(The Last Picture Show, Estados Unidos, 1971). Dirigido por Peter Bogdanovich e baseado no romance
homônimo de Larry McMurtry. Elenco: Timothy Bottoms, Jeff
Bridges, Cybill Shepherd, Ben Johnson, Cloris Leachman, Ellen Burstyn, Eileen
Brennan, Clu Gulager, Sam Bottoms.
Os anos 50 são considerados por muitos como “A Era de Ouro da Televisão” nos Estados
Unidos. Eles representaram a transição de um período de extrema dificuldade
arrastados, sobretudo, pela Grande Depressão e pela Segunda Guerra Mundial para
uma nova era de diversão, interatividade e entretenimento que alimentava as expectativas
de prosperidade da população. Devotas do aparelho televisor, milhões de
famílias já sintonizavam a programação de vários canais em seus lares. Essa
nova realidade acabou exteriorizando a atmosfera melancólica de um cotidiano vivido
na maioria das cidades (principalmente as do interior) estadunidenses, onde a
televisão colocou o ostracismo dos anos dourados de Hollywood em evidência.
Neste cenário, repleto de dúvidas e incertezas, acompanhamos
Sonny Crawford (Timothy Bottoms) e Duane Jackson (Jeff Bridges), dois amigos que
vivem em Anarene, pequena cidade do interior do estado do Texas. Sem muitas
opções de lazer, eles tentam quebrar a rotina gastando a maior parte do seu
tempo livre perambulando entre a lanchonete, o salão de sinuca de Sam (Ben
Johnson) e a velha sala de cinema da cidade, que está prestes a encerrar as
suas atividades.
Duane Jackson (Jeff Bridges) e Sonny Crawford (Timothy Bottoms) em "The Last Picture Show" (1971) Columbia Pictures Corporation [us] |
Os amigos sempre se deram muito
bem, embora cada um tenha um perfil emocional diferente e trace pra si planos distintos
para o rumo de suas vidas. Enquanto Duane possui postura ríspida, utilizando de
sua grosseria para se impor perante aos outros jovens da cidade, Sonny é mais inocente
e sensível. Ele acaba se envolvendo intimamente com Ruth Popper (Cloris
Leachman), uma mulher mais experiente que vive um casamento frustrado com o
treinador de basquete da escola dos garotos. Ela acaba se tornando a
responsável pelo início da vida sexual de Sonny.
Vitimadas indiretamente pelo marasmo e pela insatisfação,
vemos a representação de uma juventude desnorteada que enfrenta a difícil fase
de transição entre a adolescência e a maioridade como o mote principal que conduz
a trama de “A Última Sessão de Cinema”.
Ocasionalmente, os jovens encaram a inúmeros dilemas: suas descobertas sobre o
amor, o sexo e as inseguranças da vida adulta, sempre alternando entre a
expressão dos seus sentimentos mais puros e a iminente perda da inocência.
A amizade de Sonny e Duane é
abalada quando os dois demonstram interesse em Jacy Farrow (Cybill Shepherd, em
sua estreia no cinema), a garota mais desejada da escola (e de toda Anarene).
Nesse interessante triângulo amoroso, os jovens aprendem, da forma mais dura
possível, como lidar com as mais difíceis lições sobre o amor, o ciúme e a solidão.
Jacy namora Duane de maneira pretensiosa, aparentemente
para perder a virgindade e poder, enfim, se relacionar com rapazes mais maduros.
O interesse de Sonny pela bela namorada do amigo vem posteriormente, quando
Duane se afasta de Anarene e é convocado para lutar na Guerra da Coreia.
Consequentemente, essa aproximação acentua as conflitantes relações amorosas da
pequena cidade, uma vez que Sonny “abandona” a relação secreta que mantinha com
Ruth para ficar com uma garota mais jovem.
Jacy Farrow (Cybill Shpherd) em "The Last Picture Show" (1971) - Columbia Pictures Corporation [us] |
Acompanhada da efervescência das
descobertas sexuais dos jovens, observamos também uma cidade amargurada e
triste, refletida na depressão e no conformismo dos habitantes mais velhos (como
Ruth e Sam), personagens que enxergam o auge da mocidade já com certa distância
guardando, com um alto grau de saudosismo, os bons tempos que um dia já viveram. Todas as personagens, jovens ou maduras, possuem carisma particular e são carregadas dos sentimentos mais honestos. Entretanto, a essência de “A Última Sessão de
Cinema” está na sequência em que Sam leva Sonny e Billy (Sam Bottoms) para
pescarem no tanque afastado da cidade.
O monólogo de Sam representa uma
ponte entre o velho e o novo. Nele são expostos, de forma metafórica, os
desafios e as dúvidas que sempre continuarão a surgir, os medos que corroem os
jovens, a credibilidade e o valor dos relacionamentos e até mesmo a própria morte.
