Em pouco mais de 120 anos de história, o Cinema foi capaz
de produzir, ao redor do mundo, incontáveis histórias que habitam o imaginário de
milhões (ou até bilhões) de fãs da Sétima Arte. Alguns filmes já nascem como
clássicos instantâneos, outros esperam algum tempo para receberem a devida atenção
e reconhecimento do público para também se configurarem como obras
inesquecíveis e fundamentais.
Acompanhe, a partir de agora, o início de uma
retrospectiva que o Rotina Cinemeira inicia, ao longo deste mês de julho, elencando
20 títulos produzidos e lançados no ano de 1995 e que mantém o fôlego e chegam
vigorosos em 2015 completando os seus 20 anos. Filmes que, se não estão, já
deveriam estar nas estantes (ou nos HDs) de qualquer cinéfilo.
Carlota Joaquina: Princesa
do Brazil (Carlota Joaquina: Princesa do
Brazil, Brasil, 1995)
Direção: Carla Camurati
Longa-metragem de estreia da diretora carioca Carla
Camurati, “Carlota Joaquina: Princesa do
Brazil” molda um painel sobre a vida de Carlota, a infanta princesa espanhola
que foi prometida ao Príncipe João de Portugal com apenas dez anos de idade. Ao
se casar com o agora Dom João VI (Marco Nanini), Carlota Joaquina (Marieta
Severo) vai para Portugal e se decepciona com o futuro diplomático do marido e
com o estilo de vida que lhe foi destinado. Conformada e infeliz, a nobre de
sangue quente acaba iniciando uma história pessoal de conflitos, infidelidades
e muitos filhos, sempre mostrando muita disposição para o poder e, claro, para
os seus amantes.
Quando Dom João VI e Carlota Joaquina enfim assumem a
Coroa Portuguesa, são prontamente confrontados pelo medo e pela ameaça de
Napoleão Bonaparte, que acabara de invadir a Espanha e declarava guerra aos
lusitanos. Auxiliados pelos aliados ingleses, o então Rei de Portugal e a
Consorte (tremendamente contrariada) desembarcam com toda a corte no Brasil,
sua então colônia, para viverem alguns anos no Rio de Janeiro.
Impulsionado pela criação da Lei do Audiovisual em 1993,
o lançamento de “Carlota Joaquina:
Princesa do Brazil” nas salas de cinema do país dois anos depois
(juntamente com o então indicado ao Oscar “O
Quatrilho” de Fábio Barreto) marcam o início da retomada e do renascimento
do Cinema Brasileiro, que praticamente inexistiu (em termos de grandes
produções) com a extinção da Embrafilme no início do governo de Fernando Collor
de Melo.
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"Carlota Joaquina: Princesa do Brazil" (1995) de Carla Camurati - Copacabana Filmes e Produções [br] |
O Nome do Jogo (Get Shorty, Estados Unidos, 1995)
Direção: Barry
Sonnenfeld
A comédia policial dirigida Barry Sonnenfeld (famoso
anteriormente somente pelos reboots cinematográficos de “A Família Addams”) gira em torno de Chili Palmer (John Travolta),
um gângster que se encontra em uma situação delicada após seu chefe morrer
devido a um ataque cardíaco, afinal agora ele se vê obrigado a trabalhar para
pessoas às quais não se dava muito bem. Já em sua primeira tarefa, o mafioso
deve cobrar uma dívida de jogo de Harry Zimm (Gene Hackman), um produtor de
“Filmes B” de Hollywood. Ao chegar em Los Angeles, entretanto, a paixão que
Palmer nutria pelo cinema se desperta e a oportunidade de iniciar um outro
estilo de vida o fazem apostar todas as fichas no sonho de uma nova carreira.
