Sir Christopher Frank Carandini Lee ou, para os fãs e
amantes do seu cinema, simplesmente Christopher Lee! Com pouco mais de 200
filmes em um currículo preenchido ao longo de 67 anos de carreira, o lendário
ator britânico decidiu descansar. Lee faleceu neste último domingo (dia 7 de
junho) por conta de uma insuficiência cardíaca e respiratória, segundo informou
o jornal “The Telegraph” na manhã de hoje.
Ex-combatente da Segunda Guerra Mundial, ator, dublador e
eventual músico, Christopher Lee iniciou a sua carreira no cinema no final da
década de 40 participando, inclusive, de uma das mais clássicas adaptações de “Hamlet” para o Cinema. No filme de
1948, dirigido e estrelado por Laurence Olivier, Lee fez apenas pequenas aparições
como figurante, mas, com esse seu primeiro envolvimento com a Sétima Arte e em
uma grande produção, acabou se credenciando como um dos mais jovens e
promissores atores da época, até mesmo porque já havia desempenhado, nesse
mesmo ano, papéis convincentes como coadjuvante dos filmes “Escravo do Passado” (1948) de Terence Youg, e “Epopeia Trágica” (1948) de Charles Frend.
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O ator Christopher Lee (1922 - 2015) - Getty Images [us] |
Na década seguinte, Christopher Lee começou a chamar a atenção
de diretores tanto do cinema quanto da televisão, além de produtores de
estúdios de médio e grande porte das indústrias britânica e hollywoodiana. Entre
os anos de 1953 e 1956, o ator participou do “Douglas Fairbanks, Jr., Presents”, e entre 1956 e 1957 do “The Errol Flynn Theatre”, ambos
programas de televisão que apresentavam esquetes ou tramas de curta duração que
se resolviam em apenas um episódio.
Em meados dos anos 60, protagonizou “The Sign of Satan”, episódio que fez parte da série mundialmente
famosa “The Alfred Hitchcock Hour”
(1962 - 1965), programa nos mesmos moldes dos dois anteriores e que tinham como
apresentador anfitrião o grande mestre do suspense, Alfred Hitchcock. Conduzidas
por sua potente e inesquecível voz, as interpretações (por vezes) sombrias de
Christopher Lee já eram visadas como a “matéria-prima” tão desejada pela Hammer
Film Productions, que tinha a ambiciosa meta de alavancar as suas produções.
Durante este período em que atuou na televisão e em
filmes de baixo orçamento, Christopher Lee enfim assinou contrato com a
produtora britânica que era notável por seus assustadores filmes de terror. O
ator teve desempenhos aterrorizantes e misteriosos em filmes como “A Maldição de Frankenstein” (1957) (uma
coprodução Hammer e Warner Bros.), “A
Múmia” (1959), e “O Monstro de Duas
Caras” (1960). Porém, foi com o anterior “O Vampiro da Noite” (1958), onde interpretou o mítico (e
midiático) Conde Drácula, que ele alcançou o seu maior sucesso e reconhecimento
(desse que, até então, era o seu mais famoso personagem). É importante
ressaltar que todos esses filmes citados da fase Hammer de Christopher Lee
foram dirigidos pelo cineasta (e grande amigo) Terence Fisher.
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Christopher Lee em "Dracula" (1958) de Terence Fisher - Hammer Film Productions [gb] |
Resguardando devidamente o lugar de Bela Lugosi no Olimpo
do Cinema de Terror, Christopher Lee talvez tenha sido o ator que mais e melhor
representou o temível Conde Drácula. Ao todo foram 11 filmes, sendo que os mais
famosos são “Drácula, o Príncipe das
Trevas” (1966) também de Terence Fisher, “Drácula, o Perfil do Diabo” (1968) de Freddie Francis, e “O Conde Drácula” (1970) de Roy Ward
Baker, além do clássico longa de 1958, obviamente.
