quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Feito no Brasil | Os Dez Melhores Filmes Nacionais de 2015

Ainda falta um mês para o ano de 2015 acabar, e já é hora de começarem a pipocar pelas redes sociais (e pela rede em geral) listas com Os Melhores Filmes do Ano. Em vista de algumas estreias que ainda aguardamos ansiosos para dezembro, não pudemos chegar à conclusão de quais foram os nossos filmes favoritos, aqueles que mais nos encantaram e aqueles que já podemos até incluir nas nossas listas pessoais de Melhores Filmes de Todos os Tempos (nós mesmos, já colocamos alguns).

A título de informação, o nosso ranking anual será divulgado em breve, sendo que a contagem final selecionará Os Dez Melhores Filmes do Ano. Contando com aquelas famosas “injustiças pontuais”, tentaremos não decepcionar ninguém!

Enquanto isso não acontece, o Rotina Cinemeira traz para os seus leitores uma proposta diferente e rara de ser elaborada por outros blogs e sites de entretenimento. Quem segue o Nosso Blog desde o início de fevereiro (mês da sua criação) sabe que reservamos um grande espaço para as produções nacionais, destacando e, principalmente, promovendo muitos títulos que foram lançados recentemente e que, por algum motivo, não obtiveram o destaque ou o reconhecimento que merecem.

Dessa forma, antes de divulgarmos a lista com os melhores do ano, resolvemos destacar (e indicar!) as dez melhores produções nacionais de 2015, pois acreditamos que elas merecem o mesmo espaço (ou um espaço até maior!) do que as demais produções rodadas ao redor do mundo. Valorizar o Cinema Brasileiro é FUNDAMENTAL!

Lembramos que o critério escolhido para estabelecer os filmes que integram a lista final se restringe somente aos filmes que estrearam em 2015 nas salas de cinema do país através do circuito comercial, ou aqueles lançados diretamente em Home Video ou VOD.

A lista não é longa, mas os comentários a respeito de cada um dos filmes eleitos acabaram se estendendo um pouco mais do que o esperado. Então, sem mais conversas, vamos à Lista com Os Dez Melhores Filmes Nacionais de 2015 (em ordem decrescente):

10º. LUGAR: “BEIRA-MAR”

(Beira-Mar, Brasil, 2015) - de Filipe Matzembacher e Marcio Reolon

Data da Estreia: 5 de novembro de 2015

Premiado como o Melhor Filme na Première Brasil da Mostra Novos Rumos do Festival do Rio em 2015, o longa-metragem de estreia dos jovens diretores porto-alegrenses Filipe Matzembacher e Marcio Reolon busca desenvolver aspectos mais intimistas e sóbrios aos dramas feitos sobre adolescentes e para adolescentes, atribuindo um tom igualmente sério, mas muito mais introspectivo se comparado ao também recente “Hoje eu quero Voltar Sozinho” (2014) de Daniel Ribeiro.

“Beira-Mar” acompanha a viagem de Martin (Mateus Almada) e Tomaz (Maurício Barcellos), que passam um fim de semana imersos em um universo próprio e comum aos dois. Alternando entre as distrações corriqueiras dos jovens de suas idades e as reflexões sobre a iminência das responsabilidades da vida adulta, os garotos se redescobrem e reforçam os seus laços de amizade abrigados em uma casa de praia de uma cidade do litoral do Rio Grande do Sul, à beira de um mar frio e revolto.

O filme estreou há menos de um mês e, apesar de algumas críticas à crueza do roteiro e à apatia dos protagonistas, acreditamos que essas “pequenas falhas” mais contribuem do que atrapalham no desenvolvimento do seu enredo. A atuação tímida e, por vezes, desconcertada dos atores ajudou, e muito, na composição de personagens que, na realidade, vivem em uma fase de constantes erupções emocionais e conflitos internos. “Beira-Mar” ainda tem um belo caminho a ser trilhado!

"Beira-Mar" (2015) de Filipe Matzembacher e Marcio Reolon - Avante Filmes [br]

9º. LUGAR: “CAMPO DE JOGO”

(Campo de Jogo, Brasil, 2015) - de Eryk Rocha

Data da Estreia: 23 de julho de 2015

Dentro de um curtíssimo espaço de tempo, digamos, pouco mais de 90 minutos, o “País do Futebol” (que há algum tempo já vinha sendo conhecido somente como o “País da Copa”) agora tem que carregar consigo a amarga alcunha do “País do 7 a 1”. O que muitos não sabem é que, não muito longe do Maracanã, palco sagrado do espetáculo que jurávamos que participaríamos, o Brasil continua a ser a pátria que carrega o esporte mais popular do mundo no seu DNA e na sua alma.

