“Una giornata
particolare...”
Cineasta italiano de peculiaridades raríssimas, Ettore Scola cumpriu o seu
caminho com modesta compostura, nos encantando e nos emocionando em todos os
seus filmes. Internado em um hospital de Roma desde o último domingo, o diretor
de 84 anos teve a sua morte anunciada no início da noite de ontem e, agora,
parte para eternidade.
Com Scola se vai mais uma parte viva e significativa da
tradicional Escola de Cinema da Itália, mas é como sempre se fala por aqui: as
obras perpetuam as suas entidades e ficam no mundo para serem apreciadas.
Herdeiro natural do movimento neorrealista, Ettore Scola realizou trabalhos
ímpares que lhe renderam os principais prêmios nos festivais de cinema mais
importantes do mundo, dentre eles os César de melhor filme estrangeiro por “Nó que nos Amávamos Tanto” (1974) e por
“Um Dia Muito Especial” (1977); o
prêmio de melhor diretor no Festival de Cannes por “Feios, Sujos e Malvados” (1976); e o Urso de Prata de melhor
diretor por “O Baile” (1983) no
Festival de Berlim.
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O Cineasta Italino Ettore Scola (1931 - 2016) - Divulgação |
Irrefragável, célebre e inesquecível, somam-se à carreira
do maestro 41 títulos nas quase cinco décadas em que esteve por trás das
câmeras, desde o seu primeiro trabalho “Fala-me
de Mulheres” (1964) até o emocionante “Que
Estranho Chamar-se Federico” (2013), um singelo tributo de Ettore Scola ao
amigo Federico Fellini, um filme-testamento e uma ode ao cinema italiano.
Entretanto, a sua relação íntima relação com a Sétima Arte começou a ser
construída dez anos antes, quando começou a trabalhar como argumentista.
Scola foi estudante direito em Roma, depois se arriscou
no jornalismo e ingressou no rádio. Seu encontro com Fellini se deu, inclusive,
neste momento; o que permitiu ao futuro diretor travar ali os seus primeiros
conhecimentos com os profissionais do ramo cinematográfico; e também escrever os
seus primeiros roteiros a partir do ano de 1953. Dentre os trabalhos mais
importantes deste período estão os argumentos de filmes como “Duas Noites com Cleópatra” (1954) de
Mario Mattoli, “No Azul Pintado de Azul”
(1959) de Piero Tellini, “Fantasmas em
Roma” (1961) de Antonio Pietrangeli e “Aquele
que Sabe Viver” (1962) de Dino Risi. Este último, particularmente, uma
obra-prima!
Quando assumiu a direção de seus próprios textos (ele
roteirizou a maioria de seus longas), Scola se manteve fiel aos seus princípios
e valores morais e cinegráficos. A experiência na vida acadêmica e o repentino ingresso
ao mundo do cinema lhe permitiram criar trabalhos extremamente humanistas e
cativantes, mas sem nunca deixar de exprimir um forte idealismo político,
severas e precisas críticas sociais, além de uma relação estritamente íntima
tanto com a história do seu país, como, por exemplo, em “Casanova e a Revolução” (1982); quanto com a própria história do
cinema, como em “Splendor” (1989).
O fato é que o legado é imenso e valoroso, e Ettore Scola
é um cineasta que deve ser constantemente redescoberto por todos! Consternados,
lamentamos a sua morte. Que descanse em paz... (1931 - 2016)
Dez filmes dirigidos por
Ettore Scola que indico (em ordem de predileção):
01 - Feios, Sujos e
Malvados (Brutti, Sporchi e Cattivi,
Itália, 1976)
02 - O Baile (Le
Bal, Itália | França | Argélia, 1983)
03 - A Viagem do Capitão Tornado (Il Viaggio di Capitan Fracassa, França | Itália, 1990)
04 - Nós que nos Amávamos Tanto (C’Eravamo Tanto Amati, Itália, 1974)
05 - Um Dia Muito Especial (Una Giornata Particolare, Itália | Canadá, 1977)
06 - O Jantar (La
Cena, Itália | França, 1998)
07 - Splendor (Splendor,
Itália | França, 1989)
08 - Casanova e a Revolução (La Nuit de Varennes, França | Itália, 1982)
09 - A Família (La
Famiglia, Itália | França, 1987)
10 - O Terraço (La
Terrazza, Itália | França, 1980)
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"Brutti, Sporchi e Cattivi" (1976) de Ettore Scola - Compagnia Cinematografica Champion [it] | Surf Film [it] |
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