Espalhadas por todos os cantos, garotas deste Brasil
Varonil acordaram na manhã de hoje viúvas de Jorge Loredo, ou melhor, Zé
Bonitinho “o prerigote das mulheres”. Internado a quase dois meses em um
hospital da Zona Sul do Rio de Janeiro, o comediante faleceu, aos 89, vítima de
complicações de uma doença pulmonar crônica.
Ator, humorista e, paralelamente, advogado, Jorge Loredo
era o típico suburbano carioca, aquele que acaba enfrentando, invariavelmente,
muitas dificuldades desde cedo. Filho de família simples e criado no bairro de
Campo Grande, aos 12 anos foi diagnosticado com osteomielite (inflamação nos
ossos) na perna esquerda. Sofrendo de dores constantes, Loredo preferia ficar
recluso, o que acabou o transformando em uma criança introvertida. Ainda na
juventude, aos 20 anos, o ator foi internado em um sanatório, para o tratamento
de uma tuberculose.
Incentivado por seus médicos, Jorge Loredo começou a
participar de um grupo teatral do hospital para enfrentar o seu problema com a
timidez e a sociabilidade e, neste momento, descobriu sua vocação para ator. Ao
receber alta, Loredo procurou uma escola de teatro profissional sempre em busca
de papéis dramáticos porém, em sua primeira audição, o ator representou, contra
a sua vontade, o monólogo cômico “Como
Pedir uma Moça em Casamento”. Aprovado, passou a dedicar a sua carreira ao
humor e as comédias.
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Ícone do humor, Jorge Loredo dava vida a Zé Bonitinho há mais de 50 anos - Divulgação |
A figura de Zé Bonitinho, maior sucesso do ator, foi
sendo construída aos poucos. O conquistador barato de bigodinho ralo e topete
frondoso arquitetado à base de uma lata inteira de Gumex era O Bárbaro,
personagem de Jorge Loredo em “Noites
Cariocas”, programa da extinta TV Rio na década de 60. As roupas
extravagantes, os trejeitos exagerados e o leque de cantadas sofríveis foram
sendo incorporados aos poucos, mas a “inigualável beleza” do Bárbaro era tão
clarividente que foi a principal responsável por rebatizá-lo. Zé Bonitinho, “o
amigo do peito da mulherada”, enfim ganhava vida.
A marca Zé Bonitinho sempre foi uma das mais icônicas da comédia
nacional e ao longo de décadas esteve presente nos principais programas do gênero
na televisão brasileira. Loredo começou dividindo o eterno banco de Manuel de
Nóbrega na “Praça da Alegria” com outros
gênios do humor como Ronald Golias e Moacyr Franco. O ator ainda trabalhou com
Chico Anysio, inclusive em “A Escolinha
do Professor Raimundo”, e retornou “ao mesmo banco” trabalhando com o filho
de Manuel, Carlos Alberto de Nóbrega, em “A
Praça é Nossa”.
Entretanto, toda a convergência de talento e genialidade
de Jorge Loredo (e, consequentemente, Zé Bonitinho) pode ser conferida em “Sem Essa, Aranha” (1970), de Rogério
Sganzerla, uma das obras mais representativas do Cinema Marginal Brasileiro. No
longa Loredo interpreta o banqueiro Aranha, um cafajeste nato que se relaciona
com três mulheres diferentes, cada uma integrante de uma classe social diferente.
Carregada de humor negro, o filme penetra de forma escatológica no drama social
do país. Por vezes Aranha e por vezes Zé Bonitinho, a personagem principal é a representação
escarrada de uma desorientada burguesia. Obrigatório para qualquer brasileiro, “Sem Essa, Aranha” é uma erupção de
clandestinidade.
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Jorge Loredo como Zé Bonitinho em "Sem Essa, Aranha" (1970) de Rogério Sganzerla - Belair Filmes [br] |
Jorge Loredo atuou em poucos filmes (dez ao todo), mas a
sua presença em cena era sempre marcante. Mesmo nas produções em que não
interpretava a sua personagem mais marcante, Jorge Loredo sempre apresentava com
elementos típicos associados ao caricato Zé Bonitinho, principalmente nos figurinos
chamativos ou nos acessórios vistosos. Dentre seus principais trabalhos estão “O Abismo” (1977), também de Sganzerla; “Tudo Bem” (1978) de Arnaldo Jabor; e “Chega de Saudade” (2007) de Laís
Bodanzky. Sua última aparição no cinema foi no longa “O Palhaço” (2011) de Selton Mello.
Longe da televisão há alguns anos, Zé Bonitinho partiu
sem nos deixar, pela última vez, o seu famoso tilintar de sobrancelhas e aquele
“tostão de sua voz”. Entretanto, aplausos não faltarão para esse genuíno ícone
do humor. O mundo está ficando cada vez mais chato e sem graça, pois os
verdadeiramente bons estão indo embora.
Descanse em paz... (1925 - 2015)
Dez filmes com Jorge
Loredo que indico (em ordem de predileção):
01 - Sem Essa, Aranha
(1970) - de Rogério Sganzerla
02 - Chega de Saudade (2007) - de Laís Bodanzky
03 - O Abismo (1977) - de Rogério Sganzerla
04 - A Espiã que Entrou em Fria (1967) - de Sanin
Cherques
05 - Um Caso de Polícia (1959) - de Carla Civelli
06 - Sai Dessa, Recruta (1960) - de Hélio Barroso
07 - Tudo Bem (1978) - de Arnaldo Jabor
08 - Câmera, Close! (2005) - de Susanna Lira
09 - A Suprema Felicidade (2010) - de Arnaldo Jabor
10 - O Palhaço (2011) - de Selton Mello
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