Dona de uma estonteante beleza, uma das artistas mais
consagradas do Cinema Nacional (e certamente uma das minhas favoritas), Odete
Lara faleceu hoje, aos 85 anos, no Rio de Janeiro.
Atriz, cantora e escritora, Odete, como a maioria das
jovens atrizes da época, iniciou a sua carreira artística como garota
propaganda em peças publicitárias para a mídia impressa e para a televisão. Seu
notável encanto logo chamou a atenção de vários produtores, não demorando muito
para comprovar o seu talento em trabalhos nas TVs Excelsior e Tupi.
Odete Lara em "Bonitinha, mas Ordinária" (1963) - Magnus Filmes [br] |
Começou a ganhar destaque no teleteatro, sobretudo em
alguns episódios da “TV de Vanguarda” na
extinta emissora de Assis Chateaubriand. Tida como uma das maiores musas do Cinema
Novo Brasileiro (talvez pelo seu papel como a prostituta Laura em “O Dragão da Maldade e o Santo Guerreiro”
de Glauber Rocha), Odete Lara era maior do que essa alcunha, era uma legítima
atriz de cinema!
Musa, independente do movimento artístico, a atriz perpassava
com maleabilidade por vários estilos cinematográficos. No início da carreira no
cinema, em 1957, coestrelou comédias escrachadas ao lado de grandes ícones do
gênero como Amácio Mazzaropi (em “O Gato
de Madame”) e Dercy Gonçalves (em “Uma
Certa Lucrécia”) e, também com Dercy, a comédia romântica “Absolutamente Certo”, dirigida e
estrelada por Anselmo Duarte.
Destacada de forma absorta pelo seu papel em “O Dragão da Maldade...” (1969), na
década de 60 ainda atuou em grandes dramas (“Bonitinha, mas Ordinária” de Billy Davis), comédias (“As Sete Evas” de Carlos Manga) e
suspenses policiais (“As Sete Faces de um
Cafajeste” de Jece Valadão).
Foi a partir de 1970, no entanto, que ela realmente se
destaca e estrela os seus melhores filmes (alguns deles indicados no final do
artigo), dos quais “A Rainha Diaba”
(1974), é o meu predileto. Na maturidade dos seus 45 anos Odete interpreta Isa
Gonzalez, uma prostituta de meia idade atormentada e maltratada pela sua
própria decadência. Apesar da inserção no ambiente baixo meretrício e da
condição marginal de sua personagem, bem como a idade (teoricamente) avançada,
sua interpretação oferece uma Isa monumentalmente linda e sedutora.
Beleza somada ao indiscutível talento: essa foi a chave
do sucesso de uma carreira memorável! Resumindo: Odete Lara era completa! Já
deixava saudades desde a sua aposentadoria em meados dos anos 90 e agora se
transforma em história, figurando entre as maiores lendas do nosso Cinema!
Que descanse em paz... (1929 - 2015)
Dez filmes com Odete Lara que indico (em ordem de
predileção):
01 - A Rainha Diaba (1974) - de Antonio Carlos da
Fontoura
02 - Noite Vazia (1964) - de Walter Hugo Khouri
03 - Vai Trabalhar, Vagabundo (1973) - de Hugo Carvana
04 - O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro (1969) -
de Glauber Rocha
05 - Câncer (1972) - de Glauber Rocha
06 - A Estrela Sobe (1974) - de Bruno Barreto
07 - Na Garganta do Diabo (1960) - de Walter Hugo Khouri
08 - Boca de Ouro (1963) - de Nelson Pereira dos Santos
09 - Copacabana me Engana (1968) - de Antonio Carlos da
Fontoura
10 - Moral em Concordata (1959) - de Fernando de Barros
Odete Lara em "A Rainha Diaba" (1974) - Canto Claro Produções Artísticas [br] |
Nenhum comentário:
Postar um comentário