Distante dos holofotes e dos “clicks” que miram os maiores craques do mundo; e longe de qualquer esquema de corrupção que corra dentro da poderosa e onipresente FIFA, “Campo de Jogo” mostra que a paixão é muito mais valiosa que os milhões, ressaltando que a importância do futebol ainda segue latente na cultura brasileira. Ao acompanhar a decisão do Campeonato das Comunidades da Zona Norte do Rio de Janeiro, o diretor Eryk Rocha conseguiu retratar, com raro requinte, a sinergia perfeita entre a torcida, os jogadores, a bola e o campo que, juntos, compõe uma atmosfera mística capaz de produzir aquilo que, um dia, a nossa seleção nacional produzia com naturalidade: arte!

Desenvolta e apaixonante, a câmera de Eryk ainda participa como mais uma personagem que percorre e registra de muito perto a grande batalha travada por esses jogadores, jovens da periferia carioca que canalizam e descarregam dentro de um campo de terra batida todos os dramas da vida real e os maiores anseios com relação ao futuro. Resumindo: “Campo de Jogo” é pura emoção e transpiração!

"Campo de Jogo" (2015) de Eryk Rocha - Canal Brasil [br]

8º. LUGAR: “CHATÔ, O REI DO BRASIL”

(Chatô, o Rei do Brasil, Brasil, 2015) - de Guilherme Fontes

Data da Estreia: 19 de novembro de 2015

Após quase 20 anos de espera, refilmagens e, principalmente, processos judiciais, “Chatô, o Rei do Brasil” chegou aos cinemas acompanhado de um contundente desabafo do diretor Guilherme Fontes, que teve o seu projeto engavetado por todo esse tempo devido a suspeitas de desvios de verbas e sonegação fiscal. Fontes, que também chegou a ser condenado pela justiça a ressarcir os cofres públicos, garante que produto final custou muito menos do que se possa imaginar, afirmando ainda que se tornou uma vítima da própria mídia e, ironicamente, do fantasma do personagem título de sua produção.

Baseado na obra homônima do escritor mineiro Fernando Morais, o sempre polêmico e ambicioso longa romantiza, reverbera e embaraça a vida do magnata paraibano Assis Chateaubriand, considerado um dos homens públicos mais influentes (e manipuladores) da história recente do Brasil. Interpretado pelo extraordinário Marco Ricca, Chatô, como também era reconhecido, se vê como o astro principal de um programa de TV chamado “O Julgamento do Século”, realizado bem no dia de sua morte. Neste programa (na verdade, um delírio moribundo do “pai da televisão brasileira”) ele reencontra com antigos amores e desafetos para um definitivo acerto de contas.

“Chatô, o Rei do Brasil” é uma obra extremamente recomendável, não somente pela curiosidade e pela vontade de desmistificarmos a “lenda urbana” na qual ela acabou se transformando. O filme é realmente muito bom! Um épico “ainda moderno”, extremamente ousado e desafiador para a mente criativa de um jovem cineasta (à época com apenas 29 anos). “Chatô” é original, irreverente e, sobretudo, transgressor!

"Chatô, o Rei do Brasil" (2015) de Guilherme Fontes - Guilherme Fontes Produções [br]

7º. LUGAR: “CÁSSIA”

(Cássia, Brasil, 2015) - de Paulo Henrique Fontenelle

Data da Estreia: 29 de janeiro de 2015

Sempre lembrada por sua inquietude característica, Cássia Eller conquistou uma legião de fãs em uma carreira breve, porém apaixonante. Essa (des)ditosa e típica inquietude era sempre exorcizada nos palcos através de sua rebeldia, despudor e agressividade ou, por outras vezes, resguardada pela sua timidez e humidade. Buscando retratar uma vida guiada por esse equilíbrio (ou pela falta dele), o diretor Paulo Henrique Fontenelle constrói um documento raro e extremamente tocante não só sobre a voz inesquecível ou sobre o legado que Cássia deixou para a música brasileira. Ela era também mulher, filha, esposa e mãe!

