segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Memórias #32 | Jerry Lewis (1926 - 2017)

Patrimônio do cinema, do rádio, do teatro e da televisão, o ator estadunidense Jerry Lewis morreu em Las Vegas neste último domingo, dia 20 de agosto, aos 91 anos. Além de interpretar alguns dos personagens mais hilários da história do cinema, o rei da comédia pastelão ainda demonstrava habilidades para dança e para a música, além de idealizar, roteirizar e produzir muitos de seus trabalhos. Figura singular e de carisma “majoritariamente incontestável”, Jerry Lewis deixará saudades por se tratar, sobretudo, de uma lenda insubstituível do entretenimento e do riso.

Com apenas 19 anos, o ator nascido em Nem Jersey começava a conquistar o seu espaço no show business no ano de 1946, formando ao lado do também ator e cantor Dean Martin uma das duplas de comédia mais célebres e famigeradas do mundo dos espetáculos. Sustentadas por improvisações, a eloquência e a irreverência das performances de Martin & Lewis percorriam com velocidade lancinante as ondas das rádios do país e também ganhavam espaço nos principais palcos da cidade de Nova York; sobretudo o Copacabana, nightclub que abrigou por alguns anos os famosos sketchs dos comediantes. Não demorou muito para que esse humor refinado alcançasse as salas de cinema, fruto de um contrato generoso com a Paramount Pictures assinado por Jerry Lewis e Dean Martin no final dos anos 40.

O primeiro filme com participação da dupla foi “A Amiga da Onça” (1949), conduzido pelo versátil diretor George Marshall. Da ascensão meteórica até o desgaste e a consequente dissolução da parceria, a indústria hollywoodiana aproveitou a sagacidade e a química de seus astros em mais 15 produções, dentre as quais se destacam “O Palhaço do Batalhão” (1950) e “O Marujo foi na Onda” (1952), ambos de Hal Walker; “Farra dos Malandros” (1954) e “Artistas e Modelos” (1955), realizações notáveis de Frank Tashlin; e a última em que atuaram juntos, “Hollywood or Bust” (1956), também dirigido por Tashlin e ironicamente traduzida no Brasil como “Ou Vai, ou Racha”.

Jerry Lewis (1926 - 2017) em "The Nutty Professor" (1963) de Jerry Lewis
Paramount Pictures [us] | Jerry Lewis Enterprises

O hilariante “O Delinquente Delicado” (1957) de Don McGuire – inicialmente programado para contar com Dean Martin no elenco – foi primeiro filme de Jerry Lewis em “carreira solo” nas telonas. No ano seguinte, em mais um trabalho com o diretor Frank Tashlin, o humorista interpretou um de seus papéis mais marcantes: em “Bancando a Ama-Seca” (1958), Lewis dá vida à Clayton Poole, um rapaz simples de uma cidade do interior que, por força do acaso e por conveniência, transforma-se em babá dos trigêmeos de Carla Naples (Marilyn Maxwell), o seu grande amor de infância que agora possui uma agenda cheia de compromissos inadiáveis por ser uma das principais e mais requisitadas estrelas de cinema da América.

Sem oferecer brechas para uma possível queda na sua popularidade, Jerry Lewis passou a demonstrar ainda mais a sua gama e pluralidade artística a partir dos anos 60, incluindo momentos inspirados também como cineasta. O ator comprovou essa distinta habilidade por trás das câmeras ao dirigir alguns pares de filmes ao longo dos anos que se seguiram; encabeçando os elencos como o principal astro na maioria deles, inclusive. A estreia como diretor foi em “O Mensageiro Trapalhão” (1960), um de seus trabalhos mais aclamados. Entretanto, é com “O Professor Aloprado” (1963) que Jerry Lewis consolida e projeta o seu legado para a eternidade, influenciando de forma significativa as futuras gerações de humoristas ao redor de todo o mundo. No longa, ele interpreta um professor universitário tímido e desajeitado que cria uma fórmula mágica para se transformar em um charmoso galanteador, fugindo da perseguição de alunos e colegas de trabalho.

Inevitavelmente, a espontaneidade e a liberdade de criação de alguns artistas moldam personalidades ardilosas e excêntricas; e tais características acabaram sendo atribuídas a Jerry Lewis, sempre reconhecido em seu meio como uma figura controversa. Equilibrando-se na tênue linha entre a ingenuidade e a malícia, Lewis acumulou uma série de polêmicas com vários grupos e movimentos organizados da sociedade civil. Dois dos exemplos mais clássicos estão nas famosas sequências da massagem em “Artistas e Modelos” e da academia em “O Professor Aloprado” (veja os vídeos clicando AQUI e AQUI), na qual o ator foi duramente criticado por, eventualmente, zombar pessoas que sofriam de distrofia muscular. Lewis absorveu as críticas e começou a usá-las ao seu favor, passando a angariar fundos de caridade para a Associação Nacional de Distrofia Muscular dos Estados Unidos através do programa anual “The Jerry Lewis MDA Labor Day Telethon”.

A atitude louvável é construída à base de toneladas de mau humor. Historicamente, a rabugice é principal característica atribuída a celebridades de caráter dúbio; e isso fica ainda mais evidente quando estamos tratando de um dos principais ícones do simulacro e da dissimulação da alegria. Separado por sortes e reveses, Jerry Lewis construiu uma das carreiras mais sólidas e proeminentes do cinema mundial. Mais do que um comediante, ele era uma máquina de gargalhadas!

Que agora descanse em paz... (1926 - 2017)

Dez filmes com Jerry Lewis que indico (em ordem de predileção):

01 - O Professor Aloprado (The Nutty Professor, Estados Unidos, 1963) - de Jerry Lewis

02 - O Rei da Comédia (The King of Comedy, Estados Unidos, 1982) - de Martin Scorsese

03 - Artistas e Modelos (Artists and Models, Estados Unidos, 1955) - de Frank Tashlin

04 - Bancando a Ama-Seca (Rock-a-Bye Baby, Estados Unidos, 1958) - de Frank Tashlin

05 - O Terror das Mulheres (The Ladies Man, Estados Unidos, 1961) - de Jerry Lewis

06 - Arizona Dream: Um Sonho Americano (Arizona Dream, Estados Unidos | França, 1993) de Emir Kusturica

07 - O Delinquente Delicado (The Delicate Delinquent, Estados Unidos, 1957) - de Don McGuire

08 - O Mensageiro Trapalhão (The Bellboy, Estados Unidos, 1960) - de Jerry Lewis

09 - O Filhinho de Papai (That’s my Boy, Estados Unidos, 1951) - de Hal Walker

10 - Boeing Boeing (Boeing Boeing, Estados Unidos, 1965) - de John Rich

Robert De Niro contracena com Jerry Lewis em "The King of Comedy" (1982) de Martin Scorsese
Embassy International Pictures | Twentieth Century Fox Film Corporation [us]

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