terça-feira, 7 de abril de 2015

O legado centenário de Billie Holiday | Filmes que tomaram emprestado o talento da Eterna Lenda do Jazz

Se estivesse viva, Billie Holiday estaria completando 100 anos hoje. Deidade do Jazz e um dos maiores ícones musicais do século XX, a cantora também possuía intrínseca relação com o cinema. Nascida em 7 de abril de 1915, Elionore Harris adotou o nome artístico em homenagem a Billie Dove, estrela do cinema mudo dos Estados Unidos. Sua voz absolutamente marcante e seu talento também como compositora estão presentes em mais de cem títulos contemplando ficções, documentários, videoclipes e séries de televisão.

Aproveitando a data, o Rotina Cinemeira selecionou quatro grandes filmes (totalmente distintos) que, de alguma forma, tomaram emprestado parte da genialidade de uma das artistas mais singulares da história.

Billie Holiday (1915 - 1959) - Divulgação

Um Gato em Paris (Une Vie de Chat, França | Holanda | Suíça | Bélgica, 2010)

Direção: Jean-Loup Felicioli e Alain Gagnol

No cinema, o Jazz e o Noir sempre andaram de mãos dadas em um encaixe perfeito entre trilha sonora e gênero cinematográfico. No caso de “Um Gato em Paris” vemos esses dois elementos muito bem aplicados e amarrados pela personalidade forte e pelo vozeirão de Billie Holiday. A animação francesa conta a história de Dino, um gato que tem como dona uma simpática garotinha, mas que possui uma vida secreta auxiliando um ladrão a cometer furtos pelas noites de uma nebulosa Paris. Embora trate de um desenho animado, o ambiente sombrio, o clima de suspense constante e as ações consumadas na calada da noite combinam bastante com a inebriante canção “I Wished on the Moon”, incluída na trilha sonora original do filme. Dino, assim como Billie, possui prazer noturno e um imenso desejo pela luz do luar.


À Espera de um Milagre (The Green Mile, Estados Unidos, 1999)

Direção: Frank Darabont

A atmosfera misteriosa sentida no famoso corredor da morte de “À Espera de um Milagre” é embalada por músicas ouvidas em um pequeno rádio. Sucessos de grandes personalidades da música popular estadunidense como Eddy Howard, Guy Lombardo e Gene Austin foram apreciados por John Coffey e Paul Edgecombe através das frequências captadas pelo velho aparelho instalado na penitenciária. Entretanto, canções de alguns intérpretes como Billie Holiday e Duke Ellington (que também podem ser notadas ao longo do filme) nunca teriam sido reproduzidas em uma estação rádio de verdade, afinal a história é ambientada na Louisiana de meados dos anos 30. A censura e o preconceito em relação à gênero e etnias eram (e ainda são) muito fortes no Estado, tido como um dos mais machistas e com preconceitos raciais mais arraigados dos Estados Unidos.

Cabe destacar que Billie Holiday sofreu em inúmeros episódios de discriminação, tanto por ser mulher quanto por ser negra, inclusive quando já tinha se consolidado como uma das maiores cantoras de seu país, época em que ela “não nos dava além de seu amor”.
   
Observação: a utilização de músicas gravadas, na sua maioria, no início da década de 50 é um erro totalmente perdoável em “À Espera de um Milagre”.


O Ocaso de uma Estrela (Lady Sings the Blues, Estados Unidos, 1972)

Direção: Sidney J. Furie

Vagamente baseado na autobiografia escrita por Billie Holiday em 1956, “O Ocaso de uma Estrela” acompanha a história de vida e a conturbada carreira da cantora. Com Diana Ross no papel principal, o filme funcionou perfeitamente para alavancá-la rumo ao estrelato (Diana venceu o Globo de Ouro na categoria de Jovem Atriz promissora e recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz), mas pecou ao retratar com uma série de imperfeições (principalmente relacionadas à personalidade de Billie) a breve mas visceral passagem desta lenda por este mundo. Musicalmente o filme possui alguns pontos altos, recheados de gravações originais de Billie Holiday (o filme também foi indicado ao Oscar de Melhor Trilha Sonora) e performances sóbrias de Diana Ross emprestando corpo e voz para a composição da personagem.

A Motown lançou, à época, a trilha sonora do filme em um disco duplo com os sucessos de Billie Holiday gravados por Diana Ross. Também com o título de “Lady Sings the Blues”, o álbum chegou a ser o número um na lista dos 200 mais vendidos em relação lançada semanalmente pela Billboard.


Nova Orleans (New Orleans, Estados Unidos, 1947)

Direção: Arthur Lubin

Com um roteiro convencional observado nos típicos romances do período e toques sutis de humor semelhantes às comédias dos Irmão Marx, o drama musical “Nova Orleans” não convence cinematograficamente, porém se torna obrigatório pela rara oportunidade de assistir a Billie Holiday atriz. No único filme na qual é de fato creditada, a cantora interpreta Endie, uma empregada doméstica que canta em um bar de um rico empresário sulista fascinado pela cultura negra, sobretudo o jazz. Acompanhada por Louis Armstrong, Woody Herman e demais membros de uma banda afiada, Billie Holiday faz dos números musicais os pontos altos do filme, com destaque para o clássico “Do You Know what it Means to Miss New Orleans?”.

Tentativa do diretor Arthur Lubin de sintetizar a história de um dos movimentos musicais mais importantes da história, “Nova Orleans” deve ser apreciado com os ouvidos e com a alma de um bom amante do Jazz!


Talento genuíno contido em uma melancolia hipnotizante: que a memória e o legado musical de Billie Holiday sejam preservados por muitos séculos!

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