sexta-feira, 1 de maio de 2015

Cine Sesc Palladium exibe a partir desta sexta a Mostra “Narrativas do Fantástico” | Rotina em Belo Horizonte

Com uma programação que se estenderá ao longo de todo o mês de maio, inicia-se hoje, no Sesc Palladium em Belo Horizonte, a Mostra “Narrativas do Fantástico”. Ao todo serão exibidos na Sala Professor José Tavares de Barros, até o dia 31 de maio, doze filmes que fortalecem as relações entre o cinema e a literatura, dando um enfoque especial para insólitas histórias que permeiam o imaginário popular. Este que é responsável por criar e reinventar embustes intrigantes que funcionam como válvula de escape e rompimento de esquemas convencionais seguidos pela sociedade, bem como as percepções que a mesma tem sobre a realidade.

O significado das coisas e os reais motivos de estarmos presentes neste mundo sempre foram o ponto central para a formação reflexiva da mente humana. Carregados de subterfúgios, grandes nomes da literatura como Edgar Allan Poe, Franz Kafka e Nathaniel Hawthorne sempre souberam como expressar em suas obras os medos e as incertezas do homem, desde o momento em que ele se fez parte integrante e modificadora do planeta Terra. Essas aflições e angústias são tão genuínas que, entranhadamente, acompanham a nossa espécie da pré-história até a contemporaneidade.

Traduzida para o cinema, a natureza enigmática do ser humano pode ser explorada de forma ainda mais insondável. Por exemplo, vemos no drama fantástico “O Processo” (1962) (integrante da programação da Mostra), que o diretor Orson Welles soube se aproveitar muito bem das tecnologias dispostas pelo cinema para traduzir em imagens e sons o pesadelo paranoico de Josef K., um homem que aguarda um conspiratório (e talvez injusto) processo de assassinato que corre contra ele ser julgado. Welles flertou de forma genial com o surrealismo para traduzir todos os arquétipos de alienação e fobia social que Kafka já havia descrito em seu livro ainda no primeiro quarto do século XX.

Narrativas fantásticas sempre contribuíram para quase todos os estilos e gêneros cinematográficos, assim como suas várias vertentes (drama, terror, ficção científica e até mesmo faroestes são constantemente contemplados com inventivos roteiros). Entre elas, são destaques na programação divulgada pelo Sesc filmes como “A Guerra dos Mundos” (1953) de Byron Haskin, clássico da ficção e referência básica dos filmes de catástrofe pós-apocalípticos; e “Nos Domínios do Terror” (1963) de Sidney Salkow, estrelado pelo “mestre do macabro” Vincent Price, estrela máxima dos filmes de terror e figura icônica do cinema de fantasia dos Estados Unidos.

A programação ainda conta com duas preciosidades do Cinema Nacional: “Enigma para Demônios” (1975) de Carlos Hugo Christensen, baseado no conto “Flor, Telefone, Moça” de Carlos Drummond de Andrade; e “A Hora Mágica” (1998) de Guilherme de Almeida Prado inspirado pelo conto “Troca de Luzes” de Júlio Cortázar. Cada um dos longas será exibido duas vezes ao longo deste mês, assim como os demais filmes que fazem parte do programa da Mostra.

Algumas das sessões ainda serão comentadas por professores, estudiosos e profissionais de cinema. Além disso, o evento contará com uma mesa redonda sobre essa fantasiosa temática e uma oficina de literatura ministrada pelo curador da mostra, o jornalista e pesquisador Nuno Manna. Para ficar por dentro do cronograma, basta conferir as informações e a programação completa dos eventos que estão disponíveis no site do Sesc Palladium (sescmg.com.br/sescpalladium), ou acessá-las diretamente pelo link "Narrativas do Fantástico".

Lembrando que a entrada para as sessões é gratuita, mas é necessário retirar os ingressos na bilheteria do Sesc duas horas antes de cada exibição. O espaço está sujeito a lotação. Observação: a casa não funciona às segundas-feiras.

A Sala Professor José Tavares de Barros está localizada no Sesc Palladium, na Avenida Augusto de Lima 420, centro de Belo Horizonte.

Com base nessa diversificada programação, o Rotina Cinemeira fez uma pequena seleção e agora indica seis dos doze filmes que vão mexer com o imaginário de seus espectadores durante todo este mês. Confira agora os títulos imperdíveis do que estarão em cartaz:

Nosferatu, uma Sinfonia do Horror (Nosferatu, eine Symphonie des Grauens, Alemanha, 1922)

Direção: F. W. Murnau

Hutter (Gustav von Wangenheim) é um agente imobiliário que viaja até os Montes Cárpatos para vender um castelo cujo proprietário é o excêntrico e solitário Conde Graf Orlok (Max Schreck). O nobre tem preferência por hábitos noturnos e possui costumes cerebrinos, como dormir durante todo o dia dentro de um caixão. Na verdade, Orlok é um milenar e sanguinário vampiro que, buscando aumentar seu poder, se muda para Bremen espalhando terror por toda a região. Ellen (Greta Schröder), esposa de Hutter, é a única que pode manter a situação sob controle, afinal Orlok se sente atraído por ela.

Clássico do Expressionismo Alemão, a obra-prima de terror do diretor F. W. Murnau é, até hoje, uma das mais notáveis adaptações do romance gótico “Drácula”, do contista irlandês Bram Stoker.