Com um excepcional e rico acervo fotográfico, além de registros inéditos em vídeo, o documentário percorre toda a trajetória artística de Cássia, compreendida entre o final dos anos 90 e início dos anos 2000. As narrativas partem desde o início de sua carreira em bares, musicais e peças teatrais; e vão até o seu memorável show no Rock in Rio de 2000 e as consequências da extasiante, exaustiva e fatal turnê do Acústico MTV em 2001.

Os seus problemas pessoais, bem como a dependência do álcool e das drogas, foram expostos da maneira mais honesta ou “consoladora” possível. Entretanto, são os depoimentos carinhosos de amigos (como os músicos Nando Reis e Zélia Duncan) e familiares (como a mãe Nancy e a esposa Maria Eugênia) que garantem os pontos altos de emoção. As palavras ditas por seu filho, Francisco Eller (ou Chicão), são um fragmento à parte, capazes de arrancar lágrimas até mesmo dos olhos mais insensíveis.

De tudo o que pode se conhecer de Cássias Eller, podemos reunir em uma mesma caixinha a doçura, o desleixo, a camaradagem, a “porra-louquice” e, principalmente, a saudade que, em algum lugar não tão distante, estão convivendo em perfeita harmonia.

Cássia passou pela Terra como meteoro de luz e puro talento...

"Cássia" (2015) de Paulo Henrique Fontenelle - Migdal Filmes [br]

6º. LUGAR: “QUE HORAS ELA VOLTA?”

(Que Horas Ela Volta?, Brasil, 2015) - de Anna Muylaert

Data da Estreia: 27 de agosto de 2015

Postulante brasileiro a uma vaga entre os indicados a Melhor Filme de Língua Estrangeira na Cerimônia do Oscar de 2016, “Que Horas Ela Volta?” de Anna Muylaert é, com toda certeza, o mais acessível dentre todos os dez filmes que serão apresentados por aqui. O longa ainda continua em cartaz em muitas das salas de cinema do país, podendo acumular mais algumas semanas de projeção caso a tão esperada nomeação saia.

Rodeada de ovações entusiasmadas e críticas não tão amistosas, o longa acerta ao provocar desconforto na plateia quando escancara uma caricaturada (?) relação entre patrões e empregada; este é um ponto positivo que acredito que ninguém ouse em discordar. Por outro lado, os alvos das críticas negativas não podem ser remetidos à atuação de Regina Casé como a doméstica Val (como vêm acontecendo), até mesmo porque ela não merece nenhuma delas. A atuação de Regina é soberba e, por mais que a sua figura pública venha carregada de polêmicas, devemos assumir que as suas qualidades como atriz em cada trabalho para o cinema (a maioria deles, no caso) estão cada vez mais ressaltadas.

Na realidade, são as quebras de protocolo de Jéssica (Camila Márdila) na casa dos patrões da mãe que mais assustam. Tudo bem que se trata de uma ficção, e que as soluções que Anna Muylaert dá para os conflitos entre mãe e filha / filha da empregada e patrões / empregada e patrões estão longe de serem tão surreais quanto as que a mesma diretora lança mão em “Durval Discos” (2002), por exemplo. Fica claro que o espírito batalhador e, sobretudo, afrontador de Jéssica deve saltar aos olhos de quem acompanha a história.

“Que Horas Ela Volta?” é excelente e acima da média, mas peca por esbarrar nos estereótipos sociais. Val é tanto mãe de Jéssica quanto a “segunda mãe” de Fabinho (Michel Joelsas), e despeja neles a mesma incondicionalidade amorosa. A artificialidade das ações é sublimada por um simples resultado de vestibular, onde se laureia um e penaliza o outro. Nada que estrague a grandiosidade e a importância do filme brasileiro mais comentado do ano!

"Que Horas Ela Volta?" (2015) de Anna Muylaert - Gullane Filmes [br] | Africa Filmes [br]

5º. LUGAR: “PERMANÊNCIA”

(Permanência, Brasil, 2014) - de Leonardo Lacca

Data da Estreia: 28 de maio de 2015

Falando da contemporaneidade, “Permanência” surge para amenizar as maiores inquietações de uma sociedade que se encontra à beira do colapso. Cercados por medos e por incertezas, vivemos em um mundo habitado pela desconfiança e traduzido pelos sentimentos da perda e da ausência. De alguma forma, tudo acaba se misturando: passado e memória; silêncio e fraqueza; ribombo e desejo.

