quinta-feira, 3 de setembro de 2015

INDIE Festival começa a todo vapor na Capital Mineira nesta quinta-feira | Rotina em Belo Horizonte

65 filmes de 21 países distribuídos em seis mostras temáticas e exibidos no curto (mas proveitoso) espaço de uma semana. Completando os seus 15 anos de atividades, o INDIE Festival “invade” três dos espaços culturais de exibição cinematográfica mais tradicionais da capital mineira (Cine Belas Artes, Cine Humberto Mauro e Sesc Palladium) com mais uma seleção assombrosa e admirável de filmes da sempre entusiasmada, reflexiva e visceral cena independente, além de nos presentear com eternos e inegáveis clássicos do cinema.

As tradicionais Mostras Mundial e INDIE Brasil trazem as mais recentes produções realizadas ao redor do globo e do nosso país. Na maior novidade desta edição, a Mostra “Clássica” trará, para as telas, clássicos superlativamente maravilhosos da História do Cinema em versões restauradas em formato digital. Além disso, três cineastas (um brasileiro e dois europeus) terão algumas de suas obras revisitadas e apreciadas em retrospectivas especiais.

A abertura oficial acontece hoje, às 20:00, com a projeção do documentário “Eu sou Ingrid Bergman” (2015) de Stig Björkman. Apresentado pela primeira vez na Mostra Cannes Classics do Festival de Cannes no primeiro semestre deste ano, o filme também será exibido por aqui como parte das comemorações do centenário do nascimento da atriz sueca, recém completados no último dia 29 de agosto.

"Jag är Ingrid" (2015) de Stig Björkman - Chimney [se] | Mantaray Film [se]

Sem se arrastar muito pela introdução, confira agora as nossas dicas e recomendações para cada uma das Mostras da edição de 2015 do INDIE Festival:


Considerada por muitos o carro-chefe do Festival, justamente por trazer obras singulares do cinema independente produzidas ao redor do mundo nos últimos anos, a Mostra Mundial privilegia lançamentos recentes (com a maioria deles fazendo a sua estreia nacional no INDIE) assinados tanto por cineastas renomados quanto por novos diretores que começam a despontar nas principais mostras, festivais e premiações.

Contemplando toda uma diversidade cultural cinematográfica, o programa traz 25 filmes contemporâneos realizados em 16 países diferentes. Dentre eles o Rotina Cinemeira destaca e indica o estadunidense “Tangerina” (2015), destaque nos festivais de Sundance, Palm Springs e Karlovy Vary neste ano:

Tangerina (Tangerine, Estados Unidos, 2015)

Direção: Sean Baker

Curiosamente e completamente filmada com a câmera de um iPhone 5S, a comédia dramática “Tangerina” acompanha a garota de programa e transexual Sin-Dee Rella (Kitana Kiki Rodriguez) que ao retornar da prisão descobre, através de sua melhor amiga Alexandra (Mya Taylor), que o seu namorado e agenciador, Chester (James Ransone), está lhe traindo. Com o coração partido, Sin-Dee parte em uma enciumada busca por Los Angeles atrás de Chester e de sua amante, a cisgênero Dinah (Mickey O’Hagan).

"Tangerine" (2015) de Sean Baker - Duplass Brothers Productions [us] | Through Films [us]

Também merecem uma conferida: o estoniano “Paisagem com Várias Luas” (2014) de Jaan Toomik; o tailandês “Cemitério do Esplendor” (2015) de Apichatpong Weerasethakul; o estadunidense “Para Sempre no Espaço” (2015) de Greg W. Locke; o chinês “Poeta em Viagem de Negócios” (2015) de Anqi Ju; e o romeno “O Tesouro” (2015) de Corneliu Porumboiu.


Valoroso e cada vez mais poderoso, o Cinema Nacional vem nos brindando, ano após ano, com pujantes e inventivas obras. As nossas produções independentes atuais vêm obtendo significativo destaque em mostras e festivais de cinema pelo Brasil e pelo mundo, muito embora não alcancem o grande público consumidor de cinema em salas ou espaços de exibição populares.

Contribuindo com a divulgação e disseminação de alguns desses trabalhos, a Mostra INDIE Brasil traz para Belo Horizonte seis filmes contemporâneos (três documentários e três ficções), alguns lançamentos recentes e outros com estreia ou pré-estreia nacionais acontecendo no Festival, como “Trago o seu Amor” (2015), indicação do Rotina Cinemeira para esta semana:

Trago seu Amor (Trago seu Amor, Brasil, 2015)

Direção: Dellani Lima

Paraibano radicado em Minas, o peculiar e criativo artista multimídia Dellani Lima investe em mais uma ficção após o grande sucesso de seu premiado “O Tempo não Existe no Lugar em que Estamos” (2014). Em “Trago seu Amor” observamos e refletimos sobre os diferentes conflitos vivenciados pelas pessoas em suas relações amorosas; momentos definitivos em que os laços se fortalecem ou se rompem. O sentimento e a impressão de que o fim está próximo é sempre farejado pela morte e pela apreensão imediatista de sempre se pensar o pior.

