sexta-feira, 15 de maio de 2015

Cine Humberto Mauro exibe a partir desta sexta a Mostra “Fuller/Peckinpah: Homens de Violência” | Rotina em Belo Horizonte

Com descomedimento rústico e bestial transbordando na grande tela, começa hoje no Cine Humberto Mauro, em Belo Horizonte, a Mostra “Fuller/Peckinpah: Homens de Violência”. Ao todo serão exibidos, até o dia 6 de junho, 21 filmes, sendo 12 do “bay stater” Samuel Fuller e outros 9 do californiano Sam Peckinpah.

Os diretores estadunidenses são contemporâneos e realizaram, ao longo de décadas (sobretudo entre os anos 50 e 70), dezenas de filmes em que a temática da violência era costumeiramente trabalhada, sendo que muitos deles são considerados por críticos como verdadeiras pérolas, clássicos absolutos do cinema mundial.

Características básicas já percebidas em antigos cineastas que inspiraram Fuller e Peckinpah (como William A. Wellman e Raoul Walsh), a agressividade e a sanguinolência passaram a ser não somente o fio condutor das narrativas, mas também começaram a se configurar como recurso estético nas mãos dos dois. Empregadas estilisticamente pelos diretores em seus inúmeros longas, tais definições podem ser sempre notadas na constante alternância dos diversos gêneros e subgêneros cinematográficos trabalhados por eles.

Essa pequena revolução promovida e administrada por Samuel Fuller e Sam Peckinpah ainda acabou influenciando uma geração posterior de outros grandes cineastas, como Martin Scorsese e Quentin Tarantino.

Os diretores Samuel Fuller e Sam Peckinpah - Divulgação

A programação completa da Mostra está disponível no site da Fundação Clóvis Salgado (fcs.mg.gov.br) ou pode ser acessada diretamente pelo link “Fuller/Peckinpah: Homens de Violência”

Lembrando que a entrada é gratuita, mas é necessário retirar os ingressos na bilheteria do cinema meia hora antes de cada sessão.

O Cine Humberto Mauro está localizado no Palácio das Artes, na Avenida Afonso Pena 1537, centro de Belo Horizonte.

Com base no calendário divulgado pela gerência da casa, o Rotina Cinemeira faz agora uma breve explanação das características cinematográficas de Fuller e Peckinpah, destacando, dentro dos longas selecionados no programa da Mostra, um filme imperdível de cada um dos diretores, além de indicar outras obras singulares de ambos, que podem ser conferidas ainda na segunda quinzena deste mês ou em experiências cinematográficas futuras, visto que não se tratam de retrospectivas integrais. Confira:

SAMUEL FULLER (1912 - 1997)

Filho de imigrantes judeus e nascido em Woscester, Massachusetts, Samuel Fuller se mudou muito jovem para Nova York. Aos 17 anos ele já trabalhava para o New York Journal como cartunista ou repórter policial investigativo em rondas pelas docas da cidade. O aprendizado e as experiências adquiridas na profissão o transformaram em um cidadão crítico, extremamente politizado e que se relacionava intimamente com os conflitos e os submundos da metrópole.

Soldado durante a Segunda Guerra Mundial, o até então jornalista lutou pela libertação de refugiados em campos de concentração nazista. Retornando aos Estados Unidos, Fuller se torna cineasta e despeja em suas obras toda a atmosfera visceral dos horrores vividos tanto em Nova York quanto nos fronts de batalha na Europa.

“Anjo do Mal” (1953) talvez seja a sua obra-prima, pois é um dos principais filmes da década que representam o medo pragmático da ameaça soviética e da paranoia anticomunista do pós-guerra, reflexos psicológicos e culturais de uma abalada sociedade estadunidense.

Anjo do Mal (Pickup on South Street, Estados Unidos, 1953)

O batedor de carteiras Skip McCoy (Richard Widmark) rouba a bolsa de uma mulher no metrô sem saber que dentro dela está um microfilme com Segredos de Estado. Involuntariamente ele descobre, por meio dessa interceptação, uma mensagem destinada a agentes inimigos e acaba se tornando um alvo de perseguição tanto dos espiões comunistas quanto da sua vítima potencial.

Flerte e sedução em meio a contravenções. Com um roteiro bem amarrado e escrito pelo próprio Samuel Fuller, “Anjo do Mal” nos prende do início ao fim da projeção, se enquadrando como uma das grandes obras do gênero noir e ainda empregando, em seu arco dramático, o colapso de um mundo que vivia os efeitos da Guerra Fria.

