65 filmes de 21 países distribuídos em seis mostras
temáticas e exibidos no curto (mas proveitoso) espaço de uma semana. Completando
os seus 15 anos de atividades, o INDIE Festival
“invade” três dos espaços culturais de exibição cinematográfica mais tradicionais
da capital mineira (Cine Belas Artes, Cine Humberto Mauro e Sesc Palladium) com
mais uma seleção assombrosa e admirável de filmes da sempre entusiasmada, reflexiva
e visceral cena independente, além de nos presentear com eternos e inegáveis clássicos
do cinema.
As tradicionais Mostras Mundial e INDIE Brasil
trazem as mais recentes produções realizadas ao redor do globo e do nosso país.
Na maior novidade desta edição, a Mostra “Clássica”
trará, para as telas, clássicos superlativamente maravilhosos da História do
Cinema em versões restauradas em formato digital. Além disso, três cineastas
(um brasileiro e dois europeus) terão algumas de suas obras revisitadas e
apreciadas em retrospectivas especiais.
A abertura oficial acontece hoje, às 20:00, com a projeção
do documentário “Eu sou Ingrid Bergman”
(2015) de Stig Björkman. Apresentado pela primeira vez na Mostra Cannes
Classics do Festival de Cannes no primeiro semestre deste ano, o filme também
será exibido por aqui como parte das comemorações do centenário do nascimento da atriz sueca, recém completados no
último dia 29 de agosto.
"Jag är Ingrid" (2015) de Stig Björkman - Chimney [se] | Mantaray Film [se] |
Sem se arrastar muito pela introdução, confira agora as
nossas dicas e recomendações para cada uma das Mostras da edição de 2015 do INDIE Festival:
Considerada por muitos o carro-chefe do Festival,
justamente por trazer obras singulares do cinema independente produzidas ao
redor do mundo nos últimos anos, a Mostra
Mundial privilegia lançamentos recentes (com a maioria deles fazendo a sua
estreia nacional no INDIE) assinados
tanto por cineastas renomados quanto por novos diretores que começam a despontar
nas principais mostras, festivais e premiações.
Contemplando toda uma diversidade cultural cinematográfica,
o programa traz 25 filmes contemporâneos realizados em 16 países diferentes.
Dentre eles o Rotina Cinemeira destaca e indica o estadunidense “Tangerina” (2015), destaque nos
festivais de Sundance, Palm Springs e Karlovy Vary neste ano:
Tangerina (Tangerine, Estados Unidos, 2015)
Direção: Sean Baker
Curiosamente e completamente filmada com a câmera de um
iPhone 5S, a comédia dramática “Tangerina”
acompanha a garota de programa e transexual Sin-Dee Rella (Kitana Kiki
Rodriguez) que ao retornar da prisão descobre, através de sua melhor amiga
Alexandra (Mya Taylor), que o seu namorado e agenciador, Chester (James
Ransone), está lhe traindo. Com o coração partido, Sin-Dee parte em uma
enciumada busca por Los Angeles atrás de Chester e de sua amante, a cisgênero
Dinah (Mickey O’Hagan).
"Tangerine" (2015) de Sean Baker - Duplass Brothers Productions [us] | Through Films [us] |
Também merecem uma
conferida: o estoniano
“Paisagem com Várias Luas” (2014) de
Jaan Toomik; o tailandês “Cemitério do
Esplendor” (2015) de Apichatpong Weerasethakul; o estadunidense “Para Sempre no Espaço” (2015) de Greg
W. Locke; o chinês “Poeta em Viagem de
Negócios” (2015) de Anqi Ju; e o romeno “O
Tesouro” (2015) de Corneliu Porumboiu.
Valoroso e cada vez mais poderoso, o Cinema Nacional vem nos
brindando, ano após ano, com pujantes e inventivas obras. As nossas produções independentes
atuais vêm obtendo significativo destaque em mostras e festivais de cinema pelo
Brasil e pelo mundo, muito embora não alcancem o grande público consumidor de
cinema em salas ou espaços de exibição populares.
Contribuindo com a divulgação e disseminação de alguns
desses trabalhos, a Mostra INDIE Brasil
traz para Belo Horizonte seis filmes contemporâneos (três documentários e três
ficções), alguns lançamentos recentes e outros com estreia ou pré-estreia
nacionais acontecendo no Festival, como “Trago
o seu Amor” (2015), indicação do Rotina Cinemeira para esta semana:
Trago seu Amor (Trago seu Amor, Brasil, 2015)
Direção: Dellani Lima
Paraibano radicado em Minas, o peculiar e criativo
artista multimídia Dellani Lima investe em mais uma ficção após o grande
sucesso de seu premiado “O Tempo não Existe no Lugar em que Estamos” (2014). Em “Trago seu Amor” observamos
e refletimos sobre os diferentes conflitos vivenciados pelas pessoas em suas
relações amorosas; momentos definitivos em que os laços se fortalecem ou se
rompem. O sentimento e a impressão de que o fim está próximo é sempre farejado
pela morte e pela apreensão imediatista de sempre se pensar o pior.