"Trago seu Amor" (2015) de Dellani Lima - Colégio Invisível [br]

Também merecem uma conferida: “O Signo das Tetas” (2014) de Frederico Machado; “Asco” (2015) de Alexandre Paschoalini; e o documentário “My Name is Now, Elza Soares” (2014) de Elizabete Martins Campos.


Com curadoria do jornalista Marcelo Miranda, o INDIE Festival preparou uma retrospectiva especial dedicada ao realizador, ator e crítico cinematográfico Jairo Ferreira. Amplamente influenciado pela marginalidade e pela “horripilância” da fase mais inventiva e politicamente incorreta do Cinema Brasileiro, Jairo investiu em parcerias com grandes nomes como Carlos Reichenbach e José Mojica Marins para elaborar os seus próprios conceitos, processos e meios de se fazer cinema.

Dentre as obras peculiares do cineasta Jairo, todas carregadas de rebeldia e relativa ingenuidade, o Rotina Cinemeira indica para os espectadores uma de suas mais estranhas aventuras cinematográficas: o transcendental e antropofágico “O Vampiro da Cinemateca” (1977):

O Vampiro da Cinemateca (O Vampiro da Cinemateca, Brasil, 1977)

Direção: Jairo Ferreira

Condenado ao exílio na São Paulo dos anos 70, um jovem jornalista decide romper com as limitações impostas à sua profissão e começa a elaborar o roteiro de um filme. Isolado em um ambiente escuro e delimitado por quatro paredes, ele passa a investir toda a sua fúria contra os modernos figurões da cultura de sua época. Mesmo em crise criativa, o agora “cinepoeta” começa a examinar e a filmar “filmes que filmam filmes”, bem como registrar cenas isoladas do cotidiano com alguns amigos; o que acaba por fazê-lo descobrir novas formas de realização. “Chupando filmes para renovar o sangue”, o jovem consegue finalmente se aventurar por suas sublimes e engenhosas criações.

"O Vampiro da Cinemateca" (1977) de Jairo Ferreira - Jairo Ferreira Produções Cinematográficas [br]

Também merecem uma conferida: “O Guru e os Guris” (1973); “Horror Palace Hotel” (1978); “O Insigne Ficante” (1980); e “Metamorfose Ambulante ou As Aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thoth” (1993).


Como parte de um projeto das produtoras Zeta Filmes (também organizadora do INDIE Festival) e da FJ Cines, a Mostra “Clássica” apresenta filmes que marcaram definitivamente a História do Cinema no período em que foram lançadas; obras fundamentais e indispensáveis para qualquer cinéfilo ou não cinéfilo. Projetados em cópias digitais restauradas (formato DCP), os filmes entrarão no circuito comercial sendo abrigados, de julho de 2015 a janeiro de 2016, em salas de cinema em mais de 10 cidades do país.

Do meio do ano para cá, já foram exibidas belíssimas cópias dos clássicos “O Sétimo Selo” (1957) de Ingmar Bergman, e “A Doce Vida” (1960) de Federico Fellini. Agora, durante o INDIE, as produtoras farão as pré-estreias nacionais de outros quatro filmes que serão lançados ao longo dos próximos meses nos cinemas do Brasil. Aproveitem para conferir todos esses clássicos e sigam a recomendação especial (e favorita) do Rotina Cinemeira dentro do programa desta Mostra:

Morangos Silvestres (Smultronstället, Suécia, 1957)

Direção: Ingmar Bergman

Depois de passar uma vida inteira marcada pela amargura e pela frieza, Isak Borg (Victor Sjöström) é forçado a se confrontar com o vazio de sua própria existência. Aos 78 anos de idade, o respeitado médico e professor aposentado é convidado para uma homenagem que marcará os seus 50 anos de sua carreira, cerimônia onde também receberá o título honorário da Universidade de Lund, sua cidade natal. No caminho entre Estocolmo e Lund, observamos a introspectiva e nostálgica jornada de Isak que, invadido por recordações dentro de suas presentes reflexões, acaba por reacender as mágoas do passado, os amores perdidos e que terminam com as discussões sobre a sua própria morte. Um mergulho poético, inconsciente e ao mesmo tempo ponderado sobre “as coisas da vida”.

"Smultronstället" (1957) de Ingmar Bergman - Svensk Filmindustri (SF) [se]

SEMPRE merecem uma conferida: como se tratam de clássicos eternos e absolutos do cinema mundial, todos eles merecem uma recomendação. É o caso de “8 ½” (1963) do italiano Federico Fellini; e de “Nosferatu - O Vampiro da Noite” (1979) e “Fitzcarraldo” (1982), ambos do cineasta alemão Werner Herzog.


