Passado e memória; silêncio e fraqueza; ribombo e desejo!
Os dramas da sociedade contemporânea são cercados pelos medos e pelas
incertezas de um mundo habitado pela desconfiança e traduzido pelo sentimento da
perda ou da ausência, mas que ainda segue girando na sua incessante e
conflituosa busca pela felicidade plena. Em um diálogo simplório e honesto com
o seu espectador, “Permanência” acaba
tratando de tudo isso com uma eloquente singeleza. O longa-metragem de estreia
do diretor pernambucano Leonardo Lacca dará sequência à programação de 2015 do Projeto “Cinema em Transe” e pode ser
conferido hoje, às 20:00, na Sala Professor José Tavares de Barros do Sesc
Palladium, no centro de Belo Horizonte.
O turbilhão de emoções preservado com latência em um
vazio notadamente angustiante é carregado por Ivo (Irandhir Santos), um
fotógrafo pernambucano que chega a São Paulo para apresentar a primeira mostra
individual de seu elogiado trabalho. Ele acaba aceitando o convite de sua
ex-namorada, Rita (Rita Carelli), para permanecer hospedado em sua casa durante
o período em que a exposição é realizada. Entretanto, Rita se encontra casada
com Mauro (Sílvio Restiffe), enquanto Ivo deixou um grande amor em Recife. Os
gestos e olhares “tímidos” refletem a inquietação como a provável consequência
para os assuntos mal resolvidos; a afeição e a simpatia preservadas ao longo
dos anos de distância farejam uma iminente explosão de sentimentos. Inevitavelmente,
a proximidade entre Ivo e Rita irá despertar antigos desejos e novas
possibilidades de uma relação para os dois.
Exibido na Première Brasil do Festival do Rio de 2014, “Permanência” integrou a lista dos
filmes que compunham a Mostra Novos Rumos, dedicada exclusivamente à diretores
estreantes que, atualmente, são os maiores responsáveis por expressarem as
novas linguagens que construirão caminhos esperançados para o nosso Cinema
Nacional. Ainda em 2014, o longa venceu em duas categorias do cada vez mais
importante Festival Internacional de Cinema da Fronteira, realizada no
fronteiriço município gaúcho de Bagé: Lacca ficou com o prêmio de melhor
direção e Irandhir Santos (com o seu já inegável e monstruoso talento) foi
premiado como melhor ator. Já em 2015, a produção foi a grande vencedora da
noite de premiações do XIX Cine PE Festival Audiovisual, realizado na cidade do
Recife. Além de ser escolhido como o Melhor Filme da edição, ainda foram agraciadas
na cerimônia Rita Carelli (atriz), Laila Pas (atriz coadjuvante); e ainda
Genésio de Barros (ator coadjuvante) e Juliano Dornelles (direção de arte).
Ameno, mas com a firme e opulenta assinatura presente em todas
as obras da excelente safra do Cinema Pernambucano atual, “Permanência” é uma das grandes surpresas do ano e ainda tem um
interessante caminho a seguir.
"Permanência" (2014) de Leonardo Lacca - Trincheira Filmes [br] |
Leonardo Lacca surge como um talento promissor deste Novo
Cinema Pernambucano, justamente por possuir, em seu currículo, uma série de
curtas-metragens notáveis e extremamente relevantes para a cena cultural de seu
Estado. Dentre eles se destacam “Sob a
Mesa” (2003), parceria com os diretores Gabriel Mascaro e Marcelo Lordello;
“Interferência” e “Ventilador”, ambos de 2004; “Eisenstein” (2006); e “Décimo Segundo” (2007), o inquietante e
estrondoso curta que serviu como o ponto de partida para a concepção de “Permanência”, e que também contou com a participação de Irandhir Santos e Rita
Carelli no elenco. O cineasta ainda estará presente na Sala Professor José
Tavares de Barros na noite de hoje para participar de um debate ao final da
projeção de seu primeiro longa.
Criado em janeiro de 2013 com o intuito de promover o
Cinema Nacional, o Projeto “Cinema em
Transe” se transformou em um importante veículo para a disseminação de
produções lançadas recentemente e que obtiveram destaque significativo em
mostras e festivais de cinema pelo Brasil e pelo mundo. Ao longo desses últimos
dois anos, as ações do projeto contribuíram muito para a divulgação e difusão
do cinema produzido no país, explorando vários temas e possibilitando um
contato maior do público com importantes obras da nossa cinematografia, por
vezes raras e de difícil acesso.
Ressalvando o enorme valor cultural do projeto, vale
lembrar que as exibições no Sesc Palladium são quinzenais e em sessão única.
Dessa forma, se a divulgação desses filmes não for feita permanentemente,
muitos deles continuarão enfrentando grandes dificuldades para serem
distribuídos ou se lançarem no circuito comercial. Alguns desses excelentes
filmes, por exemplo, são inéditos em Belo Horizonte e, lamentavelmente, terão
pouco ou nenhum destaque nas salas de cinema da cidade. Confira, então, as
produções já exibidas pelo projeto em 2015 com o link para os respectivos
artigos e ajudem a divulgá-los:
- “Branco Sai,
Preto Fica” (DF) de Adirley Queirós (em breve na Coluna “Identidade Nacional”);
Viva o Cineclubismo e viva o Cinema Nacional!
Observação: a entrada para a sessão de “Permanência” esta noite é gratuita, mas
é necessário retirar os ingressos na bilheteria do Sesc Palladium duas horas
antes da sessão. O espaço está sujeito a lotação.
A Sala Professor José Tavares de Barros está localizada
no Sesc Palladium, na Avenida Augusto de Lima 420, centro de Belo Horizonte.
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