Icônico e representativo, Christopher Lee tinha, de fato,
o costume de atuar repetindo papéis em vários filmes e, assim como Drácula, o
ator chegou a interpretar o cerebrino detetive Sherlock Holmes, dessa vez em
três ocasiões: “Sherlock Holmes und das
Halsband des Todes” (1962), novamente dirigido por Terence Fisher, “Sherlock Holmes and the Leading Lady”
(1991) de Peter Sasdy, e “Sherlock
Holmes: Incidente em Victoria Falls” (1992) de Bill Corcoran. Contudo,
foram em outras adaptações da obra de Sir Arthur Conan Doyle que Lee se saiu
melhor, “fugindo” da sapiência por vezes bondosa do investigador da Baker
Street 221B para dar vida à personagens mais obscurecidos como Sir Henry de “O Cão dos Baskervilles” (1959) outra
vez com Fisher, e o funesto irmão de Sherlock, Mycroft Holmes, no reflexivo,
mas não menos engraçado “A Vida Íntima de
Sherlock Holmes” (1970) de Billy Wilder.
A vilania era, de certa forma, inerente aos seus personagens,
tanto que depois dessa longa retrospectiva ainda podemos destacar papéis
intensamente fortes como o fantasmagórico Lorde Summerisle de “O Homem de Palha”, e o letal Scaramanga
de “007 e o Homem com a Pistola de Ouro”
(1974). Entretanto, foi ao entrar de cabeça no mundo do entretenimento que
Christopher Lee se tornou internacionalmente, ou melhor, popularmente conhecido.
O ator aceitou o convite tanto de George Lucas quanto de Peter Jackson para participar,
de maneira concomitante, de duas das maiores franquias do cinema mundial.
Enquanto filmava como Conde Dooku em “Star Wars Episódio II: O Ataque dos Clones” (2002) com Lucas,
Christopher Lee estava intensamente envolvido em seu projeto mais ambicioso:
interpretar Saruman na “Trilogia Senhor
dos Anéis” (2001 - 2003). Por muito pouco Saruman tenha ultrapassado
Drácula como a sua figura mais representativa enquanto intérprete pois, além do
fato de ter se conservado para reaparecer em “O Hobbit: Uma Jornada Inesperada” (2012) e “O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos” (2014) muitos o conhecem
somente por este papel. Com todos os pormenores, Christopher Lee é hoje um
invariável e definitivo ícone da cultura popular com um imenso legado a ser
preservado e semeado.
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Christopher Lee em "The Lord of the Rings: The Fellowship of the Ring" (2001) de Peter Jackson New Line Cinema [us] | WingNut Films [nz] | The Saul Zaentz Company [us] |
O fato de ter trabalhado em grandes franquias de sucesso,
ser dono de uma voz marcante e de ter o trabalho elogiado e, por vezes, até
mesmo disputado pelos grandes diretores de Hollywood (além de ceder para os “moneymakers” Lucas e Jackson, em 2011 o
ator ainda contribuiu com Martin Scorsese em “A Invenção de Hugo Cabret” justamente no momento em que voltava
para a Hammer para filmar “A Inquilina”)
transformam Christopher Lee em um daqueles pertinazes atores que realmente farão
muita falta. Astros que, por nos terem emocionado bastante, já eram
considerados imortais antes mesmo de deixarem a Terra.
O vigor e a paixão pelo cinema permitiram que Christopher
Lee perdurasse por todos esses anos, trabalhando com intensidade até os seus
últimos momentos nos brindando com papéis definitivos e inesquecíveis que nos
fizeram e continuarão a nos fazer sonhar! Ele se vai com 93 anos, mas o tempo
incrivelmente lhe faltou, pois ele ainda tinha (tem!) muito a nos oferecer.
Descanse em paz... (1922 - 2015)
Dez filmes com
Christopher Lee que indico (em ordem de predileção):
01 - O Homem de Palha
(1973) - de Robin Hardy
02 - O Vampiro da Noite
(1958) - Terence Fisher
03 - Star Wars Episódio III: A Vingança dos Sith (2005) -
de George Lucas
04 - Os Três Mosqueteiros (1973) - de Richard Lester
05 - Senhor dos Anéis: A
Sociedade do Anel (2001) - de Peter Jackson
06 - Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (2003) - de Peter
Jackson
07 - As Bodas de Satã (1968) - de Terence Fisher
08 - A Maldição de Frankenstein (1957) - de Terence
Fisher
09 - A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça (1999) - de Tim
Burton
10 - A Vida Íntima de Sherlock Holmes (1970) - de Billy
Wilder
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Christopher Lee em "The Wicker Man" (1973) de Robin Hardy - British Lion Film Corporation [gb] |
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