(O Casamento dos Trapalhões, Brasil, 1988). Dirigido por José
Alvarenga Jr. com roteiro de Paulo Andrade. Elenco: Renato Aragão, Nádia Lippi,
José de Abreu, Dedé Santana, Mussum, Zacarias, Terezinha Elisa, Marlene Silva,
Susana Mattos, Gugu Liberato, Zezé Macedo, Grupo Dominó, Carlos Wilson, Luciana
Vendramini, Patrícia Lucchesi, Tatiana Delamare, Helga Gahyva.
Costumeiramente, os filmes de comédia caem na contradição
do primor técnico de sua produção versus o humor que efetivamente cativa o seu
público. Afinal, até que ponto o que houve de melhor no cinema em seus vários
momentos pôde prejudicar ou contribuir para o principal gênero de divertimento
da grande tela. De maneira geral, a comédia pela comédia sempre permitiu que
alguns pecados cinematográficos fossem cometidos para preservar ou garantir o
chiste que conduz as suas histórias. Observamos, por exemplo, exemplares filmes
dos Irmãos Marx ou de Jerry Lewis que constantemente abandonam as muletas de
uma narrativa linear para não perderem a força do humorismo.
A história não é muito diferente no Brasil e, à medida em
que os anos foram passando, os famosos e inesquecíveis filmes d’Os Trapalhões
foram perdendo o fôlego, substituindo o que era inicialmente tosco e engraçado
por uma verossimilidade diluída pouco a pouco em cada uma das produções que se
seguiam, tudo isso em prol de uma retidão que infelizmente combateu o exagero e
a afetação circense da trupe. Porém, são inegáveis a importância cultural e a
imensa contribuição que Os Trapalhões ofereceram para fãs e não fãs do Brasil e
do mundo. O programa de televisão estreou em 1977 na Rede Globo e,
concomitantemente, as aventuras de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias chegaram
também às salas de cinema com o filme “Os
Trapalhões na Guerra dos Planetas” (1978), primeiro longa-metragem com os
quatro humoristas juntos (anteriormente já tinham sido realizados 12 filmes).
Ressalvando os debates sobre a perda de originalidade ao
longo dos anos, é importante destacar que, no âmbito das produções nacionais,
os filmes da turma ainda são um fenômeno que deve ser estudado com mais
atenção. Das vinte e cinco maiores bilheterias da história do cinema brasileiro
(todas elas acima de quatro milhões de espectadores), treze pertencem aos
Trapalhões. Com um público de quase quatro milhões e oitocentas mil pessoas, “O Casamento dos Trapalhões” ocupa a
13ª. posição dessa lista, sendo o sexto longa de maior sucesso d’Os Trapalhões
(em termos de bilheteria) e destaque da coluna “Identidade Nacional” deste mês.
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"O Casamento dos Trapalhões" (1988) de José Alvarenga Jr. - Cinemateca Brasileira | Banco de Conteúdos Culturais |
Livremente inspirado em “Sete Noivas para Sete Irmãos” (1954) de Stanley Donen, clássico
musical dos anos dourados de Hollywood, “O
Casamento dos Trapalhões” mostra uma série de confusões escalonadas de um
grupo de simples caipiras que moram em uma fazenda no interior do Estado de São
Paulo ao se aventurarem na cidade grande. As trampolinagens são tão grandes que
acabam em namoros, casamentos e mais uma série de balbúrdias intermináveis.
Esses atabalhoados matutos são Dedé, Mussum e Zacarias,
irmãos de Didi (Renato Aragão), pobre e simples agricultor que também se revela
rude no tratamento aos seus compares. Didi vai a trabalho para uma cidade
próxima e lá acaba comprando briga com Expedito (José de Abreu) além de
conquistar o coração de Joana (Nádia Lippi), que acaba seguindo com ele para a
fazenda. Rendido aos encantos da bela moça ele resolve se casar, apesar de
Joana (apaixonada, mas com temperamento forte) não se sentir muito à vontade
com a presença dos demais irmãos do marido, que possuem maus hábitos e são bem
pouco educados.
Aos poucos, Joana consegue mudar os trejeitos rústicos
dos cunhados e se vê animada quando, em certo dia, Didi recebe uma carta da
irmã pedindo para que os seus sobrinhos, integrantes do Grupo Dominó, passem
uma temporada no rancho. A oportunidade era ótima para todos, já que os rapazes
iriam participar de um show em uma festa de rodeio na cidade e os seus tios
teriam a oportunidade de se divertirem um pouco. No evento, tios e sobrinhos
acabam engatando seus romances e depois de arrumarem mais confusões (desta vez,
com todo o bando de Expedito), novamente rumam para a fazenda, mas agora com
vilão e sua gangue no encalço e determinados a destruí-los.
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Nádia Lippi com Didi, Dedé, Mussum e Zacarias em "O Casamento dos Trapalhões" (1988) Cinemateca Brasileira | Banco de Conteúdos Culturais |
Assim como foi discutido no início deste artigo, reafirmo
que “O Casamento dos Trapalhões” está
longe de ser o melhor filme do quarteto liderado por Renato Aragão, justamente
pelo esmero técnico do diretor José Alvarenga Jr. que priva um pouco o humor
espontâneo que o elenco sempre possuiu. Este sequer é um dos meus filmes
favoritos do grupo, entretanto foi escolhido para estar na coluna do mês por um
motivo sentimental fortíssimo.
Não faço parte da geração de crianças que esperavam
ansiosas por cada lançamento da turma nos cinemas. Sou ligeiramente mais novo,
e pertenço à geração seguinte, a que acompanhava todos os filmes dos Trapalhões
pela televisão, sempre na “Sessão da
Tarde” da Rede Globo. Apesar disso, o filme representa o início da minha
apaixonada relação com o cinema, sendo o primeiro que me recordo de ter visto
na telona. Lançado em 1988 (ano em que, para mim, era impossível ter alguma
lembrança cinematográfica forte registrada na mente) o filme, como também já
foi mencionado, foi sucesso de público e se manteve em cartaz ao longo de
repetidas semanas e relançado por algumas vezes em grandes cinemas do país (que,
infelizmente, são pouquíssimos hoje em dia).
Os eventuais êxitos de bilheteria alcançados pelos
Trapalhões resultaram em um evento preparado pelo saudoso e recém-inaugurado Cine
Brasil de Belo Horizonte que, às vésperas do lançamento de “Os Trapalhões e a Árvore da Juventude” em 1991, organizou uma
retrospectiva com alguns dos principais filmes da trupe e, na ocasião, fui
levado por meu pai para conferir um deles. Hoje (e sempre!) terei o prazer de
dizer que o primeiro filme que assisti no cinema (e um dos principais
responsáveis por esse amor incontido e latente pela Sétima Arte) foi “O Casamento dos Trapalhões” que à época
(hoje, nem tanto) me encheu os olhos, assim como qualquer criança apaixonada
pelas aventuras de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias.
Artistas que continuam encantando e conquistando fãs, Os
Trapalhões sempre serão parte importante da TV e do Cinema Nacional e, sem
dúvida nenhuma, ainda terão muito destaque nas colunas do Rotina Cinemeira.
Um abraço “Da Poltrona”, e até a próxima!
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