Dono de uma expressão distinta, autêntica e profunda, Franco
Citti era um dos principais expoentes do movimento cinematográfico pós-neorrealista,
aquele que tinha compromisso vital com o benévolo e sofrido existencialismo
humano. O ator italiano morreu nesta última quinta-feira (14 de janeiro), aos
80 anos, em Roma.
Citti colaborou com alguns dos maiores cineastas de seu
país, dentre eles Bernardo Bertolucci, Elio Petri e Valerio Zurlini; entretanto,
era, essencialmente, uma presença constante no universo cinematográfico do
diretor e amigo Pier Paolo Pasolini. Inclusive, sua estreia frente às câmeras
foi como o cafetão Vittorio Cataldi no clássico “Accattone - Desajuste Social” (1961), considerado um de seus
maiores trabalhos.
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Franco Citti em "Accattone" (1961) de Pier Paolo Pasolini - Arco Film [it] | Cino del Duca [it] |
O proxenetismo de seu primeiro personagem refletia o
desvario e a vida “fora dos trilhos” em bairros da periferia romana na época;
comunidades que sofriam com os efeitos replicantes de um país devastado pelo
regime fascista, mesmo passados anos de sua queda. Assim como nos filmes, tais
características recaíram sobre a realidade e marcaram a vida de Franco Citti,
que tivera uma infância miserável e uma adolescência problemática. De certa
forma, o rompimento parcial com uma complacência social na juventude ajudou muito
o ator na composição do personagem de seu segundo filme, o proletário Carmine
no excelente “Mamma Roma” (1962), outra
obra de Pasolini.
“Accattone” e “Mamma
Roma” são, sem dúvida, os seus trabalhos mais expressivos; muito embora nos
mesmos moldes (e ainda em 1962), Citti tenha protagonizado um drama esplêndido e
praticamente desconhecido do público, “Uma
Vida Violenta” de Paolo Heusch e Brunello Rondi. O ator também se arriscou
no gênero spaghetti western no filme “Réquiem para Matar” (1967) pouco antes
de voltar a trabalhar com Pasolini, como um categórico, intuitivo e incontestável
Édipo, protagonista de “Édipo Rei”
(1967).
Da ampla e, praticamente, patrimonial cooperação com Pasolini
ainda vieram o abrasivo “Pocilga” (1969)
e os grandiosos “Decameron” (1971), “Os Contos de Canterbury” (1972) e “As Mil e uma Noites” (1974). Franco
Citti ainda ficou conhecido pela tímida, mas emblemática participação em “O Poderoso Chefão - Parte I” (1972); no
aclamado longa de Francis Ford Coppola ele deu vida à Calò, o não tão cuidadoso
guarda-costas siciliano de Michael Corleone (papel que voltou a interpretar na “Parte
III” da Saga).
Rude e ao mesmo tempo naturalista, Citti já não
trabalhava há mais de quinze anos, mas, ainda assim, a sua magnética exterioridade
e o dom natural para a dramatização se farão presentes enquanto a História do Cinema
puder ser contada.
Descanse em paz... (1935 -2016)
Dez filmes com Franco
Citti que indico (em ordem de predileção):
01 - O Poderoso Chefão -
Parte I (The Godfather, Estados
Unidos, 1972) - de Francis Ford Coppola
02 - Accattone -
Desajuste Social (Accattone, Itália, 1961)
- de Pier Paolo Pasolini
03 - Mamma Roma (Mamma
Roma, Itália, 1962) - de Pier Paolo Pasolini
04 - Uma Vida Violenta (Una Vita Violenta, Itália, 1962) - de Paolo Heusch e Brunello Rondi
05 - O Poderoso Chefão - Parte III (The Godfather - Part III, Estados Unidos, 1990) - de Francis Ford
Coppola
06 - La Luna (La
Luna, Itália | Estados Unidos, 1979) - de Bernardo Bertolucci
07 - Sentado à sua Direita (Seduto alla sua Destra, Itália, 1968) - de Valerio Zurlini
08 - Ostia (Ostia, Itália, 1970) - de Sergio Citti
09 - Juízo Final (Todo Modo, Itália | França, 1976) - de Elio Petri
10 - Réquiem para Matar (Requiescant, Itália | Alemanha
Ocidental, 1967) - de Carlo Lizzani
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Franco Citti e Al Pacino em "The Godfather" (1972) de Francis Ford Coppola Paramount Pictures [us] | Alfran Productions [us] |
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