Criado em São Paulo há exatos vinte anos, o Festival de Documentários “É Tudo Verdade” chega
à capital mineira, que o recebe pela quarta vez em uma versão compacta. De hoje
até o dia 4 de maio será exibida uma seleção especial de 13 filmes, com três
sessões diárias sempre às 14:00, 16:00 e 18:00 no Centro Cultural Banco do
Brasil, integrante do Circuito Cultural Praça de Liberdade em Belo Horizonte.
Para a abertura do Festival foi escolhido o longa “A Paixão de J.L.” de Carlos Nader,
vencedor da Competição Brasileira de Longas-metragens do “É Tudo Verdade” e do prêmio da Associação Brasileira de Críticos
de Cinema (ABRACCINE) no início deste mês. O filme será exibido às 19:00 e,
após a projeção, contará com a presença do diretor do longa, Carlos Nader e do
diretor e organizador do Festival, Amir Labaki.
“A Paixão de J.L.” acompanha um projeto autobiográfico
do artista José Leonilson que, no início do ano de 1990, resolve gravar em
fitas cassete um diário falado. Na época, Leonilson tinha 33 anos e descobriu
ser portador do vírus HIV quando finalmente havia conseguido encontrar um
parceiro. Disposto a tornar a sua vida mais leve, ele passa a se dedicar exclusivamente
às suas gravações, pregando o amor e a liberdade.
O material bruto para produção do filme é basicamente a
voz de Leonilson, e o diretor ainda teve a sensibilidade de não utilizar
nenhuma imagem sequer dessa personagem, mas sim imagens relacionadas a tudo
aquilo que ele pensava, falava e gravava. O artista registrou impressões sobre
acontecimentos históricos à sua volta, como a queda do Muro de Berlim e a
Reunificação da Alemanha ou o Impeachment do Presidente Fernando Collor de Mello
no Brasil, bem como assuntos que lhe são profundamente caros, como o
homoerotismo e a arte de uma forma geral. “A
Paixão de J.L.” sintetiza a vida e a obra de José Leonilson, recriando de
maneira poética o mundo em que ele viveu.
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"A Paixão de J.L." (2014) de Carlos Nader - Itaú Cultural [br] |
Além do vencedor da Competitiva Nacional, “A França é a nossa Pátria” (2015) do
diretor cambojano Rithy Panh também integra a programação do festival com duas
exibições especiais, nesta quinta, dia 30 de abril, e na próxima segunda, dia 4
de maio, sempre as 18:00. Vencedor da Competitiva Internacional, o longa
retrata os efeitos e as influências que a colonização francesa impôs sobre
Camboja, Laos e Vietnã na época em que integravam a Península da Indochina.
A edição belorizontina do “É Tudo Verdade” ainda inclui
mais quatro longas-metragens internacionais que integram mostras diferenciadas
dentro deste mesmo Festival: o argentino “Chamas
de Nitrato” (2014) de Mirko Stopar; o estadunidense “Como Cheirar uma Rosa: uma Visita com Ricky Leacock à Normandia” (2014)
de Les Blank e Gina Leibrecht; o norueguês “Drone”
(2014) de Tonje Hessen Schei; e o francês “O Sicário, Quarto 164” (2010) de
Gianfranco Rosi.
Uma outra mostra especial, denominada “Retrospectiva
Musical”, ainda trará para os mineiros dois documentários biográficos
interessantes sobre importantes nomes da música popular brasileira: “Paulinho da Viola - Meu Tempo é Hoje”
(2004) de Izabel Jaguaribe, sobre a vida de uma das maiores lendas do nosso
samba, o cantor e compositor Paulinho Viola; e “Herbert de Perto” (2009) de Roberto Berliner e Pedro Bronz, sobre
a carreira artística e a vida de superações de Herbert Vianna, líder dos
Paralamas do Sucesso.
A programação completa da mostra pode ser acessada através
do site do Festival (www.etudoverdade.com.br)
ou diretamente pelo link “Festival ÉTudo Verdade em Belo Horizonte”. O Centro Cultural Banco do Brasil está
localizado na Praça da Liberdade, 450 – Bairro Funcionários, Belo Horizonte.
Lembrando que a entrada é gratuita, mas o espaço é muito pequeno
(apenas 80 lugares) e está sujeito a lotação.
Com base na compacta programação do Festival que visita
Belo Horizonte por apenas seis dias, o Rotina Cinemeira selecionou quatro
filmes imperdíveis que não podem deixar de ser conferidos pelo público.
