Tem início hoje, no Sesc Palladium em Belo Horizonte, a
Mostra “Expoentes do Neorrealismo Italiano”. Ao todo serão exibidos na Sala Professor
José Tavares de Barros, até o dia 12 de abril, seis belíssimos filmes de três dos
mais aclamados cineastas do movimento neorrealista italiano: Vittorio De Sica,
Roberto Rossellini e Luchino Visconti.
O Neorrealismo surgiu na Itália como um veículo
estético-ideológico de resistência logo após o encerramento da Segunda Guerra
Mundial e da “libertação” do país do regime fascista. Movido por
características comuns em produções do período e por uma forte ideologia
difundida entre os realizadores, o movimento introduziu na história do cinema
obras que buscavam retratar a realidade de um país devastado pelo conflito.
Dentre as principais características podemos destacar a
escalação de não atores para os papéis principais, o uso de iluminação natural
e, sobretudo, a filmagem em locações reais como ruas e espaços comuns do povo,
locais onde ainda podemos notar os efeitos reais e devastadores de uma guerra
em um país que mal iniciou a sua reconstrução. “Roma Cidade, Aberta” (1945) de Roberto Rossellini é considerado
por muitos o primeiro grande marco do movimento, e mostrou ao mundo como era
possível se fazer cinema mesmo sob as condições mais precárias.
Ao produzirem seus filmes, os diretores do movimento
acabaram flertando com a estética documental, justamente pelo absoluto realismo
de todas as ações dos elencos dirigidos. Somado a isso, o teor fortemente
político das narrativas permitia que os olhos de espectadores de todo o mundo
fossem voltados para a sofrida sociedade italiana, explorando os seus valores e
seus principais conflitos, trazendo para tela características muito peculiares
como os dialetos locais e costumes culturais das várias regiões do país.
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Vittorio De Sica, Roberto Rossellini e Luchino Visconti: Expoentes do Neorrealismo Italiano |
O movimento cultural neorrealista italiana possuiu, de fato, as suas bases mais fortes enraizadas no movimento cinematográfico. Fortemente influenciados pelos filmes da Escola do Realismo Poético Francês, os diretores que terão obras contempladas nesta mostra podem ser considerados os três pilares principais do movimento na Itália, que ainda conta com nomes como Alberto Lattuada, Alessandro Blasetti, Luigi Zampa, Michelangelo Antonioni e Pietro Germi.
O Rotina Cinemeira
faz agora uma breve explanação das características cinematográficas de De Sica,
Rossellini e Visconti e apresenta a sinopse dos filmes de cada um destes
cineastas que serão contemplados nesta Mostra, todos imperdíveis! Confira:
VITTORIO DE SICA (1901 - 1974)
Com um estilo que privilegia planos sequenciais amplos em
grandes locações externas (seguindo as diretrizes básicas do movimento
neorrealista), a obra de Vittorio De Sica aborda com grande ênfase a solidão, o
sofrimento e a miséria do povo italiano em um realismo documental que pode ser
percebido com rara sensibilidade. Além de diretor, De Sica também foi um
importante ator do cinema italiano. Seus filmes exibidos serão:
Ladrões de Bicicleta (Ladri
di Biciclette, Itália, 1948)
Antonio Ricci (Lamberto Maggiorani) é um operário
desempregado e de origem humilde que luta para sustentar a família. À procura
de um emprego na prefeitura de Roma, Antonio acaba conquistando a vaga de
afixador de cartazes. Entretanto, para começar a trabalhar, ele precisava de
uma bicicleta, o que faz com que sua esposa (Lianella Carell) penhore as roupas
de cama da casa para conseguir o veículo em troca. Para completo desespero do
pobre homem, a bicicleta é roubada em seu primeiro dia de trabalho. A partir
daí Antonio, junto de seu filho Bruno (Enzo Staiola), parte em uma desenfreada
busca pelas ruas da cidade a fim de recuperar a bicicleta.
Umberto D. (Umberto D., Itália, 1952)
O início dos anos 50 ficam marcados pelo renascimento da economia italiana após o país ser devastado pelos conflitos da Segunda Guerra Mundial. Enquanto isso, idosos sofrem com as miseráveis pensões oferecidas pelo governo. Em Roma, Umberto Domenico Ferrari (Carlo Battisti), um funcionário público de idade avançada e já aposentado, é ameaçado de despejo por não conseguir pagar o aluguel de seu quarto. Sem amigos e sem família, Umberto vaga desanimado pelas ruas da cidade sempre ao lado de seu fiel companheiro, o cachorrinho Flike, e em busca de apenas um objetivo: viver com dignidade.
Umberto D. (Umberto D., Itália, 1952)
O início dos anos 50 ficam marcados pelo renascimento da economia italiana após o país ser devastado pelos conflitos da Segunda Guerra Mundial. Enquanto isso, idosos sofrem com as miseráveis pensões oferecidas pelo governo. Em Roma, Umberto Domenico Ferrari (Carlo Battisti), um funcionário público de idade avançada e já aposentado, é ameaçado de despejo por não conseguir pagar o aluguel de seu quarto. Sem amigos e sem família, Umberto vaga desanimado pelas ruas da cidade sempre ao lado de seu fiel companheiro, o cachorrinho Flike, e em busca de apenas um objetivo: viver com dignidade.
