Uma verdadeira e legítima lenda! Nascido na histórica e
mítica Alexandria, Omar Sharif também foi imortalizado na História do Cinema como
o Sherif Ali e como o inesquecível Doutor Yuri Jivago. O ator egípcio, que há
algum tempo já sofria os reveses da Doença de Alzheimer, morreu no início da
tarde desta sexta-feira, vítima de um ataque cardíaco, aos 83 anos, na cidade
do Cairo.
Ambas conduzidas pela batuta do diretor britânico David
Lean, as personagens de Sharif citadas anteriormente integram, respectivamente,
os filmes “Lawrence da Arábia” (1962)
e “Doutor Jivago” (1965),
inquestionavelmente os dois maiores sucessos cinematográficos da carreira do
ator. Pelos papéis, Omar Sharif recebeu, inclusive, os seus dois prêmios Globo
de Ouro de interpretação: Melhor Ator Coadjuvante em 1963, com Sherif Ali
(papel que ainda lhe rendeu, no mesmo ano, sua única indicação ao Oscar, também
para coadjuvante), e Melhor Ator Principal em Drama em 1966, com Yuri Jivago.
A sua primeira aparição de forma quase “refracionária” em
uma desértica linha do horizonte de “Lawrence
da Arábia” está entre um dos momentos mais marcantes registrados nas
melhores lembranças de muitos cinéfilos. Como um destemido e reacionário nômade,
ele surge para ser o “desobediente braço direito” de Thomas Edward Lawrence
(interpretado de maneira primorosa por Peter O’Toole), um militar britânico que
desempenha papel importante no eixo de ligação da Coroa Inglesa com o Califado
durante a Revolta Árabe (1916 - 1918) na Primeira Guerra Mundial. O filme
ajudou a destacar Omar Sharif como um dos principais (se não, o principal) atores
de origem árabe, e o primeiro deles a construir e solidificar uma carreira
internacional no Cinema.
Antes do estouro e da conquista da fama com o sucesso de “Lawrence da Arábia”, Omar Sharif já era
um astro reconhecido no Egito desde meados dos anos 50, tendo atuado em pelo
menos vinte filmes no país. Entretanto, o ator começou a chamar a atenção do
mundo e das principais figuras do cinema (dentre elas, David Lean) ao atuar
como coadjuvante (creditado como Omar Cherif) em seu primeiro filme na Europa,
o thriller de espionagem “A Aventureira do Oriente” (1956) de Richard
Pottier e, dois anos mais tarde, protagonizar a produção franco-tunisiana “Goã” (1958) de Jacques Baratier.
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Omar Sharif em "Lawrence of Arabia" (1962) de David Lean - Horizon Pictures (II) [gb] |
A escalada para o sucesso continuou pós “Lawrence da Arábia” e, já em 1964, Omar
Sharif começava a figurar em Hollywood participando de uma série de filmes como
o virtuoso e apaixonante “O Rolls- Royce
Amarelo” de Anthony Asquith, o belo drama de guerra “A Voz do Sangue” de Fred Zinnemann, e a megaprodução “A Queda do Império Romano” de Anthony
Mann, onde interpretou o Rei Armênio Sohamus.
“Doutor Jivago” veio no ano seguinte, corando Omar
Sharif como um ator singular na excelente interpretação de seu primeiro grande
protagonista. A famosa adaptação do romance de Boris Pasternak mostra a proibida
e sofrida história de amor do jovem médico aristocrata com a ignóbil enfermeira
Lara Antipova em meio aos devastadores conflitos da Revolução Russa de 1917.
Lara é interpretada pela sempre bela Julie Christie que, ao lado de Sharif, é
constantemente lembrada por formar um dos casais mais emblemáticos e inesquecíveis
do Cinema em mais este belo épico romance de guerra.
Dentro dos papéis inesquecíveis e das atuações marcantes ainda
podemos destacar que, bem antes de um visionário e ambicioso projeto do diretor
estadunidense Steven Sodebergh e do ator porto-riquenho Benício Del Toro sobre
a vida de Ernesto Che Guevara, era Omar Sharif que, por décadas, ostentava a
fiel representação do revolucionário argentino entre todas as narrativas
cinematográficas até então realizadas. O ótimo “Che! Causa Perdida” (1969) de Richard Fleischer decai sobre toda a
vida que Guevara construiu desde a sua chegada a Cuba, em 1956, até o momento
em que sucumbiu diante de tropas militares na Bolívia através da luta pela “causa
perdida” da Revolução no país.
De grandes personagens da literatura mundial à biografados
revoltosos, passando por contrabandistas mouriscos e criminosos sarracenos; e
por sheiks árabes e príncipes muçulmanos; Omar Sharif contribuiu muito para o
rompimento das barreiras marginais dos preconceitos que sempre limitaram e
ainda costumam limitar atores e atrizes de países periféricos (com pouca ou
nenhuma tradição no cinema) a encarar papéis secundários ou etnicamente
estereotipados e discriminados.
O legado de humanidade do carismático Omar Sharif fica como
exemplo, e o que nos resta é continuar lembrando e reverenciando mais um desses
gigantescos mitos, mantendo viva a memória e a história do bom Cinema.
Descanse em paz... (1932 - 2015)
Dez filmes com Omar
Sharif que indico (em ordem de predileção):
01 - Lawrence da Arábia
(1962) - de David Lean
02 - Doutor Jivago (1965)
- de David Lean
03 - Funny Girl - A Garota Genial (1968) - de William
Wyler
04 - Mar de Fogo (2004) - de Joe Johnston
05 - A Noite dos Generais (1967) - de Anatole Litvak
06 - Che! Causa Perdida (1969) - de Richard Fleischer
07 - Uma Amizade sem Fronteiras (2003) - de François
Dupeyron
08 - Sementes de Tamarindo (1974) - de Blake Edwards
09 - O Rolls-Royce Amarelo (1964) - de Anthony Asquith
10 - Top Secret!
Super Confidencial (1984)
- de Jim Abrahams, David Zucker e Jerry Zucker
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Omar Sharif com Julie Christie em "Doctor Zhivago" (1965) de David Lean Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) [us] | Carlo Ponti Production [it] | Sostar S.A. |
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