Tudo isso segue um percurso natural, tudo isso é passageiro. A partir daí, notamos
como Sonny absorveu toda a vivência de Sam ao ouvi-lo atentamente e em silêncio.
A existência de Sam e Sonny se confunde com a história de Anarene. Os dois Representam a alma (a antiga e a renovada) da cidade, ao mesmo tempo em que exemplificam a natureza humana na mais pura e primitiva essência. Somos uma espécie carregada de inúmeros erros e acertos, que mostra para si mesma como a vida é efêmera. As coisas mudam, as pessoas mudam, muitos seguem a vida em frente e outros permanecem no mesmo lugar, mas as perspectivas ordinárias e as mazelas de nossas vidas continuarão as mesmas.
A existência de Sam e Sonny se confunde com a história de Anarene. Os dois Representam a alma (a antiga e a renovada) da cidade, ao mesmo tempo em que exemplificam a natureza humana na mais pura e primitiva essência. Somos uma espécie carregada de inúmeros erros e acertos, que mostra para si mesma como a vida é efêmera. As coisas mudam, as pessoas mudam, muitos seguem a vida em frente e outros permanecem no mesmo lugar, mas as perspectivas ordinárias e as mazelas de nossas vidas continuarão as mesmas.
Sam, the Lion (Ben Johnson) em "The Last Picture Show" (1971) - Columbia Pictures Corporation [us] |
A história é banal, lenta e cadenciada, porém o trunfo do
roteiro é realmente favorecer a monotonia e o vazio existencial como o conteúdo
principal da história. O que para alguns pode ser tedioso, pode-se revelar
instigante quando refletimos sobre o quão compassiva é a natureza humana. A
eterna busca para resolver os problemas rotineiros e a melhor saída para
encontrar o “final feliz” são ilusórias.
A impecável direção de Peter Bogdanovich é resguardada
pela modéstia. Em um trabalho raro que equilibra muito bem a formalidade e a ousadia,
ele consegue conduzir toda a história com muita sensibilidade.
O diretor também assume com
personalidade a orientação de elenco (relativamente grande para esse tipo de
produção), criando um ritmo compassado somado à construção progressiva da
história em mosaicos e a preocupação minimalista com a trilha sonora, restrita
apenas ao som ambiente das localidades.
A elogiada fotografia
em preto e branco é utilizada com precisão. Apesar de estabelecer um contraste em
meio ao vermelho árido e desértico característico dessa cidade, ela mantém o
caráter nostálgico do filme, harmonizando o drama particular de cada uma das
personagens. As relações volúveis e os desejos à flor da pele também configuram
um retrato angustiante do interior texano, que não possui nenhuma expectativa
de avanço ou um simples soerguimento frente ao seu atraso e solidão.
Tudo no filme é simbólico, incluindo o seu final. Sem efeitos de espoliação, é importante dizer que o longa exibido na derradeira última sessão de cinema de Anarene é "Rio Vermelho", clássico faroeste dirigido por Howard Hawks em 1948. A escolha de Peter Bogdanovich é, mais uma vez, precisa, pois representa todo o contraste em relação ao sentimento que é transmitido ao longo do filme. No telão, vemos John Wayne guiando um grupo de animados caubóis na primeira condução de gado pela Trilha de Chisholm, do sul do Texas até o Kansas.
A empolgação dos caubóis (pioneiros e responsáveis pela ocupação e povoamento texano) vista dentro da sala de cinema afronta toda a animosidade e o clima de decadência observada fora dela. Vemos, enfim, uma cidade medíocre, empoeirada e esquecida em algum canto do Texas, e sua atmosfera desoladora nos faz pensar o quanto a vida pode nos parecer infeliz.
Um filme sufocante, mas essencial!
Tudo no filme é simbólico, incluindo o seu final. Sem efeitos de espoliação, é importante dizer que o longa exibido na derradeira última sessão de cinema de Anarene é "Rio Vermelho", clássico faroeste dirigido por Howard Hawks em 1948. A escolha de Peter Bogdanovich é, mais uma vez, precisa, pois representa todo o contraste em relação ao sentimento que é transmitido ao longo do filme. No telão, vemos John Wayne guiando um grupo de animados caubóis na primeira condução de gado pela Trilha de Chisholm, do sul do Texas até o Kansas.
A empolgação dos caubóis (pioneiros e responsáveis pela ocupação e povoamento texano) vista dentro da sala de cinema afronta toda a animosidade e o clima de decadência observada fora dela. Vemos, enfim, uma cidade medíocre, empoeirada e esquecida em algum canto do Texas, e sua atmosfera desoladora nos faz pensar o quanto a vida pode nos parecer infeliz.
Um filme sufocante, mas essencial!
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