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"Umberto D." (1952) de Vittorio de Sica - Rizzoli Film [it] | Produzione Films Vittorio De Sica [it] | Amato Film [it] |
ROBERTO ROSSELLINI (1906 - 1977)
Rossellini era um romano costumeiro. Com uma direção
sóbria e bem orientada, o diretor retratava a Itália de seu tempo com
simplicidade e beleza excepcionais. Crítico voraz do Fascismo Italiano, ficou
famoso por “documentar” os obscuros anos do país em sua aterradora “Trilogia da Guerra”. Além de obras
fundamentais para o movimento neorrealista, Rossellini filmou importantes cinebiografias
como “Francisco, Arauto de Deus”
(1950), “Sócrates” (1971), “Santo Agostinho” (1972) e “Descartes” (1974). Serão exididos:
Roma, Cidade Aberta (Roma,
Città Aperta, Itália, 1945)
Durante a Segunda Guerra Mundial, entre os anos de 1943 e
1944, Roma encontra-se sob ocupação nazista, porém é declarada “cidade aberta”,
evitando que bombardeios a atinjam. Essa situação abre espaço para que os romanos
possam transitar livremente pelas ruas sem que sejam mortos e, neste momento,
comunistas e católicos deixam as suas diferenças de lado e se unem no combate
contra os alemães e as tropas fascistas, que ainda procuram líderes ou pessoas
que apoiam o movimento de resistência.
Alemanha, Ano Zero (Germania,
Anno Zero, Itália | França | Alemanha, 1948)
Edmund (Edmund Moeschke) é um menino de doze anos que
vive na obliterada Berlim devastada pela Segunda Guerra Mundial. Vivendo em um
prédio de apartamentos bombardeados, o pobre garoto trabalha e faz de tudo para
sustentar o pai doente, sua pequena irmã e o irmão, que perderam todos os
documentos. Vagando desorientado e sem rumo pelas ruas, Edmund encontra um
antigo professor (Erich Gühne) e espera conseguir algum tipo de ajuda dele, mas
as ideias e opiniões deste homem acabam por confundi-lo ainda mais. O filme
fecha a “Trilogia da Guerra” de
Rossellini, precedido por “Roma, Cidade
Aberta” (1945) e “Paisà” (1946).
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"Germania, Anno Zero" (1948) de Roberto Rossellini Tevere Film [it] | SAFDI [de] | Union Générale Cinématographique (UGC) [fr] |
LUCHINO VISCONTI (1906 - 1976)
Vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes por “O Leopardo” (1963), o milanês Luchino
Visconti assumiu como nenhum outro cineasta a contradição do artista que indaga
e nunca se dá por satisfeito. Intelectual de sensibilidade refinada, o diretor
soube retratar com precisão as várias camadas da sociedade italiana em diversos
períodos da história, o que o consagra não só como um dos expoentes do
movimento neorrealista, mas também como um dos maiores diretores do cinema
italiano. De Visconti, teremos a chance de conferir:
A Terra Treme (La
Terra Trema, Itália, 1948)
Na Itália Siciliana, pescadores vivem à mercê de
atacadistas gananciosos no comércio de peixe. Revoltado com a exploração de
seus superiores, o jovem Ntoni (Antonio Arcidiacono) decide trabalhar por conta
própria e tenta convencer os seus colegas a fazerem o mesmo. Porém, com essa
decisão, Ntoni vai enfrentar muitos obstáculos pelo caminho ao mesmo tempo em
que se depara com uma realidade social ainda mais dura de sua comunidade.
Rocco e seus Irmãos (Rocco
e i suoi Fratelli, Itália | França, 1960)
Em busca de melhores condições de vida, a viúva Rosaria Parondi
(Katina Paxinou) parte da miserável Sicília para industrial e próspera Milão
junto com seus quatro filhos, Rocco, Simone, Ciro e Luca. O quinto filho,
Vincenzo (Spiros Focás), já vive na cidade. Aos poucos, cada irmão segue um
rumo diferente e vão se acertando em suas novas vidas. Simone (Renato
Salvatori) tenta ganhar a vida como pugilista, enquanto Rocco (Alain Delon) se
mantém as origens enraizadas e sonha em voltar a sua terra natal. Porém, quando
Simone é abandonado pela amante, que se envolve com Rocco, observamos o início
da degradação de uma família corrompida pelos costumes e valores duvidosos de
uma sociedade hostil.
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"Rocco e i suoi Fratelli" (1960) de Luchino Visconti - Titanus [it] | Les Films Marceau [fr] |
As exibições serão diárias (exceto dia 06/04) sempre às
19:00 e a programação completa está disponível no site do Sesc Palladium (sescmg.com.br/sescpalladium)
ou pode ser acessada diretamente pelo link "Expoentes do Neorrelaismo Italiano".
Lembrando que a entrada é gratuita, mas é necessário retirar
os ingressos na bilheteria do Sesc duas horas antes de cada sessão. O espaço
está sujeito a lotação. Observação: a casa não funciona às segundas-feiras.
A Sala Professor José Tavares de Barros está localizada
no Sesc Palladium, na Avenida Augusto de Lima 420, centro de Belo Horizonte.
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