Ainda falta
um mês para o ano de 2015 acabar, e já é hora de começarem a pipocar pelas
redes sociais (e pela rede em geral) listas com Os Melhores Filmes do Ano. Em vista de algumas estreias que ainda aguardamos
ansiosos para dezembro, não pudemos chegar à conclusão de quais foram os nossos
filmes favoritos, aqueles que mais nos encantaram e aqueles que já podemos até
incluir nas nossas listas pessoais de Melhores
Filmes de Todos os Tempos (nós mesmos, já colocamos alguns).
A título de
informação, o nosso ranking anual será divulgado em breve, sendo que a contagem
final selecionará Os Dez Melhores Filmes
do Ano. Contando com aquelas famosas “injustiças pontuais”, tentaremos não
decepcionar ninguém!
Enquanto isso
não acontece, o Rotina Cinemeira traz para os seus leitores uma proposta
diferente e rara de ser elaborada por outros blogs e sites de entretenimento.
Quem segue o Nosso Blog desde o início de fevereiro (mês da sua criação) sabe
que reservamos um grande espaço para as produções nacionais, destacando e,
principalmente, promovendo muitos títulos que foram lançados recentemente e
que, por algum motivo, não obtiveram o destaque ou o reconhecimento que
merecem.
Dessa forma,
antes de divulgarmos a lista com os melhores do ano, resolvemos destacar (e
indicar!) as dez melhores produções nacionais de 2015, pois acreditamos que
elas merecem o mesmo espaço (ou um espaço até maior!) do que as demais
produções rodadas ao redor do mundo. Valorizar o Cinema Brasileiro é
FUNDAMENTAL!
Lembramos que
o critério escolhido para estabelecer os filmes que integram a lista final se
restringe somente aos filmes que estrearam
em 2015 nas salas de cinema do país através do circuito comercial, ou aqueles
lançados diretamente em Home Video ou VOD.
A lista não é
longa, mas os comentários a respeito de cada um dos filmes eleitos acabaram se
estendendo um pouco mais do que o esperado. Então, sem mais conversas, vamos à
Lista com Os Dez Melhores Filmes
Nacionais de 2015 (em ordem decrescente):
10º. LUGAR: “BEIRA-MAR”
(Beira-Mar,
Brasil, 2015) - de Filipe Matzembacher e Marcio Reolon
Data da Estreia: 5 de novembro de 2015
Premiado como
o Melhor Filme na Première Brasil da Mostra Novos Rumos do Festival do Rio em
2015, o longa-metragem de estreia dos jovens diretores porto-alegrenses Filipe
Matzembacher e Marcio Reolon busca desenvolver aspectos mais intimistas e
sóbrios aos dramas feitos sobre adolescentes e para adolescentes, atribuindo um
tom igualmente sério, mas muito mais introspectivo se comparado ao também
recente “Hoje eu quero Voltar Sozinho” (2014) de Daniel Ribeiro.
“Beira-Mar” acompanha a viagem de Martin (Mateus
Almada) e Tomaz (Maurício Barcellos), que passam um fim de semana imersos em um
universo próprio e comum aos dois. Alternando entre as distrações corriqueiras
dos jovens de suas idades e as reflexões sobre a iminência das
responsabilidades da vida adulta, os garotos se redescobrem e reforçam os seus
laços de amizade abrigados em uma casa de praia de uma cidade do litoral do Rio
Grande do Sul, à beira de um mar frio e revolto.
O filme
estreou há menos de um mês e, apesar de algumas críticas à crueza do roteiro e
à apatia dos protagonistas, acreditamos que essas “pequenas falhas” mais
contribuem do que atrapalham no desenvolvimento do seu enredo. A atuação tímida
e, por vezes, desconcertada dos atores ajudou, e muito, na composição de
personagens que, na realidade, vivem em uma fase de constantes erupções
emocionais e conflitos internos. “Beira-Mar”
ainda tem um belo caminho a ser trilhado!
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"Beira-Mar" (2015) de Filipe Matzembacher e Marcio Reolon - Avante Filmes [br] |
9º. LUGAR: “CAMPO DE JOGO”
(Campo
de Jogo, Brasil, 2015) - de Eryk Rocha
Data da Estreia: 23 de julho de 2015
Dentro de um
curtíssimo espaço de tempo, digamos, pouco mais de 90 minutos, o “País do
Futebol” (que há algum tempo já vinha sendo conhecido somente como o “País da
Copa”) agora tem que carregar consigo a amarga alcunha do “País do 7 a 1”. O
que muitos não sabem é que, não muito longe do Maracanã, palco sagrado do
espetáculo que jurávamos que participaríamos, o Brasil continua a ser a pátria
que carrega o esporte mais popular do mundo no seu DNA e na sua alma.