"Trago seu Amor" (2015) de Dellani Lima - Colégio Invisível [br] |
Também merecem uma
conferida: “O Signo das Tetas” (2014) de Frederico
Machado; “Asco” (2015) de Alexandre
Paschoalini; e o documentário “My Name is
Now, Elza Soares” (2014) de Elizabete Martins Campos.
Com curadoria do jornalista Marcelo Miranda, o INDIE Festival preparou uma
retrospectiva especial dedicada ao realizador, ator e crítico cinematográfico
Jairo Ferreira. Amplamente influenciado pela marginalidade e pela “horripilância”
da fase mais inventiva e politicamente incorreta do Cinema Brasileiro, Jairo
investiu em parcerias com grandes nomes como Carlos Reichenbach e José Mojica
Marins para elaborar os seus próprios conceitos, processos e meios de se fazer
cinema.
Dentre as obras peculiares do cineasta Jairo, todas carregadas
de rebeldia e relativa ingenuidade, o Rotina Cinemeira indica para os
espectadores uma de suas mais estranhas aventuras cinematográficas: o transcendental
e antropofágico “O Vampiro da Cinemateca”
(1977):
O Vampiro da Cinemateca
(O Vampiro da Cinemateca, Brasil,
1977)
Direção: Jairo Ferreira
Condenado ao exílio na São Paulo dos anos 70, um jovem
jornalista decide romper com as limitações impostas à sua profissão e começa a
elaborar o roteiro de um filme. Isolado em um ambiente escuro e delimitado por
quatro paredes, ele passa a investir toda a sua fúria contra os modernos
figurões da cultura de sua época. Mesmo em crise criativa, o agora “cinepoeta”
começa a examinar e a filmar “filmes que
filmam filmes”, bem como registrar cenas isoladas do cotidiano com alguns amigos;
o que acaba por fazê-lo descobrir novas formas de realização. “Chupando filmes para renovar o sangue”,
o jovem consegue finalmente se aventurar por suas sublimes e engenhosas criações.
"O Vampiro da Cinemateca" (1977) de Jairo Ferreira - Jairo Ferreira Produções Cinematográficas [br] |
Também merecem uma
conferida: “O Guru e os Guris” (1973); “Horror Palace Hotel” (1978); “O Insigne Ficante” (1980); e “Metamorfose Ambulante ou As Aventuras de
Raul Seixas na Cidade de Thoth” (1993).
Como parte de um projeto das produtoras Zeta Filmes
(também organizadora do INDIE Festival)
e da FJ Cines, a Mostra “Clássica”
apresenta filmes que marcaram definitivamente a História do Cinema no período
em que foram lançadas; obras fundamentais e indispensáveis para qualquer
cinéfilo ou não cinéfilo. Projetados em cópias digitais restauradas (formato
DCP), os filmes entrarão no circuito comercial sendo abrigados, de julho de
2015 a janeiro de 2016, em salas de cinema em mais de 10 cidades do país.
Do meio do ano para cá, já foram exibidas belíssimas
cópias dos clássicos “O Sétimo Selo”
(1957) de Ingmar Bergman, e “A Doce Vida”
(1960) de Federico Fellini. Agora, durante o INDIE, as produtoras farão as pré-estreias nacionais de outros quatro
filmes que serão lançados ao longo dos próximos meses nos cinemas do Brasil.
Aproveitem para conferir todos esses clássicos e sigam a recomendação especial
(e favorita) do Rotina Cinemeira dentro do programa desta Mostra:
Morangos Silvestres (Smultronstället, Suécia, 1957)
Direção: Ingmar Bergman
Depois de passar uma vida inteira marcada pela amargura e
pela frieza, Isak Borg (Victor Sjöström) é forçado a se confrontar com o vazio
de sua própria existência. Aos 78 anos de idade, o respeitado médico e
professor aposentado é convidado para uma homenagem que marcará os seus 50 anos
de sua carreira, cerimônia onde também receberá o título honorário da
Universidade de Lund, sua cidade natal. No caminho entre Estocolmo e Lund,
observamos a introspectiva e nostálgica jornada de Isak que, invadido por
recordações dentro de suas presentes reflexões, acaba por reacender as mágoas do
passado, os amores perdidos e que terminam com as discussões sobre a sua própria
morte. Um mergulho poético, inconsciente e ao mesmo tempo ponderado sobre “as
coisas da vida”.
"Smultronstället" (1957) de Ingmar Bergman - Svensk Filmindustri (SF) [se] |
SEMPRE merecem uma
conferida: como se
tratam de clássicos eternos e absolutos do cinema mundial, todos eles merecem
uma recomendação. É o caso de “8 ½” (1963) do italiano Federico Fellini; e de “Nosferatu - O Vampiro da Noite” (1979)
e “Fitzcarraldo” (1982), ambos do
cineasta alemão Werner Herzog.
