“Três Assim” chega mais uma vez com dicas especiais para
o seu próximo fim de semana e aproveita para rechaçar a previsível falta de
originalidade que desmantela, ano após ano, as melhores intenções de apaixonados
circunscritos frente a comercial data do Dia dos Namorados. A coluna de hoje oferece
aos leitores sugestões de comédias que, assim como a vida, são amalucadas e
sempre possuem aquele singelo toque de romance. Os três filmes indicados animarão
desde os casais afogueados até os solitários mais arredios, e ainda relembrarão
e aclamarão um dos principais mestres da arte de contar boas histórias: o
diretor, produtor e roteirista Billy Wilder.
Polonês radicado nos Estados Unidos antes mesmo do início
dos conflitos da Segunda Guerra Mundial, Billy Wilder, que trabalhava como jornalista
na Europa, começou a escrever os seus primeiros roteiros empregando justamente um
olhar crítico e provocativo em relação a questões triviais e intrínsecas ao ser
humano. Com excepcional inteligência e espírito visionário, não foi muito
difícil para que ele conquistasse os grandes estúdios de Hollywood com suas
peças de tramas envolventes, responsáveis por considerá-lo, tempos depois, uma
das mentes mais brilhantes da indústria cinematográfica. Wilder é responsável,
por exemplo, pelos incríveis roteiros de “Ninotchka”
(1939) de Ernst Lubitsch e “Bola de Fogo”
(1941) de Howard Hawks.
Billy Wilder era astucioso, e tinha o raro poder de
conseguir transitar entre diversos gêneros cinematográficos sem que seus filmes
perdessem a sua peculiar e costumeira qualidade. Entretanto, a familiaridade e
o domínio mais íntimo do gênero da comédia podem ser observados com mais
clareza dentro da segunda metade da carreira de Wilder enquanto diretor. Em
seus últimos filmes, ainda estão impressas a solidez e o sucesso da parceria
com o também roteirista I. A. L. Diamond, famoso anteriormente pelos roteiros
de “Dois Aventureiros do Texas”
(1948) de David Butler e “O Inventor da
Mocidade” (1952) de Howard Hawks.
Wilder e Diamond trabalharam juntos de “Amor na Tarde” (1957) até “Amigos, Amigos, Negócios à Parte”
(1981) totalizando 12 filmes roteirizados pelos dois e dirigidos pelo polonês. Com
a ressalva da obscurecida trama de humor negro “A Vida Íntima de Sherlock Holmes” (1970), e resguardadas as
características de um sufocante suspense que classificam “Fedora” (1978) como um drama, todos os demais filmes da dupla de
roteiristas abusam do romance e de aprazíveis dissimulações para nos contarem
divertidas histórias.
As indicações de hoje ainda chegam a dialogar com a Mostra
das “Screwball Comedy”, que vem
fazendo sucesso entre o público aqui de Belo Horizonte desde o dia 5 de junho. As
comédias absurdas faziam muito sucesso na era dourada de Hollywood (anos 30 e
40), e Billy Wilder, como não poderia deixar de ser, também se inseriu dentro
deste contexto. Na Mostra em questão o público tem, inclusive, a chance de
conferir o seu admiravelmente divertido “A
Incrível Suzana” (1942).
A seu modo, as comédias realizadas por Wilder nos anos
consecutivos à essa época gloriosa conservaram todas as características que
flertavam com essa “razoabilidade ilógica” e, muito embora tenham sido
produzidos no início da década de 60, continuaram divertindo grandes plateias
da mesma forma leve e descompromissada. E sabendo que falar de Billy Wilder é
sinônimo de falar de bons filmes, confira, enfim, as nossas três recomendações que,
apesar de terem perdido um pouco do brilho por se seguirem após os estrondosos
sucessos de “Quanto mais quente Melhor”
(1959) e “Se meu Apartamento Falasse”
(1960), são discricionariamente excelentes e não podem deixar de serem vistas:
Cupido não tem Bandeira
(One, Two, Three, Estados Unidos,
1961)
Direção: Billy Wilder
C. R. MacNamara (James Cagney) é um médio executivo da
Coca-Cola que aguarda ansiosamente a sua promoção para um cargo mais respeitado
da multinacional em Londres. MacNamara administra como pode a conturbada filial
da empresa em Berlim Ocidental. O gerente vê seus sonhos e planos ameaçados
quando recebe a notícia da visita de Scarlett Hazeltine (Pamela Tiffin), a filha
do se chefe, que passará a temporada de férias na capital alemã e deve ser
mantida sob sua guarda.
O ambiente de aparente e relativa tranquilidade desaba e
a desordem se instaura quando MacNamara, desesperado e temendo uma demissão, descobre
que Scarlett se casou em segredo com Otto Ludwig Piffl (Horst Buchholz), um
jovem suspeito de envolvimento com comunistas na porção oriental da cidade.
![]() |
"One, Two, Three" (1961) de Billy Wilder - Bavaria Film [de] | The Mirisch Corporation [us] | Pyramid Productions [us] |
Irma la Douce (Irma la Douce, Estados Unidos, 1963)
Direção: Billy Wilder
Nestor Patou (Jack Lemmon) é um honesto policial que foi
transferido para uma desregrada região de meretrício dos subúrbios de Paris.
Durante o seu serviço ele conhece Irma (Shirley MacLaine), uma prostituta pela
qual se apaixona instantaneamente. Após uma confusão generalizada provocada por
um excesso de virtuosismo e honradez à sua corporação, Nestor acaba sendo
punido com a demissão e passa a viver com Irma, transformando-se rapidamente em
seu cafetão.
Ciumento, o ex-policial não permite que prostituta se
encontre com mais nenhum homem, a não ser ele mesmo. Tentando tirar Irma da
vida libertina, ele começa a pagar por todo o tempo de trabalho da moça, mas a
tarefa não será tão simples, até que o inusitado surgimento do misterioso Lorde
X poderá ajudar ou atrapalhar as intenções de Nestor com a amada.
"Irma la Douce" (1963) de Billy Wilder - The Mirisch Corporation [us] | Phalanx Productions |
Beija-me, Idiota (Kiss me, Stupid, Estados Unidos, 1964)
Direção: Billy Wilder
Em uma hilariante autoparódia, Dean Martin interpreta o
canastrão “Dino”, um cantor mundialmente conhecido que passa pela pequena
Climax, Nevada, e conhece dois sonhadores e aspirantes a compositores. Barney
(Cliff Osmond) é o abelhudo atendente do posto de gasolina da cidade, já Orville
Spooner (Ray Walston) um humilde professor de piano. O que Dino não esperava é
que seus dois novos amigos haviam elaborado um plano com o objetivo de detê-lo em
Climax para que ele escutasse as canções da dupla.
Por outro lado, o astro cara-de-pau demonstrou o seu insaciável
apetite por mulheres, pretendendo aproveitar o seu tempo encalhado na
cidadezinha da melhor maneira possível. Ciumento, Orville ainda descobre que
Zelda (Felicia Farr), sua bela esposa, fora presidente do fã-clube de Dino.
Diante disso, ele a dispensa por uma noite e contrata a sedutora Polly the
Pistol (Kim Novak), uma espécie de esposa substituta que deixará o cantor “cheio
de vontade” de comprar o direito das músicas.
![]() |
"Kiss Me, Stupid" (1964) de Billy Wilder - The Mirisch Corporation [us] | Phalanx Productions | Claude Productions [us] |
É ISSO... BOM FIM DE SEMANA E BOAS SESSÕES!
Nenhum comentário:
Postar um comentário