segunda-feira, 23 de março de 2015

Memórias #5 | Cláudio Marzo (1940 - 2015)

O comportamento sóbrio e honesto frente às câmeras (que nos brindou com personagens marcantes em algumas das principais telenovelas brasileiras) sintetiza a carreira do paulistano Cláudio Marzo, falecido neste último fim de semana, aos 74 anos, no Rio de Janeiro.

Reconhecido como um dos artistas que melhor representou a sua geração, Marzo já estava fadado ao sucesso. Descendente de uma família de imigrantes italianos, o ator não possuía nenhuma influência artística na sua infância. Mesmo assim Cláudio, filho de pai metalúrgico e mãe dona de casa, abandonou os estudos aos 17 anos para trabalhar como figurante em pequenas produções da TV Paulista.

Cláudio Marzo seguiu seu sonho e, mesmo sem uma relação intrínseca com a arte, conseguiu se firmar na profissão ao ser contratado pela TV Tupi no início da década de 60. “Sempre tive vontade de ser ator, achava uma coisa fantástica! Os atores me emocionavam. Achava interessante você transmitir consciência de mundo para as pessoas. Na época eu acreditava, ingenuamente até, que o teatro pudesse modificar o mundo”, dizia.

Cláudio Marzo em "O Homem Nu" (1997) de Hugo Carvana - Mac Comunicação e Produção [br]

Assim como a maioria dos atores de sua época, Cláudio Marzo despejou boa parte de seu talento nas primeiras produções da televisão brasileira. Entre os anos de 1960 e 1964 trabalhou com certo destaque em vários episódios de teleteatro da “TV de Vanguarda” e do “Grande Teatro Tupi”, ambos programas notáveis da extinta emissora de Assis Chateaubriand. Em 1965 foi contratado pela TV Globo, fazendo parte do primeiro time de atores da recém inaugurada emissora e estreando em “A Moreninha” (1965).

Entre os principais trabalhos de Cláudio Marzo na Globo estão as novelas “O Sheik de Agadir” (1966), “Véu de Noiva” (1969), “Carinhoso” (1973) e “Brilhante” (1981), além do seu maior sucesso, “Irmãos Coragem” (1970), onde dividiu o protagonismo com Tarcísio Meira e Cláudio Cavalcanti. Ironicamente, o grande reconhecimento pela sua carreira na teledramaturgia veio com um trabalho em outra emissora. Interpretando Joventino, o Velho do Rio em “Pantanal” (1990), da também extinta TV Manchete, Marzo recebeu o Troféu Imprensa de melhor ator na ocasião.

As incursões do ator pelo cinema foram tímidas, mas renderam bons frutos. Ao todo foram 35 longas-metragens, sendo que a maior parte dos quais Cláudio Marzo foi protagonista ficavam restritos a dramas e romances de pouca expressão. Entretanto, como coadjuvante de luxo, participou de algumas das maiores pérolas do nosso cinema como os densos “A Lira do Delírio” (1978) de Walter Lima Jr. e “Pra Frente Brasil!” (1982) de Roberto Farias.

Porém, seu papel mais lembrado é a do escritor Sílvio Proença na comédia “O Homem Nu” (1997) assinada por Fernando Sabino e dirigida pelo inseparável amigo Hugo Carvana. A trama mostra as desventuras deste homem que passa por uma série de situações constrangedoras ao ser trancado, completamente nu, do lado de fora do apartamento de uma nova amiga. Por este trabalho, Cláudio Marzo recebeu o Kikito de melhor ator no Festival de Gramado em 1997.

A dedicação do ator a dramaturgia era, de fato, apaixonante. Cláudio Marzo era um dos poucos atores que ainda mantinham uma relação quase que transcendental com a arte que, num contexto geral, vem sendo traspassada de maneira aterradora pela artificialidade do mundo moderno.

Ele segue seu caminho e agora descansa em paz... (1940 - 2015)

Dez filmes com Cláudio Marzo que indico (em ordem de predileção):

01 - Pra Frente, Brasil! (1982) - de Roberto Farias

02 - A Lira do Delírio (1978) - de Walter Lima Jr.

03 - O Homem que Comprou o Mundo (1968) - de Eduardo Coutinho

04 - Copacabana me Engana (1968) - de Antonio Carlos da Fontoura

05 - Se Segura, Malandro! (1978) - de Hugo Carvana

06 - A Dama do Lotação (1978) - de Neville de Almeida

07 - Parahyba Mulher Macho (1983) - de Tizuka Yamasaki

08 - Meteoro (2007) - de Diego de la Texera

09 - O Homem Nu (1997) - de Hugo Carvana

10 - O Flagrante (1976) - de Reginaldo Faria

Cláudio Marzo com Anecy Rocha no visceral "A Lira do Delírio" (1978) de Walter Lima Jr.
Embrafilme [br] | Produções Cinematográficas R. F. Farias Ltda. [br]

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