Com descomedimento rústico e bestial transbordando na
grande tela, começa hoje no Cine Humberto Mauro, em Belo Horizonte, a Mostra “Fuller/Peckinpah: Homens de Violência”.
Ao todo serão exibidos, até o dia 6 de junho, 21 filmes, sendo 12 do “bay stater” Samuel Fuller e outros 9 do
californiano Sam Peckinpah.
Os diretores estadunidenses são contemporâneos e
realizaram, ao longo de décadas (sobretudo entre os anos 50 e 70), dezenas de
filmes em que a temática da violência era costumeiramente trabalhada, sendo que
muitos deles são considerados por críticos como verdadeiras pérolas, clássicos
absolutos do cinema mundial.
Características básicas já percebidas em antigos cineastas
que inspiraram Fuller e Peckinpah (como William A. Wellman e Raoul Walsh), a
agressividade e a sanguinolência passaram a ser não somente o fio condutor das
narrativas, mas também começaram a se configurar como recurso estético nas mãos
dos dois. Empregadas estilisticamente pelos diretores em seus inúmeros longas,
tais definições podem ser sempre notadas na constante alternância dos diversos
gêneros e subgêneros cinematográficos trabalhados por eles.
Essa pequena revolução promovida e administrada por
Samuel Fuller e Sam Peckinpah ainda acabou influenciando uma geração posterior
de outros grandes cineastas, como Martin Scorsese e Quentin Tarantino.
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Os diretores Samuel Fuller e Sam Peckinpah - Divulgação |
A programação completa da Mostra está disponível no site
da Fundação Clóvis Salgado (fcs.mg.gov.br) ou pode ser acessada diretamente
pelo link “Fuller/Peckinpah: Homens de Violência”
Lembrando que a entrada é gratuita, mas é necessário
retirar os ingressos na bilheteria do cinema meia hora antes de cada sessão.
O Cine Humberto Mauro está localizado no Palácio das
Artes, na Avenida Afonso Pena 1537, centro de Belo Horizonte.
Com base no calendário divulgado pela gerência da casa, o
Rotina
Cinemeira faz agora uma breve explanação das características
cinematográficas de Fuller e Peckinpah, destacando, dentro dos longas
selecionados no programa da Mostra, um filme imperdível de cada um dos
diretores, além de indicar outras obras singulares de ambos, que podem ser
conferidas ainda na segunda quinzena deste mês ou em experiências
cinematográficas futuras, visto que não se tratam de retrospectivas integrais.
Confira:
SAMUEL FULLER (1912 - 1997)
Filho de imigrantes judeus e nascido em Woscester,
Massachusetts, Samuel Fuller se mudou muito jovem para Nova York. Aos 17 anos
ele já trabalhava para o New York Journal como cartunista ou repórter policial
investigativo em rondas pelas docas da cidade. O aprendizado e as experiências
adquiridas na profissão o transformaram em um cidadão crítico, extremamente
politizado e que se relacionava intimamente com os conflitos e os submundos da
metrópole.
Soldado durante a Segunda Guerra Mundial, o até então
jornalista lutou pela libertação de refugiados em campos de concentração
nazista. Retornando aos Estados Unidos, Fuller se torna cineasta e despeja em
suas obras toda a atmosfera visceral dos horrores vividos tanto em Nova York
quanto nos fronts de batalha na Europa.
“Anjo do Mal” (1953) talvez seja a sua obra-prima,
pois é um dos principais filmes da década que representam o medo pragmático da
ameaça soviética e da paranoia anticomunista do pós-guerra, reflexos
psicológicos e culturais de uma abalada sociedade estadunidense.
Anjo do Mal (Pickup on South Street, Estados Unidos,
1953)
O batedor de carteiras Skip McCoy (Richard Widmark) rouba
a bolsa de uma mulher no metrô sem saber que dentro dela está um microfilme com
Segredos de Estado. Involuntariamente ele descobre, por meio dessa
interceptação, uma mensagem destinada a agentes inimigos e acaba se tornando um
alvo de perseguição tanto dos espiões comunistas quanto da sua vítima
potencial.
Flerte e sedução em meio a contravenções. Com um roteiro
bem amarrado e escrito pelo próprio Samuel Fuller, “Anjo do Mal” nos prende do início ao fim da projeção, se
enquadrando como uma das grandes obras do gênero noir e ainda empregando, em
seu arco dramático, o colapso de um mundo que vivia os efeitos da Guerra Fria.
