Idealizado em 2001 pela Associação Curta Minas/ABD-MG com
o intuito de valorizar a exibição e disseminação de curtas-metragens nacionais,
a Mostra de Cinema Permanente Curta Circuito já possui um grande destaque no cenário cultural de Belo Horizonte
há quatorze anos e também realiza, por algum tempo, exibições especiais em
cidades do interior do Estado de Minas Gerais. Expandindo cada vez mais as suas
fronteiras e após um debute de sucesso em São Paulo no início de agosto, o
projeto se prepara para mais uma estreia especial ainda neste mês, desta vez abraçando
a capital baiana.
Sucesso absoluto na formação regular de um público consumidor
de Cinema Nacional da melhor qualidade, o Curta Circuito conquistou o seu espaço e ganhou notoriedade no decorrer dos anos ampliando
o seu caráter e objetivos iniciais, passando a privilegiar também os
médias-metragens e, posteriormente, integrar alguns longas em sua vasta e
variada programação. Absorvendo e propagando na sua linha curatorial todas as formas
de se fazer e de se pensar cinema, o projeto ainda apresenta, além da exibição
constante de excelentes filmes, encontros do público com alguns convidados
(sejam eles diretores, atores ou críticos de cinema) que através de ciclos de
debates ajudam a remodelar ou reconstruir padrões críticos de uma identicidade
brasileira através da realização e da produção de obras que promovem uma
reflexão que vai além da diversão.
Atualmente, o amplo trabalho da coordenação de Cláudio
Constantino e Daniela Fernandes somado aos esforços da curadoria do projeto
visam estabelecer, basicamente, o encontro cada vez mais rotineiro (e íntimo) das
pessoas com as variadas formas de produção audiovisual brasileiras realizadas
ao longo de décadas e décadas na História do Cinema Nacional. Essas atividades também
incluem produções extremamente recentes de uma vigorosa e pujante safra e
inventiva linha cinematográfica que vem, mesmo que de forma independente,
conquistando um número cada vez maior de fãs. Filmes como “Exilados do Vulcão” (2013) de Paula Gaitán; “Periscópio” (2013) de Kiko Goifman; “A História da Eternidade” de Camilo Cavalcante; e “A Vizinhança do Tigre” (2014) de
Affonso Uchoa (inclusive, curador do projeto) fizeram parte de uma das Mostras
do projeto, denominada “Eixo BR”
realizadas em Belo Horizonte em suas últimas edições.
Além desses importantes e recentes lançamentos, uma
parceria firmada com a Cinemateca Brasileira nos últimos anos de projeto ainda foi/é
responsável por nos brindar com as exibições de eternos clássicos restaurados
em belíssimas cópias em película 35mm que, por muitas vezes esquecidos, voltam
a reabitar a nossa memória. Na Mostra "Clássicos
BR" (que recheia essa primeira edição em Salvador com três grandes produções),
obras valorosas como, por exemplo, “O
Grande Momento” (1958) de Roberto Santos; “A Rainha Diaba” (1974) de Antonio Carlos da Fontoura; “A Lira do Delírio” (1978) de Walter
Lima Jr.; e “Na Estrada da Vida” (1983) de Nelson Pereira dos Santos foram projetadas num curto espaço de dois
anos ao longo da Mostra Permanente.
Notadamente imperdíveis, as exibições em Salvador
começarão hoje e se estenderão ao longo de todo o fim de semana com sessões às
19:00 na quinta e na sexta-feira e às 18:00 no sábado e no domingo. Os filmes
que serão projetados este mês (todos clássicos absolutos!) contemplam as
décadas de 70 e de 80 e se correlacionam ao mostrarem o olhar crítico dos
cineastas sobre a cultura e a dinâmica social brasileira à época, revelando um
cotidiano batalhador e sofrido; o escancaro das realidades marginais; a
rebeldia adolescente; e as intranquilidades da vida adulta.
A programação completa está disponível no próprio site do
Projeto Curta Circuito (http://www.curtacircuito.com.br/)
ou pode ser acessada diretamente pelo link "Curta Circuito em Salvador (BA)".
A Sala Walter da Silveira está localizada na DIMAS
(Diretoria de Audiovisual da Fundação Cultural da Bahia), na Rua General
Labatut 27, no subsolo da Biblioteca Pública dos Barris, em Salvador.
A ENTRADA É FRANCA!
A sessão que inaugura a Mostra em Salvador esta noite é a
do filme “Ladrões de Cinema” (1977)
de Fernando Coni Campos, com Antônio Pitanga, Grande Otelo, Jean-Claude
Bernardet e Milton Gonçalves no elenco. E agora confira agora as sinopses, dias
de exibição e informações sobre os debatedores de cada uma das sessões dessa
semana:
Dia 27/08 - Ladrões de
Cinema (Ladrões de Cinema, Brasil, 1977)
Direção: Fernando Coni
Campos
Durante a celebração do carnaval carioca, uma equipe de
cineastas estadunidenses tem os seus equipamentos e materiais de filmagem
roubados por um bloco de índios aos quais eles documentavam. Logo após o furto,
os ladrões que, na verdade, são moradores da comunidade de Morro do Pavãozinho
resolvem eles mesmos fazerem um filme que terá como tema a Inconfidência
Mineira.
