Depois de algum tempo, a coluna “Três Assim” retorna neste mês de julho com as tradicionais dicas de
filmes para um descontraído fim de semana, só que desta vez ela vem com uma
recomendação especial para os cinéfilos belorizontinos. No próximo sábado, dia
18, o público da capital mineira poderá conferir no Cine Humberto Mauro,
localizado no Palácio das Artes, o “Especial Jorge Bodansky” que integra a programação do “I Inverno das Artes”, evento que surge com a proposta de fomentar
a cultura no mês de julho em Belo Horizonte, combinando shows, oficinas de
artes visuais e exibições de filmes com debates, exposições e atividades complementares.
Serão projetados, a partir das 15:00 de amanhã até o
restante do dia, três grandes filmes do cinegrafista e fotógrafo paulistano
Jorge Bodansky, formado em cinema pela Escola de Design de Ulm, na Alemanha, dirigida
pelo intelectual, crítico social (e também cineasta) alemão Alexander Kluge. Desde
quando retornou ao Brasil, Bodanzky realizou várias ficções e documentários com
nomes importantes como Hector Babenco e Maurice Capovilla e é considerado, ao
lado deles, um dos principais representantes de uma respeitável e onipresente
linguagem documental desenvolvida e engendrada nas mais belas produções do
Cinema Brasileiro.
Integram o Programa da Mostra Especial o político “Terceiro Milênio” (1981), às 15:00; o
educativo “No Meio do Rio entre as
Árvores” (2009), às 17:00; e “Iracema
- Uma Transa Amazônica” (1975), seu premiado e mais conhecido trabalho, às
19:00. O evento ainda contará com a presença do próprio Bodansky que, logo após
a sessão de “Iracema - Uma Transa
Amazônica”, participará de um debate com o público sobre a comemoração dos
40 anos que marcam o início da produção do longa-metragem acompanhados, ainda,
de um lançamento especial do DVD do filme, produzido pelo Instituto Moreira
Salles.
Àqueles que não conhecem o trabalho de Jorge Bodansky ou
aos que não estiverem em Belo Horizonte neste fim de semana, vale a pena
pesquisar, estudar e ter contato com toda a obra do cineasta. Alguns de seus
filmes podem ser facilmente encontrados em portais de mídia livre ou
independente, mas sempre reforçamos que a experiência de os apreciar em uma
sala de cinema é única e culturalmente construtiva.
Para quem mora em Belo Horizonte basta lembrar que o Cine
Humberto Mauro está localizado no Palácio das Artes, Avenida Afonso Pena 1537,
centro da capital. A entrada é gratuita, mas é necessário retirar os ingressos
na bilheteria do cinema meia hora antes de cada sessão. Para os demais
leitores, o Rotina Cinemeira preparou uma pequena descrição dos filmes que
serão exibidos por aqui e que não podem deixar de ser vistos por qualquer brasileiro,
confira:
Iracema - Uma Transa
Amazônica (Iracema - Uma Transa Amazônica,
Brasil | Alemanha Ocidental | França, 1975)
Direção: Jorge Bodanzky
e Orlando Senna
Em 1970, Iracema (Edna de Cássia) desembarca com sua
família em Belém do Pará para pagar uma promessa e participar das festividades
do Círio de Nazaré. Com apenas quinze anos e influenciada por novas companhias,
a jovem permanece na cidade e começa a se prostituir. Trabalhando em um cabaré,
a índia acaba conhecendo Tião “Brasil Grande” (Paulo César Peréio), um
caminhoneiro e negociante de madeira que está a trabalho no norte do Brasil.
Seduzida, Iracema sonha em conhecer os grandes centros (como Rio de Janeiro e
São Paulo) e pega carona com o motorista. Cruzando um caminho miserável e desmantelado
por eternas promessas de desenvolvimento não cumpridas, a viagem já lhe
escancara a triste realidade do país logo no início da jornada.
A urgência em socorrer um “símbolo nacional de progresso”
que já nasceu agonizante foi o mote principal para a produção de “Iracema - Uma Transa Amazônica”, um docudrama que retrata, da maneira mais
fiel possível, as precárias condições de vida população que margeia a
calamitosa Rodovia Transamazônica. Entretanto, o imediatismo do trabalho de
vigor sociológico quase “denunciativo” de Bodansky não agradou aos olhos de
alguns e, por longos anos, esquentou amargamente a prateleira de filmes
proibidos pela censura.
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"Iracema - Uma Transa Amazônica" (1975) de Jorge Bodanzky e Orlando Senna Stop Film [br] | Zweites Deutsches Fernsehen (ZDF) [de] |
Terceiro Milênio (Terceiro Milênio, Brasil | Alemanha
Ocidental, 1982)
Direção: Jorge Bodanzky
e Wolf Gauer
A partir de Manaus, o documentário registra a viagem do
senador amazonense Evandro Carreira pelas bases eleitorais e “pelos confins do tempo presente” de seu
Estado em um distante, mas atual, agosto de 1980. Guiada pelo enfadonho (porém,
persuasivo) parlamentar, a câmera solta de Bodanzky percorre rios e aldeias da
fronteiriça região do Alto Solimões recolhendo os mais variados depoimentos de
caboclos, índios, madeireiros e sertanistas.
Além de apresentar ao espectador personagens pouco
conhecidas à época, as declarações dessas acabam por revelar as potencialidades
econômicas do Amazonas e ainda ajudam a desenhar um cenário de prosperidade
que, infelizmente, é rechaçado de forma constante pelos descaminhos da política,
pela subserviência de classes pautadas em interesses, e pelo abismo cultural
que historicamente afasta o povo de seus representantes.
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"Terceiro Milênio" (1982) de Jorge Bodansky e Wolf Gauer - Stopfilm [de] | Zweites Deutsches Fernsehen (ZDF) [de] |
No Meio do Rio Entre as
Árvores (No Meio do Rio Entre as Árvores,
Brasil, 2009)
Direção: Jorge Bodanzky
A intrínseca relação de Jorge Bodanzky com a Amazônia
retorna neste documentário que, em pouco mais de uma hora, mostra moradores de
diversas comunidades ribeirinhas da região participando de oficinas de
iniciação em vídeo e em fotografia ministradas pelo próprio diretor e pelo cineasta Ralph Thomas Friedericks. Bodanzky dá
“armas” e voz para a população local se expressar divulgando seus pequenos
filmes (e, consequentemente, as suas vidas) para o mundo através da Internet.
Com os conhecimentos adquiridos no curso, os próprios
alunos começam a fazer os registros do cotidiano, destacando tanto a beleza
natural da região Amazônica quanto as inevitáveis e negativas consequências da
exploração econômica dos seus (limitados) recursos disponíveis.
Institucionalmente, “No Meio do Rio entre
as Árvores” se configura como um válido projeto de caráter socioambiental
que promete atualizar discussões antigas frisando, por exemplo, a preservação
das florestas através de uma economia sustentável. Os futuros debates ainda podem
ser fundamentados, inclusive, pela situação desfavorável que insiste em existir
desde tempos anteriores aos que “Iracema”
e “Terceiro Milênio” também se
propunham a denunciar.
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"No Meio do Rio Entre as Árvores" (2009) de Jorge Bodanzky - Raiz Filmes [br] |
É ISSO... BOM FIM DE SEMANA E BOAS SESSÕES!
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