Com destaque significativo em mostras e festivais de
cinema do Brasil e do mundo, o longa “Castanha”
(2014) do diretor porto-alegrense Davi Pretto será exibido hoje, às 20:00, na
Sala Professor José Tavares de Barros do Sesc Palladium, dando sequência à
programação do Projeto “Cinema em
Transe”, que busca difundir e fortalecer as recentes produções do cinema
nacional ao longo do ano. Flertando com o gênero documental, o filme relata as
desventuras do atormentado João Carlos Castanha, um ator que se divide fazendo
pequenas participações em peças de teatro infantil e trabalhando como
transformista em baladas LGBT nas noites da capital gaúcha.
Através de uma sutil e bem executada narrativa, é
possível acompanhar como a irreverente personalidade de um artista consegue
esconder, através de seus embuços sociais, um ser humano amargurado e,
aparentemente, aflito. Morando e tomando conta de sua mãe já idosa, Celina
(interpretada pela própria Celina Castanha), João observa sua vida desvanecer. Com
52 anos e sem grandes realizações, ele enfrenta problemas familiares com um
sobrinho dependente de drogas e ainda é atormentado e perseguido por fantasmas
do passado, conflitos extenuantes que o fazem confundir cada vez mais a
realidade que vive com a ficção que interpreta.
Reflexos de uma contemporaneidade que se aproxima do
colapso, os controvertíveis dramas sociais que esbarram na barreira entre a
ficção e a realidade sempre foram tratados com atenção por Davi Pretto. Em seu
currículo podemos destacar importantes curtas-metragens que invocam de maneira exasperante
os problemas do mundo moderno como, por exemplo, o engenhoso “Quarto de Espera” (2009) onde um jovem
transita por uma cidade vazia, cinzenta e moribunda utilizando a sua máscara de
gás. Ainda podemos destacar o ótimo “Metrô”
(2010) e o documentário “De Passagem”
(2012). “Castanha” é o primeiro longa
de ficção do diretor embora, como já foi comentado, busque em elementos e
dramas reais da vida de João Carlos Castanha a sustentação necessária para o desenvolvimento
da trama.
Apesar do recente lançamento, “Castanha” já possui carreira cinematográfica respeitável tendo,
inclusive, sua estreia mundial sido realizada na 64ª. edição do Festival
Internacional de Berlim em 2014. O longa-metragem teve menções honrosas e
competiu em alguns dos principais festivais internacionais de cinema como os de
Buenos Aires, Edimburgo e Hong Kong. No Brasil, o filme foi exibido na
competição do (cada vez mais importante) Festival de Paulínia e no Festival do
Rio vencendo, neste último, o prêmio de melhor filme na Mostra Novos Rumos, onde
cineastas que expressam novas linguagens e caminhos para o cinema são premiados
por seus primeiros trabalhos.
Em relação à repercussão e a atenção mundial, ainda cabe
destacar a poderosa atuação de João Carlos Castanha que, interpretando a si
mesmo, consegue transparecer toda a sua melancolia ao expor suas intimidades em
tela. O trabalho lhe rendeu o prêmio de melhor ator no Festival Internacional
de Las Palmas de Gran Canaria, na Espanha. Ao final da projeção, o brilhante protagonista
estará presente na Sala Professor José Tavares de Barros para participar de um
debate sobre o filme.
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"Castanha" (2014) de Davi Pretto - Tokyo Filmes [br] |
Com seu relativo sucesso no país e destacado como uma das
produções mais inventivas e relevantes do cinema do Rio Grande do Sul desde “Deu pra Ti Anos 70” (1981), “Castanha” já marcou presença em alguns
eventos de Belo Horizonte no ano passado. Em outubro, o filme teve pré-estreia
nacional na Mostra Internacional Cine BH, com exibição no Cine Humberto Mauro, onde
o diretor Davi Pretto ainda participou de um debate sobre sua experiência em produção,
circulação de conteúdo e distribuição, além de destacar as diretrizes e os
caminhos de sucesso do longa frente a sua trajetória internacional. Em novembro
(em uma sessão especial também no Cine Humberto Mauro) o longa abriu a Primeira
Edição do Lumiar: Festival Interamericano de Cinema Universitário, iniciativa
do Centro Universitário UNA que surgiu com a proposta de discutir o ensinar, o
pensar e o fazer cinematográfico. Davi tem formação acadêmica em cinema pela
PUC-RS e contribui fortemente para ampliação panorâmica do cinema na América
Latina.
A nossa cinematografia está repleta de filmes magníficos
e a qualidade cada vez mais singular de nossas produções é categoricamente
nítida. Entretanto, a disseminação dessas obras ainda se faz absurdamente
necessária. E precisamos de mais!
Criado em janeiro de 2013 com o intuito de promover o
Cinema Nacional, o Projeto “Cinema em Transe” se transformou em um importante
veículo para a disseminação de produções lançadas recentemente e que obtiveram
destaque significativo em festivais de cinema pelo Brasil e pelo mundo. Ao
longo desses últimos dois anos, as ações do projeto contribuíram muito para a
divulgação e difusão do cinema produzido no país, explorando vários temas e
possibilitando um contato maior do público com importantes obras da nossa
cinematografia, por vezes raras e de difícil acesso.
Ressalvando o enorme valor cultural do projeto, vale
lembrar que as exibições no Sesc Palladium são quinzenais e em sessão única.
Dessa forma, se a divulgação desses filmes não for feita permanentemente,
muitos deles continuarão enfrentando grandes dificuldades para se lançarem no
circuito comercial. Alguns desses excelentes filmes, por exemplo, são inéditos
em Belo Horizonte e, lamentavelmente, terão pouco ou nenhum destaque nas salas
de cinema da cidade. Confira, então, as produções já exibidas pelo projeto em
2015 com o link para os respectivos artigos e ajudem a divulgá-los:
Viva o Cineclubismo e viva o Cinema Nacional!
Observação: a entrada para a sessão de “Castanha” esta noite é gratuita, mas é
necessário retirar os ingressos na bilheteria do Sesc Palladium duas horas
antes da sessão. O espaço está sujeito a lotação.
A Sala Professor José Tavares de Barros está localizada
no Sesc Palladium, na Avenida Augusto de Lima 420, centro de Belo Horizonte.
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