O comportamento sóbrio e honesto frente às câmeras (que
nos brindou com personagens marcantes em algumas das principais telenovelas brasileiras)
sintetiza a carreira do paulistano Cláudio Marzo, falecido neste último fim de
semana, aos 74 anos, no Rio de Janeiro.
Reconhecido como um dos artistas que melhor representou a
sua geração, Marzo já estava fadado ao sucesso. Descendente de uma família de
imigrantes italianos, o ator não possuía nenhuma influência artística na sua
infância. Mesmo assim Cláudio, filho de pai metalúrgico e mãe dona de casa, abandonou
os estudos aos 17 anos para trabalhar como figurante em pequenas produções da
TV Paulista.
Cláudio Marzo seguiu seu sonho e, mesmo sem uma relação
intrínseca com a arte, conseguiu se firmar na profissão ao ser contratado pela
TV Tupi no início da década de 60. “Sempre
tive vontade de ser ator, achava uma coisa fantástica! Os atores me
emocionavam. Achava interessante você transmitir consciência de mundo para as
pessoas. Na época eu acreditava, ingenuamente até, que o teatro pudesse
modificar o mundo”, dizia.
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Cláudio Marzo em "O Homem Nu" (1997) de Hugo Carvana - Mac Comunicação e Produção [br] |
Assim como a maioria dos atores de sua época, Cláudio
Marzo despejou boa parte de seu talento nas primeiras produções da televisão
brasileira. Entre os anos de 1960 e 1964 trabalhou com certo destaque em vários
episódios de teleteatro da “TV de
Vanguarda” e do “Grande Teatro Tupi”,
ambos programas notáveis da extinta emissora de Assis Chateaubriand. Em 1965
foi contratado pela TV Globo, fazendo parte do primeiro time de atores da recém
inaugurada emissora e estreando em “A
Moreninha” (1965).
Entre os principais trabalhos de Cláudio Marzo na Globo estão
as novelas “O Sheik de Agadir”
(1966), “Véu de Noiva” (1969), “Carinhoso” (1973) e “Brilhante” (1981), além do seu maior
sucesso, “Irmãos Coragem” (1970),
onde dividiu o protagonismo com Tarcísio Meira e Cláudio Cavalcanti.
Ironicamente, o grande reconhecimento pela sua carreira na teledramaturgia veio
com um trabalho em outra emissora. Interpretando Joventino, o Velho do Rio em “Pantanal” (1990), da também extinta TV
Manchete, Marzo recebeu o Troféu Imprensa de melhor ator na ocasião.
As incursões do ator pelo cinema foram tímidas, mas
renderam bons frutos. Ao todo foram 35 longas-metragens, sendo que a maior
parte dos quais Cláudio Marzo foi protagonista ficavam restritos a dramas e
romances de pouca expressão. Entretanto, como coadjuvante de luxo, participou
de algumas das maiores pérolas do nosso cinema como os densos “A Lira do Delírio” (1978) de Walter
Lima Jr. e “Pra Frente Brasil!”
(1982) de Roberto Farias.
Porém, seu papel mais lembrado é a do escritor Sílvio
Proença na comédia “O Homem Nu”
(1997) assinada por Fernando Sabino e dirigida pelo inseparável amigo Hugo
Carvana. A trama mostra as desventuras deste homem que passa por uma série de
situações constrangedoras ao ser trancado, completamente nu, do lado de fora do
apartamento de uma nova amiga. Por este trabalho, Cláudio Marzo recebeu o
Kikito de melhor ator no Festival de Gramado em 1997.
A dedicação do ator a dramaturgia era, de fato,
apaixonante. Cláudio Marzo era um dos poucos atores que ainda mantinham uma
relação quase que transcendental com a arte que, num contexto geral, vem sendo traspassada
de maneira aterradora pela artificialidade do mundo moderno.
Ele segue seu caminho e agora descansa em paz... (1940 -
2015)
Dez filmes com Cláudio
Marzo que indico (em ordem de predileção):
01 - Pra Frente, Brasil! (1982) - de Roberto Farias
02 - A Lira do Delírio
(1978) - de Walter Lima Jr.
03 - O Homem que Comprou o Mundo (1968) - de Eduardo
Coutinho
04 - Copacabana me Engana (1968) - de Antonio Carlos da
Fontoura
05 - Se Segura, Malandro! (1978) - de Hugo Carvana
06 - A Dama do Lotação (1978) - de Neville de Almeida
07 - Parahyba Mulher Macho (1983) - de Tizuka Yamasaki
08 - Meteoro (2007) - de Diego de la Texera
09 - O Homem Nu (1997) -
de Hugo Carvana
10 - O Flagrante (1976) - de Reginaldo Faria
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Cláudio Marzo com Anecy Rocha no visceral "A Lira do Delírio" (1978) de Walter Lima Jr. Embrafilme [br] | Produções Cinematográficas R. F. Farias Ltda. [br] |
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