quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Sempre um Clássico #2 | Sob o Domínio do Mal (1962)



(The Manchurian Candidate, Estados Unidos, 1962). Dirigido por John Frankenheimer e baseado no romance homônimo de Richard Condon. Elenco: Frank Sinatra, Laurence Harvey, Angela Lansbury, Janet Leigh, James Gregory, Leslie Parrish, John McGiver, Henry Silva.

Um drama psicológico funciona quando vem carregado de muito suspense e o clima de tensão não deixa o espectador respirar durante a projeção. Porém, quando a história está mal amarrada e o roteiro não a sustenta adequadamente, o filme acaba indo na contramão dessas distinções e torna-se desinteressante, causando estranheza para o público.

Por esse motivo, “Sob o Domínio do Mal” foi um fracasso de bilheteria à época de seu lançamento e ficou esquecida por quase trinta anos até o seu relançamento nos cinemas, em 1988. O longa ganhou notoriedade e foi aclamado como um “clássico cult” ao longo dos anos, justamente pelas lacunas presentes na trama, conferindo a ele o mesmo caráter paranoico que pairava pelo mundo no longo período da Guerra Fria.

Em 1953, o Major Bennett Marco (Frank Sinatra) retorna com seu destacamento da Guerra da Coreia. Um de seus comandados, o sargento Raymond Shaw (Laurence Harvey), é agraciado com uma medalha de honra por um ato de bravura. Entretanto, o Major Marco e outro soldado do seu pelotão começam a ter pesadelos terríveis sobre os acontecimentos da guerra, partilhando memórias obscuras sobre o que de fato aconteceu com o grupo e o que realmente está por trás da condecoração de Shaw.

Frank Sinatra (Major Bennett Marco) em "The Manchurian Candidate"
M. C. Productions | Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) [us]

A incerteza sobre a atitude intrépida de Shaw no campo de batalha faz com que Marco comece a investigá-lo e uma série de segredos espantosos começam a ser revelados. O major chegou à conclusão de que todos os seus homens foram contidos pelos comunistas e, posteriormente, submetidos a uma lavagem cerebral. Descobriu ainda que o seu “destemido” sargento foi, na verdade, programado para ser um fantoche dos inimigos, se transformando em um frio assassino político.

O destaque fica por conta da excelente atuação de Angela Lansbury, que interpreta Eleanor Shaw Iselin, a mãe demasiadamente protetora de Raymond. Casada com o reacionário senador John Iselin (James Gregory), Eleanor está misteriosamente envolvida com a “desumanização” de seu filho. O filme acaba deixando dúvidas (propositalmente?) sobre a sua real relação com os responsáveis desse controle mental, mas demonstra que ela soube tirar proveito da situação para alimentar a sua subversão ultraconservadora e conquistar os seus objetivos junto aos do marido no campo político estadunidense.

Contatado por seus controladores ou por sua mãe através de um código secreto, Raymond Shaw se transforma em uma máquina de matar, incapaz de se sentir culpado ou até mesmo de se lembrar dos delitos cometidos. A essa altura, somente o Major Bennett Marco pode livrá-lo dessa aterradora apatia.

Angela Lansbury (Eleanor Shaw Iselin) e Laurence Harvey (Raymond Shaw) em "The Manchuirian Candidate" (1962)
M. C. Productions | Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) [us]

Um filme interessante, sobretudo se valorizarmos a ousadia do diretor John Frankenheimer ao levar essa temática para as telas em um período de desconfiança máxima. Seu tom irônico e politicamente incorreto acaba, de alguma forma, prenunciando todas as conspirações políticas que os Estados Unidos iriam encarar ao longo dos anos. Para ficar somente em um exemplo, basta lembrar que em 1963 (apenas um ano após o lançamento de “Sob o Domínio do Mal”) o presidente John F. Kennedy foi assassinado com um tiro na cabeça. Na ocasião correram boatos de que o principal suspeito do atentado, Lee Harvey Oswald, fora submetido a uma lavagem cerebral para cometer o crime.

Coincidente ou não, conspiratório ou não, é um filme válido. Vai muito além do pragmatismo da paranoia anticomunista e explora de maneira audaz a psicopolítica soviética.


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