“O Nome do Jogo” rendeu ao ator John Travolta a sua
primeira e única premiação ao Globo de Ouro de Melhor Ator na Categoria Comédia
ou Musical em 1996. Travolta, que vinha amargando presenças em trabalhos
medianos desde os meados da década de 80, chamou a atenção de Sonnenfeld e
ganhou a chance de interpretar Chili Palmer ao ressurgir, um ano antes, com as
indicações ao Oscar e também ao Globo de Ouro pelo papel de Vincent Vega em “Pulp Fiction - Tempo de Violência” de
Quentin Tarantino. Inicialmente cotado para rodar o projeto, o próprio
Tarantino, inclusive, recomendou a participação no filme a John Travolta, que
pensava seriamente em recusar o convite.
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"Get Shorty" (1995) de Stuart Gordon - Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) [us] | Jersey Films [us] |
Underground - Mentiras
de Guerra (Underground, França |
Alemanha | Bulgária | República Checa | Hungria | Sérvia, 1995)
Direção: Emir Kusturica
Vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes em 1995 e
indicado ao César de Melhor Filme de Língua Estrangeira em 1996, “Underground - Mentiras de Guerra” é um
primoroso Poema Geográfico em forma de filme que retrata, com boas doses de
humor negro, a conflituosa situação da Iugoslávia durante e após as Batalhas da
Segunda Guerra Mundial. Baseando-se em duas das mais letais armas que o ser
humano possui, o verbo e a mentira, o diretor Emir Kusturica desenha a sua
fábula em cima da polêmica máxima de que “mentir é a melhor maneira de dizer a
verdade”.
Assim como a frase, o lançamento do filme também foi
cercado de controvérsias, tanto é que Kusturica (bósnio, porém iugoslavo de
nascimento) ameaçou abandonar o projeto quando críticos sérvios começaram a
classificar (e denunciar) o seu grande épico como propaganda política
panfletária pró Iugoslávia. O filme segue as ações de Marko Dren (Predrag
Manojlovic), um poeta que lidera uma banda de músicos ao mesmo tempo em que
mantém uma fábrica clandestina de armamentos no subsolo de sua residência em
Belgrado, participando, assim, do submundo do tráfico durante a Guerra. No
calor latente dos conflitos, Marko ainda resolve abrigar em seu porão o amigo
revolucionário Crni Blacky (Lazar Ristivski) juntamente com toda a sua família.
Devidamente protegidos das investidas nazi, esses
“refugiados” também começam a trabalhar na fábrica e, além do amigo, Marko
começa a esconder outros policiais e soldados que também são utilizados como
fonte de mão de obra para continuar a produzir e contrabandear armas no mercado
negro para um batalhão de combatentes. O que ninguém esperava é que, mesmo após
o fim dos conflitos, Marko enganaria a todos por mais longos 15 anos dizendo
que a Guerra ainda não havia acabado, simplesmente para que todos continuassem
trabalhando no abrigo.
Heroico ou apenas reflexo da imagem fidedigna de um país
que nunca deixou de ser belicoso (assim como toda a região dos Bálcãs), “Underground - Mentiras de Guerra” é a
metáfora perfeita para o drama de gerações perdidas de um país em constante
desintegração.
Coração Valente (Braveheart, Estados Unidos, 1995)
Direção: Mel Gibson
Figuras históricas e emblemáticas para a história de um
determinado país sempre renderam bons argumentos para bons filmes, e o ator e
produtor Mel Gibson acertou em cheio ao escolher a figura do guerreiro medieval
escocês William Wallace (1270 - 1305) para compor o deslumbrante e encantador
épico “Coração Valente”, sua segunda
incursão como diretor de longas-metragens, após o relativo sucesso de “O Homem sem Face” (1993).
Além de dirigir, Gibson produz e estrela o seu próprio
filme na pele Wallace, que liderou seus compatriotas em uma resistência
escocesa frente à dominação inglesa imposta pelo Rei Eduardo I (Patrick
McGoohan) na virada do século XIII para o século XIV. Nas mãos do roteirista
Randall Wallace e nos olhos cineasta Gibson, William Wallace ganha contornos
mais romantizados e menos sanguinolentos, procurando não escancarar quão
destrutiva e “dizimatória” foi a Primeira Guerra de Independência da Escócia,
que ainda se estendeu por mais longos 23 anos após a morte do principal ícone
da revolução.
