Vigoroso e enigmático como a atmosfera circense, claustrofóbico
e fervilhante como um amor proibido. “Sangue
Azul”, do festejado diretor pernambucano Lírio Ferreira, dará sequência à
excelente programação de 2015 do Projeto
“Cinema em Transe” trazendo para a tela a magia das impossibilidades e a
agonia afetuosa de reencontros improváveis. Com paisagens extremamente
exuberantes realçadas por uma fotografia impecável e povoadas por um elenco de
primeira grandeza, o terceiro longa-metragem de Lírio produzido para os cinemas
pode ser conferido hoje, às 20:00, na Sala Professor José Tavares de Barros do
Sesc Palladium, no centro de Belo Horizonte.
Há vinte anos, uma pequena, aprazível e edênica ilha
vulcânica do Atlântico Sul foi cenário de uma dolorosa separação. Rosa (Sandra
Corveloni) temia que uma relação incestuosa fosse desenvolvida entre seus filhos
pequenos e, sem muitas escolhas, optou por mandar o menino para o continente,
afastando-o da irmã. A guarda do garoto, com dez anos na época, foi entregue à
Kaleb (Paulo César Peréio) famoso ilusionista e dono do Circo Netuno que passeava
pela ilha. Kaleb começa a introduzir o menino nas artes do circo e a instruí-lo
na evolução de sua espirituosidade. O ilhéu acaba se transformando em Zolah, o
Homem-Bala (Daniel de Oliveira) que regressa à sua terra natal, depois de muito
tempo, para uma curta temporada de apresentações junto com a sua trupe. O reencontro
com Raquel (Caroline Abras) é inevitável e promete reacender os desejos mais inflamáveis
e angustiantes que, de fato, Zolah nutria pela irmã.
Com outros nomes de peso no elenco, como Matheus Nachtergaele
e Milhem Cortaz, “Sangue Azul” foi filmado
no paradisíaco arquipélago de Fernando de Noronha e teve a sua estreia em julho
do ano passado, durante o Festival de Paulínia, ensandecendo instantaneamente o
público que acompanhava a projeção. A carreira de Festivais é curta, mas já vem
rendendo ao longa boas premiações e ampliação afamada de reconhecimento e de popularidade.
Durante as celebrações no interior paulista, o filme conquistou os prêmios de
melhor fotografia, para Mauro Pinheiro Jr., e melhor figurino, para Juliana
Prysthon. Ainda em 2014, o filme venceu o Troféu Redentor na categoria de
Melhor Filme de Ficção da Mostra Première Brasil do Festival do Rio, que também
agraciou Lírio Ferreira com o prêmio de Melhor Diretor, e Rômulo Braga com o
prêmio de Melhor Ator Coadjuvante por sua atuação como Cangulo. Já em 2015, “Sangue Azul” abriu a tradicional e
prestigiada Mostra Panorama, em exibição hors
concours durante o Festival Internacional de Berlim.
"Sangue Azul" (2014) de Lírio Ferreira - Drama Filmes [br] |
“Na estrada” há mais de vinte anos, o diretor, produtor e
roteirista recifense Lírio Ferreira possui em seu currículo um leque variado de
produções, obras marcantes que contribuíram muito para alavancar o visceral e pujante
cinema pernambucano. Cinema esse que vem ganhando respeito e notoriedade em
vários festivais e mostras competitivas de todo o mundo. Lírio começou a
carreira com dois curtas-metragens de ficção intrigantes sobre duas figuras
peculiares de histórias e passagens completamente distintas: “O Crime da Imagem” (1992) sobre o
messiânico Antônio Conselheiro; e “That’s
a Lero-Lero” (1994) sobre o controverso Orson Welles. Ele também é
responsável por dois dos documentários mais belos produzidos no Brasil nos
últimos anos: “Cartola - Música para os
Olhos” (2007), sobre a vida do nosso eterno e divino poeta das rosas; e “O Homem que Engarrafava Nuvens” (2009)
sobre a trajetória musical de Humberto Teixeira, o inseparável parceiro do Rei
do Baião, Luiz Gonzaga.
O cineasta realizou outros dois longas-metragens de ficção,
“Baile Perfumado” (1997) e “Árido Movie” (2005), que integram,
inclusive, uma outra mostra que também está em cartaz no Sesc Palladium no mês de
agosto e que ainda serão exibidos ao longo desta semana. O evento “Imaginários do Sertão - Palavra e Imagem”
(artigo AQUI) vem promovendo,
desde o último sábado, uma série de encontros que discutem as influências
mútuas entre o cinema e a literatura e as maneiras como essas duas artes
contribuem para a preservação da memória e para a construção da identidade do
Brasil. Lírio Ferreira estará em Belo Horizonte no final desta semana para participar
de alguns ciclos de debates sobre os filmes, mas já podemos aproveitar o dia de
hoje para começar a ter contato com o seu trabalho assistindo a “Sangue Azul”, este que talvez seja o
seu projeto mais ambicioso.
Criado em janeiro de 2013 com o intuito de promover o
Cinema Nacional, o Projeto “Cinema em
Transe” se transformou em um importante veículo para a disseminação de
produções lançadas recentemente e que obtiveram destaque significativo em
festivais de cinema pelo Brasil e pelo mundo. Ao longo desses últimos dois
anos, as ações do projeto contribuíram muito para a divulgação e difusão do
cinema produzido no país, explorando vários temas e possibilitando um contato
maior do público com importantes obras da nossa cinematografia, por vezes raras
e de difícil acesso.
Ressalvando o enorme valor cultural do projeto, vale
lembrar que as exibições no Sesc Palladium são quinzenais e em sessão única.
Dessa forma, se a divulgação desses filmes não for feita permanentemente,
muitos deles continuarão enfrentando grandes dificuldades para serem
distribuídos ou se lançarem no circuito comercial. Alguns desses excelentes
filmes, por exemplo, são inéditos em Belo Horizonte e, lamentavelmente, terão
pouco ou nenhum destaque nas salas de cinema da cidade. Confira, então, as
produções já exibidas pelo projeto em 2015 com o link para os respectivos
artigos e ajudem a divulgá-los:
- “Branco Sai,
Preto Fica” (DF) de Adirley Queirós (em breve na Coluna “Identidade Nacional”);
Viva o Cineclubismo e viva o Cinema Nacional!
Observação: a entrada para a sessão de “Sangue Azul” esta noite é gratuita, mas
é necessário retirar os ingressos na bilheteria do Sesc Palladium duas horas
antes da sessão. O espaço está sujeito a lotação.
A Sala Professor José Tavares de Barros está localizada
no Sesc Palladium, na Avenida Augusto de Lima 420, centro de Belo Horizonte.
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