sexta-feira, 10 de abril de 2015

Cine Humberto Mauro exibe a partir desta sexta a Mostra “Sem Destino - Filmes na Estrada” | Rotina em Belo Horizonte

Com uma seleção especial de clássicos deslumbrantes dos popularmente conhecidos “road movies”, entra em cartaz hoje no Cine Humberto Mauro, em Belo Horizonte, a Mostra “Sem Destino - Filmes na Estrada”. Ao todo serão exibidos, até o dia 30 de abril, 21 filmes que têm como mote principal histórias que se desenvolvem a partir do deslocamento de uma personagem de um ponto ao outro de uma estrada, sempre valorizando as paisagens e os eventos que acontecem durante o percurso.

Viagens são capazes de transformar uma pessoa, normalmente alterando as perspectivas de suas vidas cotidianas para sempre. Arraigadas em contos orais ou escritos literários como a épica “Odisseia de Ulisses”, os roteiros dos “road movies” constantemente nos apresentam o crescimento psicológico e moral de suas personagens, evidenciando um amadurecimento ao longo das tramas.

Trabalhos cinematográficos que, literalmente, “pegam a estrada” são humanisticamente muito fortes, pois tratam universalidades e singularidades em um único espaço. Entretanto, o Road Movie não é propriamente um gênero, pois não se sustenta em um discurso teórico ou filosófico que venha a configurá-lo como tal. Um gênero não pode ser entendido apenas como um agrupamento de uma única dimensão material fílmica e, no caso dos “road movies”, é a estrada, e somente a estrada o ponto comum entre todas as produções.

É louvável, porém, agrupar alguns desses melhores trabalhos em uma única mostra, pois é uma fórmula que funciona e que atrai um grande público desde o início dos anos 60 até os dias atuais. Justamente por perpassar décadas e englobar vários gêneros de fato, os filmes de estrada merecem sim um destaque especial e, com base na programação divulgada pela gerência da casa, o Rotina Cinemeira selecionou e agora indica cinco filmes (cada um de uma década) que você não pode perder este mês, confira:

Easy Rider - Sem Destino (Easy Rider, Estados Unidos, 1969)

Direção: Dennis Hopper

Após negociarem um contrabando de drogas levados do México para Los Angeles, Wyatt (Peter Fonda) e Billy (Dennis Hopper) partem com o dinheiro da venda a bordo de suas motocicletas em uma viagem pelo Sul dos Estados Unidos, da Califórnia até a Louisiana, a fim de chegarem para as festividades do Mardi Gras de Nova Orleans, um dos carnavais mais afamados do mundo.

Em uma aventura plenamente libertária e movida a centenas de baseados, os amigos se surpreendem ao conhecer a “América Real” através de uma série de situações vivenciadas ao longo da estrada. Além das belíssimas e áridas paisagens naturais, a experiência dos motociclistas explora o panorama de um país agitado culturalmente (principalmente pela ascensão e ligeira queda do movimento hippie), sintetizando através da “imaginação nacional” os medos e esperanças de toda uma sociedade.

Clássico da contracultura e reflexo das aspirações insurgentes de toda uma geração, “Easy Rider - Sem Destino” é o retrato fiel da juventude rebelde dos Estados Unidos dos anos 60. Dirigido por Hopper, produzido por Peter Fonda e roteirizado pelos dois (juntamente com Terry Southern), o filme é um dos pioneiros do criativo e visceral movimento que revolucionou o cinema estadunidense, conhecido como “A Nova Hollywood”.

"Easy Rider" (1969) de Dennis Hopper - Columbia Pictures Corporation [us] | Pando Company Inc. | Raybert Productions

Encurralado (Duel, Estados Unidos, 1971)

Direção: Steven Spielberg

Cidadão tranquilo e trabalhador honesto, David Mann (Dennis Weaver) é um viajante habitual que, a bordo de sua Plymouth Valiant 1971, cruza sozinho uma estrada secundária do deserto californiano para cumprir a sua rotina de negócios. Seu trajeto vai sendo percorrido sem maiores problemas, até o momento em que ele ultrapassa um lento caminhão-tanque. Irritado, porém sem motivos aparentes, o motorista do caminhão inicia de forma ameaçadora um arriscado “jogo de gato e rato” e começa a perseguir David que, a essa altura, já se encontra pavorosamente assustado, confuso e certo de que será morto.

