O Rotina Cinemeira
foi criado para discutir a Sétima Arte em geral: divulgando mostras, redescobrindo
clássicos, reverenciando lendas, dentre outros tópicos.
A morte do cantor José Rico no final desta tarde acabou nos
pegando de surpresa. Sempre acostumado a prestar homenagens a pessoas que
admiro (sobretudo em minhas contas pessoais nas redes sociais), pensei se
caberia uma lembrança aqui neste espaço.
Se descontarmos os filmes em que as músicas de Milionário
e José Rico compunham alguma trilha sonora, a carreira cinematográfica da dupla
fica limitada a dois longas-metragens. Dessa forma, uma descrição do trabalho e
da contribuição de José Rico ao cinema na coluna “Memórias” não seria tão interessante. Partindo deste ponto, é importante
dizer que uma das principais motivações para a criação do canal é destacar, ao
longo de seus inúmeros artigos, a importância de se preservar a origem e a
identidade do Cinema Brasileiro.
A ideia principal ainda está sendo amadurecida mas, movida
pela morte de um ícone da nossa cultura popular e motivada pela trajetória que o
Rotina Cinemeira buscará ao longo da
sua existência, inaugura-se, com certa prematuridade, a coluna que a partir de
hoje será a responsável por valorizar e eternizar o Nosso Cinema!
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José Rico (à esquerda) ao lado de seu parceiro Milionário em "Estrada da Vida" (1983) Cinemateca Brasileira | Banco de Conteúdos Culturais |
Com título homônimo ao maior sucesso da carreira de
Milionário e José Rico, “Estrada da Vida”
não se configura como nenhuma obra-prima (razão pela qual a publicação também
não pôde ser encaixada na coluna semanal “Sempre
um Clássico”), mas vale ser visto por se tratar de uma preciosidade do
Cinema Nacional. Com uma direção despojada do magistral Nelson Pereira dos
Santos, o filme tem na objetividade a sua maior virtude.
Realizado em 1983, época em que não só o cinema, mas
todos os setores do país passavam por uma grave crise econômica, o longa não
possuía grandes pretensões (artísticas ou de arrecadação) à época de seu
lançamento. Sustentada pela mais pura singeleza de seu roteiro, “Estrada da Vida” surgia com uma
proposta simples: contar a história da consolidação do sucesso de uma dupla
sertaneja no país.
Outro ponto positivo é que Nelson Pereira dos Santos
renuncia às emoções exageradas e não vemos em seu filme um excesso de carga
dramática como pudemos observar em títulos mais recentes, porém com a mesma
temática. “Dois Filhos de Francisco”
(2005) e “O Menino da Porteira”
(2009), por exemplo, estão repletos de sofrimento e flutuam por um campo onde o
controle dos impulsos extrapola o campo do compassível. “Estrada da Vida”, por sua vez, está apoiada na filosofia
naturalista, na vida cotidiana e na superação dos obstáculos para sobreviver.
A dupla Milionário e José Rico é formada por um mineiro e
um pernambucano, humildes pintores de parede que se encontraram no início da
década de 70 em São Paulo. Com o auge da industrialização do Brasil
compreendido entre os anos 50 e 80, vemos a capital paulista como o cenário
lógico para o drama de milhares de migrantes brasileiros sempre carregados de
esperança, embora constantemente sufocados pela tristeza e rodeados pelo
concreto, pelo asfalto e pela poluição.
Cantando o povo para o povo, os amigos realizaram o
grande sonho da vida: na esperança de serem campeões correram sem parar e,
enfim, alcançaram o primeiro lugar!
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"Estrada da Vida" (1983) - Cinemateca Brasileira | Banco de Conteúdos Culturais |
Apesar da “pobreza” na estética e na produção de forma
geral o filme merece ser conferido, seja pelos valores sentimentais ou pela simples
curiosidade de conhecer e admirar uma das mais sólidas e honestas parcerias da
nossa música sertaneja.
Infelizmente o cinema popular acabou enfraquecido e, por
muitas vezes, alguns títulos acabaram esquecidos no Brasil. É muito difícil
encontrar uma cópia de “Estrada da Vida”,
por exemplo, mas vale a pena correr atrás do material. No Youtube o filme está
disponível em pequenos trechos editados e numerados de 1 a 10, mas esses cortes
fazem com que alguns minutos acabem sendo perdidos (falta a parte 6, inclusive).
Logo abaixo, seguem os minutos iniciais do longa:
Observação: “Estrada da
Vida” possui uma
continuação, “Sonhei com Você” (outro título homônimo a um sucesso da dupla) de 1988 dirigido por Ney Santana, filho de
Nelson Pereira dos Santos. Este último pode ser encontrado completo no site de
compartilhamento de vídeos, disponível diretamente pelo link https://www.youtube.com/watch?v=J2K-3hAbNaw
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