segunda-feira, 31 de julho de 2017

Memórias #31 | Jeanne Moreau (1928 - 2017)

Dona de um dos olhares mais charmosos e estonteantes do cinema, Jeanne Moreau dizia que a tarefa de fazer filmes não era uma simples forma de ação ou interpretação, mas sim um legítimo modo de viver. Apaixonada pelo mundo das artes, a atriz francesa foi encontrada sem vida na manhã desta segunda-feira, dia 31, em sua residência em Paris; ela morreu aos 89 anos de causas naturais.

Moreau era uma estrela de calibre internacional. O simples fato de ter trabalhado com os maiores cineastas franceses de sua geração – e de ter sido uma das atrizes mais representativas do movimento da nouvelle vague – já a credenciava como uma figura notável, chamando a atenção e suplantando os limites da imaginação de vários diretores ao redor do mundo. Quando foi escalada para estrelar o clássico noir “Ascensor para o Cadafalso” (1958) seguido do romântico “Amantes” (1958), ambos de Louis Malle, Jeanne Moreau já era considerada uma célebre atriz de teatro que atingira o auge da carreira com apenas 30 anos de idade.

Pouco tempo depois, Jeanne Moreau já somava parcerias e trabalhos significativos com Michelangelo Antonioni (“A Noite”, de 1961), Joseph Losey (“Eva”, de 1962), Orson Welles (“O Processo” de 1962), Luis Buñuel (“O Diário de uma Camareira” de 1964) e John Frankenheimer (“O Trem” de 1964), por exemplo. Na década seguinte, a atriz também deixava a sua contribuição e a sua marca no cinema brasileiro ao protagonizar “Joanna Francesa” (1973), longa dirigido por Carlos Diegues que registra o espírito aventureiro de Joanna, dona de um prostíbulo na São Paulo dos anos 30 que acaba abandonando os negócios para se encontrar com Coronel Aureliano (interpretado por Carlos Koeber), um cliente que morria de amores por ela e que mantinha um engenho de açúcar no interior das Alagoas.

Jeanne Moreau (1928 - 2017) em "Joanna Francesa" (1973) de Carlos Diegues - Zoom Cinematográfica [br]

Ao longo de seus pouco mais de 65 anos de carreira, Jeanne Moreau trabalhou com outros diretores internacionalmente consagrados como Elia Kazan, Rainer Werner Fassbinder, Theodoros Angelopoulos, Wim Wenders e Manoel de Oliveira. Entretanto, é a sua contribuição para o cinema francês que merece um extenso capítulo à parte, especialmente por suas memoráveis conquistas. Já em 1958, Jeanne conquistava o prêmio de melhor atriz do Festival de Veneza por “Amantes”. Dois anos mais tarde, ela viria a ser premiada em Cannes por seu papel em “Duas Almas em Suplício” (1960), onde contracenava com Jean-Paul Belmondo. Jeanne Moreau ainda presidiu o júri do festival francês em 1975 e 1995, sendo até hoje a única mulher a coordenar esse trabalho por mais de uma vez, além de ser a única personalidade desde 1960 a ocupar esse posto em duas oportunidades.

Em 2009, Jeanne Moreau foi uma das principais homenageadas do Festival de Cinema do Rio. Na ocasião, a atriz concedeu uma entrevista insigne na qual dizia que era impossível impedir que seus fãs a chamassem de “diva”. Para ela, outras alcunhas como “musa” ou até mesmo “lenda viva” não poderiam influenciar na sua carreira e – muito menos – na sua rotina particular; o importante era conviver com isso da forma mais natural possível, sem sequer saber se era uma verdadeira merecedora de tudo isso. A beleza arrebatadora de sua Catherine em “Jules e Jim - Uma Mulher para Dois” (1962) é exemplo claro e prova cabal de que todos os elogios fazem jus à sua inesquecível carreira. Tal qual Oskar Werner e Henri Serre na obra de arte de François Truffaut, ficaremos sempre desconcertados e encantados por Jeanne Moreau, um dos rostos mais apaixonantes do Cinema!

Que agora descanse em paz... (1928 - 2017)

Dez filmes com Jeanne Moreau que indico (em ordem de predileção):

01 - Ascensor para o Cadafalso (Ascenseur pour L’échafaud, França, 1958) - de Louis Malle

02 - Trinta Anos Esta Noite (Le Feu Follet, França, 1963) - de Louis Malle

03 - A Noiva Estava de Preto (La Mariée Était en Noir, França | Itália, 1968) - de François Truffaut

04 - A Noite (La Notte, Itália | França, 1961) - de Michelangelo Antonioni

05 - Joanna Francesa (Joanna Francesa, Brasil | França, 1973) - de Carlos Diegues

06 - Querelle (Querelle, Alemanha Ocidental | França, 1982) - de Rainer Werner Fassbinder

07 - A Baía dos Anjos (La Baie des Anges, França, 1963) - de Jacques Demy

08 - Jules e Jim - Uma Mulher para Dois (Jules et Jim, França, 1962) - de François Truffaut

09 - O Processo (Le Procès, França | Alemanha Ocidental | Itália, 1962) - de Orson Welles

10 - Ligações Amorosas (Les Liaisons Dangereuses, França | Itália, 1959) - de Roger Vadim

Jeanne Moreau com Henri Serre e Oskar Werner em "Jules e Jim - Uma Mulher para Dois" (1962) de François Truffaut
Les Films du Carrosse [fr] | Sédif Productions [fr]

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