No desenrolar da trama, a tensão dos acontecimentos cresce de forma gradativa, sustentada pelo maior trunfo do filme: a vã tentativa de se descobrir o motivo de tanto ódio e malevolência. O suspense que sempre mantém a identidade do motorista do caminhão oculta nos faz enxergar o gigantesco veículo como uma feroz e violenta máquina assassina que, praticamente, adquiri vida própria nessa incansável perseguição.

Produto de uma criatividade imensurável de um notório talento, “Encurralado” é constantemente classificado de maneira errônea como o primeiro longa de Steven Spielberg (ele já havia realizado em 1964 a ficção científica “Firelight”, com apenas 17 anos), porém é o trabalho que alavanca a carreira do diretor junto com o bem sucedido curta-metragem “Amblin’” (1968). Antes de se dedicar aos efeitos especiais e às superproduções deslumbrantes e fantasiosas (sua marca registrada), Spielberg trabalhava com condições limitadas, e é nesse minimalismo que podemos observar o quão genial ele ainda pode ser.

"Duel" (1971) de Steven Spielberg - Universal Television [us]

Paris, Texas (Paris, Texas, Alemanha Ocidental | França | Reino Unido, 1984)

Direção: Wim Wenders

Depois de quatro anos desaparecido, Travis Henderson (Harry Dean Stanton) é encontrado exausto e desmemoriado em um deserto do Texas, quase na fronteira dos Estados Unidos com o México. Acolhido em Los Angeles pelo irmão Walt Henderson (Dean Stockwell), este homem vai, gradativamente, recuperando a sua memória e recordando fatos de sua vida. Walt é casado com Anne (Aurore Clément) e juntos são responsáveis por Hunter (Hunter Carson), filho de Travis que, aos poucos, volta a se afeiçoar ao pai.

A sintonia entre pai e filho não se dá de maneira imediata, transparecendo de forma bem clara na trama uma das temáticas favoritas do diretor alemão Wim Wenders: a apatia e a crescente insociabilidade do ser humano. Hunter tem apenas sete anos e, mesmo com pouca idade passou por fortes crises emocionais enfrentando a separação de seus pais e, posteriormente, o abandono por parte de sua mãe, Jane (Nastassja Kinski). Reaproximar de Travis significa, para o garoto, reacender o desejo de encontrar a mãe e reconstruir uma família que acabou se perdendo no tempo.

“Paris, Texas” trata de crise comportamental e alienação social, não só nos Estados Unidos como também em todo o mundo. Aqui, cenários icônicos e símbolos visuais de um país são contrastados: a vastidão das (vazias?) paisagens texanas e suas estradas intermináveis se opõe a uma caótica e ultra moderna Los Angeles. Mas isso tudo não importa, afinal viver sozinho é uma tarefa difícil; e em família, muito mais! Procurar a identidade através de um vazio espiritual cada vez maior é um carma lastimável para a humanidade.

"Paris, Texas" (1984) de Wim Wenders - Road Movies Filmproduktion [de] | Argos Films [fr] | Wim Wenders Stiftung [de]

Priscilla, a Rainha do Deserto (The Adventures of Priscilla, Queen of the Desert, Austrália | Reino Unido, 1994)

Direção: Stephan Elliott

Com ótimas atuações, humor inteligente e sensibilidade descomunal, “Priscilla, a Rainha do Deserto” acompanha as aventuras de duas drag queens e uma transexual que levam o ousado empreendimento de cabaré itinerante para um resort na remota e longínqua Alice Springs, atravessando o tórrido e despovoado deserto australiano. A viagem, a princípio, parece ser uma grande roubada, mas cada uma das personagens têm um motivo pessoal para deixar a segurança e a tranquilidade que possuem em Sydney.

