Patrimônio do cinema, do rádio, do teatro e da televisão,
o ator estadunidense Jerry Lewis morreu em Las Vegas neste último domingo, dia
20 de agosto, aos 91 anos. Além de interpretar alguns dos personagens mais
hilários da história do cinema, o rei da comédia pastelão ainda demonstrava
habilidades para dança e para a música, além de idealizar, roteirizar e
produzir muitos de seus trabalhos. Figura singular e de carisma “majoritariamente
incontestável”, Jerry Lewis deixará saudades por se tratar, sobretudo, de uma
lenda insubstituível do entretenimento e do riso.
Com apenas 19 anos, o ator nascido em Nem Jersey começava
a conquistar o seu espaço no show business no ano de 1946, formando ao lado do
também ator e cantor Dean Martin uma das duplas de comédia mais célebres e famigeradas
do mundo dos espetáculos. Sustentadas por improvisações, a eloquência e a irreverência
das performances de Martin & Lewis percorriam com velocidade lancinante as
ondas das rádios do país e também ganhavam espaço nos principais palcos da
cidade de Nova York; sobretudo o Copacabana, nightclub que abrigou por alguns
anos os famosos sketchs dos
comediantes. Não demorou muito para que esse humor refinado alcançasse as salas
de cinema, fruto de um contrato generoso com a Paramount Pictures assinado por
Jerry Lewis e Dean Martin no final dos anos 40.
O primeiro filme com participação da dupla foi “A Amiga da Onça” (1949), conduzido pelo
versátil diretor George Marshall. Da ascensão meteórica até o desgaste e a consequente
dissolução da parceria, a indústria hollywoodiana aproveitou a sagacidade e a
química de seus astros em mais 15 produções, dentre as quais se destacam “O Palhaço do Batalhão” (1950) e “O Marujo foi na Onda” (1952), ambos de
Hal Walker; “Farra dos Malandros”
(1954) e “Artistas e Modelos” (1955),
realizações notáveis de Frank Tashlin; e a última em que atuaram juntos, “Hollywood or Bust” (1956), também
dirigido por Tashlin e ironicamente traduzida no Brasil como “Ou Vai, ou Racha”.
Jerry Lewis (1926 - 2017) em "The Nutty Professor" (1963) de Jerry Lewis Paramount Pictures [us] | Jerry Lewis Enterprises |
O hilariante “O
Delinquente Delicado” (1957) de Don McGuire – inicialmente programado para
contar com Dean Martin no elenco – foi primeiro filme de Jerry Lewis em “carreira
solo” nas telonas. No ano seguinte, em mais um trabalho com o diretor Frank
Tashlin, o humorista interpretou um de seus papéis mais marcantes: em “Bancando a Ama-Seca” (1958), Lewis dá
vida à Clayton Poole, um rapaz simples de uma cidade do interior que, por força
do acaso e por conveniência, transforma-se em babá dos trigêmeos de Carla
Naples (Marilyn Maxwell), o seu grande amor de infância que agora possui uma
agenda cheia de compromissos inadiáveis por ser uma das principais e mais
requisitadas estrelas de cinema da América.
Sem oferecer brechas para uma possível queda na sua
popularidade, Jerry Lewis passou a demonstrar ainda mais a sua gama e pluralidade
artística a partir dos anos 60, incluindo momentos inspirados também como
cineasta. O ator comprovou essa distinta habilidade por trás das câmeras ao dirigir
alguns pares de filmes ao longo dos anos que se seguiram; encabeçando os elencos
como o principal astro na maioria deles, inclusive. A estreia como diretor foi
em “O Mensageiro Trapalhão” (1960),
um de seus trabalhos mais aclamados. Entretanto, é com “O Professor Aloprado” (1963) que Jerry Lewis consolida e projeta o
seu legado para a eternidade, influenciando de forma significativa as futuras
gerações de humoristas ao redor de todo o mundo. No longa, ele interpreta um
professor universitário tímido e desajeitado que cria uma fórmula mágica para
se transformar em um charmoso galanteador, fugindo da perseguição de alunos e
colegas de trabalho.
Inevitavelmente, a espontaneidade e a liberdade de
criação de alguns artistas moldam personalidades ardilosas e excêntricas; e tais
características acabaram sendo atribuídas a Jerry Lewis, sempre reconhecido em
seu meio como uma figura controversa. Equilibrando-se na tênue linha entre a
ingenuidade e a malícia, Lewis acumulou uma série de polêmicas com vários
grupos e movimentos organizados da sociedade civil. Dois dos exemplos mais
clássicos estão nas famosas sequências da massagem em “Artistas e Modelos” e da academia em “O Professor Aloprado” (veja os vídeos clicando AQUI e AQUI), na qual o ator foi duramente criticado por, eventualmente,
zombar pessoas que sofriam de distrofia muscular. Lewis absorveu as críticas e começou
a usá-las ao seu favor, passando a angariar fundos de caridade para a Associação
Nacional de Distrofia Muscular dos Estados Unidos através do programa anual “The Jerry Lewis MDA Labor Day Telethon”.
A atitude louvável é construída à base de toneladas de
mau humor. Historicamente, a rabugice é principal característica atribuída a
celebridades de caráter dúbio; e isso fica ainda mais evidente quando estamos tratando
de um dos principais ícones do simulacro e da dissimulação da alegria. Separado
por sortes e reveses, Jerry Lewis construiu uma das carreiras mais sólidas e
proeminentes do cinema mundial. Mais do que um comediante, ele era uma máquina
de gargalhadas!
Que agora descanse em paz... (1926 - 2017)
Dez filmes com Jerry
Lewis que indico (em ordem de predileção):
01 - O Professor
Aloprado (The Nutty Professor, Estados
Unidos, 1963) - de Jerry Lewis
02 - O Rei da Comédia (The King of Comedy, Estados Unidos, 1982)
- de Martin Scorsese
03 - Artistas e Modelos (Artists and Models, Estados Unidos, 1955) - de Frank Tashlin
04 - Bancando a Ama-Seca (Rock-a-Bye Baby, Estados Unidos, 1958) - de Frank Tashlin
05 - O Terror das Mulheres (The Ladies Man, Estados Unidos, 1961) - de Jerry Lewis
06 - Arizona Dream: Um Sonho Americano (Arizona Dream, Estados Unidos | França,
1993) de Emir Kusturica
07 - O Delinquente Delicado (The Delicate Delinquent, Estados Unidos, 1957) - de Don McGuire
08 - O Mensageiro Trapalhão (The Bellboy, Estados Unidos, 1960) - de Jerry Lewis
09 - O Filhinho de Papai (That’s my Boy, Estados Unidos, 1951) - de Hal Walker
10 - Boeing Boeing (Boeing
Boeing, Estados Unidos, 1965) - de John Rich
Robert De Niro contracena com Jerry Lewis em "The King of Comedy" (1982) de Martin Scorsese Embassy International Pictures | Twentieth Century Fox Film Corporation [us] |
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