Esse turbilhão de emoções, preservado com latência em um vazio angustiante, é carregado por Ivo (Irandhir Santos), um fotógrafo pernambucano que chega a São Paulo para apresentar a primeira mostra individual de seu elogiado trabalho. Ele acaba aceitando o convite de sua ex-namorada, Rita (Rita Carelli), para permanecer hospedado em sua casa durante o período em que a exposição é realizada. Entretanto, Rita se encontra casada com Mauro (Sílvio Restiffe), enquanto Ivo deixou um grande amor em Recife.

Em questão de segundos, os gestos e olhares “tímidos” refletem as prováveis consequências dos assuntos mal resolvidos entre o ex-casal. A afeição e a simpatia, preservadas ao longo dos anos de distância, farejam uma iminente explosão de sentimentos. Inevitavelmente, a proximidade entre Ivo e Rita irá despertar antigos desejos e novas possibilidades de uma relação para os dois.

Em um diálogo simplório e honesto com o seu espectador, o longa-metragem de estreia do diretor recifense Leonardo Lacca acaba tratando todo esse drama com eloquente singeleza. Afinal, o planeta continua girando, e os seus habitantes permanecem soltos na incessante e conflituosa busca pela felicidade plena. “Permanência” é uma das grandes surpresas do ano, e ainda tem um interessante caminho a seguir!

"Permanência" (2014) de Leonardo Lacca - Trincheira Filmes [br]

4º. LUGAR: “A HISTÓRIA DA ETERNIDADE”

(A História da Eternidade, Brasil, 2014) - de Camilo Cavalcante

Data da Estreia: 26 de fevereiro de 2015

A beleza da poesia invade o interior de Pernambuco para nos contar um pouco mais sobre o instintivo e fatalista destino da humanidade, revelado através da sua angustiosa e, por vezes, imodesta vontade de se encontrar com a própria (in)finitude. Primeiro longa-metragem do diretor recifense Camilo Cavalcante, “A História da Eternidade” é um ensaio sinestésico do amor, dos sonhos e dos desejos emanados pelo Sertão.

O filme acompanha três gerações de mulheres que vivem intensas paixões em um desértico vilarejo do nordeste brasileiro, cada uma ao seu modo. Alfonsina (Débora Ingrid) aguarda ansiosa pelo seu aniversário de 15 anos; Querência (Marcelia Cartaxo) procura encontrar a felicidade ouvindo apaixonadas serenatas; já Aureliana (Zezita Matos) espera apenas um abraço de seu neto, que em breve chegará para uma visita. Os sentimentos dessas mulheres acabarão revolucionando a paisagem afetiva de todos moradores da comunidade, personagens fantásticos de um mundo romanesco no qual as concepções de vida são limitadas pelos flagelos seca.

Não obstante, os buracos cavados pela aflição e pela realidade trágica dessas mulheres são devidamente preenchidos pela entrega ou pela admiração que as mesmas mantêm pelas personagens masculinas do filme, figuras igualmente virtuosas e fortes que, sob o mesmo sol, aceitam os desafios impostos pela natureza tórrida e indissociável às suas mazelas. Nomes de peso como os do talentoso Claudio Jaborandy e do unânime Irandhir Santos contribuem intensamente para imprimir em “A História da Eternidade” os tons e os contornos necessários que revelem a crueza vergasta da nossa própria existência.

"A História da Eternidade" (2014) de Camilo Cavalcante - Aurora Cinema [br] | República Pureza [br]

3º. LUGAR: “AMOR, PLÁSTICO E BARULHO”

(Amor, Plástico e Barulho, Brasil, 2013) - de Renata Pinheiro

Data da Estreia: 22 de janeiro de 2015

Com um roteiro envolvente, ótimas atuações e uma trilha sonora que fica grudada na cabeça por muitos dias, “Amor, Plástico e Barulho” encantou o público e tirou o fôlego de muitas plateias para os quais foi exibido. A fotografia é belíssima, sendo que alguns dos planos e enquadramentos foram capazes de produzir imagens arrebatadores que só reforçam o poder e o caráter hipnotizante deste singular longa-metragem.

