Encerrando a retrospectiva especial que o Rotina Cinematográfica vem realizando ao longo dessa última semana, a quarta e última parte da nossa revisão apresentará cinco importantes filmes lançados em 1998, trabalhos que estabelecem uma conexão muito forte com os nossos receios em relação aos acontecimentos do presente e do futuro, além e estreitarem os laços com as experiências e provações vividas de forma intensa pela humanidade no passado, sobretudo aquelas que foram reflexos de adversidades catastróficas há cerca de 80 anos (no caso dos três primeiros títulos).
O Resgate do Soldado Ryan (Saving Private Ryan, Estados Unidos, 1998)
Direção: Steven Spielberg
Liderado pelo Capitão John H. Miller (Tom Hanks), um batalhão do exército dos Estados Unidos precisa ultrapassar as linhas inimigas para resgatar o paraquedista James Francis Ryan (Matt Damon), único sobrevivente de um grupo de quatro irmãos militares que foram massacrados em uma missão. No plano cinematográfico, a jornada desses soldados começa dentro da elogiada e sanguinolenta sequência inicial, remontando de forma magistral o desembarque das Tropas Aliadas no litoral da Normandia naquele que ficou conhecido como o Dia D, um dos principais capítulos da reta final dos conflitos da Segunda Guerra Mundial. Conduzida por Miller, a horda de oficiais continua seguindo o seu caminho pela praia, muito embora alguns deles passem a questionar o sentido da expedição.
À medida que
as dificuldades vão surgindo, é impossível que nenhum deles comece a refletir
sobre os reais motivos de oito homens estarem arriscando as suas próprias vidas
para poder salvar apenas um companheiro. Em “O
Resgate do Soldado Ryan”, o diretor Steven Spielberg precisou elevar ao
máximo a sua tênue relação com a violência para que, de maneira incisiva,
pudesse se apoiar nos dramas particulares vivido por cada de seus personagens,
penetrando em mentes que tentavam entender se todo o horror de uma guerra fazia
o mínimo sentido e se tudo que estão fazendo seria justificado no futuro.
Liderado pelo Capitão John H. Miller (Tom Hanks), um batalhão do exército dos Estados Unidos precisa ultrapassar as linhas inimigas para resgatar o paraquedista James Francis Ryan (Matt Damon), único sobrevivente de um grupo de quatro irmãos militares que foram massacrados em uma missão. No plano cinematográfico, a jornada desses soldados começa dentro da elogiada e sanguinolenta sequência inicial, remontando de forma magistral o desembarque das Tropas Aliadas no litoral da Normandia naquele que ficou conhecido como o Dia D, um dos principais capítulos da reta final dos conflitos da Segunda Guerra Mundial. Conduzida por Miller, a horda de oficiais continua seguindo o seu caminho pela praia, muito embora alguns deles passem a questionar o sentido da expedição.
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"Saving Private Ryan" (1998) de Steven Spielberg - DreamWorks [us] | Paramount Pictures [us] Amblin Entertainment [us] | Mutual Film Company [us] | Mark Gordon Productions [us] |
Além da Linha Vermelha (The Thin Red Line, Estados Unidos, 1998)
Direção: Terrence Malick
Vencedor do
Urso de Ouro do Festival Internacional de Berlim em 1999, a adaptação do
romance autobiográfico do novelista estadunidense James Jones, “Além da Linha Vermelha” traz mais um
recorte mordaz da Segunda Guerra Mundial ao enfocar os desdobramentos da
Batalha de Guadalcanal, campanha que influenciou diretamente na contenção dos
avanços do exército japonês pelo Pacífico. Um grupo de jovens oficiais é
enviado para a ilha para auxiliar e reforçar as enfraquecidas unidades da
marinha. Devidamente instalados, os soldados passam a contrastar o terror que
lhes é constantemente esfregado na cara com a profunda e eterna busca de
sentido para a vida.
Com um elenco recheado de astros e atores promissores, o filme ainda marcou o ousado retorno de Terrence Malick ao cinema após um hiato de vinte anos – o diretor não conduzia um projeto desde o aclamado “Cinzas no Paraíso” (1978). Curioso é perceber o quão arriscado foi o seu lançamento, pois chegou às telas apenas alguns meses depois de “O Resgate do Soldado Ryan” (1998), o imponente trabalho de Steven Spielberg. O mais intrigante é notar que ambos tiveram boas recepções, mesmo tratando o mesmo assunto de maneiras completamente diferentes. Enquanto um deles trata os horrores da guerra de uma forma violentamente emocional, o outro nos oferece uma visão mais reflexiva. Malick consegue nos mostrar – aqui – que enfrentar toda essa bestialidade é uma questão, acima de tudo, cerebral.
