sexta-feira, 1 de maio de 2015

Três Assim #3 | Road Movies Brasileiros

Nesta última quinta-feira, encerrou-se no Cine Humberto Mauro, em Belo Horizonte, a Mostra “Sem Destino - Filmes na Estrada” que ofereceu para o seu público uma seleção especial de clássicos fascinantes do “gênero” cinematográfico conhecido como “Road Movie”, ou Filmes de Estrada. O artigo com os destaques e as principais dicas elaboradas pelo RotinaCinemeira para esta Mostra pode ser conferido clicando AQUI.

Humanisticamente muito fortes, os “road movies” têm como principal característica o fato de terem as narrativas desenroladas a partir do deslocamento das personagens de um ponto ao outro de uma estrada. Além disso, esses filmes constantemente apresentam o crescimento psicológico e moral das mesmas, evidenciando um amadurecimento capaz de alterar as perspectivas de suas vidas cotidianas para sempre.

Os filmes de estrada tratam universalidades e singularidades em um único espaço, e sempre valorizam as paisagens e os eventos que acontecem durante o percurso. Em um país de proporções continentais e de cartões postais tão belos quanto o Brasil, é óbvio que não poderiam faltar filmes com tais características. Na lista de recentes produções podemos destacar obras com primor técnico e qualidades artísticas inegáveis, como é o caso de “Árido Movie” (2005) de Lírio Ferreira, “O Palhaço” (2011) de Selton Mello e “Colegas” (2012) de Marcelo Galvão.

Nunca deixando de louvar o empenho e a dedicação de seus organizadores, é importante comentar que, frente ao conceito proposto pela gerência do Cine Humberto Mauro ao estabelecer a grade de programação desta finda mostra, a ausência das produções nacionais na lista dos filmes escolhidos foi um pouco sentida.

Entretanto, pode se dizer que “Diários de Motocicleta” (2004), aventura do jovem Che Guevara pelas estradas da América do Sul a bordo de uma motocicleta e na companhia de seu amigo Alberto Granado, era um dos filmes que integravam o programa do evento. Mas, apesar de ter sido dirigido pelo brasileiro Walter Salles, o longa é uma coprodução entre oito países (Argentina, Estados Unidos, Chile, Peru, Reino Unido, Alemanha e França, além do Brasil) e sequer foi (e nem deveria ter sido) rodado em locações nacionais.

Habituado com o gênero, o diretor carioca já filmou “Terra Estrangeira” (1996) e “Central do Brasil” (1998), que também tinham a estrada como o cenário principal para o desenvolvimento das tramas. Recentemente, Walter Salles ainda dirigiu “Na Estrada” (2012), baseado na obra de Jack Kerouac e que também é produção fruto da colaboração entre vários países (França, Estados Unidos, Reino Unido, Brasil, Canadá e Argentina).

Na falta dos longa-metragens nacionais e aproveitando o ensejo da discussão de uma temática que vinha sendo apreciado pelo público até o final do mês passado, o Rotina Cinemeira selecionou e agora indica três “road movies” brasileiros, obrigatórios e de apreciação indispensável para qualquer cinéfilo, confira:

Bye Bye Brasil (Bye Bye Brasil, França | Brasil | Argentina, 1980)

Direção: Carlos Diegues

Lorde Cigano (José Wilker), Salomé (Betty Faria) e Andorinha (Príncipe Nabor) são três artistas mambembes que percorrem o país com os espetáculos promovidos pela Caravana Rolidei, levando entretenimento e diversão para pequenas cidades do nordeste brasileiro. Em uma de suas paradas, a trupe encontra Ciço (Fábio Júnior), um humilde acordeonista que se apaixona por Salomé e implora para seguir viagem com o grupo.

Para Lorde Cigano, o maior inimigo do artista popular é a televisão. À medida em que vê o Brasil se modernizando com os malditos aparelhos e antenas de TV alcançando, inclusive, as localidades mais isoladas, ele decide mudar de ares penetrando com a sua Caravana nos confins da Floresta Amazônica, sempre em busca de um novo público e a fim de apresentar o seu agonizante show. Ciço acompanha o grupo, levando consigo a esposa grávida, Dasdô (Zaira Zambelli). Juntos, os artistas partem para uma jornada de autoconhecimento e choque de realidade, cruzando o norte centro oeste do país até chegarem a Brasília.

José Wilker e Fábio Júnior em "Bye Bye Brasil" (1980) de Carlos Diegues
Luiz Carlos Barreto Produções Cinematográficas [br]

Cinema, Aspirinas e Urubus (Cinema, Aspirinas e Urubus, Brasil, 2005)

Direção: Marcelo Gomes

Em 1942, no meio do sertão nordestino, dois homens vindos de mundos completamente diferentes se encontram. Um deles é Johann (Peter Ketnath), um alemão que fugiu dos conflitos da Segunda Guerra Mundial e trabalha a bordo de um caminhão vendendo aspirinas pelo interior do Brasil. O outro é Ranulpho (João Miguel), um brasileiro humilde que sempre viveu as amarguras sertanejas, mas que tem o desejo de escapar da seca que sempre assolou a região e, sobretudo, a sua vida.

Após ganhar uma carona no velho caminhão, Ranulpho passa a trabalhar como ajudante de Johann. Viajando de povoado em povoado, a dupla exibe filmes promocionais sobre o “milagroso” remédio para pessoas que jamais tiveram a oportunidade de frequentar um cinema. Ao longo da estrada, os dois aprendem a respeitar as suas diferenças e, aos poucos, uma forte e incomum amizade acaba sendo construída por eles.

João Miguel e Peter Ketnath em "Cinema, Aspirinas e Urubus" (2005) de Marcelo Gomes
Dezenove Filmes [br] | Rec Produtores Associados Ltda. [br]

Viajo porque Preciso, Volto porque te Amo (Viajo porque Preciso, Volto porque te Amo, Brasil, 2009)

Direção: Karim Aïnouz e Marcelo Gomes

José Renato (Irandhir Santos) é enviado para uma região isolada do Nordeste Brasileiro. Ele é casado, tem 35 anos, é geólogo e parte para esta viagem, que terá a duração de 30 dias. Atravessando todo o sertão, José Renato tem a missão de avaliar as condições do solo de uma grande região onde, possivelmente, o percurso de um canal será aberto, desviando e transpondo o curso das águas do único rio caudaloso existente. Confrontado por sentimentos ambíguos e sentindo saudades do lar e da esposa, o pesquisador começa a sofrer com as sensações de abandono e solidão.

Alegoricamente belo, o poema visual que se traduz no filme de Karim Aïnouz e Marcelo Gomes tem leves contornos documentais, justamente por mostrar, de maneira bem simples, quão ordinária e sem graça é a nossa vida.

"Viajo porque Preciso, Volto porque te Amo" (2009) de Karim Aïnouz e Marcelo Gomes
Rec Produtores Associados Ltda. [br]

É ISSO... BOM FIM DE SEMANA E BOAS SESSÕES!


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