Veja agora outros
destaques do diretor que integram a Programação da Mostra:
- Baionetas Caladas (Fixed
Bayonets!, Estados Unidos, 1951)
- A Lei dos Marginais (Underworld U.S.A., Estados Unidos, 1961)
- Agonia e Glória (The
Big Red One, Estados Unidos, 1980)
E ainda filmes de Samuel
Fuller que não serão exibidos, mas merecem ser conferidos:
- Capacete de Aço (The
Steel Helmet, Estados Unidos, 1951)
- Paixões que Alucinam (Shock Corridor, Estados Unidos, 1963)
- O Beijo Amargo (The
Naked Kiss, Estados Unidos, 1964)
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"Pickup on South Street" (1953) de Samuel Fuller - Twentieth Century Fox Film Corporation [us] |
SAM PECKINPAH (1925 -
1984)
Natural de uma rural e pacata cidade do interior da
Califórnia, Sam Peckinpah teve uma infância rotineira e solitária. Na sua
juventude, entretanto, o futuro cineasta serviu à Marinha dos Estados Unidos
como fuzileiro naval. Historicamente arraigada à vida dos oficiais do país, a
violência cruzou, invariavelmente, o caminho do jovem que colocou o assunto em
evidência ao ingressar para o cenário e para a indústria cinematográfica.
A temática sangrenta dos filmes de Peckinpah foi
desenvolvida em um cinema extremamente realista e original. Filmes de guerra,
dramas sociais contemporâneos, suspenses dosados com humor negro e faroestes
sempre tinham todas essas peculiares e brutais características, entretanto, a
violência não era o foco principal das narrativas, mas sim a forma como o
cineasta a manipula em função das características de suas personagens.
Lembrança recorrente entre os cinéfilos, a excepcional
obra “Meu Ódio Será sua Herança” é
considerada por muitos especialistas como um dos melhores faroestes (e filmes) de
todos os tempos. Pelo filme, Peckinpah foi indicado ao prêmio de melhor direção
pelo Sindicato de Diretores Americanos em 1970 e ainda recebeu uma nomeação ao
Oscar de melhor roteiro original junto com Walon Green e Roy N. Sickner no
mesmo ano.
Meu Ódio Será sua
Herança (The Wild Bunch, Estados
Unidos, 1969)
Um grupo de bandidos veteranos e “foras da lei” começa a
cogitar uma possível aposentadoria em conjunto, pois percebem que a continuidade
na vida de crimes já não vale muito a pena. Além de estarem envelhecidos, os
tempos mudaram: as garantias de lucro em algum grande assalto estão cada vez
menores, e o risco de vida só aumenta à medida em que o mundo de oportunidades
que o tradicional e árido Velho Oeste oferece vai desaparecendo ao redor de
todos.
Intimidadores, destemidos e sempre com as cabeças postas
a prêmio, os ainda perigosos integrantes dessa quadrilha recebem uma inesperada
e tentadora proposta que acabará adiando os seus planos. Um valioso
carregamento de armas de um trem deve ser interceptado para um poderoso
bandoleiro mexicano, e a recompensa oferecida para roubar essa remessa é de dez
mil dólares. A ganância falou mais alto e agora nada poderá detê-los, a não ser
a própria morte.
Grandes astros de Hollywood como William Holden, Ernest
Borgnine, Edmond O’Brien, Warren Oates e Ben Johnson integram o vigoroso elenco
da originalíssima realização de Sam Peckinpah que não pode deixar de ser
conferida nessa Mostra imperdível!
Veja agora outros
destaques do diretor que integram a Programação:
- A Morte não Manda Recado (The Ballad of Cable Hogue, Estados Unidos, 1970)
- Os Implacáveis (The
Getaway, Estados Unidos, 1972)
- A Cruz de Ferro (Cross
of Iron, Reino Unido | Alemanha Ocidental, 1977)
E ainda filmes de Sam Peckinpah
que não serão exibidos, mas merecem ser conferidos:
- Pistoleiros do Entardecer (Ride the High Country, Estados Unidos, 1962)
- Sob o Domínio do Medo (Straw Dogs, Estados Unidos | Reino Unido, 1971)
- Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia (Bring me the Head
of Alfredo Garcia, Estados Unidos | México, 1974)
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"The Wild Bunch" (1969) de Sam Peckinpah - Warner Brothers/Seven Arts [us] |
BOAS SESSÕES E BOM DIVERTIMENTO!
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