sábado, 16 de janeiro de 2016

Memórias #18 | Franco Citti (1935 - 2016)

Dono de uma expressão distinta, autêntica e profunda, Franco Citti era um dos principais expoentes do movimento cinematográfico pós-neorrealista, aquele que tinha compromisso vital com o benévolo e sofrido existencialismo humano. O ator italiano morreu nesta última quinta-feira (14 de janeiro), aos 80 anos, em Roma.

Citti colaborou com alguns dos maiores cineastas de seu país, dentre eles Bernardo Bertolucci, Elio Petri e Valerio Zurlini; entretanto, era, essencialmente, uma presença constante no universo cinematográfico do diretor e amigo Pier Paolo Pasolini. Inclusive, sua estreia frente às câmeras foi como o cafetão Vittorio Cataldi no clássico “Accattone - Desajuste Social” (1961), considerado um de seus maiores trabalhos.

Franco Citti em "Accattone" (1961) de Pier Paolo Pasolini - Arco Film [it] | Cino del Duca [it]

O proxenetismo de seu primeiro personagem refletia o desvario e a vida “fora dos trilhos” em bairros da periferia romana na época; comunidades que sofriam com os efeitos replicantes de um país devastado pelo regime fascista, mesmo passados anos de sua queda. Assim como nos filmes, tais características recaíram sobre a realidade e marcaram a vida de Franco Citti, que tivera uma infância miserável e uma adolescência problemática. De certa forma, o rompimento parcial com uma complacência social na juventude ajudou muito o ator na composição do personagem de seu segundo filme, o proletário Carmine no excelente “Mamma Roma” (1962), outra obra de Pasolini.

“Accattone” e “Mamma Roma” são, sem dúvida, os seus trabalhos mais expressivos; muito embora nos mesmos moldes (e ainda em 1962), Citti tenha protagonizado um drama esplêndido e praticamente desconhecido do público, “Uma Vida Violenta” de Paolo Heusch e Brunello Rondi. O ator também se arriscou no gênero spaghetti western no filme “Réquiem para Matar” (1967) pouco antes de voltar a trabalhar com Pasolini, como um categórico, intuitivo e incontestável Édipo, protagonista de “Édipo Rei” (1967).

Da ampla e, praticamente, patrimonial cooperação com Pasolini ainda vieram o abrasivo “Pocilga” (1969) e os grandiosos “Decameron” (1971), “Os Contos de Canterbury” (1972) e “As Mil e uma Noites” (1974). Franco Citti ainda ficou conhecido pela tímida, mas emblemática participação em “O Poderoso Chefão - Parte I” (1972); no aclamado longa de Francis Ford Coppola ele deu vida à Calò, o não tão cuidadoso guarda-costas siciliano de Michael Corleone (papel que voltou a interpretar na “Parte III” da Saga).

Rude e ao mesmo tempo naturalista, Citti já não trabalhava há mais de quinze anos, mas, ainda assim, a sua magnética exterioridade e o dom natural para a dramatização se farão presentes enquanto a História do Cinema puder ser contada.

Descanse em paz... (1935 -2016)

Dez filmes com Franco Citti que indico (em ordem de predileção):

01 - O Poderoso Chefão - Parte I (The Godfather, Estados Unidos, 1972) - de Francis Ford Coppola

02 - Accattone - Desajuste Social (Accattone, Itália, 1961) - de Pier Paolo Pasolini

03 - Mamma Roma (Mamma Roma, Itália, 1962) - de Pier Paolo Pasolini

04 - Uma Vida Violenta (Una Vita Violenta, Itália, 1962) - de Paolo Heusch e Brunello Rondi

05 - O Poderoso Chefão - Parte III (The Godfather - Part III, Estados Unidos, 1990) - de Francis Ford Coppola

06 - La Luna (La Luna, Itália | Estados Unidos, 1979) - de Bernardo Bertolucci

07 - Sentado à sua Direita (Seduto alla sua Destra, Itália, 1968) - de Valerio Zurlini

08 - Ostia (Ostia, Itália, 1970) - de Sergio Citti

09 - Juízo Final (Todo Modo, Itália | França, 1976) - de Elio Petri

10 - Réquiem para Matar (Requiescant, Itália | Alemanha Ocidental, 1967) - de Carlo Lizzani

Franco Citti e Al Pacino em "The Godfather" (1972) de Francis Ford Coppola
Paramount Pictures [us] | Alfran Productions [us]

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