Wallace é o típico patriota motivador (aqui, até com
certas nuances americanizadas) que presenciou uma série de atrocidades
cometidas de maneira infundada pelo Exército e pela Realeza Britânica
(incluindo a morte do pai e da esposa, por exemplo) e que, frente a todas essas
dificuldades, reúne um exército de camponeses esfrangalhados e fadados à
derrota rumo à uma imponente e heroica vitória na Batalha de Stirling Bridge,
misturando de forma homogênea os sabores doces e amargos da liberdade e da
vingança. A sua incansável luta pela soberania da Escócia, porém, esbarra-se na
falta de apoio de nobres líderes de clãs escoceses mais abastados que preferem
manter os privilégios conquistados juntos à coroa inglesa. Traído, torturado e
executado, William Wallace morre sem nunca ter renegar a grandiosidade e a
importância dos seus feitos.
Sendo indicado ao Oscar em 10 categorias e vencendo em
cinco delas (Filme, Diretor, Fotografia, Edição de Som e Maquiagem) no ano de
1996 e abocanhando o Globo de Ouro de Melhor Direção no mesmo ano, “Coração Valente” encantou e fez público
e crítica reverenciá-lo principalmente pela humanização de um bravo
revolucionário e pelas tão comentadas e bem orquestradas cenas de batalha
conduzidas por um talentoso ator/diretor. Um Épico que faz jus à sua
notoriedade!
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"Braveheart" (1995) de Mel Gibson - Icon Entertainment International [us] | The Ladd Company [us] | B. H. Finance C. V. |
Fogo Contra Fogo (Heat, Estados Unidos, 1995)
Direção: Michael Mann
Como o próprio lançamento do filme se anunciou, “Fogo Contra Fogo” é uma original e
exuberante saga de crime e obsessão. No longa dirigido e roteirizado por Michel
Mann, acompanhamos o drama de Vincent Hanna (Al Pacino), um agente federal que
trabalha no Departamento de Roubos e Homicídios da Polícia de Los Angeles.
Completamente apaixonado por seu serviço, o policial percebe que sua vida
pessoal está em completo desequilíbrio, causado justamente por sua excessiva
dedicação ao trabalho, o que acaba prejudicando, inclusive, o seu casamento. Em
meio ao seu drama particular, Hanna deve investigar um grande assalto ocorrido
na cidade que vitimou três policiais, causando um enorme prejuízo de mais de um
milhão de dólares em títulos de crédito aos cofres públicos.
Encabeçando este crime e liderando mais uma série de
roubos altamente planejados está Neil McCauley (Robert De Niro), um criminoso
de renome que está determinado a nunca mais voltar para a cadeia após passar
muitos anos preso. Ao lado do seu braço direito, Chris Shiherlis (Val Kilmer),
Neil comandará a sua perigosa gangue com imoral frieza, confrontando diretamente
o experiente, determinado e atarefado Vincent Hanna.
Com uma trama obsessivamente arrepiante, “Fogo Contra Fogo” se tornou um clássico
instantâneo, um épico do gênero policial e um dos melhores filmes do diretor
Michael Mann. O filme ainda é famoso por fazer com que Al Pacino e Robert De
Niro, duas das maiores personalidades de Hollywood, contracenassem pela
primeira vez. O encontro manteve-se adiado desde quando os dois haviam
integrado o elenco de “O Poderoso Chefão
- Parte II” (1974) de Coppolla onde, na ocasião, não estiveram juntos
frente às câmeras nenhuma vez. A reunião dos dois astros em um mesmo casting voltou a acontecer em “As Duas Faces da Lei” (2008) de Jon
Avnet.
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"Heat" (1995) de Michael Mann Warner Bros. [us] | Regncy Enterprises [us] | Forward Pass [us] | Art Linson Productions [us] | Monarchy Enterprises B. V. |
Continuem acompanhando nossa retrospectiva e aguardem a
Parte II na próxima semana!
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