A simpatia transparecida no rosto de cada uma consegue disfarçar o drama que carregam. Bernadette Bassenger/Ralph (Terence Stamp) está entristecida pela morte recente do marido; Mitzi Del Bra/Anyhony (Hugo Weaving) se dedica à venda de uma linha de cosméticos para mulheres que existem dentro de cada homem, a Wo-Man; e Felicia Jollygoodfellow/Adam (Guy Pearce) é uma artista exibida, mimada e desbocada que faz de tudo para se relançar como uma grande estrela. O “trailer econômico modelo Barbie” também se configura como uma personagem, afinal batizado como “Priscilla, a Rainha do deserto”, é ele que dá nome ao filme. Durante todo o caminho, situações absurdamente humanas, como o preconceito e a solidariedade, serão vivenciadas.

Além disso, um segredo guardado por Mitzi e o aparecimento de Bob (Bill Hunter), um mecânico que auxilia nos reparos do problemático motor de Priscilla, darão um contorno ameno e substancial a uma trama que consegue levantar a bandeira de um movimento sem soar inconveniente e, muito menos, panfletário.

"The Adventures of Priscilla, Queen of the Desert" (1994) de Stephan Elliott
PolyGram Filmed Entertainment [gb] | Latent Image Productions Pty. Ltd. [au] | Specific Films

E sua Mãe Também (Y tu Mamá También, México, 2001)

Direção: Alfonso Cuarón

A prender sobre os mistérios da vida através da amizade, do sexo e do contato com o próximo. Foi com este propósito que os jovens Tenoch (Diego Luna) e Julio (Gael García Bernal) embarcaram em uma viagem ao litoral mexicano em busca de autoconhecimento. Luisa (Maribel Verdú), uma mulher dez anos mais velha que os rapazes e casada com um primo de Tenoch, é convidada pelos dois amigos para também seguir nesta jornada. O convite é feito quando os três se conhecem em uma festa familiar e, a princípio, Luisa recusa, mas um acontecimento crucial em sua vida a encoraja de enfrentar a estrada.

A partir deste momento, o rompimento da tênue linha entre o amadurecimento e o auge dos dilemas adolescentes se faz iminente e a viagem se revela audaciosa e inconsequente. Controlados de forma excessiva pelos seus hormônios, os instintos naturais e carnais de Tenoch e Julio entram em erupção e Luisa se vê em meio a esta efervescência. O choque entre as ações e a perda da inocência trazem à tona a hipocrisia do ser humano, quando as personagens são confrontadas com uma “situação socialmente inaceitável”. O estabelecimento de um paralelo com a sociedade mexicana e a presença de uma narração onisciente contribuem para a construção de uma atmosfera ainda mais amarga da história.

Sucesso de público e crítica, o desconcertante “E sua Mãe Também” foi o principal responsável por valorizar o nome de Alfanso Cuarón, estabelecendo-o como um dos diretores mais importantes da contemporaneidade. Com o filme, o mercado estadunidense se rendeu aos talentos do realizador mexicano, embora Cuarón já tivesse alcançado um relativo sucesso em Hollywood com os anteriores “A Princesinha” (1995) e “Grandes Esperanças” (1998).

"Y tu Mamá También" (2001) de Alfonso Cuarón
Anhelo Producciones [mx] | Besame Mucho Pictures [us] | Producciones Anhelo [mx]

Os demais filmes você pode encontrar na programação completa da Mostra que está disponível no site da Fundação Clóvis Salgado (fcs.mg.gov.br) ou que pode ser acessada diretamente pelo link "Sem Destino - Filmes na Estrada".

É importante lembrar que a entrada é gratuita, mas é necessário retirar os ingressos na bilheteria do cinema meia hora antes de cada sessão.

O Cine Humberto Mauro está localizado no Palácio das Artes, na Avenida Afonso Pena 1537, centro de Belo Horizonte.

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