Nove longas e dois curtas-metragens compõe essa retrospectiva inédita realizada no Brasil sobre a singular cineasta ucraniana Kira Muratova. Nascida em Soroca, cidade do antigo Reino da Romênia (atual Moldávia), Muratova foi/é figura importante no cinema de arte soviético e russo desde as suas primeiras e polêmicas realizações, principalmente num ciclo cultural estabelecido por ela mesma na cidade de Odessa.

Com alguns de seus filmes sendo exibidos publicamente pela primeira vez no Brasil, o Rotina Cinemeira indica, como um possível “pontapé inicial” para a revisão íntima de uma carreira cinematográfica brilhante, a sua obra mais conhecida e afamada:

Síndrome Astênica (Astenicheskiy Sindrom, União Soviética, 1990)

Direção: Kira Muratova

Vencedor do Urso de Prata do Festival de Berlim em 1990 e único a circular de maneira franca no Brasil, o longa mostra o drama de Natasha (Olga Antonova), uma médica que reage à morte de seu marido com demonstrações de luto cada vez mais violentas e agressivas. Antigamente e erroneamente conhecida como hipocondria, ou melancolia negra, tais reações agora são reputadas como síndrome astênica ou exaustão nervosa. A história de Natasha se conecta com a de Nikolai (Sergei Popov), um professor de inglês, escritor frustrado e narcoléptico que não consegue lidar bem com a sua condição. Ambos dividem as circunstâncias de suas vidas marcadas pela compulsão ou pela depressão, reflexos de uma sociedade cada vez mais mergulhada na decadência e à beira de um colapso.

"Astenicheskiy Sindrom" (1990) de Kira Muratova - Goskino [suhh] | Odessa Film Studios [suhh]

Também merecem uma conferida: O controverso “O Longo Adeus” (1971); o bem-dito formidável “Conhecendo o Grande e Vasto Mundo” (1980), e “Eterno Retorno” (2012), anunciado pela própria cineasta como sendo o seu último trabalho.


Com exceção de seu primeiro curta-metragem, “Tofolaria” (1986), o cineasta lituano Sharunas Bartas terá a sua obra revisitada de forma integral nesta 15ª. Edição do INDIE Festival, incluindo o seu mais recente trabalho, “Paz para Nós em Nossos Sonhos” (2015), exibido na última Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes em 2015.

Nostálgico e melancólico, o diretor sabe muito bem descrever as experiências traumáticas de povos que sofreram e sofrem amargamente as imposições políticas, culturais ou religiosas frente à um regime governamental amplo e dominante, afinal, ele é natural da Lituânia, um dos Estados Bálticos integrados pelos ideais comunistas desde o Império Russo à União Soviética.

E frente aos recentes e lamentáveis episódios envolvendo as centenas de milhares de imigrantes que estão procurando refúgio na Europa, o Rotina Cinemeira seleciona e indica um dos filmes de Bartas que dialoga de maneira congênere a esses acontecimentos:

Liberdade (Laisvé, França | Portugal | Lituânia, 2000)

Direção: Sharunas Bartas

Indicado ao Leão de Ouro do Festival de Veneza de 2000, o filme tem a sua trama desenrolada a partir de uma embarcação abarrotada de refugiados, traficantes de drogas e passageiros habituais que é atacada pela guarda costeira de um determinado país. Três passageiros (dois homens e uma mulher) sobrevivem aos ataques e, após uma pequena deriva, conseguem encontrar terra firme em uma praia da costa africana. Fugindo para o deserto e vagueando sem água nem comida, o trio comunga apenas o silêncio e a dor do isolamento, uma vez que não compartilham de uma mesma língua para se comunicarem.

"Laisvé" (2000) de Sharunas Bartas - Cultural Ministry [lt] | Eurimages [fr] | Gémini Films [fr] | Hubert Bals Fund [nl]
Kulturus Ir Sporto Remimo Fondas [lt] | Madragoa Filmes [pt] | Ministère de la Culture [fr] | Studio Kinema [lt]

Também merecem uma conferida: o média “Na Memória de um dia que se Foi” (1990) e os longas “Três Dias” (1992); “Sete Homens Invisíveis” (2005); e “O Nativo da Eurásia” (2010).

Maiores informações, como as sinopse e trailers dos filmes, bem como a programação completa das salas, seus respectivos horários de funcionamento e sessões estão disponíveis no próprio site do INDIE Festival (http://www.indiefestival.com.br/2015/).

Lembrando que as entradas para as sessões são gratuitas, com retiradas de ingressos nas bilheterias meia hora antes de cada sessão. Os espaços estão sujeitos à lotação.

Confira agora os Endereços dos locais de exibição do INDIE 2015:

- Cine Belas Artes: Rua Gonçalves Dias, 1581, Funcionários;

- Cine Humberto Mauro: Avenida Afonso Pena, 1537 (Palácio das Artes), Centro;

- Sala Professor José Tavares de Barros: Avenida Augusto de Lima, 420 (Sesc Palladium), Centro.

É ISSO... BOA SEMANA E EXCELENTES SESSÕES!

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