quinta-feira, 23 de abril de 2015

Identidade Nacional #2 | O Casamento dos Trapalhões (1988)

(O Casamento dos Trapalhões, Brasil, 1988). Dirigido por José Alvarenga Jr. com roteiro de Paulo Andrade. Elenco: Renato Aragão, Nádia Lippi, José de Abreu, Dedé Santana, Mussum, Zacarias, Terezinha Elisa, Marlene Silva, Susana Mattos, Gugu Liberato, Zezé Macedo, Grupo Dominó, Carlos Wilson, Luciana Vendramini, Patrícia Lucchesi, Tatiana Delamare, Helga Gahyva.

Costumeiramente, os filmes de comédia caem na contradição do primor técnico de sua produção versus o humor que efetivamente cativa o seu público. Afinal, até que ponto o que houve de melhor no cinema em seus vários momentos pôde prejudicar ou contribuir para o principal gênero de divertimento da grande tela. De maneira geral, a comédia pela comédia sempre permitiu que alguns pecados cinematográficos fossem cometidos para preservar ou garantir o chiste que conduz as suas histórias. Observamos, por exemplo, exemplares filmes dos Irmãos Marx ou de Jerry Lewis que constantemente abandonam as muletas de uma narrativa linear para não perderem a força do humorismo.

A história não é muito diferente no Brasil e, à medida em que os anos foram passando, os famosos e inesquecíveis filmes d’Os Trapalhões foram perdendo o fôlego, substituindo o que era inicialmente tosco e engraçado por uma verossimilidade diluída pouco a pouco em cada uma das produções que se seguiam, tudo isso em prol de uma retidão que infelizmente combateu o exagero e a afetação circense da trupe. Porém, são inegáveis a importância cultural e a imensa contribuição que Os Trapalhões ofereceram para fãs e não fãs do Brasil e do mundo. O programa de televisão estreou em 1977 na Rede Globo e, concomitantemente, as aventuras de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias chegaram também às salas de cinema com o filme “Os Trapalhões na Guerra dos Planetas” (1978), primeiro longa-metragem com os quatro humoristas juntos (anteriormente já tinham sido realizados 12 filmes).
 
Ressalvando os debates sobre a perda de originalidade ao longo dos anos, é importante destacar que, no âmbito das produções nacionais, os filmes da turma ainda são um fenômeno que deve ser estudado com mais atenção. Das vinte e cinco maiores bilheterias da história do cinema brasileiro (todas elas acima de quatro milhões de espectadores), treze pertencem aos Trapalhões. Com um público de quase quatro milhões e oitocentas mil pessoas, “O Casamento dos Trapalhões” ocupa a 13ª. posição dessa lista, sendo o sexto longa de maior sucesso d’Os Trapalhões (em termos de bilheteria) e destaque da coluna “Identidade Nacional” deste mês.

"O Casamento dos Trapalhões" (1988) de José Alvarenga Jr. - Cinemateca Brasileira | Banco de Conteúdos Culturais

Livremente inspirado em “Sete Noivas para Sete Irmãos” (1954) de Stanley Donen, clássico musical dos anos dourados de Hollywood, “O Casamento dos Trapalhões” mostra uma série de confusões escalonadas de um grupo de simples caipiras que moram em uma fazenda no interior do Estado de São Paulo ao se aventurarem na cidade grande. As trampolinagens são tão grandes que acabam em namoros, casamentos e mais uma série de balbúrdias intermináveis.

Esses atabalhoados matutos são Dedé, Mussum e Zacarias, irmãos de Didi (Renato Aragão), pobre e simples agricultor que também se revela rude no tratamento aos seus compares. Didi vai a trabalho para uma cidade próxima e lá acaba comprando briga com Expedito (José de Abreu) além de conquistar o coração de Joana (Nádia Lippi), que acaba seguindo com ele para a fazenda. Rendido aos encantos da bela moça ele resolve se casar, apesar de Joana (apaixonada, mas com temperamento forte) não se sentir muito à vontade com a presença dos demais irmãos do marido, que possuem maus hábitos e são bem pouco educados.

Aos poucos, Joana consegue mudar os trejeitos rústicos dos cunhados e se vê animada quando, em certo dia, Didi recebe uma carta da irmã pedindo para que os seus sobrinhos, integrantes do Grupo Dominó, passem uma temporada no rancho. A oportunidade era ótima para todos, já que os rapazes iriam participar de um show em uma festa de rodeio na cidade e os seus tios teriam a oportunidade de se divertirem um pouco. No evento, tios e sobrinhos acabam engatando seus romances e depois de arrumarem mais confusões (desta vez, com todo o bando de Expedito), novamente rumam para a fazenda, mas agora com vilão e sua gangue no encalço e determinados a destruí-los.

Nádia Lippi com Didi, Dedé, Mussum e Zacarias em "O Casamento dos Trapalhões" (1988)
Cinemateca Brasileira | Banco de Conteúdos Culturais

Assim como foi discutido no início deste artigo, reafirmo que “O Casamento dos Trapalhões” está longe de ser o melhor filme do quarteto liderado por Renato Aragão, justamente pelo esmero técnico do diretor José Alvarenga Jr. que priva um pouco o humor espontâneo que o elenco sempre possuiu. Este sequer é um dos meus filmes favoritos do grupo, entretanto foi escolhido para estar na coluna do mês por um motivo sentimental fortíssimo.

Não faço parte da geração de crianças que esperavam ansiosas por cada lançamento da turma nos cinemas. Sou ligeiramente mais novo, e pertenço à geração seguinte, a que acompanhava todos os filmes dos Trapalhões pela televisão, sempre na “Sessão da Tarde” da Rede Globo. Apesar disso, o filme representa o início da minha apaixonada relação com o cinema, sendo o primeiro que me recordo de ter visto na telona. Lançado em 1988 (ano em que, para mim, era impossível ter alguma lembrança cinematográfica forte registrada na mente) o filme, como também já foi mencionado, foi sucesso de público e se manteve em cartaz ao longo de repetidas semanas e relançado por algumas vezes em grandes cinemas do país (que, infelizmente, são pouquíssimos hoje em dia).

Os eventuais êxitos de bilheteria alcançados pelos Trapalhões resultaram em um evento preparado pelo saudoso e recém-inaugurado Cine Brasil de Belo Horizonte que, às vésperas do lançamento de “Os Trapalhões e a Árvore da Juventude” em 1991, organizou uma retrospectiva com alguns dos principais filmes da trupe e, na ocasião, fui levado por meu pai para conferir um deles. Hoje (e sempre!) terei o prazer de dizer que o primeiro filme que assisti no cinema (e um dos principais responsáveis por esse amor incontido e latente pela Sétima Arte) foi “O Casamento dos Trapalhões” que à época (hoje, nem tanto) me encheu os olhos, assim como qualquer criança apaixonada pelas aventuras de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias.

Artistas que continuam encantando e conquistando fãs, Os Trapalhões sempre serão parte importante da TV e do Cinema Nacional e, sem dúvida nenhuma, ainda terão muito destaque nas colunas do Rotina Cinemeira.

Um abraço “Da Poltrona”, e até a próxima!


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