Co. [jp] | Omega Project [jp] | Pony Canyon [jp] | Toho Company [jp]

Continuem acompanhando as atualizações! No sábado darei sequência à lista com a publicação da PARTE II!

Até lá...

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