segunda-feira, 17 de julho de 2017

Memórias #30 | Martin Landau (1928 - 2017)

Martin Landau tinha orgulho do que fazia. Por muitas vezes, em discursos inflamados e adequados à redundância, afirmava – sem falsas modéstias – que o que fazia e o que sempre fez de melhor na vida fora atuar. Nascido no Brooklyn, o polivalente ator faleceu na madrugada do último sábado, aos 89 anos, em Los Angeles, cidade acolhedora de todo o seu talento.

Vencedor do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante em 1995 por “Ed Wood” (1994) de Tim Burton, Martin Landau ainda dizia que se sentia muito confortável em representar papéis situados abaixo das linhas do protagonismo, pois considerava uma área propícia para um verdadeiro artista demonstrar toda a sua versatilidade. Não é à toa que o seu nome está creditado em mais de 170 produções feitas para o cinema e para a televisão ao longo de quase 65 anos de carreira. Landau foi figura carimbada em uma série de sucessos da TV estadunidense como “Maverick”, “Bonanza”, “Os Intocáveis”, “Além da Imaginação” e “Missão: Impossível” (série que rendeu o primeiro de seus três Globos de Ouro em 1968); além de interpretar por duas temporadas o Comandante John Koenig em “Space: 1999”, até hoje um dos maiores sucessos da televisão britânica.

Um ponto fraco frente à essa dezena de participações é o fato de que, invariavelmente, atores que marcam presença em muitos projetos erram mais do que acertam na escolha dos seus papéis e acabam construindo um currículo extremamente irregular ao longo dos anos. Por outro lado, quando assumem com propriedade algum personagem icônico, artistas com essas características acabam deixando registrados na memória afetiva do espectador o valoroso esforço de uma incomum e genuína dedicação ao trabalho.

Retornando ao filme de Burton, cabe ressaltar que Martin Landau entrega para o público e para a crítica o papel de sua vida. Encarnando Bela Lugosi, um dos maiores nomes do cinema clássico de terror, o ator nos convence como um astro decadente que oferece, através de seus dramas e crises existenciais, uma sustentação perfeita aos infortúnios de Ed Wood, cineasta vivido por Johnny Depp no longa.

Martin Landau (1928 - 2017) em "Ed Wood" (1994) de Tim Burton - Touchstone Pictures [us]

Antes de vencer o Oscar por “Ed Wood”, Martin Landau havia sido indicado em outras duas oportunidades pela Academia, ambas também na categoria de Ator Coadjuvante: uma em 1989 por “Tucker: Um Homem e seu Sonho” (1988) de Francis Ford Coppola; e a outra em 1990 por “Crimes e Pecados” (1989) de Woody Allen. Neste último, uma deliciosa comédia dramática, Landau interpreta outro personagem marcante de sua carreira: o oftalmologista nova iorquino Judah Rosenthal que, recoberto por uma camada de falso moralismo, se encontra em uma saia justa ao perceber que a amante está prestes a revelar os detalhes do caso extraconjugal para sua esposa. Diante desse intercorrente dilema pecaminoso, este homem se lança em uma jornada de culpa e de dor que ultrapassa os limites do certo e do errado e que é moldada por um caráter que, aparentemente, não definia a sua real personalidade.

Fora do campo ficcional, o dilema de ser ou não ser um protagonista nunca esteve na alçada imediatista da carreira de Martin Landau, nunca sobrando espaço para arrependimentos. Para ele, o sucesso só viria com muito trabalho onde, como artista, iria sempre procurando manter o espírito aventureiro e o campo de visão o mais amplo possível diante das oportunidades que lhe eram oferecidas. A sua ambição em atuar vinha sempre em primeiro lugar, desde quando trabalhava como cartunista do periódico The New York Daily News em meados dos anos 40. Não demorou muito para que as primeiras investidas no campo da dramaturgia começassem a dar frutos, fazendo com que Landau estreasse nos palcos com a peça “Detective Story” em 1951 e ainda recebesse um convite para estrelar, neste mesmo ano, “First Love”, a sua primeira Off-Broadway como ator.

O salto do teatro para a televisão veio com uma participação pequena em um episódio do seriado “The Goldbergs” em 1953. Anos mais tarde, Landau veio a fazer a sua gabaritada estreia nas telas de cinema interpretando o vilão Leonard no clássico “Intriga Internacional” (1959) do mestre Alfred Hitchcock. De lá para cá o ator nunca parou de trabalhar; e em meio a personagens inesquecíveis e outras tantas produções de menor expressão, podemos afirmar que Martin Landau conduziu muito bem o protagonismo de sua própria vida!

Que agora descanse em paz... (1928 - 2017)

Dez filmes com Martin Landau que indico (em ordem de predileção):

01 - Crimes e Pecados (Crimes and Misdemeanors, Estados Unidos, 1989) - de Woody Allen

02 - Intriga Internacional (North by Northwest, Estados Unidos, 1959) - de Alfred Hitchcock

03 - Ed Wood (Ed Wood, Estados Unidos, 1994) - de Tim Burton

04 - Tucker: Um Homem e seu Sonho (Tucker: The Man and His Dream, Estados Unidos, 1988) - de Francis Ford Coppola

05 - O Justiceiro Negro (Black Gunn, Reino Unido | Estados Unidos, 1972) - de Robert Hartford-Davis

06 - Nevada Smith (Nevada Smith, Estados Unidos, 1966) - de Henry Hathaway

07 - Noite sem Fim (They Call me Mister Tibbs!, Estados Unidos, 1970) - de Gordon Douglas

08 - Cine Majestic (The Majestic, Estados Unidos, 2001) - de Frank Darabont

09 - Noite de Pânico (Alone in the Dark, Estados Unidos, 1982) - de Jack Sholder

10 - Uma Cidade Chamada Bastardo (A Town Called Bastard, Reino Unido | Espanha, 1971) - de Robert Parrish

Martin Landau e Woody Allen em "Crimes and Misdemeanors" (1989) de Woody Allen
Jack Rollins & Charles H. Joffe Productions [us]

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