Veja agora outros destaques do diretor que integram a Programação da Mostra:

- Baionetas Caladas (Fixed Bayonets!, Estados Unidos, 1951)

- A Lei dos Marginais (Underworld U.S.A., Estados Unidos, 1961)

- Agonia e Glória (The Big Red One, Estados Unidos, 1980)

E ainda filmes de Samuel Fuller que não serão exibidos, mas merecem ser conferidos:

- Capacete de Aço (The Steel Helmet, Estados Unidos, 1951)

- Paixões que Alucinam (Shock Corridor, Estados Unidos, 1963)

- O Beijo Amargo (The Naked Kiss, Estados Unidos, 1964)

"Pickup on South Street" (1953) de Samuel Fuller - Twentieth Century Fox Film Corporation [us]

SAM PECKINPAH (1925 - 1984)

Natural de uma rural e pacata cidade do interior da Califórnia, Sam Peckinpah teve uma infância rotineira e solitária. Na sua juventude, entretanto, o futuro cineasta serviu à Marinha dos Estados Unidos como fuzileiro naval. Historicamente arraigada à vida dos oficiais do país, a violência cruzou, invariavelmente, o caminho do jovem que colocou o assunto em evidência ao ingressar para o cenário e para a indústria cinematográfica.

A temática sangrenta dos filmes de Peckinpah foi desenvolvida em um cinema extremamente realista e original. Filmes de guerra, dramas sociais contemporâneos, suspenses dosados com humor negro e faroestes sempre tinham todas essas peculiares e brutais características, entretanto, a violência não era o foco principal das narrativas, mas sim a forma como o cineasta a manipula em função das características de suas personagens.

Lembrança recorrente entre os cinéfilos, a excepcional obra “Meu Ódio Será sua Herança” é considerada por muitos especialistas como um dos melhores faroestes (e filmes) de todos os tempos. Pelo filme, Peckinpah foi indicado ao prêmio de melhor direção pelo Sindicato de Diretores Americanos em 1970 e ainda recebeu uma nomeação ao Oscar de melhor roteiro original junto com Walon Green e Roy N. Sickner no mesmo ano.

Meu Ódio Será sua Herança (The Wild Bunch, Estados Unidos, 1969)

Um grupo de bandidos veteranos e “foras da lei” começa a cogitar uma possível aposentadoria em conjunto, pois percebem que a continuidade na vida de crimes já não vale muito a pena. Além de estarem envelhecidos, os tempos mudaram: as garantias de lucro em algum grande assalto estão cada vez menores, e o risco de vida só aumenta à medida em que o mundo de oportunidades que o tradicional e árido Velho Oeste oferece vai desaparecendo ao redor de todos.

Intimidadores, destemidos e sempre com as cabeças postas a prêmio, os ainda perigosos integrantes dessa quadrilha recebem uma inesperada e tentadora proposta que acabará adiando os seus planos. Um valioso carregamento de armas de um trem deve ser interceptado para um poderoso bandoleiro mexicano, e a recompensa oferecida para roubar essa remessa é de dez mil dólares. A ganância falou mais alto e agora nada poderá detê-los, a não ser a própria morte.

Grandes astros de Hollywood como William Holden, Ernest Borgnine, Edmond O’Brien, Warren Oates e Ben Johnson integram o vigoroso elenco da originalíssima realização de Sam Peckinpah que não pode deixar de ser conferida nessa Mostra imperdível!

Veja agora outros destaques do diretor que integram a Programação:

- A Morte não Manda Recado (The Ballad of Cable Hogue, Estados Unidos, 1970)

- Os Implacáveis (The Getaway, Estados Unidos, 1972)

- A Cruz de Ferro (Cross of Iron, Reino Unido | Alemanha Ocidental, 1977)

E ainda filmes de Sam Peckinpah que não serão exibidos, mas merecem ser conferidos:

- Pistoleiros do Entardecer (Ride the High Country, Estados Unidos, 1962)

- Sob o Domínio do Medo (Straw Dogs, Estados Unidos | Reino Unido, 1971)

- Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia (Bring me the Head of Alfredo Garcia, Estados Unidos | México, 1974)

"The Wild Bunch" (1969) de Sam Peckinpah - Warner Brothers/Seven Arts [us]

BOAS SESSÕES E BOM DIVERTIMENTO!

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