Distante dos
holofotes e dos “clicks” que miram os
maiores craques do mundo; e longe de qualquer esquema de corrupção que corra
dentro da poderosa e onipresente FIFA, “Campo
de Jogo” mostra que a paixão é muito mais valiosa que os milhões,
ressaltando que a importância do futebol ainda segue latente na cultura
brasileira. Ao acompanhar a decisão do Campeonato das Comunidades da Zona Norte
do Rio de Janeiro, o diretor Eryk Rocha conseguiu retratar, com raro requinte,
a sinergia perfeita entre a torcida, os jogadores, a bola e o campo que,
juntos, compõe uma atmosfera mística capaz de produzir aquilo que, um dia, a
nossa seleção nacional produzia com naturalidade: arte!
Desenvolta e
apaixonante, a câmera de Eryk ainda participa como mais uma personagem que
percorre e registra de muito perto a grande batalha travada por esses
jogadores, jovens da periferia carioca que canalizam e descarregam dentro de um
campo de terra batida todos os dramas da vida real e os maiores anseios com
relação ao futuro. Resumindo: “Campo de
Jogo” é pura emoção e transpiração!
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"Campo de Jogo" (2015) de Eryk Rocha - Canal Brasil [br] |
8º. LUGAR: “CHATÔ, O REI DO BRASIL”
(Chatô,
o Rei do Brasil, Brasil, 2015) - de Guilherme Fontes
Data da Estreia: 19 de novembro de
2015
Após quase 20
anos de espera, refilmagens e, principalmente, processos judiciais, “Chatô, o Rei do Brasil” chegou aos
cinemas acompanhado de um contundente desabafo do diretor Guilherme Fontes, que
teve o seu projeto engavetado por todo esse tempo devido a suspeitas de desvios
de verbas e sonegação fiscal. Fontes, que também chegou a ser condenado pela
justiça a ressarcir os cofres públicos, garante que produto final custou muito
menos do que se possa imaginar, afirmando ainda que se tornou uma vítima da
própria mídia e, ironicamente, do fantasma do personagem título de sua
produção.
Baseado na
obra homônima do escritor mineiro Fernando Morais, o sempre polêmico e
ambicioso longa romantiza, reverbera e embaraça a vida do magnata paraibano
Assis Chateaubriand, considerado um dos homens públicos mais influentes (e
manipuladores) da história recente do Brasil. Interpretado pelo extraordinário
Marco Ricca, Chatô, como também era reconhecido, se vê como o astro principal
de um programa de TV chamado “O
Julgamento do Século”, realizado bem no dia de sua morte. Neste programa
(na verdade, um delírio moribundo do “pai da televisão brasileira”) ele
reencontra com antigos amores e desafetos para um definitivo acerto de contas.
“Chatô, o Rei do Brasil” é uma obra extremamente recomendável,
não somente pela curiosidade e pela vontade de desmistificarmos a “lenda
urbana” na qual ela acabou se transformando. O filme é realmente muito bom! Um
épico “ainda moderno”, extremamente ousado e desafiador para a mente criativa
de um jovem cineasta (à época com apenas 29 anos). “Chatô” é original, irreverente e, sobretudo, transgressor!
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"Chatô, o Rei do Brasil" (2015) de Guilherme Fontes - Guilherme Fontes Produções [br] |
7º. LUGAR: “CÁSSIA”
(Cássia,
Brasil, 2015) - de Paulo Henrique Fontenelle
Data da Estreia: 29 de janeiro de 2015
Sempre
lembrada por sua inquietude característica, Cássia Eller conquistou uma legião
de fãs em uma carreira breve, porém apaixonante. Essa (des)ditosa e típica
inquietude era sempre exorcizada nos palcos através de sua rebeldia, despudor e
agressividade ou, por outras vezes, resguardada pela sua timidez e humidade.
Buscando retratar uma vida guiada por esse equilíbrio (ou pela falta dele), o
diretor Paulo Henrique Fontenelle constrói um documento raro e extremamente
tocante não só sobre a voz inesquecível ou sobre o legado que Cássia deixou
para a música brasileira. Ela era também mulher, filha, esposa e mãe!