"Nosferatu, eine Symphonie des Grauens" (1922) de F. W. Murnau
Jofa-Atelier Berlin-Johannisthal [de] | Prana-Film GmbH [de]

O Médico e o Monstro (Dr. Jekyll and Mr. Hyde, Estados Unidos, 1931) 

Direção: Rouben Mamoulian

Henry Jekyll (Fredric March) é um renomado médico que estuda a possibilidade de separação total de caráter dos seres humanos, isolando a bondade e a maldade. O doutor começa a sofrer com as graves consequências de seus experimentos, deixando que o lado mais obscuro de sua personalidade assuma o controle das ações. Em uma transformação alegoricamente perversa, Jekyll deixa que o selvagem e animalesco Senhor Hyde tome conta de seu corpo.

Clássica história baseada em um romance de Robert Louis Stevenson, “O Médico e o Monstro” possui inúmeras adaptações para o cinema e para o teatro, mas é a versão do cineasta Rouben Mamoulian que sempre obteve maior destaque se mostrando mais significativa que as demais, justamente por ter sido realizada no período em que os filmes de terror atingiram o seu auge em termos de produção nos Estados Unidos. Basta lembrar que nesse mesmo anos foram lançados “Drácula” de Tod Browning e “Frankenstein” de James Whale.

"Dr. Jekyll and Mr. Hyde" (1931) de Rouben Mamoulian - Paramount Pictures [us]

A Maldição do Demônio (La Maschera del Demonio, Itália, 1960)

Direção: Mario Bava

Motivada por sua condenação à fogueira séculos atrás, Princesa Asa Vajda, uma bruxa vingativa (Barbara Steele), e o seu demoníaco servo retornam do mundo dos mortos para colocar em prática uma aterradora e sangrenta campanha de desforra contra os seus descendentes. Para alcançar os seus objetivos é necessário que a Princesa possua o corpo de Katia Vajda (também interpretada por Steele), mas ela enfrenta a resistência do irmão da moça e do médico da cidade que farão de tudo para que o legado demoníaco da bruxa não volte a amaldiçoá-los.

Livremente inspirado no conto “Viy”, do ucraniano Nikolai Gogol, sobre uma entidade demoníaca que povoa o imaginário folclórico russo, “A Maldição do Demônio” é o filme mais conhecido de Mario Bava, mestre do terror italiano, que ainda possui obras muito valorosas como “Olhos Diabólicos” (1963) e “A Mansão da Morte” (1971).

"La Maschera del Demonio" (1960) de Mario Bava - Galatea Film [it] | Jolly Film [it]


Direção: Jack Clayton

Uma jovem governanta e duas crianças em uma isolada mansão cercada de mistérios, essa é a atmosfera perfeita criada para um dos filmes de suspense psicológico mais virtuosos já realizados. Senhorita Giddens (Deborah Kerr) está convencida de que algo sinistro está acontecendo no casarão em que trabalha. Contratada para cuidar dos pequenos órfãos Flora (Pamela Franklin) e Miles (Martin Stephens), ela suspeita que algum tipo de assombração do passado esteja agindo de forma direta sobre as crianças, fazendo com que elas tenham, por vezes, um comportamento estranhamente assustador.

Baseado no romance “A Volta do Parafuso” de Henry James, “Os Inocentes” já foi contemplado na coluna “Sempre um Clássico” do Rotina Cinemeira no mês de março deste ano. O perfil e a análise crítica do longa de Jack Clayton podem ser conferidos visitando o link a seguir: “Sempre um Clássico #4 | Os Inocentes (1961)”.

"The Innocents" (1961) de Jack Clayton - Achilles | Twentieth Century Fox Film Corporation [us]

O Manuscrito de Saragoça (Rekopis Znaleziony w Saragossie, Polônia, 1965)

Direção: Wojciech Has

Em meio a uma batalha das Guerras Napoleônicas, dois oficiais inimigos se encontram em um casebre espanhol e deparam com um velho manuscrito que relata as proezas de Alfonso van Worden (Zbigniew Cybulski), um militar belga e antigo capitão da Guarda Valona. Durante a Guerra Peninsular, Alfonso (que, curiosamente, é avô de um desses oficiais) procurava uma rota mais curta para atravessar a Sierra Morena. Nessa jornada, ele acabou cruzando toda a Espanha e conhecendo figuras curiosas que surgem em cena sempre dando origem a novas e fantásticas histórias que se multiplicam e se entrelaçam.

Fundamentado pela obra literária “O Manuscrito Encontrado em Saragoça” de Jan Potocki, a adaptação cinematográfica de Wojciech Has é dotada de uma complexa construção de eixos narrativos. Tendo sempre como ponto de partida o manuscrito encontrado, tanto o livro quanto o filme questionam os limites entre realidade e naturalidade flertando com o surrealismo e empregando boas doses de humor e erotismo na composição das situações.

"Rekopis Znaleziony w Saragossie" (1965) de Wojciech Has - Kamera Film Unit [pl]

Solaris (Solyaris, União Soviética, 1972)

Direção: Andrei Tarkovsky

Kris Kelvin (Donatas Banionis) é um famoso psicólogo que é enviado para uma estação espacial científica que orbita o distante planeta oceânico Solaris. Sua importante missão como cosmonauta é investigar uma série de fatos bizarros e misteriosos que andam ocorrendo com o resto da tripulação, que já beira a insanidade. Os cientistas acreditam que fenômenos sobrenaturais estão por trás de todos os fatos insensatos e que estes sofrem influência direta das forças emanadas por Solaris.

Adaptação do homônimo romance polonês de ficção científica, “Solaris” de Stanislaw Lem, o filme de Andrei Tarkovsky procura se distanciar das demais produções do gênero na época, dispensando distrações espetaculosas de grandiosas ações e passando a explorar, de maneira densa, um universo muito mais vasto e perigoso do que àquele que nos rodeia, o espaço interior.

"Solyaris" (1972) de Andrei Tarkovsky
Creative Unit of Writers & Cinema Workers [suhh] | Kinostudiya "Mosfilm" [suhh] | Unit Four [suhh]

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