Após a sessão, haverá um bate-papo com a editora do
CinePipocaCult Amanda Aouad, também crítica de cinema e filiada à Abraccine.
"Ladrões de Cinema" (1977) de Fernando Coni Campos - Cinemateca Brasileira [br] | Banco de Conteúdos Culturais |
Dia 28/08 - Sessão Topografias
do diretor Aloysio Raulino
Inventário da Rapina (Inventário da Rapina, Brasil, 1986)
Baseando-se em textos, relatos e músicas do poeta e ensaísta
paulistano Cláudio Willer, o “Inventário
da Rapina” registra as impressões dos momentos vividos no Brasil e que
podem ser traduzidos ou sentidos em qualquer época. Um drama intimista,
patriótico e atemporal.
O Porto de Santos (O Porto de Santos, Brasil, 1978)
Registro documental descritivo e poético do Porto de
Santos e de seus trabalhadores (doqueiros, marinheiros e prostitutas) que se
encontram afetados ou envolvidos por uma paralisação grevista.
Lacrimosa (Lacrimosa, Brasil,
1970)
Retrato cru e contínuo de São Paulo a partir de uma viagem
itinerante e ininterrupta pelas ruas da cidade. Seguindo pela Marginal Tietê e
pelas demais vias da maior metrópole brasileira, observamos uma paisagem ser
desenhada por grandes edifícios e fábricas, bem como terrenos baldios, favelas
e muita miséria. Uma compassiva e lacrimosa visualidade urbana.
O Tigre e a Gazela (O Tigre e a Gazela, Brasil, 1976)
Tudo se mistura: fisionomias, gestos e falas das diversas
personagens das ruas vivas de São Paulo. Mendigos, pedintes, foliões e pessoas
inquietamente simples relatam os seus anseios e suas loucuras. Os diversos sons
e imagens registrados ainda são intercalados e ilustrados com extratos do
psiquiatra e pensador franco-martinicano Frantz Fanon.
Após a sessão, haverá um bate-papo com o cineasta e
diretor do Instituto de Radiofusão Educativa da Bahia, José Araripe Jr. e com a
arquiteta urbanista e artista visual Silvana Olivieri.
"Inventário da Rapina" (1986); "Lacrimosa" (1970); "O Porto de Santos" (1978); "O Tigre e a Gazela" (1976) Filmes de Aloysio Raulino - Divulgação Forumdoc.bh [br] |
Dia 29/08 - Marcelo Zona
Sul (Marcelo Zona Sul, Brasil, 1970)
Direção: Xavier de Oliveira
Morador da Zona Sul do Rio de Janeiro, o inquieto jovem Marcelo
(Stepan Nercessian) evita a escola e o trabalho e, ao lado de seus amigos, sai
pelas ruas em busca de aventuras inconsequentes como forma de fuga, represália
e desforra contra uma realidade que o sufoca. O fracasso de sua escapadela e a aparente
rebeldia sem causa podem ser deflagradas pelo seu bom coração e pela vontade de
nunca querer, de fato, ter deixado a tranquilidade e as mordomias da sua vida
de classe média.
Os conflitos da rebeldia latente da adolescência com a
inocente pureza preservada da infância revelam as contradições das gerações mais
novas que sempre serão a grande esperança de um aperfeiçoado mundo adulto no
futuro.
Após a sessão, haverá um bate-papo com o pesquisador de
cinema Rafael Carvalho, crítico filiado a Abraccine.
"Marcelo Zona Sul" (1970) de Xavier de Oliveira - Ipanema Filmes [br] | Lestepe Produções Cinematográficas [br] |
Dia 30/08 - Wilsinho Galiléia
(Wilsinho Galiléia, Brasil, 1978)
Direção: João Batista de
Andrade
Mesclando depoimentos fictícios e reais, o banditismo
arrojado ou o heroísmo lacônico acabam se confundindo no documento visual que
reconstrói a curta e trágica vida de Wilsinho, um jovem transformado em contraventor
perigoso desde os seus quatorze anos de idade. Autor de inúmeros crimes e
diversas vezes preso, Wilsinho acabou sendo fuzilado pela polícia na casa de
sua namorada, Geni.
Proibido pela ditadura de ser lançado comercialmente nos
cinemas, o documentário biográfico foi produzido em formato 16mm sob encomenda
da Rede Globo de Televisão e exibido no programa “Globo Repórter”.
Após a sessão, haverá um bate-papo com o cineasta Geraldo
Moraes.
"Wilsinho Galiléia" (1978) de João Batista de Andrade - Cinemateca Brasileira [br] | Banco de Conteúdos Culturais |
AO CURTA CIRCUITO, SUCESSO SEMPRE! AOS SOTEROLPOLITANOS,
BOAS SESSÕES!
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