Nove longas e dois curtas-metragens compõe essa
retrospectiva inédita realizada no Brasil sobre a singular cineasta ucraniana
Kira Muratova. Nascida em Soroca, cidade do antigo Reino da Romênia (atual
Moldávia), Muratova foi/é figura importante no cinema de arte soviético e russo
desde as suas primeiras e polêmicas realizações, principalmente num ciclo
cultural estabelecido por ela mesma na cidade de Odessa.
Com alguns de seus filmes sendo exibidos publicamente
pela primeira vez no Brasil, o Rotina Cinemeira indica, como um
possível “pontapé inicial” para a revisão íntima de uma carreira
cinematográfica brilhante, a sua obra mais conhecida e afamada:
Síndrome Astênica (Astenicheskiy Sindrom, União Soviética,
1990)
Direção: Kira Muratova
Vencedor do Urso de Prata do Festival de Berlim em 1990 e
único a circular de maneira franca no Brasil, o longa mostra o drama de Natasha
(Olga Antonova), uma médica que reage à morte de seu marido com demonstrações
de luto cada vez mais violentas e agressivas. Antigamente e erroneamente conhecida
como hipocondria, ou melancolia negra, tais reações agora são reputadas como
síndrome astênica ou exaustão nervosa. A história de Natasha se conecta com a
de Nikolai (Sergei Popov), um professor de inglês, escritor frustrado e
narcoléptico que não consegue lidar bem com a sua condição. Ambos dividem
as circunstâncias de suas vidas marcadas pela compulsão ou pela depressão,
reflexos de uma sociedade cada vez mais mergulhada na decadência e à beira de
um colapso.
"Astenicheskiy Sindrom" (1990) de Kira Muratova - Goskino [suhh] | Odessa Film Studios [suhh] |
Também merecem uma
conferida: O
controverso “O Longo Adeus” (1971); o
bem-dito formidável “Conhecendo o Grande
e Vasto Mundo” (1980), e “Eterno Retorno” (2012), anunciado pela própria
cineasta como sendo o seu último trabalho.
Com exceção de seu primeiro curta-metragem, “Tofolaria” (1986), o cineasta lituano
Sharunas Bartas terá a sua obra revisitada de forma integral nesta 15ª. Edição
do INDIE Festival, incluindo o seu
mais recente trabalho, “Paz para Nós em
Nossos Sonhos” (2015), exibido na última Quinzena dos Realizadores do
Festival de Cannes em 2015.
Nostálgico e melancólico, o diretor sabe muito bem
descrever as experiências traumáticas de povos que sofreram e sofrem
amargamente as imposições políticas, culturais ou religiosas frente à um regime
governamental amplo e dominante, afinal, ele é natural da Lituânia, um dos
Estados Bálticos integrados pelos ideais comunistas desde o Império Russo à
União Soviética.
E frente aos recentes e lamentáveis episódios envolvendo
as centenas de milhares de imigrantes que estão procurando refúgio na Europa, o
Rotina Cinemeira seleciona e indica um dos filmes de Bartas que dialoga de
maneira congênere a esses acontecimentos:
Liberdade (Laisvé, França | Portugal | Lituânia,
2000)
Direção: Sharunas Bartas
Indicado ao Leão de Ouro do Festival de Veneza de 2000, o
filme tem a sua trama desenrolada a partir de uma embarcação abarrotada de
refugiados, traficantes de drogas e passageiros habituais que é atacada pela
guarda costeira de um determinado país. Três passageiros (dois homens e uma
mulher) sobrevivem aos ataques e, após uma pequena deriva, conseguem encontrar
terra firme em uma praia da costa africana. Fugindo para o deserto e vagueando
sem água nem comida, o trio comunga apenas o silêncio e a dor do isolamento,
uma vez que não compartilham de uma mesma língua para se comunicarem.
Também merecem uma
conferida: o média “Na Memória de um dia que se Foi” (1990)
e os longas “Três Dias” (1992); “Sete Homens Invisíveis” (2005); e “O Nativo da Eurásia” (2010).
Maiores informações, como as sinopse e trailers dos
filmes, bem como a programação completa das salas, seus respectivos horários de
funcionamento e sessões estão disponíveis no próprio site do INDIE Festival (http://www.indiefestival.com.br/2015/).
Lembrando que as entradas para as sessões são gratuitas,
com retiradas de ingressos nas bilheterias meia hora antes de cada sessão. Os
espaços estão sujeitos à lotação.
Confira agora os
Endereços dos locais de exibição do INDIE 2015:
- Cine Belas Artes: Rua Gonçalves Dias, 1581,
Funcionários;
- Cine Humberto Mauro: Avenida Afonso Pena, 1537 (Palácio das
Artes), Centro;
- Sala Professor José
Tavares de Barros: Avenida
Augusto de Lima, 420 (Sesc Palladium), Centro.
É ISSO... BOA SEMANA E EXCELENTES SESSÕES!
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