Com um
excepcional e rico acervo fotográfico, além de registros inéditos em vídeo, o
documentário percorre toda a trajetória artística de Cássia, compreendida entre
o final dos anos 90 e início dos anos 2000. As narrativas partem desde o início
de sua carreira em bares, musicais e peças teatrais; e vão até o seu memorável
show no Rock in Rio de 2000 e as consequências da extasiante, exaustiva e fatal
turnê do Acústico MTV em 2001.
Os seus
problemas pessoais, bem como a dependência do álcool e das drogas, foram
expostos da maneira mais honesta ou “consoladora” possível. Entretanto, são os
depoimentos carinhosos de amigos (como os músicos Nando Reis e Zélia Duncan) e
familiares (como a mãe Nancy e a esposa Maria Eugênia) que garantem os pontos
altos de emoção. As palavras ditas por seu filho, Francisco Eller (ou Chicão),
são um fragmento à parte, capazes de arrancar lágrimas até mesmo dos olhos mais
insensíveis.
De tudo o que
pode se conhecer de Cássias Eller, podemos reunir em uma mesma caixinha a
doçura, o desleixo, a camaradagem, a “porra-louquice” e, principalmente, a
saudade que, em algum lugar não tão distante, estão convivendo em perfeita
harmonia.
Cássia passou
pela Terra como meteoro de luz e puro talento...
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"Cássia" (2015) de Paulo Henrique Fontenelle - Migdal Filmes [br] |
6º. LUGAR: “QUE HORAS ELA VOLTA?”
(Que
Horas Ela Volta?, Brasil, 2015) - de Anna Muylaert
Data da Estreia: 27 de agosto de 2015
Postulante brasileiro a uma vaga entre os indicados a
Melhor Filme de Língua Estrangeira na Cerimônia do Oscar de 2016, “Que Horas Ela Volta?” de Anna Muylaert
é, com toda certeza, o mais acessível dentre todos os dez filmes que serão
apresentados por aqui. O longa ainda continua em cartaz em muitas das salas de
cinema do país, podendo acumular mais algumas semanas de projeção caso a tão
esperada nomeação saia.
Rodeada de ovações entusiasmadas e críticas não tão
amistosas, o longa acerta ao provocar desconforto na plateia quando escancara
uma caricaturada (?) relação entre patrões e empregada; este é um ponto
positivo que acredito que ninguém ouse em discordar. Por outro lado, os alvos
das críticas negativas não podem ser remetidos à atuação de Regina Casé como a
doméstica Val (como vêm acontecendo), até mesmo porque ela não merece nenhuma
delas. A atuação de Regina é soberba e, por mais que a sua figura pública venha
carregada de polêmicas, devemos assumir que as suas qualidades como atriz em
cada trabalho para o cinema (a maioria deles, no caso) estão cada vez mais
ressaltadas.
Na realidade, são as quebras de protocolo de Jéssica
(Camila Márdila) na casa dos patrões da mãe que mais assustam. Tudo bem que se
trata de uma ficção, e que as soluções que Anna Muylaert dá para os conflitos
entre mãe e filha / filha da empregada e patrões / empregada e patrões estão
longe de serem tão surreais quanto as que a mesma diretora lança mão em “Durval Discos” (2002), por exemplo.
Fica claro que o espírito batalhador e, sobretudo, afrontador de Jéssica deve
saltar aos olhos de quem acompanha a história.
“Que Horas Ela Volta?” é excelente e acima da média, mas
peca por esbarrar nos estereótipos sociais. Val é tanto mãe de Jéssica quanto a
“segunda mãe” de Fabinho (Michel Joelsas), e despeja neles a mesma
incondicionalidade amorosa. A artificialidade das ações é sublimada por um
simples resultado de vestibular, onde se laureia um e penaliza o outro. Nada que
estrague a grandiosidade e a importância do filme brasileiro mais comentado do
ano!
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"Que Horas Ela Volta?" (2015) de Anna Muylaert - Gullane Filmes [br] | Africa Filmes [br] |
5º. LUGAR: “PERMANÊNCIA”
(Permanência,
Brasil, 2014) - de Leonardo Lacca
Data da Estreia: 28 de maio de 2015
Falando da
contemporaneidade, “Permanência”
surge para amenizar as maiores inquietações de uma sociedade que se encontra à
beira do colapso. Cercados por medos e por incertezas, vivemos em um mundo
habitado pela desconfiança e traduzido pelos sentimentos da perda e da ausência.
