Dona de um dos olhares mais charmosos e estonteantes do
cinema, Jeanne Moreau dizia que a tarefa de fazer filmes não era uma simples forma
de ação ou interpretação, mas sim um legítimo modo de viver. Apaixonada pelo
mundo das artes, a atriz francesa foi encontrada sem vida na manhã desta
segunda-feira, dia 31, em sua residência em Paris; ela morreu aos 89 anos de
causas naturais.
Moreau era uma estrela de calibre internacional. O
simples fato de ter trabalhado com os maiores cineastas franceses de sua
geração – e de ter sido uma das atrizes mais representativas do movimento da nouvelle
vague – já a credenciava como uma figura notável, chamando a atenção e
suplantando os limites da imaginação de vários diretores ao redor do mundo. Quando
foi escalada para estrelar o clássico noir “Ascensor
para o Cadafalso” (1958) seguido do romântico “Amantes” (1958), ambos de Louis Malle, Jeanne Moreau já era
considerada uma célebre atriz de teatro que atingira o auge da carreira com
apenas 30 anos de idade.
Pouco tempo depois, Jeanne Moreau já somava parcerias e trabalhos
significativos com Michelangelo Antonioni (“A
Noite”, de 1961), Joseph Losey (“Eva”,
de 1962), Orson Welles (“O Processo”
de 1962), Luis Buñuel (“O Diário de uma
Camareira” de 1964) e John Frankenheimer (“O Trem” de 1964), por exemplo. Na década seguinte, a atriz também deixava
a sua contribuição e a sua marca no cinema brasileiro ao protagonizar “Joanna Francesa” (1973), longa dirigido
por Carlos Diegues que registra o espírito aventureiro de Joanna, dona de um
prostíbulo na São Paulo dos anos 30 que acaba abandonando os negócios para se encontrar
com Coronel Aureliano (interpretado por Carlos Koeber), um cliente que morria
de amores por ela e que mantinha um engenho de açúcar no interior das Alagoas.
Jeanne Moreau (1928 - 2017) em "Joanna Francesa" (1973) de Carlos Diegues - Zoom Cinematográfica [br] |
Ao longo de seus pouco mais de 65 anos de carreira,
Jeanne Moreau trabalhou com outros diretores internacionalmente consagrados
como Elia Kazan, Rainer Werner Fassbinder, Theodoros Angelopoulos, Wim Wenders
e Manoel de Oliveira. Entretanto, é a sua contribuição para o cinema francês que
merece um extenso capítulo à parte, especialmente por suas memoráveis conquistas.
Já em 1958, Jeanne conquistava o prêmio de melhor atriz do Festival de Veneza
por “Amantes”. Dois anos mais tarde, ela
viria a ser premiada em Cannes por seu papel em “Duas Almas em Suplício” (1960), onde contracenava com Jean-Paul
Belmondo. Jeanne Moreau ainda presidiu o júri do festival francês em 1975 e
1995, sendo até hoje a única mulher a coordenar esse trabalho por mais de uma
vez, além de ser a única personalidade desde 1960 a ocupar esse posto em duas
oportunidades.
Em 2009, Jeanne Moreau foi uma das principais homenageadas
do Festival de Cinema do Rio. Na ocasião, a atriz concedeu uma entrevista
insigne na qual dizia que era impossível impedir que seus fãs a chamassem de “diva”.
Para ela, outras alcunhas como “musa” ou até mesmo “lenda viva” não poderiam
influenciar na sua carreira e – muito menos – na sua rotina particular; o
importante era conviver com isso da forma mais natural possível, sem sequer
saber se era uma verdadeira merecedora de tudo isso. A beleza arrebatadora de sua
Catherine em “Jules e Jim - Uma Mulher
para Dois” (1962) é exemplo claro e prova cabal de que todos os elogios
fazem jus à sua inesquecível carreira. Tal qual Oskar Werner e Henri Serre na
obra de arte de François Truffaut, ficaremos sempre desconcertados e encantados
por Jeanne Moreau, um dos rostos mais apaixonantes do Cinema!
Que agora descanse em paz... (1928 - 2017)
Dez filmes com Jeanne
Moreau que indico (em ordem de predileção):
01 - Ascensor para o Cadafalso (Ascenseur pour L’échafaud, França, 1958) - de Louis Malle
02 - Trinta Anos Esta Noite (Le Feu Follet, França, 1963) - de Louis Malle
03 - A Noiva Estava de Preto (La Mariée Était en Noir, França | Itália, 1968) - de François
Truffaut
04 - A Noite (La
Notte, Itália | França, 1961) - de Michelangelo Antonioni
05 - Joanna Francesa (Joanna Francesa, Brasil | França, 1973)
- de Carlos Diegues
06 - Querelle (Querelle,
Alemanha Ocidental | França, 1982) - de Rainer Werner Fassbinder
07 - A Baía dos Anjos (La Baie des Anges, França, 1963) - de Jacques Demy
08 - Jules e Jim - Uma Mulher
para Dois (Jules et Jim, França, 1962)
- de François Truffaut
09 - O Processo (Le
Procès, França | Alemanha Ocidental | Itália, 1962) - de Orson Welles
10 - Ligações Amorosas (Les Liaisons Dangereuses, França | Itália, 1959) - de Roger Vadim
Jeanne Moreau com Henri Serre e Oskar Werner em "Jules e Jim - Uma Mulher para Dois" (1962) de François Truffaut Les Films du Carrosse [fr] | Sédif Productions [fr] |
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