Tem início hoje, no Cine Humberto Mauro em Belo
Horizonte, a Mostra “Cinema Japonês – Parte I”. Ao todo serão exibidos, até o
dia 26 de março, 19 filmes que darão início à revisão de uma das
cinematografias mais belas e inventivas do cinema mundial.
O recorte proposto neste primeiro momento contemplará
produções realizadas nas décadas de 50 e 60, época gloriosa e dignificante não
só para o cinema como para toda a cultura nipônica. Movidos pelo desejo
imediato de reconstrução da identidade de um país devastado por inúmeros
conflitos e pelos ataques nucleares da Segunda Guerra Mundial, o povo japonês
manteve a sua honra e passou a tratar, em um inédito diálogo com o ocidente,
questões tradicionais da sua vida cotidiana de maneira universal.
Através da parceria firmada entre a Fundação Clóvis
Salgado, com a Fundação Japão e o Consulado Geral Honorário do Japão em Belo
Horizonte, foi possível reunir obras de cineastas consagrados como Akira
Kurosawa, Mikio Naruse, Shôei Imamura e Masaki Kobayashi. O que torna o evento
ainda mais interessante para o público é que todos as projeções serão em
película (16mm e 35mm), formato cada vez mais raro nas salas de cinema do
Brasil, infelizmente.
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Toshirô Mifune em "Shizukanaru Kettô" (1949) de Akira Kurosawa Daiei Motion Picture Company [jp] | Daiei Studios [jp] | Film Art Association [jp] |
Ainda dentro do programa da Mostra, dois dos cineastas mais
importantes deste período serão homenageados com dias especiais destinados a
exibição de seus filmes mais emblemáticos. Yasujirô Ozu, cineasta famoso por
retratar de forma admirável a ordinária vida cotidiana, terá nos dias 7 e 8 de
março cinco de seus mais importantes longas reproduzidos: “Filho Único” (1938), “Pai e
Filha” (1949), “Era uma Vez em Tóquio”
(1953), “Fim de Verão” (1961) e “A Rotina tem seu Encanto” (1962).
Já nos dias 10 e 11 de março o homenageado é Kenji
Mizoguchi, famoso por abordar temáticas universais refletidas pela a tradição
oriental nos núcleos familiares e na sociedade japonesa em geral. Foram
selecionados para as datas: “A Vida de O’Haru”
(1952), “Contos da Lua Vaga” (1953), “A Música de Gion” (1953), “O Intendente Sanshô” (1954), “Os Amantes Crucificados” (1954) e “A Nova Saga do Clã de Taira” (1955).
A programação completa está disponível no site da
Fundação Clóvis Salgado (fcs.mg.gov.br) ou pode ser acessada diretamente pelo
link "Cinema Japonês - Parte I"
A entrada é gratuita, mas é necessário retirar os
ingressos na bilheteria do cinema meia hora antes de cada sessão.
O Cine Humberto Mauro está localizado no Palácio das
Artes, na Avenida Afonso Pena 1537, centro de Belo Horizonte.
Com base na programação divulgada pela gerência da casa,
o Rotina Cinemeira selecionou e agora
indica quatro filmes imperdíveis desta Mostra, confira:
De Onde se Avistam as Chaminés (Entotsu no Mieru Basho, Japão,
1953)
Direção: Heinosuke Gosho
Famoso por retratar a pobreza espiritual refletida na
classe operária japonesa do pós-guerra, o romancista o Rinzo Shiina tem uma de
suas principais obras adaptadas por Heinosuke Gosho. O filme acompanha, com um
esperançoso senso de humor humanístico, a vida simples de dois casais que vivem
na periferia de Tóquio. Por trás de uma aparente monotonia cotidiana, um
complexo universo de sentimentos paradoxais é eclodido, evidenciando os tempos
difíceis e amargos enfrentados pelo Japão.
Era uma Vez em Tóquio (Tôkyô Monogatari, Japão, 1953)
Direção: Yasujirô Ozu
Acompanhamos Tomi (Chieko Higashiyama) e Shukichi (Chishu
Ryû), um casal de idosos que viaja para Tóquio com o propósito de visitar seus
filhos e netos. Ao perceberem que recebem pouca ou nenhuma atenção da
impaciente família, os dois são confrontados pela indiferença, pela ingratidão
e pelo egoísmo que vem contaminando as grandes cidades. Carregado de realismo,
o filme ainda traz uma profunda reflexão sobre a alienação associada ao
envelhecimento e uma meditação insuportável e comovente sobre a mortalidade.
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"Tôkyô Monogatari" (1953) de Yasujirô Ozu - Shôchiku Eiga [jp] |
Portal do Inferno (Jigokumon,
Japão, 1953)
Direção: Teinosuke Kinugasa
Em 1159, o General Kiyomori (Koreya Senda), senhor feudal
do Japão da Era Heian, sofreu um golpe enquanto se deslocava com a sua corte. Em
meio a esta revolta, Moritoo Endô (Kazuo Hasegawa), um dos leais samurais do
grupo rebelde, está disposto a enfrentar todos os desafios e os valores impostos
pela sociedade japonesa para conquistar Kesa (Machiko Kyô), uma mulher casada.
Contos da Lua Vaga (Ugetsu
Monogatari, Japão, 1953)
Direção: Kenji Mizoguchi
No século XVI, durante a Guerra Civil Japonesa, Genjuro
(Masayuki Mori) e seu cunhado Tobe (Eitaro Ozawa) viajam com as suas esposas
rumo à capital da província onde vivem, nas proximidades do Lago Biwa. Genjuro
tem o ofício de oleiro e Tobe o ajuda na comercializando as peças de cerâmica.
Com o dinheiro da venda dos utensílios, os dois acabam tomando caminhos
diferentes em busca de satisfazer os seus desejos. Tobe compra armas, torna-se
um samurai e abandona a mulher. Já Genjuro continua com o seu trabalho, mas acaba
se envolvendo com a enigmática Lady Wakasa (Machiko Kyô) quando vai lhe entregar
algumas de suas mercadorias.
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"Ugetsu Monogatari" (1953) - de Kenji Mizoguchi - Daiei Studios [jp] |
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