Tamanha qualidade na produção não surgiu do acaso, e é reflexo de muito trabalho. A cineasta Renata Pinheiro (que também assina o roteiro do filme ao lado de Sérgio Oliveira) já havia trabalhado como diretora de arte em filmes icônicos (e igualmente sensuais) do nosso cinema. Títulos como “Amarelo Manga” (2002) e “Baixio das Bestas” (2006) de Cláudio Assis; “A Festa da Menina Morta” (2008) de Matheus Nachtergaele; e “Tatuagem” (2013) de Hilton Lacerda fazem parte do seu currículo.

A trama de “Amor Plástico e Barulho” está centrada basicamente em Shelly (Nash Laila), uma dançarina profissional que almeja crescer no mundo do Show Business alimentada pelo grande sonho de se tornar uma cantora de Brega. A jovem passa a fazer parte da decadente Banda Amor com Veneno, que é liderada por Jaqueline (Maeve Jinkings), sua musa inspiradora.

O filme ganha em força e efervescência dramática a partir do momento em que Shelly, sempre movida pela ambição, consegue passar Jaqueline para trás. A rivalidade entre as duas personagens cresce tanto que o duelo de interpretações travado entre Laila e Jinkings se torna um capítulo à parte dentro da produção do filme. A carga de tensão é tão impressionante que fica difícil decidir qual delas se comportou melhor em cena.

O maior problema é que o mundo do qual Shelly e Jaqueline fazem parte é completamente descartável, indo desde as músicas que elas cantam até as relações de amor, de amizade ou de traição que essas mesmas músicas insistem em pregar. Um filme imperdível!

"Amor, Plástico e Barulho" (2013) de Renata Pinheiro - Aroma Films [br] | Boulevard Filmes [br]

2º. LUGAR: “SANGUE AZUL”

(Sangue Azul, Brasil, 2014) - de Lírio Ferreira

Data da Estreia: 4 de junho de 2015

Vigoroso e enigmático como a atmosfera circense; claustrofóbico e fervilhante como um amor proibido...

Classificado como o projeto mais ambicioso da carreira de Lírio Ferreira, o festejado diretor de “Baile Perfumado” (1997), “Sangue Azul” traz para a tela a magia das impossibilidades e a agonia afetuosa de reencontros improváveis. Com paisagens extremamente exuberantes realçadas por uma fotografia impecável, o longa já prometia agradar pelo simples fato de estar povoado por um elenco de primeira grandeza.

Há vinte anos, uma pequena, aprazível e edênica ilha vulcânica do Atlântico Sul foi cenário de uma dolorosa separação. Rosa (Sandra Corveloni) temia que uma relação incestuosa fosse desenvolvida entre seus filhos pequenos e, sem muitas escolhas, optou por mandar o menino para o continente, afastando-o da irmã. A guarda do garoto, com dez anos na época, foi entregue à Kaleb (Paulo César Peréio), o famoso ilusionista e dono do Circo Netuno que passeava pela ilha.

Introduzido nas artes do circo, o ilhéu acaba se transformando em Zolah, o Homem-Bala (Daniel de Oliveira) que regressa à sua terra natal para uma curta temporada de apresentações junto com a sua trupe. O reencontro com Raquel (Caroline Abras) é inevitável e promete reacender os desejos mais inflamáveis e angustiantes que, de fato, Zolah nutria pela irmã.

Com outros nomes de peso no elenco, como Matheus Nachtergaele e Milhem Cortaz, “Sangue Azul” foi filmado no paradisíaco arquipélago de Fernando de Noronha e teve a sua estreia em julho do ano passado, durante o Festival de Paulínia, ensandecendo instantaneamente o público que acompanhava a projeção. Em 2015, o filme abriu a tradicional e prestigiada Mostra Panorama, em exibição hors concours durante o Festival Internacional de Berlim e, por pouco, não ocupou o lugar de melhor filme da nossa seleção.

"Sangue Azul" (2014) de Lírio Ferreira - Drama Filmes [br]

1º. LUGAR: “BRANCO SAI, PRETO FICA”

(Branco Sai, Preto Fica, Brasil, 2015) - de Adirley Queirós

Data da Estreia: 19 de março de 2015

O que fez “Branco Sai, Preto Fica” para nos encantar e merecer, com toda a justiça, o primeiro lugar nessa seleção se deve muito à genialidade e à mente notável e inventiva de seu diretor e roteirista, o brasiliense Adirley Queirós. Como ele próprio costuma relatar em suas entrevistas, o projeto havia entrado no edital público de concorrência com a proposta da realização de um documentário sobre a cena cultural da Ceilândia que, assim como todas as cidades satélites do Distrito Federal, nasceu de um processo social segregador muito doloroso.

