Nesta última quinta-feira, encerrou-se no Cine Humberto
Mauro, em Belo Horizonte, a Mostra “Sem Destino - Filmes na Estrada” que ofereceu para o seu público uma seleção especial
de clássicos fascinantes do “gênero” cinematográfico conhecido como “Road Movie”, ou Filmes de Estrada. O
artigo com os destaques e as principais dicas elaboradas pelo RotinaCinemeira para esta Mostra pode ser conferido clicando AQUI.
Humanisticamente muito fortes, os “road movies” têm como principal característica o fato de terem as narrativas
desenroladas a partir do deslocamento das personagens de um ponto ao outro de
uma estrada. Além disso, esses filmes constantemente apresentam o crescimento
psicológico e moral das mesmas, evidenciando um amadurecimento capaz de alterar
as perspectivas de suas vidas cotidianas para sempre.
Os filmes de estrada tratam universalidades e
singularidades em um único espaço, e sempre valorizam as paisagens e os eventos
que acontecem durante o percurso. Em um país de proporções continentais e de
cartões postais tão belos quanto o Brasil, é óbvio que não poderiam faltar
filmes com tais características. Na lista de recentes produções podemos
destacar obras com primor técnico e qualidades artísticas inegáveis, como é o
caso de “Árido Movie” (2005) de Lírio
Ferreira, “O Palhaço” (2011) de
Selton Mello e “Colegas” (2012) de
Marcelo Galvão.
Nunca deixando de louvar o empenho e a dedicação de seus
organizadores, é importante comentar que, frente ao conceito proposto pela
gerência do Cine Humberto Mauro ao estabelecer a grade de programação desta finda
mostra, a ausência das produções nacionais na lista dos filmes escolhidos foi
um pouco sentida.
Entretanto, pode se dizer que “Diários de Motocicleta” (2004), aventura do jovem Che Guevara pelas
estradas da América do Sul a bordo de uma motocicleta e na companhia de seu
amigo Alberto Granado, era um dos filmes que integravam o programa do evento.
Mas, apesar de ter sido dirigido pelo brasileiro Walter Salles, o longa é uma
coprodução entre oito países (Argentina, Estados Unidos, Chile, Peru, Reino
Unido, Alemanha e França, além do Brasil) e sequer foi (e nem deveria ter sido)
rodado em locações nacionais.
Habituado com o gênero, o diretor carioca já filmou “Terra Estrangeira” (1996) e “Central do Brasil” (1998), que também
tinham a estrada como o cenário principal para o desenvolvimento das tramas. Recentemente,
Walter Salles ainda dirigiu “Na Estrada”
(2012), baseado na obra de Jack Kerouac e que também é produção fruto da
colaboração entre vários países (França, Estados Unidos, Reino Unido, Brasil,
Canadá e Argentina).
Na falta dos longa-metragens nacionais e aproveitando o
ensejo da discussão de uma temática que vinha sendo apreciado pelo público até
o final do mês passado, o Rotina Cinemeira selecionou e agora
indica três “road movies”
brasileiros, obrigatórios e de apreciação indispensável para qualquer cinéfilo,
confira:
Bye Bye Brasil (Bye Bye Brasil, França | Brasil |
Argentina, 1980)
Direção: Carlos Diegues
Lorde Cigano (José Wilker), Salomé (Betty Faria) e
Andorinha (Príncipe Nabor) são três artistas mambembes que percorrem o país com
os espetáculos promovidos pela Caravana Rolidei, levando entretenimento e diversão
para pequenas cidades do nordeste brasileiro. Em uma de suas paradas, a trupe
encontra Ciço (Fábio Júnior), um humilde acordeonista que se apaixona por
Salomé e implora para seguir viagem com o grupo.
Para Lorde Cigano, o maior inimigo do artista popular é a
televisão. À medida em que vê o Brasil se modernizando com os malditos
aparelhos e antenas de TV alcançando, inclusive, as localidades mais isoladas, ele
decide mudar de ares penetrando com a sua Caravana nos confins da Floresta
Amazônica, sempre em busca de um novo público e a fim de apresentar o seu
agonizante show. Ciço acompanha o grupo, levando consigo a esposa grávida,
Dasdô (Zaira Zambelli). Juntos, os artistas partem para uma jornada de
autoconhecimento e choque de realidade, cruzando o norte centro oeste do país até
chegarem a Brasília.
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José Wilker e Fábio Júnior em "Bye Bye Brasil" (1980) de Carlos Diegues Luiz Carlos Barreto Produções Cinematográficas [br] |
Cinema, Aspirinas e
Urubus (Cinema, Aspirinas e Urubus, Brasil,
2005)
Direção: Marcelo Gomes
Em 1942, no meio do sertão nordestino, dois homens vindos
de mundos completamente diferentes se encontram. Um deles é Johann (Peter
Ketnath), um alemão que fugiu dos conflitos da Segunda Guerra Mundial e trabalha
a bordo de um caminhão vendendo aspirinas pelo interior do Brasil. O outro é
Ranulpho (João Miguel), um brasileiro humilde que sempre viveu as amarguras sertanejas,
mas que tem o desejo de escapar da seca que sempre assolou a região e,
sobretudo, a sua vida.
Após ganhar uma carona no velho caminhão, Ranulpho passa
a trabalhar como ajudante de Johann. Viajando de povoado em povoado, a dupla
exibe filmes promocionais sobre o “milagroso” remédio para pessoas que jamais
tiveram a oportunidade de frequentar um cinema. Ao longo da estrada, os dois
aprendem a respeitar as suas diferenças e, aos poucos, uma forte e incomum amizade
acaba sendo construída por eles.
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João Miguel e Peter Ketnath em "Cinema, Aspirinas e Urubus" (2005) de Marcelo Gomes Dezenove Filmes [br] | Rec Produtores Associados Ltda. [br] |
Viajo porque Preciso,
Volto porque te Amo (Viajo porque
Preciso, Volto porque te Amo, Brasil, 2009)
Direção: Karim Aïnouz e
Marcelo Gomes
José Renato (Irandhir Santos) é enviado para uma região
isolada do Nordeste Brasileiro. Ele é casado, tem 35 anos, é geólogo e parte
para esta viagem, que terá a duração de 30 dias. Atravessando todo o sertão,
José Renato tem a missão de avaliar as condições do solo de uma grande região
onde, possivelmente, o percurso de um canal será aberto, desviando e transpondo
o curso das águas do único rio caudaloso existente. Confrontado por sentimentos
ambíguos e sentindo saudades do lar e da esposa, o pesquisador começa a sofrer
com as sensações de abandono e solidão.
Alegoricamente belo, o poema visual que se traduz no
filme de Karim Aïnouz e Marcelo Gomes tem leves contornos documentais, justamente
por mostrar, de maneira bem simples, quão ordinária e sem graça é a nossa vida.
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"Viajo porque Preciso, Volto porque te Amo" (2009) de Karim Aïnouz e Marcelo Gomes Rec Produtores Associados Ltda. [br] |
É ISSO... BOM FIM DE SEMANA E BOAS SESSÕES!
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