quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Memórias #1 | Odete Lara (1929 - 2015)

Dona de uma estonteante beleza, uma das artistas mais consagradas do Cinema Nacional (e certamente uma das minhas favoritas), Odete Lara faleceu hoje, aos 85 anos, no Rio de Janeiro.

Atriz, cantora e escritora, Odete, como a maioria das jovens atrizes da época, iniciou a sua carreira artística como garota propaganda em peças publicitárias para a mídia impressa e para a televisão. Seu notável encanto logo chamou a atenção de vários produtores, não demorando muito para comprovar o seu talento em trabalhos nas TVs Excelsior e Tupi.

Odete Lara em "Bonitinha, mas Ordinária" (1963) - Magnus Filmes [br]

Começou a ganhar destaque no teleteatro, sobretudo em alguns episódios da “TV de Vanguarda” na extinta emissora de Assis Chateaubriand. Tida como uma das maiores musas do Cinema Novo Brasileiro (talvez pelo seu papel como a prostituta Laura em “O Dragão da Maldade e o Santo Guerreiro” de Glauber Rocha), Odete Lara era maior do que essa alcunha, era uma legítima atriz de cinema!

Musa, independente do movimento artístico, a atriz perpassava com maleabilidade por vários estilos cinematográficos. No início da carreira no cinema, em 1957, coestrelou comédias escrachadas ao lado de grandes ícones do gênero como Amácio Mazzaropi (em “O Gato de Madame”) e Dercy Gonçalves (em “Uma Certa Lucrécia”) e, também com Dercy, a comédia romântica “Absolutamente Certo”, dirigida e estrelada por Anselmo Duarte.

Destacada de forma absorta pelo seu papel em “O Dragão da Maldade...” (1969), na década de 60 ainda atuou em grandes dramas (“Bonitinha, mas Ordinária” de Billy Davis), comédias (“As Sete Evas” de Carlos Manga) e suspenses policiais (“As Sete Faces de um Cafajeste” de Jece Valadão).

Foi a partir de 1970, no entanto, que ela realmente se destaca e estrela os seus melhores filmes (alguns deles indicados no final do artigo), dos quais “A Rainha Diaba” (1974), é o meu predileto. Na maturidade dos seus 45 anos Odete interpreta Isa Gonzalez, uma prostituta de meia idade atormentada e maltratada pela sua própria decadência. Apesar da inserção no ambiente baixo meretrício e da condição marginal de sua personagem, bem como a idade (teoricamente) avançada, sua interpretação oferece uma Isa monumentalmente linda e sedutora.

Beleza somada ao indiscutível talento: essa foi a chave do sucesso de uma carreira memorável! Resumindo: Odete Lara era completa! Já deixava saudades desde a sua aposentadoria em meados dos anos 90 e agora se transforma em história, figurando entre as maiores lendas do nosso Cinema!

Que descanse em paz... (1929 - 2015)

Dez filmes com Odete Lara que indico (em ordem de predileção):

01 - A Rainha Diaba (1974) - de Antonio Carlos da Fontoura

02 - Noite Vazia (1964) - de Walter Hugo Khouri

03 - Vai Trabalhar, Vagabundo (1973) - de Hugo Carvana

04 - O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro (1969) - de Glauber Rocha

05 - Câncer (1972) - de Glauber Rocha

06 - A Estrela Sobe (1974) - de Bruno Barreto

07 - Na Garganta do Diabo (1960) - de Walter Hugo Khouri

08 - Boca de Ouro (1963) - de Nelson Pereira dos Santos

09 - Copacabana me Engana (1968) - de Antonio Carlos da Fontoura

10 - Moral em Concordata (1959) - de Fernando de Barros

Odete Lara em "A Rainha Diaba" (1974) - Canto Claro Produções Artísticas [br]

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