O enredo toma como ponto de partida os acontecimentos reais de um trágico evento ocorrido na Ceilândia em meados dos anos 80: a ação covarde e violenta da polícia que promoveu um massacre coletivo (com direito a tiros e espancamentos) em um famoso “baile black” da cidade. A partir desse ponto, o filme passa, curiosamente, a não respeitar ou assumir o seu caráter documental clássico ou observacional. “Branco Sai, Preto Fica” é, essencialmente, um documentário de ficção... científica!

Enviado do futuro, Dimas Cravalanças (Dilmar Durães) deve investigar o que de fato ocorreu neste lamentável incidente e, através de contatos com as vítimas (reais) desta tragédia (que planejam uma retaliação sonora e devastadora contra o Estado), ele deve provar que tudo isso é culpa da própria sociedade. E antes que seja tarde demais, essa espécie de justiceiro ainda deve procurar “indenizar” àqueles que possuem, em seus próprios corpos, dolorosas e irreparáveis marcas ou cicatrizes resultantes deste triste episódio (entre eles, está o talentoso e polivalente Marquim do Tropa).

Mesmo ambientado na Ceilândia do início do século XXI, a atmosfera distópica de “Branco Sai, Preto Fica” chega a se assemelhar ao deserto árido e pós-apocalíptico de “Mad Max” (1979) de George Miller; e ao decadente e poluído cenário futurista de “Blade Runner, o Caçador de Andróides” (1982) de Ridley Scott. Ensurdecedor e visceral, “Branco Sai, Preto Fica” fez aproximadamente 200 mil espectadores nas salas de cinema do país, o que é considerado um sucesso entre os filmes independentes.

"Branco Sai, Preto Fica" (2015) de Adirley Queirós (2015) - Cinco da Norte [br]

Bom, também entendemos que uma lista com apenas dez filmes é muito pequena e nos faz querer saber um pouco mais sobre o o cinema que é feito na nossa própria casa. Dessa forma, resolvemos incluir, no final deste artigo, pequenas listas que citam somente o filme, o ano de produção e o diretor de filmes que se encaixam em algumas categorias que também julgamos importantes. Confira:

Também mereceram destaque este ano: “Casa Grande” (2014) de Fellipe Barbosa; “Depois da Chuva” (2013) de Marília Hughes Guerreiro e Cláudio Marques; “Obra” (2014) de Gregorio Graziosi; “Quase Samba” (2014) de Ricardo Targino; “Romance Policial” (2014) de Jorge Durán; e “Últimas Conversas” (2015) de Eduardo Coutinho.

Não vimos e nem veremos: “Vai que Cola - O Filme” (2015) de César Rodrigues.

Ainda faltam ser conferidos: “A Estrada 47” (2013) de Vicente Ferraz; “Olmo e a Gaivota” (2015) de Petra Costa e Lea Glob; “Orestes” (2015) de Rodrigo Siqueira; “Órfãos do Eldorado” (2015) de Guilherme Coelho; “Samba & Jazz” (2014) de Jefferson Mello; e “O Último Cine Drive-In” (2015) de Iberê Carvalho.

Podem obter grande destaque em 2016: “Brasil S/A” (2014) de Marcelo Pedroso; “Ela Volta na Quinta" (2015) de André Novais Oliveira; “Um Homem Só” (2015) de Cláudia Jouvin; “A Luneta do Tempo” (2014) de Alceu Valença; “Mate-me por Favor” (2015) de Anita Rocha da Silveira; e “O Rei das Manhãs” (2015) de Daniel Rezende.

Maior expectativa para 2016: “Boi Neon” (2015) de Gabriel Mascaro.

(*) Lembrando que críticas, apontamentos de injustiças ou esquecimentos podem ser expressos nos comentários... ;-)

(**) Também não descartaremos os elogios! :-D

ENTÃO É ISSO! QUE OS BONS VENTOS DE 2016 NOS PRESENTEIEM COM MUITO MAIS FILMES ESPETACULARES COMO ESSES!

VIVA SEMPRE O CINEMA NACIONAL!

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