Se estivesse viva, Billie Holiday estaria completando 100
anos hoje. Deidade do Jazz e um dos maiores ícones musicais do século XX, a
cantora também possuía intrínseca relação com o cinema. Nascida em 7 de abril
de 1915, Elionore Harris adotou o nome artístico em homenagem a Billie Dove,
estrela do cinema mudo dos Estados Unidos. Sua voz absolutamente marcante e seu
talento também como compositora estão presentes em mais de cem títulos
contemplando ficções, documentários, videoclipes e séries de televisão.
Aproveitando a data, o Rotina Cinemeira selecionou quatro grandes filmes (totalmente distintos)
que, de alguma forma, tomaram emprestado parte da genialidade de uma das artistas
mais singulares da história.
![]() |
Billie Holiday (1915 - 1959) - Divulgação |
Um Gato em Paris (Une
Vie de Chat, França | Holanda | Suíça | Bélgica, 2010)
Direção: Jean-Loup Felicioli e Alain Gagnol
No cinema, o Jazz e o Noir sempre andaram de mãos dadas
em um encaixe perfeito entre trilha sonora e gênero cinematográfico. No caso de
“Um Gato em Paris” vemos esses dois elementos
muito bem aplicados e amarrados pela personalidade forte e pelo vozeirão de
Billie Holiday. A animação francesa conta a história de Dino, um gato que tem
como dona uma simpática garotinha, mas que possui uma vida secreta auxiliando
um ladrão a cometer furtos pelas noites de uma nebulosa Paris. Embora trate de
um desenho animado, o ambiente sombrio, o clima de suspense constante e as
ações consumadas na calada da noite combinam bastante com a inebriante canção “I Wished on the Moon”, incluída na
trilha sonora original do filme. Dino, assim como Billie, possui prazer noturno
e um imenso desejo pela luz do luar.
À Espera de um Milagre (The Green Mile, Estados Unidos, 1999)
Direção: Frank Darabont
A atmosfera misteriosa sentida no famoso corredor da
morte de “À Espera de um Milagre” é
embalada por músicas ouvidas em um pequeno rádio. Sucessos de grandes
personalidades da música popular estadunidense como Eddy Howard, Guy Lombardo e
Gene Austin foram apreciados por John Coffey e Paul Edgecombe através das
frequências captadas pelo velho aparelho instalado na penitenciária.
Entretanto, canções de alguns intérpretes como Billie Holiday e Duke Ellington
(que também podem ser notadas ao longo do filme) nunca teriam sido reproduzidas
em uma estação rádio de verdade, afinal a história é ambientada na Louisiana de
meados dos anos 30. A censura e o preconceito em relação à gênero e etnias eram
(e ainda são) muito fortes no Estado, tido como um dos mais machistas e com
preconceitos raciais mais arraigados dos Estados Unidos.
Cabe destacar que Billie Holiday sofreu em inúmeros episódios
de discriminação, tanto por ser mulher quanto por ser negra, inclusive quando
já tinha se consolidado como uma das maiores cantoras de seu país, época em que
ela “não nos dava além de seu amor”.
Observação: a utilização de músicas gravadas, na sua
maioria, no início da década de 50 é um erro totalmente perdoável em “À Espera de um Milagre”.
O Ocaso de uma Estrela (Lady Sings the Blues, Estados Unidos, 1972)
Direção: Sidney J. Furie
Vagamente baseado na autobiografia escrita por Billie
Holiday em 1956, “O Ocaso de uma Estrela”
acompanha a história de vida e a conturbada carreira da cantora. Com Diana Ross
no papel principal, o filme funcionou perfeitamente para alavancá-la rumo ao
estrelato (Diana venceu o Globo de Ouro na categoria de Jovem Atriz promissora
e recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz), mas pecou ao retratar com
uma série de imperfeições (principalmente relacionadas à personalidade de
Billie) a breve mas visceral passagem desta lenda por este mundo. Musicalmente
o filme possui alguns pontos altos, recheados de gravações originais de Billie
Holiday (o filme também foi indicado ao Oscar de Melhor Trilha Sonora) e
performances sóbrias de Diana Ross emprestando corpo e voz para a composição da
personagem.
A Motown lançou, à época, a trilha sonora do filme em um
disco duplo com os sucessos de Billie Holiday gravados por Diana Ross. Também
com o título de “Lady Sings the Blues”,
o álbum chegou a ser o número um na lista dos 200 mais vendidos em relação
lançada semanalmente pela Billboard.
Nova Orleans (New
Orleans, Estados Unidos, 1947)
Direção: Arthur Lubin
Com um roteiro convencional observado nos típicos
romances do período e toques sutis de humor semelhantes às comédias dos Irmão
Marx, o drama musical “Nova Orleans” não
convence cinematograficamente, porém se torna obrigatório pela rara
oportunidade de assistir a Billie Holiday atriz. No único filme na qual é de
fato creditada, a cantora interpreta Endie, uma empregada doméstica que canta
em um bar de um rico empresário sulista fascinado pela cultura negra, sobretudo
o jazz. Acompanhada por Louis Armstrong, Woody Herman e demais membros de uma
banda afiada, Billie Holiday faz dos números musicais os pontos altos do filme,
com destaque para o clássico “Do You Know
what it Means to Miss New Orleans?”.
Tentativa do diretor Arthur Lubin de sintetizar a
história de um dos movimentos musicais mais importantes da história, “Nova Orleans” deve ser apreciado com os
ouvidos e com a alma de um bom amante do Jazz!
Talento genuíno contido em uma melancolia hipnotizante: que
a memória e o legado musical de Billie Holiday sejam preservados por muitos séculos!
Nenhum comentário:
Postar um comentário