De alguma forma, tudo acaba se misturando: passado e memória; silêncio e
fraqueza; ribombo e desejo.
Esse turbilhão de emoções, preservado com latência em um
vazio angustiante, é carregado por Ivo (Irandhir Santos), um fotógrafo
pernambucano que chega a São Paulo para apresentar a primeira mostra individual
de seu elogiado trabalho. Ele acaba aceitando o convite de sua ex-namorada,
Rita (Rita Carelli), para permanecer hospedado em sua casa durante o período em
que a exposição é realizada. Entretanto, Rita se encontra casada com Mauro
(Sílvio Restiffe), enquanto Ivo deixou um grande amor em Recife.
Em questão de segundos, os gestos e olhares “tímidos”
refletem as prováveis consequências dos assuntos mal resolvidos entre o
ex-casal. A afeição e a simpatia, preservadas ao longo dos anos de distância,
farejam uma iminente explosão de sentimentos. Inevitavelmente, a proximidade
entre Ivo e Rita irá despertar antigos desejos e novas possibilidades de uma
relação para os dois.
Em um diálogo simplório e honesto com o seu espectador, o
longa-metragem de estreia do diretor recifense Leonardo Lacca acaba tratando todo
esse drama com eloquente singeleza. Afinal, o planeta continua girando, e os
seus habitantes permanecem soltos na incessante e conflituosa busca pela felicidade
plena. “Permanência” é uma das
grandes surpresas do ano, e ainda tem um interessante caminho a seguir!
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"Permanência" (2014) de Leonardo Lacca - Trincheira Filmes [br] |
4º. LUGAR: “A HISTÓRIA DA ETERNIDADE”
(A
História da Eternidade, Brasil, 2014) - de Camilo Cavalcante
Data da Estreia: 26 de fevereiro de
2015
A beleza da poesia invade o interior de Pernambuco para
nos contar um pouco mais sobre o instintivo e fatalista destino da humanidade,
revelado através da sua angustiosa e, por vezes, imodesta vontade de se
encontrar com a própria (in)finitude. Primeiro longa-metragem do diretor
recifense Camilo Cavalcante, “A História
da Eternidade” é um ensaio sinestésico do amor, dos sonhos e dos desejos
emanados pelo Sertão.
O filme acompanha três gerações de mulheres que vivem
intensas paixões em um desértico vilarejo do nordeste brasileiro, cada uma ao
seu modo. Alfonsina (Débora Ingrid) aguarda ansiosa pelo seu aniversário de 15
anos; Querência (Marcelia Cartaxo) procura encontrar a felicidade ouvindo
apaixonadas serenatas; já Aureliana (Zezita Matos) espera apenas um abraço de
seu neto, que em breve chegará para uma visita. Os sentimentos dessas mulheres acabarão
revolucionando a paisagem afetiva de todos moradores da comunidade, personagens
fantásticos de um mundo romanesco no qual as concepções de vida são limitadas
pelos flagelos seca.
Não obstante, os buracos cavados pela aflição e pela realidade
trágica dessas mulheres são devidamente preenchidos pela entrega ou pela
admiração que as mesmas mantêm pelas personagens masculinas do filme, figuras
igualmente virtuosas e fortes que, sob o mesmo sol, aceitam os desafios
impostos pela natureza tórrida e indissociável às suas mazelas. Nomes de peso
como os do talentoso Claudio Jaborandy e do unânime Irandhir Santos contribuem intensamente
para imprimir em “A História da
Eternidade” os tons e os contornos necessários que revelem a crueza
vergasta da nossa própria existência.
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"A História da Eternidade" (2014) de Camilo Cavalcante - Aurora Cinema [br] | República Pureza [br] |
3º. LUGAR: “AMOR, PLÁSTICO E BARULHO”
(Amor,
Plástico e Barulho, Brasil, 2013) - de Renata Pinheiro
Data da Estreia: 22 de janeiro de 2015
Com um
roteiro envolvente, ótimas atuações e uma trilha sonora que fica grudada na
cabeça por muitos dias, “Amor, Plástico e
Barulho” encantou o público e tirou o fôlego de muitas plateias para os
quais foi exibido. A fotografia é belíssima, sendo que alguns dos planos e
enquadramentos foram capazes de produzir imagens arrebatadores que só reforçam
o poder e o caráter hipnotizante deste singular longa-metragem.
