terça-feira, 4 de agosto de 2015

“Sangue Azul” de Lírio Ferreira é destaque do Projeto “Cinema em Transe” nesta terça no Sesc Palladium | Rotina em Belo Horizonte

Vigoroso e enigmático como a atmosfera circense, claustrofóbico e fervilhante como um amor proibido. “Sangue Azul”, do festejado diretor pernambucano Lírio Ferreira, dará sequência à excelente programação de 2015 do Projeto “Cinema em Transe” trazendo para a tela a magia das impossibilidades e a agonia afetuosa de reencontros improváveis. Com paisagens extremamente exuberantes realçadas por uma fotografia impecável e povoadas por um elenco de primeira grandeza, o terceiro longa-metragem de Lírio produzido para os cinemas pode ser conferido hoje, às 20:00, na Sala Professor José Tavares de Barros do Sesc Palladium, no centro de Belo Horizonte.

Há vinte anos, uma pequena, aprazível e edênica ilha vulcânica do Atlântico Sul foi cenário de uma dolorosa separação. Rosa (Sandra Corveloni) temia que uma relação incestuosa fosse desenvolvida entre seus filhos pequenos e, sem muitas escolhas, optou por mandar o menino para o continente, afastando-o da irmã. A guarda do garoto, com dez anos na época, foi entregue à Kaleb (Paulo César Peréio) famoso ilusionista e dono do Circo Netuno que passeava pela ilha. Kaleb começa a introduzir o menino nas artes do circo e a instruí-lo na evolução de sua espirituosidade. O ilhéu acaba se transformando em Zolah, o Homem-Bala (Daniel de Oliveira) que regressa à sua terra natal, depois de muito tempo, para uma curta temporada de apresentações junto com a sua trupe. O reencontro com Raquel (Caroline Abras) é inevitável e promete reacender os desejos mais inflamáveis e angustiantes que, de fato, Zolah nutria pela irmã.

Com outros nomes de peso no elenco, como Matheus Nachtergaele e Milhem Cortaz, “Sangue Azul” foi filmado no paradisíaco arquipélago de Fernando de Noronha e teve a sua estreia em julho do ano passado, durante o Festival de Paulínia, ensandecendo instantaneamente o público que acompanhava a projeção. A carreira de Festivais é curta, mas já vem rendendo ao longa boas premiações e ampliação afamada de reconhecimento e de popularidade. Durante as celebrações no interior paulista, o filme conquistou os prêmios de melhor fotografia, para Mauro Pinheiro Jr., e melhor figurino, para Juliana Prysthon. Ainda em 2014, o filme venceu o Troféu Redentor na categoria de Melhor Filme de Ficção da Mostra Première Brasil do Festival do Rio, que também agraciou Lírio Ferreira com o prêmio de Melhor Diretor, e Rômulo Braga com o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante por sua atuação como Cangulo. Já em 2015, “Sangue Azul” abriu a tradicional e prestigiada Mostra Panorama, em exibição hors concours durante o Festival Internacional de Berlim.

"Sangue Azul" (2014) de Lírio Ferreira - Drama Filmes [br]

“Na estrada” há mais de vinte anos, o diretor, produtor e roteirista recifense Lírio Ferreira possui em seu currículo um leque variado de produções, obras marcantes que contribuíram muito para alavancar o visceral e pujante cinema pernambucano. Cinema esse que vem ganhando respeito e notoriedade em vários festivais e mostras competitivas de todo o mundo. Lírio começou a carreira com dois curtas-metragens de ficção intrigantes sobre duas figuras peculiares de histórias e passagens completamente distintas: “O Crime da Imagem” (1992) sobre o messiânico Antônio Conselheiro; e “That’s a Lero-Lero” (1994) sobre o controverso Orson Welles. Ele também é responsável por dois dos documentários mais belos produzidos no Brasil nos últimos anos: “Cartola - Música para os Olhos” (2007), sobre a vida do nosso eterno e divino poeta das rosas; e “O Homem que Engarrafava Nuvens” (2009) sobre a trajetória musical de Humberto Teixeira, o inseparável parceiro do Rei do Baião, Luiz Gonzaga.

O cineasta realizou outros dois longas-metragens de ficção, “Baile Perfumado” (1997) e “Árido Movie” (2005), que integram, inclusive, uma outra mostra que também está em cartaz no Sesc Palladium no mês de agosto e que ainda serão exibidos ao longo desta semana. O evento “Imaginários do Sertão - Palavra e Imagem” (artigo AQUI) vem promovendo, desde o último sábado, uma série de encontros que discutem as influências mútuas entre o cinema e a literatura e as maneiras como essas duas artes contribuem para a preservação da memória e para a construção da identidade do Brasil. Lírio Ferreira estará em Belo Horizonte no final desta semana para participar de alguns ciclos de debates sobre os filmes, mas já podemos aproveitar o dia de hoje para começar a ter contato com o seu trabalho assistindo a “Sangue Azul”, este que talvez seja o seu projeto mais ambicioso.

Criado em janeiro de 2013 com o intuito de promover o Cinema Nacional, o Projeto “Cinema em Transe” se transformou em um importante veículo para a disseminação de produções lançadas recentemente e que obtiveram destaque significativo em festivais de cinema pelo Brasil e pelo mundo. Ao longo desses últimos dois anos, as ações do projeto contribuíram muito para a divulgação e difusão do cinema produzido no país, explorando vários temas e possibilitando um contato maior do público com importantes obras da nossa cinematografia, por vezes raras e de difícil acesso.

Ressalvando o enorme valor cultural do projeto, vale lembrar que as exibições no Sesc Palladium são quinzenais e em sessão única. Dessa forma, se a divulgação desses filmes não for feita permanentemente, muitos deles continuarão enfrentando grandes dificuldades para serem distribuídos ou se lançarem no circuito comercial. Alguns desses excelentes filmes, por exemplo, são inéditos em Belo Horizonte e, lamentavelmente, terão pouco ou nenhum destaque nas salas de cinema da cidade. Confira, então, as produções já exibidas pelo projeto em 2015 com o link para os respectivos artigos e ajudem a divulgá-los:

- “Branco Sai, Preto Fica” (DF) de Adirley Queirós (em breve na Coluna “Identidade Nacional”);









Viva o Cineclubismo e viva o Cinema Nacional!


Observação: a entrada para a sessão de “Sangue Azul” esta noite é gratuita, mas é necessário retirar os ingressos na bilheteria do Sesc Palladium duas horas antes da sessão. O espaço está sujeito a lotação.

A Sala Professor José Tavares de Barros está localizada no Sesc Palladium, na Avenida Augusto de Lima 420, centro de Belo Horizonte.

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