Confira:
O País de São Saruê (O País de São Saruê, Brasil, 1971)
Direção: Vladimir
Carvalho
Em comemoração aos 80 anos do diretor paraibano Vladimir
Carvalho, um dos principais cineastas nordestinos e autor de obras singulares
como “Brasília Segundo Feldman”
(1979), “O Evangelho Segundo Teotônio”
(1984) e “Barra 68 - Sem Perder a Ternura”
(2001), o Festival É Tudo Verdade exibirá aquela que, talvez, seja a sua obra-prima.
Com título inspirado na literatura de cordel de Manoel
Camilo dos Santos, “O País de São Saruê”
é um documentário sobre a região sertaneja do Rio do Peixe e as evoluções de
suas atividades econômicas. As imagens fortes e extremamente realistas mostram
a dificuldade de sobrevivência de uma população que está inserida no chamado “polígono
da seca” e a sua relação com a terra, a aridez e a escassez de água.
Exibição: sexta-feira, 1º. de maio, 14:00
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"O País de São Saruê" (1971) de Vladimir Carvalho - Paraíba Produções Cinematográficas [br] |
É Tudo Verdade (It’s All True, França | Estados Unidos,
1993)
Direção: Bill Krohn, Myron Meisel, Orson Welles, Richard Wilson e Norman
Foster
Para marcar o centenário de um dos maiores nomes do
cinema mundial, o ator e diretor estadunidense Orson Welles, os organizadores
do “É Tudo Verdade” selecionaram para a programação deste ano o curioso
documentário sobre a visita que Welles fez ao Brasil. Curiosamente, o filme é homônimo
ao Festival.
Em 1942, logo após as filmagens de “Cidadão Kane” (1941), Orson Welles desembarca no Brasil com planos
para realizar um filme sobre a cultura local do país. Entretanto, uma série de
contratempos acabaram impedindo que o projeto fosse concluído. Através de
imagens da época (incluindo cenas do filme que chegaram a ser gravadas), o
documentário mostra os diversos motivos pelos quais o trabalho de Welles não
pode ser concluído como, por exemplo, a insatisfação da RKO Pictures e do
Governo Brasileiro com a apresentação dos primeiros materiais que foram
rodados. Sem dúvida nenhuma, uma das histórias de bastidores mais interessantes
da história do cinema.
Exibição: quinta-feira, 30 de abril, 14:00
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"É Tudo Verdade" (1993) de Bill Krohn, Myron Meisel, Orson Welles, Richard Wilson e Norman Foster Canal + [fr] | Les Films Balenciaga [fr] | Paramount Pictures [us] | RKO Pictures [us] |
Santo Forte (Santo Forte, Brasil, 1999)
Direção: Eduardo
Coutinho
Eduardo Coutinho é considerado, por muitos, o maior
documentarista brasileiro e um dos melhores cineastas do mundo quando tratamos
especificamente do gênero. Desde a sua morte no ano passado, Coutinho vem
recebendo uma série de homenagens e programações especiais em mostras de cinema
pelo país. Obviamente, o principal festival dedicado à cultura do documentário
na América Latina não poderia deixar de inserir um dos filmes do mestre em sua
programação.
Com conversas realizadas no ano de 1997, em um período
compreendido entre a missa campal celebrada pelo Papa João Paulo II no Aterro
do Flamengo, em outubro, e as celebrações do Natal, “Santo Forte” adentra
profundamente na vida de católicos, umbandistas e evangélicos de uma favela
carioca, revelando as suas maiores intimidades. Vemos assim como a
religiosidade de várias pessoas sofrem uma série de interferências e como cada
um, a seu modo, detalha a sua crença na comunicação direta com o sobrenatural
através da intervenção de santos, orixás, guias ou do Espírito Santo.
Exibição: domingo, 3 de maio, 14:00
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"Santo Forte" (1999) de Eduardo Coutinho - Centro de Criação de Imagem Popular (CECIP) [br] |
Carregador 1118 (Carregador 1118, Brasil, 2014)
Direção: Eduardo
Consonni e Rodrigo T. Marques
O filme acompanha o cotidiano de Antônio da Silva, ou
Tonho, veterano carregador de caixas de mercadorias do CEAGESP, maior
entreposto comercial da América Latina. Imigrante nordestino, ele vive em São
Paulo desde 1969, mantendo desde então uma vida dura, de incerteza econômica e
também amorosa. Neste momento, ele está se separando da mulher, mas não há
tempo de parar para rediscutir a relação, pois o trabalho o espera. Entretanto,
quando chega à noite, ele guarda seus poucos pertences num armário e, por lá
mesmo, a fim de minimizar a exaustão que seu corpo carrega e as dores do amor
perdido, ele encara a vida noturna vagando pelos bares da cidade.
Exibição: segunda-feira, 4 de maio, 14:00
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"Carregador 1118" (2014) de Eduardo Consonni e Rodrigo T. Marques - Complô [br] |
O Festival é breve, mas a vida é finita! Aproveite os
filmes e boas sessões!
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