Tamanha
qualidade na produção não surgiu do acaso, e é reflexo de muito trabalho. A
cineasta Renata Pinheiro (que também assina o roteiro do filme ao lado de
Sérgio Oliveira) já havia trabalhado como diretora de arte em filmes icônicos
(e igualmente sensuais) do nosso cinema. Títulos como “Amarelo Manga” (2002) e “Baixio
das Bestas” (2006) de Cláudio Assis; “A
Festa da Menina Morta” (2008) de Matheus Nachtergaele; e “Tatuagem” (2013) de Hilton Lacerda
fazem parte do seu currículo.
A trama de “Amor Plástico e Barulho” está centrada
basicamente em Shelly (Nash Laila), uma dançarina profissional que almeja
crescer no mundo do Show Business
alimentada pelo grande sonho de se tornar uma cantora de Brega. A jovem passa a
fazer parte da decadente Banda Amor com Veneno, que é liderada por Jaqueline
(Maeve Jinkings), sua musa inspiradora.
O filme ganha
em força e efervescência dramática a partir do momento em que Shelly, sempre
movida pela ambição, consegue passar Jaqueline para trás. A rivalidade entre as
duas personagens cresce tanto que o duelo de interpretações travado entre Laila
e Jinkings se torna um capítulo à parte dentro da produção do filme. A carga de
tensão é tão impressionante que fica difícil decidir qual delas se comportou
melhor em cena.
O maior
problema é que o mundo do qual Shelly e Jaqueline fazem parte é completamente
descartável, indo desde as músicas que elas cantam até as relações de amor, de
amizade ou de traição que essas mesmas músicas insistem em pregar. Um filme
imperdível!
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"Amor, Plástico e Barulho" (2013) de Renata Pinheiro - Aroma Films [br] | Boulevard Filmes [br] |
2º. LUGAR: “SANGUE AZUL”
(Sangue
Azul, Brasil, 2014) - de Lírio Ferreira
Data da Estreia: 4 de junho de 2015
Vigoroso e enigmático como a atmosfera circense;
claustrofóbico e fervilhante como um amor proibido...
Classificado como o projeto mais ambicioso da carreira de
Lírio Ferreira, o festejado diretor de “Baile
Perfumado” (1997), “Sangue Azul” traz
para a tela a magia das impossibilidades e a agonia afetuosa de reencontros
improváveis. Com paisagens extremamente exuberantes realçadas por uma
fotografia impecável, o longa já prometia agradar pelo simples fato de estar
povoado por um elenco de primeira grandeza.
Há vinte anos, uma pequena, aprazível e edênica ilha
vulcânica do Atlântico Sul foi cenário de uma dolorosa separação. Rosa (Sandra
Corveloni) temia que uma relação incestuosa fosse desenvolvida entre seus
filhos pequenos e, sem muitas escolhas, optou por mandar o menino para o
continente, afastando-o da irmã. A guarda do garoto, com dez anos na época, foi
entregue à Kaleb (Paulo César Peréio), o famoso ilusionista e dono do Circo
Netuno que passeava pela ilha.
Introduzido nas artes do circo, o ilhéu acaba se
transformando em Zolah, o Homem-Bala (Daniel de Oliveira) que regressa à sua
terra natal para uma curta temporada de apresentações junto com a sua trupe. O
reencontro com Raquel (Caroline Abras) é inevitável e promete reacender os
desejos mais inflamáveis e angustiantes que, de fato, Zolah nutria pela irmã.
Com outros nomes de peso no elenco, como Matheus
Nachtergaele e Milhem Cortaz, “Sangue
Azul” foi filmado no paradisíaco arquipélago de Fernando de Noronha e teve
a sua estreia em julho do ano passado, durante o Festival de Paulínia,
ensandecendo instantaneamente o público que acompanhava a projeção. Em 2015, o
filme abriu a tradicional e prestigiada Mostra Panorama, em exibição hors concours durante o Festival
Internacional de Berlim e, por pouco, não ocupou o lugar de melhor filme da
nossa seleção.
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"Sangue Azul" (2014) de Lírio Ferreira - Drama Filmes [br] |
1º. LUGAR: “BRANCO SAI, PRETO FICA”
(Branco
Sai, Preto Fica, Brasil, 2015) - de Adirley Queirós
Data da Estreia: 19 de março de 2015
O que fez “Branco
Sai, Preto Fica” para nos encantar e merecer, com toda a justiça, o
primeiro lugar nessa seleção se deve muito à genialidade e à mente notável e
inventiva de seu diretor e roteirista, o brasiliense Adirley Queirós. Como ele
próprio costuma relatar em suas entrevistas, o projeto havia entrado no edital
público de concorrência com a proposta da realização de um documentário sobre a
cena cultural da Ceilândia que, assim como todas as cidades satélites do
Distrito Federal, nasceu de um processo social segregador muito doloroso.