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"The Thin Red Line" (1998) de Terrence Malick - Fox 2000 Pictures [us] | Geisler-Roberdeau [us] | Phoenix Pictures [us] |
Trem da Vida (Train de Vie, França | Bélgica | Holanda
| Israel | Romênia, 1998)
Direção: Radu Mihaileanu
Com a franca
expansão das forças do Terceiro Reich durante os primeiros anos de conflitos da
Segunda Guerra Mundial, habitantes de um pequeno vilarejo judaico localizado no
centro da Europa decidem se organizar e forjam um falso trem de deportação para
que possam escapar de uma real ameaça nazista. É através de Shlomo (Lionel
Abelanski), o maluco da aldeia, que os moradores vão se atualizando sobre os
avanços do exército de Hitler enquanto tentam traçar os caminhos a serem
percorridos pelo comboio cabotino. Essa ideia surreal partiu, inclusive, do
próprio Shlomo, mas foi acatada por todos por ser a única solução viável diante
tamanho desespero para alcançar o objetivo primordial: fugir com segurança para
a Palestina.
A caminho da Terra Prometida, toda a dinâmica dentro do trem passa a ser encenada pelos membros da comunidade, interpretando eles mesmos os soldados alemães, os maquinistas e a variada gama de deportados. Entretanto, uma série de problemas começam a aparecer à medida que as dissimulações vão ficando cada vez mais realistas, o que acaba colocando em risco todos os planos de uma viagem que, aparentemente, seguia com tranquilidade. Orquestrado com maestria, bastante bom humor e uma incrível sensibilidade do diretor romeno Radu Mihaileanu, “Trem da Vida” mexe com os sentimentos do espectador ao sair do lugar comum para tratar um tema tão delicado e recorrente quanto o Holocausto, uma das maiores loucuras já vistas no mundo real.
Medo e Delírio em Las
Vegas (Fear and Loathing in Las Vegas,
Estados Unidos, 1998)
Direção: Terry Gilliam
Baseado no
romance homônimo do extravagante escritor estadunidense Hunter S. Thompson, “Medo e Delírio em Las Vegas” é um
moderno film à clef que reverencia a
viagem psicodélica de seu próprio autor, um sujeito que procura alcançar o
idealismo do sonho americano através do consumo exagerado de álcool e de várias
substâncias lisérgicas. Thompson é considerado o pai do jornalismo gonzo,
publicação na qual o narrador abandona o plano da objetividade para se
intrometer diretamente na ação, misturando-se com a realidade da maneira mais
abstrata possível. Para comandar essa excêntrica aventura alucinógena não
poderia haver ninguém melhor que Terry Gilliam – um diretor que sempre flutua
em mundos fantasiosos, mas deixa pelo menos um dos dedos de seus pés encostado
no chão.
No campo ficcional, essa mesma jornada de insanidade é vivida por Raoul Duke (Johnny Depp), repórter enviado à Las Vegas para cobrir o Mint 400, uma famosa corrida de motos realizada no meio do deserto. Na companhia de seu advogado, o imputável e intransigente Dr. Gonzo (Benicio Del Toro), o jornalista acaba mergulhando em um paranoico submundo de conspirações no qual somente drogas muito poderosas podem fazer com que os eventos vividos por eles transcorram com aparente normalidade. Enérgico e, por vezes, hilariante, o filme não mede esforços para engrandecer experiências verdadeiramente intensas diante de um arquétipo de realidade moldado por uma forma de existência tão opressiva.
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"Fear and Loathing in Las Vegas" (1998) de Terry Gilliam - Fear and Loathing LLC [us] Rhino Films [us] | Shark Productions [us] | Summit Entertainment [us] | Universal Pictures [us] |
Pi (Pi, Estados Unidos, 1998)
Direção: Darren Aronofsky
Maximillian
Cohen (Sean Gullette) é um matemático paranoico que procura, de forma
incansável, por uma sequência numérica chave que desbloqueie ou unifique todos
os padrões universais encontrados na natureza. Enclausurado, evitando a luz do
sol e o contato com outras pessoas, Max acaba construindo um supercomputador que
lhe fornece o encadeamento completo do número π. Tal descoberta faz com que ele
compreenda toda a existência da vida na Terra decifrando, inclusive, os maiores
segredos da Bíblia Sagrada e podendo até mesmo prever a sucessão lógica dos
acontecimentos globais e as tendências de mercado nas principais bolsas de
valores do mundo.
É claro que toda essa genialidade tem um custo alto. O jovem intelectual é assolado por dores de cabeça extenuantes e perturbadoras que se agravam à medida que os números vão lhe trazendo respostas cada vez mais reveladoras. Por fim, Max começa a ser assediado pelos nomes mais importantes de Wall Street e passa a ser perseguido por integrantes de uma obscura seita judaica radical que também pretende elucidar os mistérios que existem por trás deste enigma matemático. Caótico, enérgico e intrigante, “Pi” ainda representa a estreia avassaladora do diretor e roteirista nova-iorquino Darren Aronofsky em longas-metragens, observando nele o vigor que continuaria dando a tônica em seus trabalhos posteriores.
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"Pi" (1998) de Darren Aronofsky - Harvest Filmworks [us] Truth and Soul Pictures [us] | Plantain Films [us] | Protozoa Pictures [us] |
Dessa forma, chegamos ao fim mais uma retrospectiva – uma jornada emocional e nostálgica que reacende e alimenta a nossa memória cinematográfica. E para relembrar os filmes apresentados ao longo dessa última semana, basta continuar navegando pela página do Rotina Cinematográfica ou visitar os links correspondentes a cada um dos artigos que estão dispostos logo abaixo:
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