O enredo toma como ponto de partida os acontecimentos
reais de um trágico evento ocorrido na Ceilândia em meados dos anos 80: a ação covarde
e violenta da polícia que promoveu um massacre coletivo (com direito a tiros e
espancamentos) em um famoso “baile black” da cidade. A partir desse ponto, o
filme passa, curiosamente, a não respeitar ou assumir o seu caráter documental
clássico ou observacional. “Branco Sai,
Preto Fica” é, essencialmente, um documentário de ficção... científica!
Enviado do futuro, Dimas Cravalanças (Dilmar Durães) deve
investigar o que de fato ocorreu neste lamentável incidente e, através de
contatos com as vítimas (reais) desta tragédia (que planejam uma retaliação
sonora e devastadora contra o Estado), ele deve provar que tudo isso é culpa da
própria sociedade. E antes que seja tarde demais, essa espécie de justiceiro
ainda deve procurar “indenizar” àqueles que possuem, em seus próprios corpos,
dolorosas e irreparáveis marcas ou cicatrizes resultantes deste triste episódio
(entre eles, está o talentoso e polivalente Marquim do Tropa).
Mesmo ambientado na Ceilândia do início do século XXI, a
atmosfera distópica de “Branco Sai, Preto
Fica” chega a se assemelhar ao deserto árido e pós-apocalíptico de “Mad Max” (1979) de George Miller; e ao
decadente e poluído cenário futurista de “Blade
Runner, o Caçador de Andróides” (1982) de Ridley Scott. Ensurdecedor e
visceral, “Branco Sai, Preto Fica”
fez aproximadamente 200 mil espectadores nas salas de cinema do país, o que é
considerado um sucesso entre os filmes independentes.
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"Branco Sai, Preto Fica" (2015) de Adirley Queirós (2015) - Cinco da Norte [br] |
Bom, também entendemos que uma lista com apenas dez
filmes é muito pequena e nos faz querer saber um pouco mais sobre o o cinema
que é feito na nossa própria casa. Dessa forma, resolvemos incluir, no final
deste artigo, pequenas listas que citam somente o filme, o ano de produção e o
diretor de filmes que se encaixam em algumas categorias que também julgamos importantes.
Confira:
Também mereceram destaque este ano: “Casa
Grande” (2014) de Fellipe Barbosa; “Depois
da Chuva” (2013) de Marília Hughes Guerreiro e Cláudio Marques; “Obra” (2014) de Gregorio Graziosi; “Quase Samba” (2014) de Ricardo Targino; “Romance
Policial” (2014) de Jorge Durán; e “Últimas
Conversas” (2015) de Eduardo Coutinho.
Não vimos e nem veremos: “Vai
que Cola - O Filme” (2015) de César Rodrigues.
Ainda faltam ser conferidos: “A Estrada 47”
(2013) de Vicente Ferraz; “Olmo e a
Gaivota” (2015) de Petra Costa e Lea Glob; “Orestes” (2015) de Rodrigo Siqueira; “Órfãos do Eldorado” (2015) de Guilherme Coelho; “Samba & Jazz” (2014) de Jefferson
Mello; e “O Último Cine Drive-In”
(2015) de Iberê Carvalho.
Podem obter grande destaque em 2016: “Brasil S/A” (2014) de Marcelo Pedroso; “Ela Volta na Quinta" (2015) de André Novais Oliveira; “Um Homem Só”
(2015) de Cláudia Jouvin; “A Luneta do
Tempo” (2014) de Alceu Valença; “Mate-me
por Favor” (2015) de Anita Rocha da Silveira; e “O Rei das Manhãs” (2015) de Daniel Rezende.
Maior expectativa para 2016: “Boi
Neon” (2015) de Gabriel Mascaro.
(*) Lembrando
que críticas, apontamentos de injustiças ou esquecimentos podem ser expressos
nos comentários... ;-)
(**) Também
não descartaremos os elogios! :-D
ENTÃO É ISSO!
QUE OS BONS VENTOS DE 2016 NOS PRESENTEIEM COM MUITO MAIS FILMES ESPETACULARES
COMO ESSES!
VIVA SEMPRE O
CINEMA NACIONAL!
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